terça-feira, 1 de julho de 2014

Abandonado até por Maluf, Padilha lembra que foi coordenador de Lula e que nada o surpreende: será que é uma confissão sobre a ética do lulo-petismo?

Blog Reinaldo Azevedo - Veja


Padilha: ele confessa ter visto de tudo no governo Lula. Imaginem o que...
Padilha: ele confessa ter visto de tudo no governo Lula. Imaginem o quê…

O petista Alexandre Padilha, que, até outro dia, anunciava que reuniria uma multidão de partidos, vai ter de se contentar com o apoio do PCdoB, que acabou ficando com o vice da chapa (ou também cairia fora), e do PR, uma decisão tomada pessoalmente pelo presidiário Valdemar Costa Neto. De lá, ele mandou uma espécie de “salve” para seus liderados do lado de fora, deixando claro que a turma mais compatível com a moral elevada do partido era mesmo a petista. Padilha está chateado, sim, mas não esconde, ao menos, a natureza do jogo. Prestem atenção ao que disse sobre o fato de o PP, de Paulo Maluf, tê-lo abandonado no último dia, bandeando-se para Paulo Skaf, do PMDB: “Faço política desde muito pequeno. Durante sete anos, fui da coordenação política do governo Lula, lidando diariamente com o Congresso Nacional. Então, digo que nada me surpreende na política”.
Xiii, que fala complicada, hein? “Nada”, afinal, quer dizer “nada”. Aplicado o sentido à frase em questão, quer dizer “tudo”. Se evoca a sua condição de ex-coordenador político do governo Lula para afirmar que nada o surpreende, isso quer dizer, então, que, naquele posto, “tudo” era possível. Nunca duvidei disso. Imaginem os bastidores, senhores e senhores!
E, com efeito, em matéria de petismo, as categorias absolutas “tudo” e “nada” se estreitam num abraço insano, como diria Castro Alves. Quando tudo é possível, nada fere a ética, certo? Ou Lula não foi ao Pará (leiam post) pedir que o filho de Jader Barbalho se orgulhe da carreira política do pai? Em São Paulo, Padilha deve saber, e parece conformado com isto, que foi Lula quem cuidou da migração do PP, que estava com o PT, para as hostes do PMDB, de Skaf.
Afirmei aqui ontem que caberia a Padilha o papel de nanico nessa campanha. Antevi que a ele caberia chutar a caneca dos tucanos, sobrando para Skaf o papel de apresentador de proposta. Trata-se de uma operação casada. E ex-ministro da Saúde, que já confessa que nada mais o surpreende depois de ter servido a Lula, confessa: “Nós vamos apresentar um projeto alternativo ao PSDB, que será nosso único adversário”.
Não que ele não tenha dado uma cutucadinha em Skaf. Afirmou: “Nesta eleição, houve três composições de força. A que está no comando do Estado há 20 anos; outra, dos ex-governadores, que comandaram o Estado nos 20 anos anteriores, e a nossa coligação, que representa a mudança”.
Vamos traduzir: ao falar sobre os últimos 20 anos, refere-se, claro!, aos tucanos; quando trata de governadores dos 20 anos anteriores, evoca Luiz Antônio Fleury Filho, coordenador da campanha de Skaf, e a Paulo Maluf. Entendi. Ocorre que, até literalmente anteontem, Maluf estava na sua coligação — e, não custa lembrar, foi nomeado pela ditadura. Fleury e o PMDB só não são seus aliados — como são do petismo federal — porque os peemedebistas fizeram questão de ter candidatura própria. Ou por outra: Padilha só não é companheiro do passado remoto, o que inclui a ditadura, porque os representantes desse período o rejeitaram.