
WASHINGTON - Jared Kushner formava com Ivanka Trump um dos casais mais poderosos da Casa Branca. Tinham acesso direto ao presidente e uma série de privilégios dentro da equipe de Donald Trump. Glamourosos, tinham poder e um ar de invencibilidade. Mas, em pouco tempo, uma série de eventos imprevisíveis se abateu sobre o genro do presidente.
Acusado de ter usado o cargo para alavancar os próprios negócios e suspeito de ter colaborado com a interferência russa nas eleições de 2016, Kushner já estava enfraquecido há tempos. Agora, privado do acesso aos principais segredos e documentos confidenciais do país, ele não teria muitas chances de se recuperar.
Hoje, colegas já se referem a ele como uma sombra de si mesmo. Suas disputas com o chefe de Gabinete, John Kelly, se tornaram públicas. Seu trabalho no Escritório para Inovação Americana está sendo comparado às manchetes do “The Onion”, um jornal satírico. Sua reputação de interlocutor internacional também foi abalada pelas consequências do recente escândalo.
Publicamente, Trump tem elogiado Kushner, mas, em privado, está irritado com o genro e, por consequência, com a filha Ivanka. Para ele, seria melhor se eles desistissem dos cargos e voltassem para Nova York.

Foram apenas necessárias as fotos do casal formado pela diretora de Comunicação da Casa Branca, Hope Hicks, e de Rob Porter, assessor do presidente, para dar início à atual crise. Depois de terem sido publicadas em um tabloide, as ex-mulheres de Porter foram a público denunciá-lo por violência doméstica, o que acabou levando a sua demissão.
Contudo, isso não impediu questionamentos acerca dos critérios do governo para vetar e liberar o acesso a temas confidenciais.
Como resultado, um memorando escrito por Kelly diminuiu o nível de vários membros da equipe, incluindo o do genro de Trump. Rebaixado da categoria “Top Secret/SCI” para “Secret”, Kushner perdeu acesso a informações confidenciais.
— Quem quer Jared fora do poder é quem o está atacando. O escândalo com Rob Porter foi culpa do próprio John Kelly, mas ele usou a discussão para atacar Jared. É assim que Washington funciona — disse Anthony Scaramucci, demitido por Kelly da comunicação da Casa Branca.
Um funcionário da Casa Branca, que falou em condição de anonimato, diz que a investigação sobre a Rússia tem preocupado bastante Kushner.
— Alguns dos seus colegas têm evitado conversar com ele. Não sabem ainda se ele é uma testemunha ou alvo da operação — explicou.
O “Washington Post” publicou em reportagem que agentes de pelo menos quatro países discutiram maneiras de manipular Kushner através dos seus investimentos financeiros. Já o “New York Times” revelou que o Citigroup e o Apollo Global Management deram mais de US$ 500 milhões para empreendimentos da família Kushner, após reuniões na Casa Branca.
— Um sujeito sem nenhuma experiência além do mercado imobiliário. Sem nenhum trabalho a não ser numa empresa familiar de passado obscuro. É uma piada — disse William M. Daley, que trabalhou em gestões democratas na Casa Branca. — Pessoas elegem presidentes sabendo muito deles. Mas ninguém sabe nada de Jared Kushner. O fato de ele ter cometido tantos equívocos deveria ter alertado alguém.
Atualmente, Kushner continua a ajudar nas questões envolvendo a paz no Oriente Médio e a relação com o México. Ele também atua em discussão semanais para restruturar o sistema carcerário. Mas tem cada vez menos contato com empresários.
— Jared sumiu. Ninguém tem ouvido falar dele há meses — disse um executivo anonimamente.