segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Quem é Elizabeth Warren, chamada de o terror do Vale do Silício e a bruxa de Wall Street. Possível candidata democrata à presidência quer “quebrar” as Big Tech e propõe a taxação dos mais ricos


A senadora Elisabeth Warren, que pode ser indicada candidata a presidente pelo Partido Democrata


Depois de anos à frente das salas de aula, Elizabeth Warren agora está
à frente da corrida democrata pela vaga para disputar a presidência 
americana – deixando em alerta Wall Street e o Vale do Silício.

Senadora pelo Estado de Massachusetts, a advogada de 70 anos tem 
ganhado as manchetes por ser considerada o terror do Vale do Silício 
pelas empresas de tecnologia e a bruxa de Wall Street pelos profissionais
 do mercado financeiro.

Uma de suas principais plataformas de campanha é a “quebra” das 
gigantes do Vale do Silício – uma iniciativa que acertaria em cheio 
Facebook, Amazon, Apple, Alphabet e outras empresas poderosas 
da região.


Para limitar ainda mais a força desses conglomerados, Warren tornou
 pública sua intenção de restaurar o Office of Technology Assessment
 (OTA) – algo como “Escritório de Avaliação Tecnológica”, em tradução
 literal.

Criado na década de 1970 para assessorar os congressistas americanos
 em decisões complexas de temas ligados à ciência e tecnologia, o OTA
 foi desativado na década de 1990, depois de uma ação orquestrada pelo
 então Presidente da Câmara, Newt Gingrich.

Sob sua gestão, Warren pretende que o OTA seja composto pelo que a
 imprensa americana chamou de “exército de nerds”, que nada mais são
 do que especialistas nas áreas de tecnologia e programação.

A ideia é que o órgão acumule diversas funções, como solucionar dúvidas
 simples de legisladores, mas também munir os membros do Congresso 
com informações e argumentos contundentes para audições e debates 
envolvendo polêmicas, como de questões climáticas e privacidade digital.

Para defender seu plano, a senadora disse, em comunicado oficial, que
 “até mesmo senadores que têm uma boa compreensão de mídias sociais
 enfrentam dificuldades para fazer as perguntas certas em discussões 
complexas, como criptografia de ponta-a-ponta, rastreamento em tempo
 real e monopólio do Vale do Silício”.

Ainda segundo Warren, “quando o Congresso decidir se deve ou não 
separar as grandes empresas, nossos representantes não deveriam confiar
 na equipe do Google para entender os efeitos da consolidação tecnológica”.

Liderança em alerta
Desde que as pesquisas de intenção de voto começaram, em março deste
 ano, Elisabeth Warren vem ganhando força entre os democratas.
Em setembro, pela primeira vez, a senadora aparece na liderança. Ela 
tem 27% de apoio, enquanto Joe Biden, vice-presidente durante o governo
Obama, conta 25%. Essa diferença de dois pontos está dentro da margem
de erro.

Bernie Sanders, que na última eleição disputou a vaga democrata 
com Hillary Clinton, segue na terceira posição, com 16% das intenções 
de voto.

A “virada” de Warren tem repercutido mal em Wall Street. De acordo 
com reportagem publicada pela CNBC, alguns investidores declararam 
que, se a senadora de Massachusetts ganhar a vaga democrata, as doações 
para a campanha do Partido Democrata serão congeladas – e ainda há o 
risco de o dinheiro migrar para a campanha do adversário, Donald Trump.

Sem citar nomes, o artigo da CNBC traz a fala de um investidor que diz
 que a proposta de Warren de aumentar as taxas e impostos dos mais ricos 
o afetaria diretamente, e não há, portanto, uma razão para apoiar a candidata.

A senadora, por sua vez, escolheu o Twitter para comentar a reportagem.
 Na rede social, publicou: “Estou lutando para uma economia e um governo
 que trabalhe para todos, não apenas para os milionários. Não tenho medo
 de frases anônimas e doadores poderosos não compram este processo. Não 
vou me abster de lutar pela grande mudança estrutural que precisamos”.
Além de sobretaxar as grandes fortunas americanas e legislar com “rédeas 
curtas” as gigantes do Vale do Silício, a senadora é amparada por uma 
plataforma que inclui a gratuidade do ensino superior em alguns casos, a
 liberação do aborto, a proibição das armas de fogo, o acesso popular à 
rede de saúde, a legislação do agronegócio e pautas favoráveis às questões 
climáticas.

Mas de todas as propostas, a que mais preocupa Wall Street é a que torna
grandes fundos de investimento responsáveis pelas dívidas e pensões das
empresas que comprarem. Iniciativa que vai totalmente contra a política
de Trump, em vigor, que promove corte dos impostos e suaviza as 
regulamentações.

Na esperança de manter sua campanha isenta, Warren prometeu não aceitar 
as doações de certos grupos com especial interesse político. No segundo
 trimestre deste ano, a senadora contava com US$ 19 milhões arrecadados
com pequenos doadores independentes.

Professora, presente!
Natural da cidade de Oklahoma, Elizabeth Warren tinha apenas 8 anos 
quando uma de suas mais memoráveis professoras, Ms. Lee, lhe atentou 
sobre suas aptidões para o ensino. Na mesma época, a pequena Betsy, 
como era conhecida no colégio, passou a ajudar os colegas que tinham 
dificuldade nas leituras e, em casa, dava aulas às bonecas enfileiradas.

Contrariando a vontade da mãe, que lhe sugeria um casamento estável com
 um bom provedor, Elizabeth Warren insistiu no sonho do ensino superior.
 Grávida de nove meses de seu segundo filho, Alexander, ela se formou 
em direito pela Universidade de Rutgers, em Newark, conhecida pelo seu 
teor progressista.

Por conta da gravidez e vida familiar, grandes escritórios de direito 
mantiveram as portas fechadas para Warren. Ela só encontrou 
oportunidade justamente na universidade onde conquistou seu diploma.
Por alguns anos era ela quem assumia as aulas noturnas de direito 
na Rutgers.

O bom desempenho acadêmico da senadora pavimentou seu caminho 
até Harvard, onde lecionou advocacia por 16 anos, saindo apenas para
 assumir integralmente suas funções públicas.

Foi ali, em uma das mais concorridas universidades americanas que o
 hoje advogado Jay O’Keffe teve o primeiro contato com Elizabeth 
Warren, em 1999. Ao NeoFeed, ele a descreve como uma professora 
“rigorosa, mas amável”. A primeira lição que ele aprendeu junto à 
senadora, conta, foi a estar sempre preparado.

Premiada por sua excelência na condução de salas de aula, Warren pode 
ter em uma de suas maiores virtudes o maior desafio. De acordo com o 
cientista político Ventris Wood, da Santa Monica College, o tom 
professoral da candidata pode gerar certa antipatia.

“A disputa política passa também pelo filtro emocional do público. As 
ideias e propostas são discutidas sempre com base na empatia dos 
eleitores. A senadora já foi dita arrogante e ‘sabe-tudo’ em outras 
ocasiões – pode ser que essas características sejam um empecilho em 
sua campanha”, afirma ao NeoFeed.

Está previsto para o dia 15 de outubro, em Ohio, o quarto debate dos
Democratas. E é assim, com data e hora marcada, que a senadora (e 
professora) Warren enfrenta seu próximo obstáculo para ser ungida 
pelos democratas na corrida pela Casa Branca.

Áudio



Eloá Orazem, Jovem Pan