A economia brasileira cresceu 1% em 2017, primeiro resultado positivo desde o minguado 0,5% de 2014. Confirmou ter saído do fundo do profundo fosso que cavou nos dois anos anteriores, mas falta muito para alcançar a superfície em que se encontrava antes da crise. Se crescer 2,5% a 3% em 2018, como preveem muitos analistas, ainda será necessário, a partir de 2019, galgar metade do buraco aberto em 2015 e 2016 para voltar aos níveis de 2014.
Observando o comportamento da atividade econômica no ano passado, o que se vê é um movimento desequilibrado dos fatores produtivos ao longo do tempo. Enquanto a agropecuária avançava 13%, resultado jamais obtido desde o início da série estatística em 1996, a construção civil, depois de quatro anos de mergulho, ainda amargava retração de 5%. A indústria, com um repique no final do ano, ficou no zero a zero — o que não deixa de ser algo a comemorar, depois de cinco anos andando para trás — e os serviços, beneficiados pela expansão do consumo das famílias, avançaram 0,3%.
Condições excepcionais e peculiares transformaram a agropecuária, setor que responde apenas por pouco mais de 5% da formação do PIB, no protagonista da volta da economia ao terreno positivo, coadjuvada pela liberação das contas inativas do FGTS, que impulsionou o consumo. A agropecuária, em resumo, respondeu por 70% do PIB de 2017 — sem ela, o crescimento econômico se limitaria a 0,2%.
Impulsos, concentrados sobretudo na primeira metade do ano, também ajudam a explicar a perda de ritmo da economia trimestre a trimestre, com a expansão do PIB perdendo força pouco a pouco: saltou 1,3% nos primeiros três meses, subiu a metade disso no trimestre seguinte, andou 0,2% no terceiro quarto, e fechou quase parando, com alta de apenas 0,1%, no último trimestre.
O fraco resultado do último trimestre de 2017, no piso das expectativas, esconde, porém, um repique positivo em dezembro, que se mostrou mais nítido na indústria e no investimento. Motivado, em boa medida, pela aceleração das exportações de veículos, em especial para o Mercosul, a indústria se mexeu enquanto o investimento em máquinas e equipamentos começou a dar sinal de vida. Tudo isso considerado, a herança estatística deixada por 2017 para 2018 é positiva, mas menor do que a esperada antes da divulgação dos números oficiais.
Se, ao longo do ano, a economia estacionasse ao nível do quarto trimestre, o crescimento de 2018 ficaria em 0,3%. Mesmo com esse impulso mais fraco, as projeções para a expansão da atividade neste ano não sofreram mudanças significativas. O leque das apostas continua abrangendo um intervalo amplo, que vai de 2,5% a 4%, mas é consenso que o crescimento deve ser mais disseminado e homogêneo.
Ao analisar as diferentes projeções para a evolução da economia em 2018, Braulio Borges, pesquisador do Ibre-FGV e economista da LCA Consultores, encontrou o que parece ser o ponto que separa aqueles que preveem crescimento de 2,5% a 3% dos que apostam em expansão maior, entre 3,5% e 4%. Esse ponto é a expectativa de cada um para a evolução do investimento na economia, representado pela formação bruta de capital fixo (FBCF).
No ano passado, depois de registrar espantosa contração de quase 30%, entre meados de 2014 e meados de 2017, o investimento, sobretudo no fim do ano, começou a apresentar sinais de reversão positiva. Entre novembro e dezembro, por exemplo, o consumo aparente (produção interna mais importações) de máquinas e equipamentos cresceu bons 4,2% — 11,7% acima do resultado de dezembro de 2016. Ainda terminou o ano com retração de 1,8%, levando a mais uma queda na taxa de investimento, que recuou dos baixos 16,1% do PIB em 2016, para baixíssimos 15,6% do PIB em 2017, mas a tendência, concordam muitos, é de recuperação, favorecendo o crescimento econômico geral.
Projeções quanto ao ritmo e grau da recuperação do investimento divergem, no entanto, enormemente. Responsável por 16% da demanda na economia, o investimento, na visão dos analistas, pode avançar desde moderados 3% a 3,5%, em linha com a expansão do consumo das famílias, até voar para uma alta de dois dígitos. Contaminado pelas incertezas políticas e eleitorais, deve vir a ser o principal enigma do crescimento econômico em 2018.
José Paulo Kupfer é jornalista