Peritos da Lava Jato concluíram que o ex-presidente Lula e Dona Marisa orientaram a reforma da cozinha do sítio em Atibaia.
A foto apreendida pela Polícia Federal é o registro de um encontro importante para o arquiteto Paulo Gordilho. As investigações indicam que ela foi tirada em 2014, quatro anos depois de Lula ter deixado a presidência.
Gordilho trabalhava na OAS e, segundo a Polícia Federal, viajou até Atibaia exclusivamente pra tirar dúvidas do casal Lula da Silva sobre reforma da cozinha do sítio. A obra custou R$ 252 mil.
Numa mensagem de celular analisada por peritos da Lava Jato, ele diz: "Sigilo absoluto hem. Amanhã vou em um churrasco em Atibaia com Léo. É na fazenda de Lula e vamos encontrar com ele na estrada e vou passar o dia lá com ele e d. Marisa”.
Léo é Léo Pinheiro, dono da OAS e condenado na Lava Jato.
Gordilho comenta ainda que Lula e Dona Marisa não se entendem sobre a reforma: “Ele quer uma coisa e Marisa outra. E lá vai eu e Léo dar opinião”.
Depois, Gordilho escreveu sobre o encontro com Lula: "Bebemos eu e ele uma garrafa de cachaça". E acrescenta mais para frente: "Vou encontrar a Marisa esta semana. Ele pediu pra tirar umas ideias dela. Ele disse: ‘Companheiro, a Marisa já gosta de uma gambiarra’”.
Numa outra conversa, Paulo Gordilho fala com Léo Pinheiro sobre a reforma da cozinha gourmet.
Léo Pinheiro diz: "Vamos abrir 2 centros de custos: 1º Zeca Pagodinho (sítio) 2º Zeca Pagodinho (praia)”.
Praia seria uma referência à reforma do triplex do Guarujá, tanto que, em outro trecho da conversa, Gordilho diz: "Doutor Léo, o Fernando Bittar aprovou junto a dama os projetos tanto de Guarujá como do sítio. Só a cozinha Kitchens completa pediram 149 mil. Ainda sem negociação. Posso começar na semana que vem. É isto mesmo?"
Léo responde: “Manda bala”.
Os peritos também encontraram um e-mail que Paulo Gordilho mandou para Fernando Bittar, sócio de um dos filhos de Lula, Fábio Luís. Bittar aparece na escritura como o dono do sítio.
Sete minutos depois, Bittar encaminha o mesmo e-mail para Sandro Luiz Lula da Silva, outro filho de Lula. Em anexo, a maquete digital da cozinha do sítio.
A Polícia Federal diz que a reforma e ampliação do sítio em Atibaia começaram em novembro de 2010, quando Lula ainda era presidente.
Vários documentos sobre a obra foram encontrados pela polícia no apartamento de Lula, durante a 24ª fase da Lava Jato, em março de 2016.
O valor total da obra foi de mais de R$ 1,2 milhão. Os peritos afirmam que Fernando Bittar não teria renda suficiente para bancar esses custos.
A defesa de Fernando Bittar afirmou que o cliente procurou a OAS para cobrar a conta da reforma na cozinha; que a construtora deu respostas evasivas, afirmando que o assunto seria tratado depois; que o dinheiro para a compra da parte do sítio foi doado pelo pai de Fernando Bittar; e que Fernando fez várias melhorias no local, com valores compatíveis com o patrimônio dele.
O Instituto Lula declarou que o ex-presidente reafirma que não é o proprietário do sítio ou do apartamento em Guarujá - ou em qualquer outro lugar do litoral brasileiro - e que o ex-presidente sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois da presidência da República.
As defesas da OAS e de Léo Pinheiro não quiseram se manifestar. O JN não conseguiu contato com a defesa de Paulo Gordilho.