segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

"Agonia do regime bolivariano, por Rodrigo Botero Montoya

O Globo

É necessário criar um programa de acolhimento de refugiados venezuelanos no Canadá e em seis países latino-americanos


A tragédia do povo venezuelano, cuja dimensão excede os superlativos, se converteu num problema hemisférico de primeira ordem. Sua manifestação visível é o êxodo migratório massivo. Os venezuelanos estão expressando seu repúdio ao socialismo do século XXI, votando com os pés. À emigração inicial de empresários, técnicos petroleiros, profissionais e acadêmicos, se agrega agora a de um grupo numeroso de pessoas com baixo nível de capacitação, que podem ser considerados refugiados econômicos.

O manejo desta situação pela comunidade internacional é dificultado pela própria natureza de um regime que se autodenomina revolucionário, mas se converteu numa associação para delinquir. O regime de Nicolás Maduro se nega a reconhecer a existência de uma crise e recusou as ofertas externas de assistência humanitária. Com um processo de demolição que reduziu à metade o tamanho da economia em cinco anos, o governo intensificou a repressão. O exercício crescentemente militarizado da autoridade pode ser descrito como despotismo temperado pela inépcia.

Qualquer solução de fundo para esta tragédia tem como premissa básica a mudança de governo. Esta é uma responsabilidade que compete exclusivamente aos venezuelanos. Há indícios de que a experiência de engenharia social denominada Revolução Bolivariana se aproxima de uma fase terminal, por ser insustentável. Assim o sugerem a degradação da qualidade de vida, a hiperinflação e o colapso das finanças públicas. Diz-se que as falências ocorrem de forma gradual, e em seguida de maneira súbita. O que é difícil de prever é a data na qual ocorrerá o desenlace e as circunstâncias nas quais terá lugar. Em um ambiente melancólico de fim de regime, o governo trata de aparentar normalidade, enfrentando o isolamento, a irrelevância e o repúdio externo generalizado.

Enquanto se sucede o previsível desmantelo político, a comunidade internacional poderia contribuir de imediato para aliviar o sofrimento da população. O apoio à reconstrução de uma nação que esteve submetida ao saque por parte de seus caudilhos seria uma etapa posterior, que pressupõe a existência de um novo governo.

Ante a impossibilidade de abrir um canal humanitário para levar alimentos e remédios à população, a comunidade internacional poderia estabelecer um programa a favor dos venezuelanos que estejam tentando emigrar. A ideia seria propor que Canadá e seis países latino-americanos grandes — Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru — ofereçam acolhimento, no total, a um milhão de refugiados venezuelanos num prazo não maior do que 12 meses. Cada um dos sete países se comprometeria a aceitar uma determinada parcela do total, negociada em função de sua população e tamanho de sua respectiva economia. Isto contribuiria para formalizar um processo que está ocorrendo de forma desorganizada, e às vezes ilegal, colocando um peso desproporcional do impacto sobre uns poucos países. Esta iniciativa daria efetividade às manifestações de solidariedade internacional ao povo venezuelano.

Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia