terça-feira, 16 de julho de 2019

'É uma sensação na boca do estômago', escreveu repórter que acompanhou lançamento da Apolo 11 para a Lua, há 50 anos

O ar estava cheio de tensão e expectativa quando começou a contagem regressiva para a partida da Apolo 11, em 16 de julho de 1969, há exatos 50 anos. Funcionários da Nasa, autoridades, jornalistas e centenas de milhares de pessoas anônimas se espalhavam pelos arredores do local do lançamento, no Centro Espacial John F. Kennedy, na Flórida. Às 9h32 (10h32 de Brasília), o foguete Saturn V levantou voo rumo ao espaço, levando os astronautas Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins. Eles entraram na órbita da Terra 12 minutos depois. Era o início da "conquista da Lua". Sentado numa arquibancada a quilômetros de distância, o jornalista Renato Bittencourt, enviado do GLOBO no Cabo Canaveral, estava tão próximo do foguete quanto poderia, por medidas de segurança. Para relembrar aquele instante, meio século depois, o Blog do Acervoreedita, abaixo, o texto publicado pelo jornal no dia seguinte, no qual o repórter descreve o que viveu.

O SOM QUE ATRAVESSOU OS CORPOS
Centenas de milhares de curiosos, 3.300 jornalistas e numerosas personalidades, entre as quais o vice-Presidente dos Estados Unidos, Spiro Agnew, e o ex-presidente Lyndon Johnson, assistiram em Cabo Kennedy, às 9h32m da manhã, ao lançamento do foguete que levará os primeiros homens à Lua. A correspondência dos enviados especiais da imprensa mundial e a cobertura da rede de televisao por satélite farão com que a experiência da Apolo 11 seja acompanhada, nos menores detalhes, por um número impressionante de leitores e telespectadores no mundo inteiro.
A tripulação da Apolo 11 durante o embarque da viagem para a Lua, no dia 16 de julho de 1969
A imprensa foi colocada em arquibancadas a cerca de 6 quilômetros da rampa de lançamento. O ambiente era de grande excitação. Repórteres escrevendo à máquina e falando em telefones especialmente instalados, com suas redações em Paris, Viena ou Roma. Quando o funcionário da Nasa começou a contagem regressiva no alto-falante (contagem que serve somente de orientação para a imprensa, pois todo o processo é automático, controlado por computadores, e não pode ser interrompido), o nervosismo atingiu o auge. Aplausos e exclamações de alegria prorromperam entre os jornalistas quando a voz anunciou: "We have a lift off" (Eis a decolagem!).

0 foguete ficou imóvel por alguns segundos, preso por poderosos "braços", controlados por computadores e, de repente, recebendo o OK de outro computador, os braços se abriram, e o foguete começou a subir, deixando atrás de si uma cauda de fogo de 300 metros".
Mais impressionante no lançamento é o barulho. Um som grave, diferente daquele que fazem os aviões a jato, parece atravessar o corpo de quem o recebe. Pela primeira vez, "senti" um som, ao invés de ouvi-lo. É uma sensação na boca do estômago. A vibração faz tremular a roupa das pessoas, mesmo à distância em que nos achávamos. 0 ruído é tão forte que pode ser detectado até em Nova York, por instrumentos. Alcança uma intensidade muito superior à que suporta a audição humana. Outra observação que podêmos fazer é sabre a cor da chama que cerca o míssil: um belíssimo alaranjado. Todos os jornalistas — gente blasé, em geral — mostraram-se empoigados com o qüe viram. Mesmo os veteranos admitiam quo esse lançamento teve algo de especial".
Espectadores do lançamento acompanham a ascensão do Saturn V, na Flórida

Com O Globo