terça-feira, 4 de julho de 2017

Após prisão de Geddel, Planalto teme cerco de Janot a Padilha e Moreira

Carla Araújo - O Estado de S.Paulo

Com a prisão do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, nesta segunda-feira, 3, chamado de “mensageiro” pelo empresário Joesley Batista, da JBS, o Palácio do Planalto agora se preocupa com possíveis investidas do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). Investigados na Operação Lava Jato, eles são os auxiliares mais próximos do presidente Michel Temer.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pode agora tentar acelerar as apurações contra os dois peemedebistas, na avaliação de assessores do Planalto. Com isso, a prisão de Geddel na Operação Cui Bono?, um amigo pessoal de Temer há mais de 30 anos, reacendeu a preocupação com a crise política, uma vez que a semana havia começado em um clima mais “tranquilo”, nas palavras de um aliado.


Michel Temer
Para The Economist, governo Temer está vulnerável, mas tem chances de chegar ao fim de 2018 Foto: Evaristo Sá/AFP

Com as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), na sexta-feira passada, de devolver as funções parlamentares de Aécio Neves (PSDB-MG) ao Senado e soltar o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o Planalto avaliava que poderia se concentrar nas articulações com a base para ter voto suficiente na Câmara para barrar a denúncia por corrupção passiva apresentada por Janot contra Temer. São necessários 342 votos para dar prosseguimento da acusação.
Agora o governo quer evitar que o caso Geddel contamine as negociações na Câmara. Embora aliados tentem minimizar o impacto da prisão, sob a alegação de que não tem relação com o caso JBS, foi com base nos depoimentos de Joesley e também do operador Lúcio Funaro que a prisão preventiva foi decretada. Em entrevista a Época, o empresário afirmou que Geddel era o “mensageiro” de Temer para tratar de interesses do Grupo J&F e o responsável por averiguar se Funaro e o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ambos presos na Lava Jato, não fariam delação.
Oficialmente, o governo não comentou a prisão de Geddel e lembrou de sua saída em novembro passado, quando foi acusado pelo então ministro da Cultura Marcelo Calero de pressioná-lo a produzir um parecer técnico para viabilizar um empreendimento imobiliário em Salvador em área tombada. 
Interlocutores do Planalto, no entanto, já diziam que a prisão do ex-ministro seria um baque para o presidente. Logo depois de tomar conhecimento da prisão de Geddel, auxiliares de Temer não conseguiam disfarçar o desânimo com mais uma notícia negativa para o governo.
Normalidade. Antes da prisão de Geddel em Salvador, Temer anunciara que vai à reunião do G-20, em Hamburgo (Alemanha), na sexta-feira, para mostrar que o “País não pode parar” – o evento é considerado fundamental pelo governo na agenda da retomada da confiança.
Já no Congresso, o líder do governo, André Moura (PSC-SE), disse que o caso Geddel não terá influência na análise da denúncia. “Espero que não tenha nenhum impacto porque o motivo que gerou a prisão não tem nenhum tipo de conexão com a denúncia. Nossos parlamentares têm transmitido a certeza da rejeição da denúncia”, afirmou. Ele, porém, admite que é preciso trabalhar para que a prisão não contamine o ambiente na Câmara. 

Já o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), evitou comentar o caso. “Acho que a prisão deve ser o último recurso, mas não conheço o processo, então prefiro não comentar”, disse o senador./ COLABORARAM DAIENE CARDOSO, THIAGO FARIA e JULIA LINDNER