A Petrobrás reportou lucro líquido de R$ 6,644 bilhões no terceiro trimestre deste ano, 25 vezes superior ao lucro de R$ 266 milhões no mesmo período de 2017, o que corresponde a uma alta de 2.397% no resultado. Em comparação ao trimestre anterior, no entanto, houve baixa de 34% ante o ganho de R$ 10,072 bilhões, conforme os números atribuíveis aos acionistas.
No mercado financeiro, o resultado causou decepção entre os investidores. Às 11h20, os papeis da empresa caiam 2,9%, liderando as baixas do Ibovespa, cesta com as principais ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, que mantinha depreciação de 1,17% no período.
Em nota, o banco de investimentos Goldman Sachs apontou como negativo os resultados apresentados pela companhia. O resultado, diz a instituição, veio abaixo das estimativas para o fluxo de caixa livre, "que reflete principalmente o crescimento dos investimentos na ordem de reverter a tendência negativa de produção (queda de 6% no acumulado do ano)", apontou. A instituição financeira acrescentou também que os investimentos devem continuar subindo nos próximos trimestres.
De acordo com o presidente da petroleira, Ivan Monteiro , o lucro no trimestre foi afetado pelos acordos firmados, em setembro, com o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) e com a Securities and Exchange Commission (SEC) para encerramento das investigações das autoridades norte-americanas, no valor de R$ 3,5 bilhões. "O único dado relevante para a queda no lucro é o acordo firmado nos Estados Unidos", declarou Monteiro. "Todas as métricas de custo da companhia estão melhores em relação ao ano passado", completou, em nota, a Petrobrás."Excluindo-se esses acordos, bem como os efeitos do acordo da Class Action, o lucro líquido seria de R$ 10,269 bilhões no trimestre e R$ 28,012 bilhões no acumulado do ano".
Ainda assim, a Petrobrás apresentou lucro líquido de R$ 23,677 bilhões nos primeiros noves meses de 2018, "o melhor resultado desde 2011" e um crescimento de 371% comparado a igual intervalo do ano anterior.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da petroleira foi de R$ 29,856 bilhões, alta de 55,3% em relação ao mesmo intervalo de 2017, de R$ 19,223 bilhões, e leve recuo de 1% ante o segundo trimestre deste ano, de R$ 30,067 bilhões. De janeiro a setembro, o Ebitda totalizou R$ 85,691 bilhões, avanço de 35% ante o mesmo período de 2017.
A margem Ebitda ajustada ficou em 30%, ante 27% no terceiro trimestre de 2017 e 36% nos três meses imediatamente anteriores.
A receita líquida somou R$ 98,260 bilhões no período, o que significa um incremento de 36,81% na comparação anual, de R$ 71,822 bilhões, e de 16% na trimestral, de R$ 84,395 bilhões.
O resultado financeiro líquido da estatal ficou negativo em R$ 5,841 bilhões no trimestre encerrado em setembro, 21% menor que a cifra negativa em R$ 7,411 bilhões de igual trimestre de 2017 e acima das despesas financeiras líquidas de R$ 2,647 bilhões no segundo trimestre de 2018.
Lucro vem 37% abaixo das expectativas
O lucro líquido de R$ 6,644 bilhões registrado pela Petrobrás no terceiro trimestre deste ano ficou 37,26% abaixo das expectativas de analistas. As projeções indicaram lucro líquido de R$ 10,590 bilhões, conforme a expectativa de analistas de cinco casas consultadas pelo Prévias Broadcast (Santander, Morgan Stanley, Guide, XP e Itaú BBA).
Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 29,856 bilhões reportado no trimestre encerrado em setembro também ficou abaixo da média das estimativas dos analistas, de R$ 35,761 bilhões, uma variação de 16,5%.
No caso da receita líquida, a petroleira anunciou R$ 98,260 bilhões no período, montante dentro da projeção de R$ 93,757 bilhões esperada.
O Broadcast considera que o resultado reportado pela companhia está em linha com as projeções quando a diferença entre os números é de até 5% para cima ou para baixo.
Dívida abaixo de US$ 70 bilhões
Em coletiva de imprensa, o presidente da estatal, Ivan Monteira, rebateu as críticas dizendo que a meta da administração para a petroleira é fazer com que a dívida líquida feche abaixo de US$ 70 bilhões este ano. Ele disse esperar que a estatal continue a ter mesma performance e que os indicadores da empresa deixam a diretoria otimista com o futuro companhia.
Apesar disso, Monteiro confirmou que a meta de US$ 21 bilhões em desinvestimentos não será alcançada, por conta de decisões judiciais. A expectativa é que encerre o ano com apenas US$ 7,5 bilhões em desinvestimentos. Mas a métrica de desalavancagem de 2,5 vezes o Ebitda ajustado será mantida. A meta de produção no ano também permanece a mesma.
