Dimítrius Dantas e Gabriela Valente, O Globo
A Polícia Federal saiu às ruas para cumprir cerca de 100 mandados judiciais na manhã desta quinta-feira contra uma organização criminosa especializada no desvio de recursos previdenciários do Fundo Postalis, o instituto de seguridade social dos Correios.
Um dos principais alvos da operação desta é o ex-presidente do Postalis, Alexej Predtechensky. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, ele é apontado como um dos responsáveis pelas fraudes que causaram prejuízos ao fundo de pensão. Conforme o GLOBO revelou em setembro do ano passado, o operador Lúcio Funaro afirmou em seu acordo de colaboração premiada que o Postalis era parte de um esquema em que atuava e que distribuía propina para Predtechensky.
Além dele, outro alvo é Milton de Oliveira Lyra Filho, indicado em delações premiadas da Operação Lava-Jato como operador do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). A Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão relacionados a ele.
De acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO, dois dos alvos da operação desta quinta-feira da Polícia Federal são o banco americano BNY Mellon e a corretora Bridge. Os policiais federais tentam cumprir um mandado de prisão preventiva contra José Carlos Oliveira, conhecido no mercado como Zeca, ex-presidente da instituição financeira americana na época em que os desvios ocorreram e dono da corretora. Há ainda pelo menos mais uma corretora sob investigação, além de antigos funcionários do Postalis.
Os policiais federais estiveram na sede na sede do BNY Mellon no Rio atrás de provas de um possível esquema fraudulento que gerou prejuízo ao fundo de pensão dos Correios . Há anos, o Postalis briga na Justiça com o banco americano para que ele assuma a responsabilidade pelos desvios do passado.
O BNY Mellon confirmou a informação, antecipada pelo GLOBO, de que teria sido alvo da operação desta quinta-feira realizada pela PF.
"A Polícia Federal esteve em nosso escritório hoje em decorrência de uma investigação em curso, que entendemos envolver uma série de outras instituições. Estamos cooperando integralmente com as autoridades", informou a instituição por meio de nota encaminhada ao jornal.
São alvos de busca e apreensão também o American Trade Group (ATG), e o ex-diretor financeiro da Postalis Adilson Florêncio da Costa – que foi conduzido para dar esclarecimentos sobre o caso em uma operação da PF em 2016. Florêncio da Costa chegou a ser preso na Operação Recomeço. O caso ficou famoso por o executivo ser o pivô de uma das histórias notórias de Brasília: o garoto que foi salvo por um bombeiro do poço das ariranhas do zoológico da capital federal nos anos 80.
Equipes estão cumprindo ordens da Justiça em São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Alagoas. A operação foi batizada com o nome Pausare e é o resultado de uma investigação conjunta de órgãos de controle encaminhada pelo Ministério Público Federal.
O nome faz referência ao infinitivo presente do verbo latino pauso, palavra empregada com o sentido de aposentadoria.
Segundo a Polícia Federal, o déficit da Postalis atualmente é de aproximadamente R$ 6 bilhões, o que levou aposentados e funcionários dos Correios a aumentar a contribuição para o fundo de previdência. Os alvos da operação são empresários que atuaram na articulação com gestores do fundo de pensão, além de dirigentes de instituição financeira internacional. Empresas com títulos em bolsas de valores e instituições de avaliação de risco também são alvos da operação.
A Polícia Federal adotará uma estratégia diferente na análise do documentos. A instituição irá realizar a análise da pertinência de possíveis evidências e mídias, além de outros atos de apuração, nos próprios locais de busca. De acordo com a PF, a estratégia é criar novas possibilidades investigativas e aumentar a agilidade, eficácia e a transparência do trabalho de investigação policial. Relatórios parciais devem ser produzidos em até 48 horas.
"A meta das equipes policiais convocadas para o trabalho é buscar o esgotamento de todas possibilidades de investigação nas primeiras horas da ação, quando a organização criminosa encontra-se desarticulada e a equipe de mais de 200 policiais toda mobilizada", afirmou a PF.