sábado, 31 de março de 2018

Grupo político apoia Lomba e ameaça romper com Bandeira, o desastrado presidente do Flamengo


Bandeira e Lomba - Divulgação

Diogo Dantas, O Globo
A notícia de que o presidente Eduardo Bandeira de Mello não dá brecha para o vice de futebol Ricardo Lomba continuar com a reformulação no futebol mobilizou o SoFla, grupo político que sustenta a administração e do qual os dois dirigentes fazem parte. Os representantes tomaram partido de Lomba e deixaram claro que vão romper com Bandeira se o presidente não der autonomia para o vice no futebol, e deixá-lo de fora das decisões.

Desde que o Flamengo foi eliminado do Estaduao, Bandeira tem apenas Fred Luz ao seu lado para tomar as medidas, como as demissões de Carpegiani, Rodrigo Caetano e mais três profissionais do clube. O SoFla, que não quer se virar contra o presidente em ano de eleição, mas foca por enquanto no futebol, costura a aproximação de Lomba e Bandeira.

O problema é que Bandeira, há muito tempo, não escuta os conselheiros do grupo político que representa no papel, não na prática. Especialmente no que tange às recomendações para o futebol. Embora receba este e outros grupos do clube, se isolava com os executivos nas decisões.

A entrada de Lomba em um primeiro momento era para manter a filosofia sem mudanças drásticas. Bandeira chegou a cogitá-lo como sucessor na eleição. O próprio grupo político sabe disso e lhe dá respaldo, mas esbarra na vaidade do presidente.

Entenda a crise

O presidente Eduardo Bandeira de Mello faz valer o poder de sua caneta e não dá brechas para o vice de futebol, Ricardo Lomba, liderar a reformulação no futebol após a demissão de cinco profissionais, entre eles Rodrigo Caetano e Carpegiani. Na escolha de um novo técnico e diretor executivo, o mandatário não leva em consideração a opinião do dirigente, apenas do diretor-geral Fred Luz. Retaliação clara ao movimento liderado por Lomba exigindo mudanças após eliminação no Estadual. Lomba já cogitava deixar o cargo.

A mobilização dos vice-presidentes do Flamengo, sob a liberança de Lomba, não foi bem digerida pelo presidente, que contra-atacou se isolando novamente. Tanto que Bandeira foi quem decidiu sobre as demissões e as comunicou. O mandatário acatou os pedidos de saídas, mas durante as decisões sobre os substitutos tirou Lomba do circuito de uma vez. 

Bandeira e o diretor-geral Fred Luz conduziram os processos sem consultar o vice.

A ausência de Lomba no vestiário após a eliminação do Estadual, nas reuniões que definiram as demissões, e no treino desta sexta-feira, em que Bandeira e Luz estiveram presentes, não foi mera coincidência. A definição de Carlos Noval, coordenador da base, para ocupar o lugar de Rodrigo Caetano, também não partiu nem foi participada ao vice de futebol. Embora o acordo esteja selado com o funcionário. Sobre o treinador, Bandeira queria Cuca, mas aguarda o técnico decidir se será comentarista na Copa.

Carlos Noval, coordenador da base do Flamengo, aceitou o desafio de ocupar o lugar de Rodrigo Caetano como diretor de futebol profissional. O dirigente é o único nome definido pela diretoria depois de mapear o mercado. Foi pensado o aspecto da continuidade e do bom ambiente, já que Noval já é conhecido de todos. Tanto pelo bom temperamento como pela competência.

A experiência de sucesso com a base veio como uma virtude que o credenciou para o desafio. Fora do Brasil com uma das categorias, Noval chega de viagem para finalizar a promoção. O profissional foi um nome colocado pelo presidente Bandeira de Mello e o diretor-geral Fred Luz, sem consulta aos demais vice-presidentes, entre eles Ricardo Lomba. Com a lacuna que seria criada com a promoção de Noval, Eduardo Freeland, do Botafogo, e o Marcelo Teixeira, do Fluminense, são os cotados para atuarem na base.

Jayme de Almeida foi o primeiro a comentar a onda de demissões consumada pelo Flamengo, que levou ainda o técnico Carpegiani, o diretor Rodrigo Caetano, o gerente Mozer e o preparador Marcelo Martorelli. O auxiliar-ténico, que foi jogador e treinador campeão, não caiu atirando, mas se mostrou surpreso com a mudança drástica no futebol do clube.

Segundo Jayme, o presidente Eduardo Bandeira de Mello e o diretor-geral Fred Luz chegaram ao ao Centro de Treinamento na última quinta-feira, enquanto ele e Carpegiani estavam no campo dando treino, e informaram que a dupla estava fora. Ricardo Lomba não participou.

— O Flamengo é uma empresa. Esperar, eu não esperava. Quando me chamaram, falaram, "não vamos mais contar com o senhor", e a gente segue a vida — disse o técnico campeão da Copa do Brasil em 2013, único título relevante da gestão do presidente Bandeira de Mello.

— Fui campeão em todas as categorias de base. De coordenador, amador, mirim, juvenil, e minha história ninguém tira. A empresa tem todo direito de trocar. Mas da forma como foi feita troca, não sei se era o momento. É a forma deles trabalharem. Sair é sempre ruim - completou Jayme, respeitando a decisão. O preenchimento dessa e das demais vagas na comissão é uma incógnita no momento, mas a base também será observada para preenchê-las.