
Célia Froufe, O Estado de São Paulo
Foram mais de cinco meses arrastados de negociações, mas hoje Angela Merkel conseguiu, finalmente, fechar uma "grande coalizão" para conseguir governar. O Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, aprovou a participação da legenda com os conservadores do União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em inglês) e do União Social-Cristã (CSU), da chanceler alemã.
A união é fundamental para que ela possa governar depois da eleição de setembro do ano passado, a que apresentou margem mais estreita de vitória desde as primeiras eleições do pós-guerra, em 1949, com o partido vencedor tendo sempre conseguido formar maioria. Esta foi a quarta vez consecutiva que Merkel venceu a disputa.
O resultado da votação dos militantes do SPD foi de 66% a favor da coligação e 34%, contra, apesar de pesquisas de opinião divulgadas antes terem sinalizado para um resultado bem mais apertado. O anúncio foi feito nesta manhã, depois de um dia inteiro de eleição. A votação interna do partido a favor da coalizão não foi nada fácil e apenas ganhou impulso depois que Merkel admitiu entregar o Ministério das Finanças a um membro do SPD. O líder da legenda, Martin Schulz, se desligou do cargo em meio às discussões sobre apoio ou não a Merkel.
Se a união não fosse obtida, possivelmente os alemães teriam que voltar às urnas para realizar novas eleições. Agora, a coligação deve passar pelo Bundestag, que é o equivalente à Câmara dos Deputados brasileira. A expectativa é a de que o aval seja dado no próximo dia 14, quando a eleição nacional já encosta nos seis meses após seu resultado.
Merkel, há 13 anos à frente do governo alemão, nunca havia passado por um impasse político tão forte. A longevidade da chanceler no cargo, somada a esse episódio, fez com que os especialistas em política europeia passassem a apontar o francês Emmanuel Macron como a nova liderança do continente. O jovem presidente tem mostrado fortes laços com a alemã desde que assumiu.
A diminuição de apoio à chanceler evidenciou que grande parte do eleitorado conservador, de cerca de um milhão de pessoas, votou na AfD (Alternativa para Alemanha) em setembro, um movimento de extrema-direita, contrário ao Islã, ao euro e à política de Merkel de receber imigrantes. A legenda obteve 12,6% dos votos e mostrou o crescimento de uma corrente já vista no Reino Unido, com o plebiscito sobre o Brexit (saída dos britânicos da União Europeia) e na eleição do republicano americano Donald Trump.
A chanceler reconheceu que esperava melhores resultados em setembro, mas não mudou seu discurso até agora em relação à decisão de abrir fronteiras a refugiados desde 2015. Ela admitiu, porém, que esse fato deve ter sido o principal ponto de polarização em relação à continuidade de seu trabalho no governo.