Depois de ver e ouvir, atentamente, a participação inédita do juiz Sérgio Moro no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na noite de segunda-feira, 26, desliguei a TV e saí em busca de outras avaliações e repercussões, para o blog que edito na Bahia. Pessoalmente convencido de que o condutor da Lava Jato (para os sem foro privilegiado), e seus entrevistadores tinham acabado de produzir uma edição de primeira grandeza, para ficar na memória,particularmente do ponto de vista da comunicação social e de seus signos.
Um programa relevante, informativo e revelador, quanto ao conteúdo jornalístico geral, somado a preciosas projeções informativas das entrelinhas – em especial nas questões sobre o fim ou a continuidade da Lava Jato. Os fatos da semana, com as prisões de José Yunes e do coronel Lima , no bojo da operação Skala, da PF, serviram para dar maior relevo e significado à entrevista.
Em Salvador, na quinta-feira, teclava este artigo, enquanto seguia pela televisão a movimentação frenética em São Paulo e Rio de Janeiro, de agentes da PF cumprindo mandados, deste braço da nave-mãe de combate a corruptos e corruptores, pilotada pelo magistrado de Curitiba. A ação produzia nervosos reflexos também em Brasília e em Vitória do Espirito Santo, por onde Michel Temer, acompanhado do ministro da Fazenda, Henrique Meireles, fazia proselitismo pré-eleitoral, a propósito de inaugurar o novo aeroporto da capital dos capixabas.
Na hora, os federais já haviam cumprido determinações da procuradora – geral da República, Raquel Dodge, em meio a faniquitos, sustos e estremecimentos gerais.
Lembrei então de uma passagem emblemática do Roda Viva. O entrevistado relembra o começo da Lava Jato, e como foi “puxado o fio” da corrupção na Petrobras. “Tinha que colocar o número 6 bilhões de reais em um pôster e distribuir. É esse o tamanho do saque que foi feito na Petrobras”, disse Moro. Em seguida afirmou que a Lava Jato já andou, talvez, mais da dois terços do caminho, mas que há ainda outros “fios” importantes que precisam ser puxados . Quatro dias depois, a Skala puxa fios das negociatas no Porto de Santos.
Fatos, verdades, jornalismo. Eis, para mim, as razões básicas da entrevista desta semana na TV Cultura – que assinalou, também, a despedida do jornalista Augusto Nunes do comando do Roda Viva – ter-se tornado um marco na honrosa história do tradicional e melhor programa do gênero na nossa TV . Não descerei aqui – nem cabe – a minúcias de algo que segue ainda ardente na memória, nos debates e nas polêmicas do “contra e a favor” destes dias temerários. Só registro dados irrefutáveis: o Roda Viva que entrevistou o juiz da Lava Jato ficou acima de recordistas quatro pontos de média de audiência (contra picos de 1.5 pontos em dias normais, segundo números do Ibope) e foi o assunto mais comentado nos trendings topics mundiais do Twitter.
Um feito que abrilhanta o entrevistado e entrevistadores, além do condutor do programa. Mas fato que enaltece, acima de tudo, o bom, velho e verdadeiro jornalismo.
Viva! Boa Páscoa para todos.
Vitor Hugo Soares é jornalista