"Estamos avançando em direção à meta de produção do ano. Temos algumas paradas programadas no quarto trimestre, mas o maior volume ocorreu no terceiro trimestre", afirmou Solange Guedes, diretora executiva de Exploração e Produção da Petrobrás.
Preço do óleo diesel
Protagonista durante a paralisação dos caminhoneiros em maio deste ano, o preço praticado pela estatal para o óleo diesel foi também lembrando na coletiva de imprensa convocada pelos executivos da empresa em virtude da apresentação dos resultados do terceiro trimestre. Para o diretor de Refino e Gás Natural da companhia, Jorge Celestino, os preços "continuam competitivos" e alinhados com o mercado internacional, mesmo com a adoção do programa de subsídios.
Em sua apresentação, o diretor responsável pela área de comercialização de petróleo e derivados destacou os avanços alcançados no período. "Estamos melhorando a eficiência de custo e o nível de serviços no abastecimento", afirmou.
Desde que o governo iniciou o programa de subvenção do consumo de diesel, em resposta à greve dos caminhoneiros em maio, a empresa vem ganhando participação no mercado do combustível. A presença da companhia era de 84% em maio e, em setembro, chegou a 93%. O volume de vendas do diesel subiu de 661 mil barris por dia (bpd) nos primeiros nove meses de 2017 para 714 mil bpd em igual período deste ano.
As empresas importadoras de diesel alegam que a subvenção do governo não cobre os custos para trazer o produto do exterior, o que tem contribuído para que a Petrobras ganhe ainda mais espaço de venda.
Já o volume de gasolina comercializado pela empresa caiu de 460 mil bpd de janeiro a setembro do ano passado para 401 mil bpd em igual período deste ano, por conta, principalmente, da concorrência com o etanol. Na disputa com outros fornecedores do combustível, no entanto, a Petrobras lidera a corrida. A empresa possui 91% de market share, frente a 83% registrados em maio deste ano. "A política de preço mais agressiva está fazendo (a empresa) recuperar market share", disse Celestino.
Apesar dos avanços no comércio de derivados, o fator de utilização da capacidade das refinarias diminuiu ao longo do terceiro trimestre. Em julho era de 82% e, em setembro, passou para 75%, principalmente, por conta do acidente que interrompeu a produção da maior unidade da estatal, a Replan, em Paulínia. O esperado é que a refinaria volte a operar com toda a sua capacidade em janeiro do ano que vem.
Sobre possíveis mudanças na empresa no novo governo a partir de 2019, o diretor afirmou que "equipes de transição do Bolsonaro (Jair, presidente eleito) estão conversando, em breve teremos definição sobre futuro da empresa".
BR Distribuidora tem lucro acima das projeções
A Petrobrás Distribuidora (BR) encerrou o terceiro trimestre com lucro líquido 173,6% maior do que no mesmo período do ano anterior, para R$ 1,078 bilhão.
Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) no critério ajustado apresentou queda de 40,2% na mesma comparação, chegando a R$ 631 milhões. A margem Ebitda ajustado também ficou menor, passando a 2,4% de 4,8% no terceiro trimestre de 2017. O ajuste inclui amortização das bonificações antecipadas a clientes e perdas e provisões com processos judiciais e gastos com anistias fiscais, entre outros.
No comparativo com o segundo trimestre, o Ebitda ajustado apresenta um aumento de 24,2%, "demonstrando a recuperação após a greve de maio", diz a mensagem da administração que acompanha os dados, citando a greve dos caminhoneiros. O impacto com a perda de estoque de diesel foi de R$ 200 milhões no segundo trimestre e de cerca de R$ 38 milhões no terceiro.
O lucro líquido da BR Distribuidora veio 44% acima do projetado por analistas consultados pelo Prévias Broadcast. O resultado do terceiro trimestre foi de R$ 1,078 bilhão ante os R$ 749,5 milhões na média das projeções de Santander, Morgan Stanley, Itaú BBA e BTG Pactual.
Porém, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) no critério ajustado, de R$ 631 milhões, ficou 19% abaixo do previsto, de R$ 779,25 milhões.
Além da greve dos caminhoneiros e seus efeitos na distribuição de combustíveis, os analistas citaram que o impacto seria minimizado por eventos não recorrentes, como a quitação de parte dos débitos da Eletrobras e a liquidação extrajudicial de R$ 635 milhões da dívida tributária com o Estado de Mato Grosso.
A receita prevista era de R$ 27,010 bilhões, em linha com os R$ 26,455 bilhões reportados no terceiro trimestre.
O Broadcast considera que o resultado está em linha com as projeções quando a variação para cima ou para baixo é de até 5%.
Márcio Rodrigues, O Estado de S.Paulo