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Rússia alerta que haverá graves consequências; assinatura de pacto foi a causa de crise política que derrubou o ex-presidente
A Ucrânia assinou um acordo histórico de livre comércio e de cooperação política com a União Europeia nesta sexta-feira, atraindo uma ameaça imediata de graves consequências da Rússia. Após assinar o pacto, que desatou uma crise com Moscou em novembro passado, o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, disse que hoje poderia ser o “dia mais importante” para seu país desde a independência da União Soviética. A Geórgia e a Moldávia assinaram acordos semelhantes, mantendo a perspectiva de uma integração econômica profunda e acesso irrestrito a 500 milhões de cidadãos da UE.
Para Poroshenko, o pacto com o bloco europeu marca um dia histórico, oferecendo ao seu país um novo começo depois de anos de instabilidade política.A assinatura do acordo acontece no mesmo dia em que Poroshenko decidiu prolongar por mais três dias o cessar-fogo que expirava nesta sexta-feira. E também no dia em que está prevista a primeira rodada de negociações de paz entre o governo e separatistas pró-russos da região de Donetsk, que na quinta-feira finalmente cederam e aceitaram dialogar.
— Nos últimos meses, a Ucrânia pagou o preço mais alto possível para fazer seus sonhos se tornarem realidade — disse o presidente aos líderes da UE na cerimônia de assinatura do acordo em Bruxelas. — Este é um novo horizonte para o meu país.
O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, destacou o apoio da União Europeia às ex-repúblicas soviéticas e garantiu que “não há nada nos acordos ou no foco do grupo que possa prejudicar a Rússia”.
— É um grande dia para a Europa. A União Europeia está ao seu lado, hoje mais que nunca — disse Rompuy antes da assinatura do acordo com Poroshenko, o primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Garibashvili, e o primeiro-ministro da Moldávia, Yuri Leanca, durante uma reunião em Bruxelas.
PUTIN REAGE A ACORDO E DEFENDE CESSAR-FOGO DURADOURO
Apesar da declaração de Rompuy, o presidente russo, Vladimir Putin, criticou o acordo, dizendo que a sociedade ucraniana está dividida por ter sido obrigada a escolher entre a Europa e a Rússia.
— O golpe de Estado inconstitucional em Kiev e as tentativas para impor ao povo ucraniano a escolha artificial entre Europa e Rússia empurraram a sociedade para a divisão e para um doloroso confronto interno — declarou Putin a um canal de televisão russo após a assinatura do acordo. — No sudeste do país corre o sangue, há uma catástrofe humanitária em curso, milhares de pessoas fogem dos combates buscando refúgio em outros lugares, entre eles a Rússia.
Putin defendeu um cessar-fogo duradouro e as condições necessárias para um diálogo entre as autoridades de Kiev e os representantes das regiões do Leste.
— É essencial que a Ucrânia encontre o caminho da paz, do diálogo e da reconciliação — disse ele.
De acordo com uma fonte diplomática em Bruxelas, a prorrogação da trégua permitirá reunir algumas condições, como a libertação dos reféns, entre eles os da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), ou o controle da fronteira entre Rússia e Ucrânia.
Mais cedo, Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, declarou às agências de notícias russas que o Kremlin iria responder ao acordo UE-Ucrânia “assim que aparecerem consequências negativas para a economia”. Espera-se que os chefes de Estado e de Governo da UE estudem nesta sexta-feira a possibilidade de impor mais sanções a Moscou por sua conduta contra Kiev.
O ex-presidente da Ucrânia pró-Rússia Viktor Yanukovich virou as costas para a assinatura do acordo da UE em novembro passado em favor de laços mais estreitos com Moscou, o que gerou meses de protestos de rua que levaram à sua fuga do país. Logo depois, a Rússia anexou a região da Crimeia da Ucrânia, provocando indignação e sanções dos Estados Unidos e da União Europeia, e o Leste ucraniano lançou uma rebelião separatista em favor da Rússia.