Jaques Wagner (Fernando Cavalcanti/.)
Quando, no começo da semana, os agentes da Polícia Federal chegaram ao portão do cinematográfico edifício Victory Tower, no Corredor da Vitória, em Salvador, com mandado de busca e apreensão, para vasculhar o apartamento de seu mais notório morador, o ex-governador da Bahia e ex-ministro Jaques Wagner – atual secretário estadual de Desenvolvimento, do Governo Rui Costa –, não foi difícil para o rodado profissional de redação perceber que estava face a face com duas forças inapeláveis do jornalismo e da política.
A primeira, “Sua Excelência, o Fato”, na definição de Charles de Gaulle, que sabia dos signos do poder como poucos na história moderna. A segunda, o que o cineasta espanhol, Louis Buñuel, qualifica no capítulo de abertura do livro, “Meu Último Suspiro”, como o bem mais valioso do ser humano: a memória.
Ao notar os esquecimentos de sua mãe – às vezes ela não recordava do nome e nem do próprio filho – nas visitas à casa da família, em Saragoza. Foi então, revela Buñuel, que ele entendeu a relevância transcendente do lembrar para o ser humano. A ponto de concluir em seu livro: “Você é a sua memória. Sem memória você não é nada”.
Observo os movimentos nervosos e as reações diversas, transmitidos pela televisão quase em tempo real, na frente do prédio onde mora o poderoso da política baiana e nacional. O “galego de Lula”, o primeiro nome da escala de preferência do PT, para o caso do maioral – ficha suja depois de condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo TRF4, ficar impedido de disputar o retorno ao Palácio do Planalto.
No mínimo, o candidato petista a senador pela Bahia, figura considerada essencial no palanque da campanha que tentará reeleger seu afilhado, Rui Costa – provavelmente em disputa de encardir pelo Palácio de Ondina, com prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) -. Além de principal puxador de votos de seu partido, no Nordeste, na campanha presidencial, seja quem for o candidato.
Fato e memória caminham juntos, em geral entrelaçados como irmãos siameses. É fácil ver isso na batida da PF no Victoria Tower, – uma das mais belas e privilegiadas vistas da suntuosa Baia de Todos os Santos, desde a varanda de Wagner – na apuração de desvios e propinas na construção da Arena Fonte Nova . Explosivo episódio policial, de inevitáveis conseqüências judiciais, políticas e eleitorais ainda impossíveis de avaliar, neste ano de eleições gerais cheias de incógnitas.
Por enquanto temos as negaças de praxe (sem contestar o fato com a devida convicção e firmeza, alheias à questão de princípios e de o conteúdo da Operação Cartão Vermelho. Só divagações e esperneios de praxe (a começar pelo ex-ministro) em torno de periféricas questões secundárias. Uma delas, a autenticidade e valor dos relógios apreendidos. E críticas à presença de profissionais de jornalismo da TV Bahia (afiliada da Rede Globo) na hora da chegada dos agentes da PF, no local das buscas e apreensões , essencial na divulgação de fato de inequívoco interesse público e jornalístico, doa em quem doer.
Além disso, este é um fato repleto de memórias. E vale esperar para ver o que elas dirão.
Vitor Hugo Soares é jornalista