Conhecido nos meios intelectuais por seu olhar rigoroso e cético quanto aos políticos e aos costumes partidários do País, o sociólogo Chico de Oliveira diz não ter-se surpreendido com o pacote de más notícias que o domingo trouxe para os petistas – que só elegeram um prefeito no chamado “clube do segundo turno”, que reúne oas 92 cidades com mais de 200 mil habitantes no País.
“O PT como força transformadora, no sentido em que foi criado nos anos 80, já acabou”, disse à coluna o sociólogo. Sua aposta é que ele, no máximo, “possa sobreviver como um partido tradicional.”
Depois dos avanços da Lava Jato, do impeachment de Dilma e dos maus resultados nas eleições, qual agenda o PT deveria adotar para recuperar-se no curto e médio prazo?Como força transformadora, dentro dos ideais que o criaram, minha opinião é que o PT acabou. Quando muito, imagino que possa sobreviver como um partido tradicional, que continuará a viver seu papel de irmão gêmeo do PSDB.
Mas o PSDB foi o principal vencedor dos dois turnos da eleição municipal e sai bem mais forte do que entrou, não?A mim me parece que eles são gêmeos, um age e reage em função do outro. E, de um modo geral, parece-me que o panorama político aí pela frente é sombrio. Os partidos não representam hoje mais nada na sociedade brasileira. Quando muito, garantem uma certa institucionalidade que serve para se tocar a vida adiante.
Mas, como se diz, a política tem horror ao vácuo. Alguma coisa sempre surge para preenchê-lo.Isso é uma frase, apenas uma frase do mundo político. Já tivemos uma situação desse tipo no passado. Depois dos abalos da República Velha, até o final dos anos 1930, por exemplo, veio o período getulista – que, de modo bem amplo, foi um período de estagnação até início dos anos 50. Podemos estar começando algo semelhante – em outro tempo e outras bases, é claro. Um modelo, talvez, de americanismo tupiniquim.
E o fator Lula? O ex-presidente pode sonhar com 2018?O Lula como força política, a meu ver, também acabou.