domingo, 9 de julho de 2017

Crítico do BC, Maia se alinha a Meirelles

Adriana Fernandes - O Estado de S.Paulo


O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se tornou uma aposta para substituir Michel Temer caso o presidente seja afastado do cargo, ficou mais alinhado com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, mas ainda faz críticas ao nome de Ilan Goldfajn no Banco Central.
Diante da crescente perspectiva de que o Planalto terá dificuldades de reunir apoio parlamentar para barrar a denúncia contra Temer na Câmara e de agravamento do cenário político, a “opção Maia” passou a ser considerada pelo mercado financeiro e setores econômicos.
Empresários e executivos de grandes empresas, além de analistas e consultorias do mercado, já trabalham com um cenário de substituição no Palácio do Planalto. A questão considerada fundamental é garantir a permanência da atual equipe comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Desde que assumiu a presidência da Câmara, no ano passado, Maia – oriundo do mercado financeiro – já vinha mantendo reuniões com economistas. Essas conversas se intensificaram depois do agravamento da crise.
Ele sempre defendeu o nome de Mário Mesquita, ex-diretor de Política Econômica durante o período em que Meirelles presidia o Banco Central. Mesquita comanda atualmente a área econômica do maior banco privado do País, o Itaú Unibanco, cargo que já foi ocupado por Ilan Goldfajn. Em reuniões com investidores, Maia fez análise de que o presidente do BC demorou a começar a baixar a taxa básica de juros. O presidente da Câmara defendeu um ritmo de queda maior. A assessoria do Banco Central disse que não iria comentar.
Já em relação a Meirelles, de quem precisa em uma eventual sucessão de Temer para acalmar o mercado, Maia está mais alinhado do que nunca. Durante a tramitação do projeto de perdão de recuperação fiscal dos Estados, ele afirmou que não era preciso sempre dizer “amém” para a equipe econômica, mas tem defendido as reformas que Meirelles prega como necessárias.
“Não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, tributária e mudanças na legislação de segurança pública”, escreveu Maia, que cumpriu missão oficial na Argentina.
O discurso casa com a afirmação de Meirelles ontem, em Hamburgo, onde ocorreu a reunião do G-20. Questionado por jornalistas, ele disse que as reformas são, hoje, um consenso de “amplos valores” da sociedade.“Tenho dito que isso (as reformas) não é ser contra ou a favor do governo.”
‘Temer continua’. Os jornalistas perguntaram ainda se havia o temor de que um novo governo não apoie as impopulares mudanças nas regras do mercado de trabalho e da Previdência Social. “Não sei quem é o novo governo”, disse. Meirelles ainda gravou um vídeo para as redes sociais do Planalto celebrando a recuperação da economia e a atuação do governo. “A nossa avaliação é que o presidente Temer continua.”
A denúncia por corrupção passiva contra o presidente será analisada primeiro na Comissão de Constituição e Justiça, cujo parecer será votado posteriormente pelo plenário da Câmara. Os deputados decidirão se dão ou não autorização para que o Supremo Tribunal Federal julgue a acusação formal contra Temer. A admissibilidade depende de 2/3 da Câmara (342 votos); o governo precisa de 172 votos para barrar a autorização. A “opção Maia”, porém, ganhou força nos últimos dias entre partidos da base aliada. / COLABOROU CÉLIA FROUFE