Blog Ricardo Setti - Veja
A recente divulgação dos dados preliminares da respeitada pesquisa Mapa da Violência , realizada pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, referente ao ano de 2012 consolidado, é em si uma tragédia por haver revelado que a taxa de homicídios no Brasil é a maior desde 1980 — 29 casos para cada 100 mil habitantes, quando a ONU considera “epidêmica” a incidência do crime acima do limite de 10 para cada 100 mil.
Até o México, até há pouco envolvido numa onda de crimes brutal, próxima à guerra civil, com o embate entre cartéis do narcotráfico, de um lado, e a polícia e as Forças Armadas, de outro, apresentou dados melhores que os do Brasil — 22,1 contra os 29, para não falar nos 5,3 por 100 mil dos Estados Unidos.
Se o dado geral do Brasil é péssimo, há casos localizados que beiram o incompreensível. Entre 27 unidades da Federação, chama a atenção o fato de que o Distrito Federal situa-se num horroroso 9º lugar em número de homicídios por 100 mil habitantes, com quase o quádruplo do limite da ONU — 38,9.
Justamente o DF, que tem a Polícia Militar mais bem remunerada do país, a ponto de o salário de início de carreira de um PM ter inicialmente servido de base a uma emenda à Constituição que tramita no Congresso e já foi aprovada pela Câmara dos Deputados em primeiro turno em 2010.
O salário-base de um PM no DF é, desde o dia 19 de fevereiro, de exatos 7.190,98, a partir do decreto publicado no Diário Oficial.
Repito, por extenso: um policial soldado raso da PM receberá por mês sete mil, cento e noventa reais e noventa e oito centavos, excluídos benefícios como auxílio-moradia e auxílio-alimentação.
Um coronel PM passa a receber 21 mil reais, fora benefícios e adicionais por tempo de serviço.
Disparado, o maior salário de PM no Brasil. Há Estados onde policiais militares mal chegam aos 2 mil reais por mês, e coronéis ganhando 7 mil reais.
Um esclarecimento: sou TOTALMENTE FAVORÁVEL a, havendo recursos, remunerar da melhor forma possível as Polícias Militares de todo o país.
Sou também TOTALMENTE FAVORÁVEL a que as Polícias Militares recebam treinamento adequado, equipamento de primeira e — isto é FUNDAMENTAL — avaliações periódicas de desempenho.
É aí que está o problema. Muitíssimo bem equipada, com 1.850 viaturas — na maior parte novas e possantes — 1.600 motos e 3 helicópteros, com PMs dispondo de armas modernas, tablets e até de óculos especiais que gravam ações de que participam, é inteiramente injustificável que exiba esses espantosos índices de homicídios.
Sinal evidente, para analistas do setor, de um sério problema de gestão que bate diretamente no governador Agnelo Queiroz (PT). O governador diz que o contingente da PM do DF precisa ser aumentado.
Pode ser. Mas será este o problema?
Vejamos: com 2,8 milhões de habitantes, o Distrito Federal mantém 15 mil policiais militares em atividade.
O Estado de São Paulo, com 43,6 milhões de habitantes, dispõe um efetivo de 94 mil policiais militares. O índice de homicídios no Estado é o segundo menos pior do país, segundo o Mapa da Violência com 15,1 por 100 mil (o menor índice, de acordo com a mesma fonte, seria o de Santa Catarina, com 12,8). Esses dados de São Paulo não batem com o número oficial do governo do Estado, que é de 11,5 por 100 mil. De todo modo, muitíssimo abaixo do panorama exibido pelo DF.
Se fosse para manter a proporção entre população e efetivos da PM, e seguindo o patamar do DF, São Paulo teria um exército de 233 MIL policiais militares!
Nem é preciso fazer contas para retratar o estado catastrófico da segurança pública no governo do ex-comunista e hoje petista Agnelo Queiroz.