Mateus Bonomi/Folhapress | |
Operário trabalha em obra de residencial em Goiânia |
ANAÏS FERNANDES, Folha de São Paulo
Estados ligados ao agronegócio estão puxando a recuperação do mercado imobiliário no Brasil desde 2017.
Na média, o crédito total (para pessoa física e construtoras) com recursos da poupança recuou 7,4% no país no ano passado, na comparação com 2016, segundo foi divulgado nesta terça-feira (30) pela Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança).
Em Mato Grosso, porém, houve aumento de 10%, a maior variação registrada pela entidade. Em Mato Grosso do Sul, que teve o segundo melhor desempenho, o crescimento foi de 4%, seguido pelo Tocantins (3%).
Como comparação, o financiamento imobiliário de São Paulo, o principal mercado do país, caiu 6% em 2017. No Rio, a queda foi de 3%.
"Quando falamos da crise no setor imobiliário, precisamos ter em mente que ela não atinge igualmente todas as praças. O Centro-Oeste, em geral, tem registrado um comportamento muito diferente da média do Brasil", diz Gilberto Duarte de Abreu Filho, presidente da Abecip.
O crédito imobiliário desses Estados se saiu melhor não só porque há mais gente comprando mas também porque novos empreendimentos estão entrando nesses mercados.
O financiamento à construção caiu quase 14% no Brasil em 2017. No Tocantins, no entanto, ele disparou 253%.
"Houve crescimento no Amapá [+98%] e em Rondônia [25%], mas esses são Estados onde a base de partida é pequena. No Tocantins, não, lá estamos falando de um mercado que passou por um salto", diz Abreu Filho.
ÂNIMO
A safra recorde de 237,7 milhões de toneladas de grãos no país entre 2016 e 2017, segundo estimativa de janeiro da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), ajudou a elevar o ânimo das construtoras que atuam nas regiões de influência do agronegócio, impulsionando a desova de lançamentos.
Em Cuiabá (MT), por exemplo, o número de apartamentos lançadas de janeiro a setembro subiu 279,5% ante 2016, de acordo com o mais recente levantamento trimestral da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Na Grande Goiânia, o crescimento foi de 12,5%.
Considerando as 22 regiões do país analisadas pelo estudo, no entanto, o total de lançamentos acumula queda de quase 13%.
"Essas áreas têm uma sinergia grande com o agronegócio: quando ele vai bem, elas também vão. E o reflexo dos lançamentos deve ser sentido mais para frente nas vendas", aponta Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliária da Cbic.
Cezário Siqueira Gonçalves Neto, vice-presidente do Sinduscon-MT (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Mato Grosso), destaca que os números são bons não só nas capitais mas também em "cidades vetores" –municípios menores, mas ligados à produção agrícola, como Lucas do Rio Verde e Sorriso.
Em Sinop (a 481 km de Cuiabá) o pedido de emissões de alvará em 2017 até novembro cresceu 8%, na comparação com 2016, de acordo com Gonçalves Neto.