quinta-feira, 29 de março de 2018

Impunidade estimula violência na política


Ato de Lula em Curitiba tem cordão de isolamento e hostilidade - HEULER ANDREY / AFP

Igor Mello, O Globo


A punição de atos de violência política é um fator primordial para conter o aumento das tensões na pré-campanha eleitoral deste ano, já marcada pela polarização.

Na terça-feira, dois ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram alvejados por tiros em Quedas do Iguaçu, no interior do Paraná. No mesmo dia, o ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), revelou que sua família tem sido ameaçada.

ara o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, a impunidade é um fator central e estimula mais ações violentas pelo país.

— A melhor forma de inibir a violência contra candidatos é uma investigação rigorosa. A impunidade estimula a violência — resume.

Ainda segundo Ismael, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisa assumir sua responsabilidade, tendo em vista a possibilidade de eleições tumultuadas.

— Eleição é como uma final de campeonato. Se o juiz deixar, vão bater da canela para cima. Não dá é para o juiz não aparecer no campo dessa disputa democrática. O TSE precisa se manifestar sobre a violência, seja ela física ou patrocinada via internet, usando fake news — completa.

A escalada de violência — que tem se refletido em confrontos entre opostos na disputa partidária, ou mesmo entre militantes com posições dissonantes em temas específicos, não é uma exclusividade brasileira. Nos Estados Unidos, foram registrados diversos confrontos entre militantes do movimento Black Lives Matter e supremacistas brancos. Para o cientista político Eurico Figueiredo, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), políticos precisam ter responsabilidade diante do atual momento.

— Essa escalada não é uma jabuticaba, tem ocorrido em outros países. No período eleitoral a violência vai piorar, porque existe a exacerbação dos discursos de lideranças políticas. Elas vão ter que tomar uma posição de muita responsabilidade sobre isso, sob pena de descambarmos para uma anarquia — adverte.

A rejeição à classe política aparece frequentemente em pesquisas de opinião. No Índice de Confiança Social, divulgado pelo Ibope em julho de 2017, o presidente da República tem a pior avaliação, contando com a confiança de apenas 14% dos ouvidos. Os partidos políticos (17%) e o Congresso (18%) vêm logo em seguida.

Para a cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), esse sentimento acaba sendo amplificado pela demora do Poder Judiciário em depurar as denúncias de corrupção, mostrando quem é culpado e quem é inocente.

— A classe política está tão acuada pela Operação Lava-Jato que, de certa forma, os partidos não estão dando conta de cuidar desses conflitos. Essa morosidade da Justiça está passando para o eleitorado, que não tem condições claras (de avaliar quem é corrupto) — afirma a cientista política da UFSCar.

Professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fabio Wanderley Reis também acredita que as tensões devem aumentar durante a eleição. Para ele, o ex-presidente Lula e o PT são o principal foco dessa polarização. Segundo ele, não é por acaso que eles sejam vítimas de ataques.

— O processo eleitoral, que seria a forma de encaminhar esses conflitos de forma institucional, acaba sendo um foco de conflito. Com Lula na disputa, é claro que o clima vai esquentar. Mesmo sem ele, isso pode ocorrer caso algum candidato apoiado por ele tome a dianteira — avalia.