domingo, 9 de julho de 2017

"Terminou", por Marcos Lisboa

Daniel Marenco-27.abr.2014/Folhapress
Dilma Roussef e Michel Temer em 2014: chapa começa a ser julgada nesta terça-feira
Dilma Roussef e Michel Temer em foto de 2014


Folha de São Paulo

A corte do Planalto lembra a de Portugal na sucessão de d. João 6º.
A família real encontrara resistência ao voltar em 1821, depois de 13 anos de ausência. Muitos, no país, começavam a preferir uma monarquia que pudesse menos.

Em meio a seguidas escaramuças entre liberais e absolutistas, seu filho mais novo, d. Miguel, iniciou uma revolta. A realeza foi preservada, mas o príncipe, exilado. Enquanto isso, d. Pedro liderou a Independência do Brasil. 

Não surpreende a resistência a que qualquer dos dois filhos sucedesse a d. João.

D. Pedro tornou-se o 4º de Portugal, depois de quatro anos de idas e vindas, mas optou pelo Brasil, escolhendo sua filha, d. Maria da Glória, como sucessora.

Seu irmão, d. Miguel, foi autorizado a voltar do exílio como regente, desde que noivo da sobrinha, que se tornaria rainha e sua esposa na maioridade. Por incrível que pareça, o arranjo não era novidade. Também d. Pedro 3º fora rei casado com a sua sobrinha d. Maria 1ª.

D. Miguel retornou e jurou fidelidade; porém, rompeu o acordo e foi aclamado rei. D. Pedro, 1º por aqui e 4º por lá, voltou e iniciou uma guerra, que terminou por vencer. D. Maria da Glória foi coroada rainha aos 15 anos.

 D. Miguel foi mais uma vez exilado e d. Pedro morreu logo depois. A monarquia foi de pouco efeito. O império já havia acabado muito antes.

A desastrada sucessão de João 6º parece ter sido de pouca valia. Quase 200 anos depois, o Brasil preserva o hábito de acordos oportunistas que terminam em conflitos fratricidas.

A aliança entre o PT e o PMDB durou mais do que o esperado. Um, na oposição, propunha a ruptura; no governo, começou como continuísmo de FHC e, depois, resgatou a política econômica da gestão Geisel. O outro sobrevive como se parte da liturgia do Planalto, adaptando-se às mudanças da política, mesmo que bruscas, pela falta de consistência ideológica.

Não se pode atribuir o desastre da política e da economia apenas a acidentes de percurso. Foram feitos muitos equívocos, e difícil imaginar um maior do que a escolha de motoristas incompetentes em meio a avisos de que os problemas estavam se agravando.

É verdade que os termômetros quebrados embaçavam os diagnósticos. Mas a opção das corporações e grupos organizados foi tentar defender o seu quinhão e torcer para que a conta fosse paga pelos demais.

Alguns tentam justificar as intrigas e os golpes de corredor, enquanto outros, com sonhos de grandeza, imaginam-se futuros senhores. O excesso de oportunismo e as trocas miúdas apenas revelam que muitos não entenderam a gravidade das circunstâncias.