quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Saiba como ficam seus investimentos com a Selic a 5,50% ao ano

Poupança, Tesouro Direto, CDB ou fundo

DI? Tabela mostra quanto renderia 

R$ 1 mil em um ano com a queda de 

0,50 ponto porcentual da taxa de juros 

nesta quarta-feira



A nova queda na taxa de juros Selic, que nesta quarta-feira, 18, voltou a descer ao mais baixo patamar da história, forçará o aplicador a tomar ao menos uma decisão difícil daqui frente. Para especialistas, quem não quiser ver o patrimônio andando de lado, terá de se decidir por abrir mão da liquidez, deixando o dinheiro aportado por mais tempo no mercado financeiro, ou por assumir riscos extras para sua carteira, com produtos como crédito corporativo, ações e fundos imobiliários - todos eles sujeitos a oscilações e não isentos de prejuízos.
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, reduzir a Selic, a taxa básica de juros, em 0,50 ponto porcentual, de 6,00% para 5,50% ao ano. Esse é o segundo corte da taxa no atual ciclo, após período de 16 meses de estabilidade. Com isso, a Selic está agora em novo piso da série histórica do Copom, iniciada em junho de 1996.

Tesouro Direto
Nova queda da Selic deixa o investidor com uma carteira
com opções cada vez mais enxutas (e semelhantes) 
dentro do portfólio de renda fixa Foto: AFP

Para economistas e especialistas em investimento consultados pela reportagem, o que agora sobra para o investidor pessoa física é uma carteira com opções cada vez mais enxutas (e semelhantes) dentro do portfólio de renda fixa, aquele investimento em que o dinheiro é aplicado com uma garantia mínima de retorno após um determinado tempo.
"A renda fixa vai virar agora um 'segurão' para o nosso dinheiro. Esquece essa história de ganhar dinheiro com o CDB. Essas aplicações servem para repor as perdas com inflação, variações cambiais. Ganhar dinheiro, agora, só com um pouco mais de risco", afirma a coordenadora do curso de economia do Insper, Juliana Inhasz.
Na opinião da  economista Paula Sauer, professora da ESPM e planejadora financeira da Planejar, força o investidor a ter muito claro quais os fins esperados para o dinheiro colocado em uma aplicação. "Mais do que diversificar os investimentos, é a hora de parar e analisar se os investimentos ainda 'conversam' com os objetivos", diz.
Para ela, ao analisar as finanças pessoais, o aplicador precisa verificar se a carteira que ele montou em um cenário de sobra de recursos está de acordo com os objetivos atuais, para o curto, médio e longo prazos. "Aquele recurso que precisava de liquidez anual para uma viagem de férias, mas que foi adiada, pode ser realocado para um investimento com menor liquidez, mas que garante uma rentabilidade melhor", afirma Paula. É isso o que mostra a tabela abaixo.

Olhando para o comparativo de produtos acima, Paula Sauer chama a atenção para o bom resultado esperado para as Letras de Crédito (imobiliárias, as LCIs, e do agronegócio, LCAs). Segundo a economista, elas parecem uma opção atraente, mas o porcentual de CDI que serve de remuneração para as letras está atrelado ao prazo. "Quanto menor a liquidez, de uma maneira geral, melhor a remuneração."
"As letras são boas alternativas, mas até em função do cenário que atravessamos, em que o setor de construção civil também sofreu bastante, as letras de crédito, que foram as queridinhas dos investidores, não estão mais tão disponíveis no mercado", afirma Paula. 
Ainda chama a atenção o Certificados de Depósito Bancário (CDB) de bancos de médio porte, com remuneração acima ou igual a 114,50% do CDI. Ali, quem coloca R$ 1 mil, sempre em um cenário de Selic a 5,50% ao ano, chega ao final de um ano com R$ 1.051,21 na carteira, 5,12% de rendimento. 
Em suma, é quase tudo mais do mesmo. Segundo os especialistas, o segredo para sobreviver sem risco em um ambiente de juros baixo é, basicamente, encarar os investimentos como uma proteção para o dinheiro, diversificando os aportes com base no objetivo.
Paula Sauer  dá como exemplo uma professora que está guardando dinheiro para o aniversário de 15 anos de sua filha, daqui a três anos, e não quer festa, mas viajar com as amigas para a Disney. Faz todo o sentido para essa investidora separar uma quantia mensal e aplicar no tesouro direto indexado à variação cambial. Ao final dos três anos, o recurso dela rendeu de acordo com a moeda que ela vai precisar comprar, para pagar o pacote da viagem. 
Diversificação. O novo cenário de juros baixos, que o investidor brasileiro não está acostumado, vai exigir uma diversificação maior da carteira de investimentos, na avaliação de Rodrigo Ayub, gerente geral de Captação e Investimentos do Banco do Brasil (BB). "O monoproduto na hora de investir vai ter de ser deixado de lado", afirma.
O gerente do BB lembra que, quando a taxa básica de juros estava em 14,5% ao ano, o investidor praticamente dobrava o capital aplicado a cada cinco anos. Agora, com a Selic recuando para 5,5% ao ano, serão necessários 13 anos para conseguir o mesmo feito. Isso significa que o brasileiro terá de diversificar e arriscar mais para obter uma rentabilidade maior.
Nesse aspecto, ele recomenda que o investidor procure saber exatemente os papéis que compõem os fundos de investimentos mais arriscados. Há fundos multimercados, por exemplo, com mais de dois terços de aplicações em Bolsa. Em outros, diz o especialista, a Bolsa nem aparece. "É preciso entender a dinâmica de cada produto." No caso de fundos com maior volatilidade e risco, ele recomenda que o investidor tenha a disponibilidade de deixar o dinheiro aplicado por mais tempo para reduzir os impactos das fortes oscilações.


Renato Jakitas e Márcia De Chiara, O Estado de S.Paulo