terça-feira, 1 de julho de 2014

Meu sucessor tem de ser um estadista, diz Joaquim Barbosa

 

Nivaldo Souza - Agência Estado
 

Após presidir sua última sessão, ministro afirma que membros do Supremo não podem ter vínculos com 'grupos de pressão' e descarta carreira política


Joaquim Barbosa
Ministro Joaquim Barbosa preside sua última sessão
André Dusek/Estadão



Em sua última sessão na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Joaquim Barbosa afirmou nesta terça-feira, 1º, que a principal característica de seu sucessor deve ser a de estadista e que não pode ter vínculos com "grupos de pressão". Ao fazer uma breve avaliação sobre os 11 anos em que atuou na Corte, Barbosa disse ter sido um período de "aperfeiçoamento da democracia".

"Acho que tem de ter como característica principal ser um estadista, ou um estadista em potencial, que irá se aprimorar aqui dentro", afirmou o ministro, cercado por jornalistas à saída de sua última sessão no tribunal. A escolha do substituto de Barbosa caberá à presidente Dilma Rousseff. A presidência ficará com o ministro Ricardo Lewandowski, atual vice-presidente.

Em mais uma estocada dirigida a seus pares, mas sem citar nomes, Barbosa frisou que o STF "não é lugar para pessoas que chegam com vínculos a determinados grupos de pressão". Durante o julgamento do mensalão, alvejou por diversas vezes Ricardo Lewandowski, afirmando, dentre outras coisas, que o colega atuava como advogado de defesa dos réus.

Joaquim Barbosa, que se afasta nesta terça definitivamente da Suprema Corte, ressaltou ter trabalhado para que não houvesse "condescendência com desvios em relação à Constituição". "Foi um período de privilégio imenso, de poder tomar decisões importantes para o País", disse, evitando comentários sobre o que seria o seu legado na presidência, mas destacando que foi um momento de cumprimento de dever.

Barbosa anunciou a decisão de deixar o Supremo no final de maio. Aos 59 anos, ele ainda poderia permanecer na Corte até 2024, quando completará 70 anos, idade da aposentadoria compulsória. Sua presidência ficou marcada pelo julgamento do processo do mensalão e a condenação de personagens importantes do governo Lula, como o ex-ministro José Dirceu.

Sobre uma eventual carreira política, o ministro disse apenas considerar a alternativa "pouco provável", mas não descartou declarar apoio político a algum candidato. A decisão, segundo ele, será tomada "no momento certo, como qualquer cidadão".

Novo presidente. A chegada de Lewandowski à presidência foi comemorada pelo ministro Marco Aurélio de Mello. Em pronunciamento na tribuna do STF, Mello instou Lewandowski a "resgatar valores" do tribunal. "Estamos numa quadra em que precisamos resgatar valores da liturgia desta chefia", afirmou.