quinta-feira, 29 de março de 2018

Poderosos e presos

Vicente Vilardaga, IstoE


Esgotados todos os recursos judiciais, o ex-presidente Lula pode ir para a cadeia nos próximos dias se o Supremo Tribunal Federal (STF) mantiver a autorização para a prisão após condenação em segunda instância. Nesse caso, sustentadas as regras vigentes, Lula será o primeiro presidente da história do País preso por corrupção. Mas ele não estará sozinho, nem será um caso inédito entre homens que ocuparam o centro do poder. Não faltam hoje ex-presidentes mundo afora enrolados com a Justiça por razões como peculato, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e tráfico de influência. Muitos estão presos, detidos ou ameaçados de ir para a cadeia. A corrupção se alastra sem fronteiras e cada vez mais políticos criminosos estão sendo desmascarados. Em vários países da América Latina, por exemplo, sob os efeitos da operação Lava Jato e dos negócios fraudulentos da empreiteira Odebrecht, quadrilhas comandadas por presidentes estão sendo investigadas e reputações destruídas.
Por conta do envolvimento com a Odebrecht, dois ex-presidentes peruanos já foram condenados à prisão, Ollanta Humala e Alejandro Toledo. Ollanta está preso e Toledo está foragido nos Estados Unidos. No Equador, o vice-presidente Jorge Glas foi condenado, em outubro do ano passado, a seis anos de cadeia, acusado de receber US$ 13,5 milhões em propinas. Na Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos está sendo investigado pelo recebimento de US$ 1 milhão da empreiteira em sua campanha eleitoral. O ex-presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, é outro enrolado com a empresa brasileira. Ele foi preso em junho do ano passado, em Miami, acusado de espionagem durante seu mandato presidencial e também responde na Justiça panamenha por vários crimes decorrentes de sua relação com a Odebrecht.
Na Europa e na Ásia, líderes com altos índices de popularidade em outros tempos, estão na prisão ou perto dela e sendo obrigados a dar satisfação sobre desvios financeiros do passado. Acusações de corrupção atingiram pelo menos dois ex-presidentes nas últimas semanas, que passaram por uma experiência de condução coercitiva ou foram presos. O francês Nicolas Sarkozy foi detido na comuna de Nanterre para explicar sua campanha em 2007. Sarkozy, que deixou o governo em 2012, é suspeito de ter recebido 50 milhões de euros do ditador líbio Muammar Kadhafi para financiar sua campanha. Em fevereiro, foi preso o ex-presidente da Guatemala, Alvaro Colom, que governou o país entre 2008 e 2012. Ele é acusado de desvio de recursos em um grande programa de transporte público. Os problemas de corrupção na Guatemala atingiram também o ex-presidente Otto Pérez Molina, sucessor de Colom, preso em 2015. Do outro lado do mundo, na Coréia do Sul, foi presa, em março do ano passado, a ex-presidente Park Geun-hye. Eleita em 2012, com altos índices de popularidade, ela sucumbiu a acusações de abuso de poder, coerção, suborno e vazamento de informações confidenciais. Antes, dois presidentes sulcoreanos foram mandados para a cadeia: Chun Doo Hwan e Roh Tae-Woo, ambos nos anos 1990.
Presidentes do Brasil
Quatro ex-presidentes brasileiros já amargaram a experiência da prisão, todos por razões políticas: Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), Washington Luis (1926-1930), Artur Bernardes (1922-1926) e Juscelino Kubitschek (1956-1960). Washington Luis foi preso no Forte de Copacabana por 27 dias, em 1930, depois de deposto por ministros militares. Hermes da Fonseca passou seis meses na cadeia por ordem do então presidente Epitácio Pessoa. E Artur Bernardes passou uma temporada preso em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, quando foi capturado por soldados rebeldes no meio de um canavial, em Minas Gerais. Juscelino foi uma das primeiras vítimas do AI-5, teve seus direitos políticos cassados e ficou um mês preso em um quartel em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
Experiência peruana
INIMIGOS Adversários políticos, Ollanta Humala e Alberto Fujimori estão no mesmo presídio em Lima (Crédito:Ernesto Benavides)
Um país que está se notabilizado por prender ex-presidentes é o Peru. Nesse exato momento, dois deles estão atrás das grades: Alberto Fujimori, que governou entre 1990 e 2000, cumpre pena de 25 anos de prisão por corrupção e crimes contra a humanidade. Ollanta Humala (2011-2016), preso preventivamente em julho do ano passado, cumpre uma pena inicial de 18 meses. Ambos estão no mesmo presídio em Diones, no arredores de Lima . Outro ex-presidente peruano, Alejandro Toledo, deveria estar preso, mas encontra-se foragido nos Estados Unidos. Tanto Ollanta como Toledo foram acusados de lavagem de dinheiro e de recebimento de verbas de caixa 2 da Odebrecht para financiamento de campanha eleitoral. O último presidente peruano na mira da justiça é o economista Pedro Pablo Kuczynski, apelidado de PPK, que renunciou ao cargo, há duas semanas, sob acusação de recebimento de US$ 5 milhões por meio de consultorias, em propinas do grupo Odebrecht para facilitar a realização de obras no país. Antes de ser eleito presidente, PPK foi ministro da Economia e primeiro-ministro do Peru no governo de Toledo.