Se Rodrigo Janot ia mesmo meter uma bala no odiado Gilmar Mendes em maio de 2107, em pleno STF, não se sabe.
E provavelmente jamais saberemos.
A verdade fica entre Janot e sua pistola, hoje apreendida.
Janot foi indicado - ou escolhido - por Dilma Roussef em 2013 para o cargo de Procurador-Geral da República, depois de atuar no MPF desde 1984 como procurador.
Em 2015, foi reconduzido ao cargo por Dilma Rousseff, após vencer eleição interna no MPF.
Ao assumir o cargo em 2013, Janot não tinha grandes pretensões, seus planos se limitavam a uma reforma no sistema penitenciário.
Entretanto, acabou caindo em seu colo a condução dos trabalhos da Operação Lava Jato, o que acabou mudando o rumo de sua história.
E é justamente aí - neste momento crucial em que vive o país - que está o problema.
Janot é visto no mundo, oficialmente, como o procurador da Operação, apesar da enorme visibilidade de Sérgio Moro.
Para os inimigos da Lava Jato, o surto de Janot é extremamente oportuno no momento em que tentam descaradamente destruir a operação.
Vale lembrar - de passagem - que Janot parece ter se mantido fiel e agradecido a quem o indicou e favoreceu, já que em 2018, surpreendentemente para um indivíduo com sua função, apoiou Haddad contra Bolsonaro na campanha presidencial.
Ora, para um homem que ocupava um cargo que investigava e pretendia punir corruptos - todos ligados direta ou indiretamente ao PT - qual era a lógica em apoiar um candidato desse mesmo partido enrascado em dezenas de denúncias?
E ainda por cima um poste de Lula, já condenado e preso?
Hoje, depois de confessar candidamente que seu dedinho travou no gatilho - obra divina - ao tentar matar o abutre Gilmar Mendes, fica claro seu desequilíbrio.
Nem tanto pela intenção, que é problema dele e de sua consciência. Mas pela confissão desnecessária e estapafúrdia.
Apesar do desequilíbrio evidente, existe aí uma certa lógica torta.
Já que a ‘confissão’ repercutiu em todo o mundo, a ligação entre o ‘louco insano’ e a Lava Jato é inevitável, e será usada pela mídia oportunista (como já fez a Veja), ou pelos oportunistas de plantão como o próprio Gilmar Mendes.
Prato cheio.
Se Janot vai vender mais livros - que está lançando - ou se vai receber uma graninha da Veja pela matéria, não se sabe.
O que se sabe é que a barata voa no STF prestes a tentar remendar a merda feita semana passada quando descaradamente inventou uma lei pra soltar bandido político, entre eles Lula.
Na próxima quarta, Toffoli vai tocar o assunto no plenário, e já se sabe que o ato de Janot vai acabar sendo usado pelos inventores.
Para o mal, como sempre.
O tiro que não foi dado pelo procurador que virou livro, afinal, vai acabar acertando muita gente.
Marco Angeli Full
Artista plástico, publicitário e diretor de criação.
Jornal da Cidade