segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

'O PT deveria compreender que já cumpriu o seu papel’, diz presidente nacional do PSB


O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, durante entrevista - Givaldo Barbosa / Agência O Globo


Karla Gamba e Geralda Doca - O Globo



Sem pré-candidato definido para a Presidência da República, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, avalia que chegou a hora de o partido de Lula apoiar um dos antigos aliados históricos. Em entrevista ao GLOBO, Siqueira disse ainda que é muito difícil unidade entre as legendas de esquerda no primeiro turno e tratou como inevitável a candidatura própria ao governo de São Paulo, com ou sem o apoio do PSDB.

Nessa pré-campanha, o PSB já sabe se vai apoiar alguém ou ter candidato próprio a presidente?
Em um primeiro momento, nós estamos consolidando um quadro interno, com nove candidaturas de governadores, que podem chegar a dez, e todas competitivas. As candidaturas seriam em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal, Tocantins, Sergipe, Pernambuco, Paraíba e Amazonas. Com esse cacife nós podemos ter uma candidatura própria, mas temos que avaliar isso com os próprios candidatos. Será que ela vai ser útil e contribuir para este quadro? Se for, ótimo! Se não, o que vamos fazer? Nesse sentido nós estamos sendo procurados desde o final do ano passado. Primeiro pelo governador Alckmin, depois foi pelo Ciro, depois a Marina, o Álvaro Dias e também a Manuela D'Ávila. Se nós não tivermos candidato, temos que fazer uma escolha entre esses.

Quais seriam os nomes mais cotados para o caso de uma candidatura própria? O ex-ministro Joaquim Barbosa tem adiado sua resposta...
Tem o Beto Albuquerque, tem o Aldo Rebelo e tem uma conversa paralela com o ministro Joaquim Barbosa. Em relação à Rede, de Marina, nós achamos incompreensível que eles desejem o nosso apoio, mas tenham rompido recentemente com o governo do Distrito Federal e com o governo de Pernambuco. Parece que é um sinal contrário querer o apoio para a candidatura à presidência e ao mesmo tempo romper com dois dos três governos estaduais do partido.

O que muda no campo dos partidos de esquerda com a condenação do ex-presidente Lula?
A esquerda é diversificada e numa eleição de dois turnos, os partidos vão buscar seus projetos próprios ou se agregando a outros. Não creio na unidade da esquerda no primeiro turno. Se tivesse que haver unidade, o PT deveria compreender que já cumpriu seu papel e tem que apoiar outros candidatos de esquerda, não necessariamente ter que ser apoiado por eles. Essa é uma questão democrática dentro da própria esquerda e o PT tem uma visão exclusivista, pensa sempre em torno dele próprio e não em torno de seus parceiros. O reflexo maior disso foi que, quando chegou o seu governo, em vez de colocar como seus aliados estratégicos os partidos que lhe apoiaram desde 1989, escolheu o PMDB.

Como analisa o peso do apoio do presidente Michel Temer a um candidato de centro?
O candidato do governo atual carregará um peso muito grande, que é a impopularidade do presidente e das medidas que ele está adotando. Esse é governo mais impopular da história da República.

Acha que a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro chega no segundo turno?
Não sei o que vai acontecer, mas desejo que ele entre num plano declinante. Não existe coisa pior para o Brasil desse quadro todo do que o Bolsonaro. É algo surpreendente negativamente ter ele entre os que mais estão tendo a preferência do eleitorado hoje. À medida em que o debate avança, a tendência dele é esvaziar. Seria desastrosa ter alguém como ele na Presidência da República.

Se o PSDB retirar candidatura em São Paulo e apoiar o Márcio França, isso seria um peso para o apoio da candidatura de Alckmin à Presidência da República?
Assim como a Rede rompeu com nossos governadores e nós vamos colocar isso na mesa para discussão, se ocorrer isso em São Paulo, nós vamos colocar na mesa em algum momento da discussão. Quer dizer, cada um dá o aceno que deseja, para contribuir ou não com o apoio que pretende.

Márcio França pode retirar sua candidatura ao governo do estado São Paulo?
A hipótese da retirada da candidatura de Márcio França ao governo do estado de São Paulo é absolutamente zero. A direção nacional tem essa candidatura como prioridade. Porque nós sempre entendemos que para o partido ter um projeto nacional ele precisa ter uma presença mais significativa no sudeste do país. E São Paulo, sendo o principal colégio eleitoral, torna-se vital essa candidatura.

O senhor acha possível que o PSDB entregue São Paulo ao PSB, em troca de apoio a candidatura de Alckmin ao Planalto?
Claro, nós temos nossas diferenças com o PSDB, mas achamos que seria muito importante se os tucanos de São Paulo fizessem esse gesto, depois de governar por mais de 20 anos. Ninguém se eterniza no poder. É da natureza da democracia a rotatividade. Penso que é a hora do PSB ter uma experiência em um importante estado da nossa federação.

Se não acontecer, quem perde mais? PSDB ou PSB?
Eu tenho a impressão que o PSDB pode perder mais que o PSB nesse caso. Porque o Márcio será candidato, já está dado. É muito importante que ele tenha o apoio do PSDB, mas ele será candidato com ou sem esse apoio. Ele já está formando sua aliança, já tem mais de três ou quatro partidos comprometidos com a candidatura dele. Desde Mário Covas que o PSB apoia o PSDB em São Paulo. Está na hora de ter uma rotatividade, de ter uma contrapartida, um reconhecimento. Não há nenhuma razão para que não se apoie. É importante que, ao invés de correr o risco de perder uma eleição, que se apoie um aliado.