Tudo por Justiça
Onde: GloboPlay
Russell (Christian Bale) é um resignado: trabalha duro numa siderúrgica, ama a namorada, cuida do pai doente e, sobretudo, preocupa-se com o irmão, Rodney (Casey Affleck) – um soldado que, a cada vez que volta do Iraque, está mais descontrolado. Rodney aposta dinheiro que não tem, mete-se com agiotas como John Petty (Willem Dafoe), destrói-se em lutas de boxe clandestinas. Em uma de suas tentativas de livrar a pele do caçula, Russell toma um copo de uísque com Petty, e as consequências são horrendas. Está iniciada assim a espiral de tragédias em que os dois irmãos vão se consumir, e que, dado o cenário em que ela se desenrola, tem algo de inevitável: na pequena Braddock, Pensilvânia, onde a indústria de aço vive um declínio sem retorno, as alternativas estão se esgotando para gente como Russell e Rodney. O longa do diretor Scott Cooper (de Aliança do Crime) não traz inovação à longa tradição americana do filme proletário, mas tem sinceridade e uma notável especificidade, que abrange do interior das casas às interpretações cuidadosamente dosadas dos excelentes Bale e Affleck – e inclui ainda a fotografia que capta com perícia e critério a Braddock real.
Tudo por Dinheiro
Onde: Netflix
No limite da lei, Walter (Al Pacino) toca um negócio de “consultoria esportiva”: mediante comissão, fornece a apostadores palpites quentes sobre os resultados de jogos esportivos. Seu novo contratado (Matthew McConaughey) é um talento na matéria, e a ideia de Walter é construir um império em torno dele. Não que o filme verse sobre a dinâmica dessa atividade obscura. Seu tema é a natureza perversa dela: quanto mais se ajuda um apostador a ganhar, mais se está empurrando-o para a beira do abismo. McConaughey e Rene Russo, como a mulher de Walter, defendem bem seus papéis. Pacino agarra o seu com unhas e dentes e confirma que é um dos poucos capazes de fazer do histrionismo uma forma de arte.
Zona de Risco
Onde: Looke
Na zona desmilitarizada entre as duas Coreias, um incidente acirra a tensão. Um sargento sul-coreano diz que foi sequestrado e levado até o posto fronteiriço do inimigo, onde teve de matar dois dos três soldados que o ameaçavam para escapar. O norte-coreano sobrevivente alega que o adversário é que invadiu seu posto atirando. Uma investigadora neutra é chamada para deslindar o impasse – e encontra uma história não de hostilidade, mas de profunda amizade. Conhecido pelo violento Oldboy, o diretor Chan-wook Park trata aqui com dramaticidade impecável do rompimento que se impôs aos coreanos nas últimas seis décadas, e faz por esse país dividido mais ou menos aquilo que Wim Wenders fez pela Berlim do Muro em Asas do Desejo: mostrar o que há de lírico e pessoal onde todos só enxergam o político.
The Rover – A Caçada
Onde: ClaroVideo, HBO GO
“Austrália: dez anos após o Colapso”, anunciam os dizeres no início do filme. Que colapso foi esse não está explicado, mas é no cenário árido e agressivo deixado por ele (e, nesse particular, o sertão australiano não requer maquiagem) que o protagonista, magistralmente interpretado por Guy Pearce, vai empreender uma perseguição implacável aos três bandidos que, após um acidente na estrada, pegam o seu carro para continuar a fuga. A picape deixada pelos ladrões ainda está inteira, e é ela que o homem usa para caçá-los; por que, então, ele não desiste de reaver seu sedã e, por ele, se dispõe a morrer e a matar? O diretor David Michôd, do espetacular Reino Animal, se alinha aqui com a tradição australiana da ficção apocalíptica para encenar uma história de violência tão crua e elementar que às vezes é preciso cerrar os dentes para suportá-la. Quando o protagonista casualmente captura o irmão de um dos três bandidos (Robert Pattinson, saindo-se muito bem), um rapaz com problemas mentais, um elemento mais humano se insinua na trama. Mas é bom não se encher de esperança: Michôd é mesmo um pessimista.
O Corte
Onde: Looke
Bruno (José Garcia) é um homem prestes a explodir: demitido do posto de alto executivo de uma indústria de papel em razão de um corte para racionalização de custos, ele procura emprego em vão há dois anos e enfrenta uma crise familiar por causa disso. Desesperado, parte para uma solução extrema: assassinar o ocupante do cargo que almeja – e também todos os eventuais concorrentes à vaga. Diretor de tramas políticas de alta voltagem como Z (1968) e Estado de Sítio (1973), o grego Costa-Gavras faz aqui uma comédia de humor negro de primeira. Baseado no livro homônimo do americano Donald E. Westlake, O Corte é um retrato sarcástico – mas não de todo inverossímil – da competição de vida e morte no mundo corporativo.
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