Palácio Miraflores/Reuters | |
O presidente da Venezuela Nicolás Maduro cumprimenta apoiadores ao chegar para evento, em Caracas |
Informa Alejandro Werner, economista-chefe do FMI para a América Latina: a economia da Venezuela sofrerá este ano uma queda de 15% e a inflação poderá chegar a inacreditáveis 13.000%.
No ano passado, a queda foi igualmente impressionante (14%), com o que a riqueza do país sofreu uma contração de 50% nos seis anos mais recentes.
Em nenhum país nessas condições, o governo de turno poderia esperar vencer a eleição, ainda mais que se trata do mesmo regime nesses seis anos de colapso sem igual na história latino-americana.
Como se explica, então, que o governo de Nicolás Maduro anuncie a antecipação para abril de eleições em tese esperadas para mais perto do fim do ano? Não é preciso ser um Mauro Paulino (Datafolha), meu guru em eleições, para afirmar que o governo venezuelano sabe que, sem variados trambiques, jamais ganharia uma eleição, qualquer que fosse. Logo, só a certeza de que praticará mais uma fraude explica a convocação de eleições.
Para a antecipação da data, há uma especulação ainda mais sinistra, dada por Geoff Ramsey, pesquisador de Venezuela no Washington Office on Latin America: para ele, o governo aposta que, adiantando as eleições, sofrerá menos desgaste ante uma maior deterioração econômica, inevitável quanto mais esperar.
Por sinistra que seja, a especulação é razoável: primeiro porque Maduro será reeleito com o indispensável apoio dos trambiques. Hipótese reforçada pelo primeiro deles: a coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática) foi proibida de concorrer com esse rótulo.
Os partidos que a integram terão, portanto, se quiserem disputar, que entrar com mais de uma candidatura, dividindo seus votos contra o concorrente único do governo.
É verdade que nada impede que o presidenciável de oposição seja único, apresentando-se por um dos partidos que compõem a MUD. Hipótese lógica que, no entanto, colide com as divisões internas na coalizão e seu estado de debilidade mais ou menos crônica e acentuada nos últimos tempos, em parte pela repressão do governo e em parte por sua própria incapacidade.
Com Maduro reeleito, não há perspectiva de mudança nas políticas até agora adotadas e que levaram a um desastre de proporções bíblicas.
Logo, é de se esperar que a Venezuela afunde ainda mais e continue isolada no cenário internacional. O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, já avisou:
"Ninguém vai reconhecer o resultado das eleições na Venezuela. Essas eleições foram convocadas por uma instância que tampouco é valida, como é o caso da Assembleia Constituinte.
A Constituinte foi convocada para marginalizar a legítima instância legislativa, que é a Assembleia Nacional, de maioria opositora.
O problema com essa afirmação é que a comunidade internacional se limita à retórica e não consegue achar um caminho para impedir a continuidade do desastre. Nada de novo: o mundo assistiu impotente o colapso da
Síria, até contribuindo para ele com intervenções militares. A única diferença na Venezuela é que não houve intervenções militares.