Andreza Matais, O Estado de São Paulo
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse nesta quarta, 31, que se a reforma da Previdência não for votada até fevereiro não irá mais colocar o assunto em pauta. “Sem a reforma a gente não sabe o que vai acontecer com o Brasil, mas não vou ficar nessa agenda a vida inteira. Não dá para carregar isso além do mês de fevereiro. Votou em fevereiro, votou. Não votou, será a agenda da eleição e vamos ver quem vai enfrentar o tema de forma transparente, de forma aberta.”
Maia reconhece que o governo não tem hoje os 308 votos necessários para aprovar as mudanças nas regras do INSS, mas diz acreditar que é possível construir maioria para aprovar ao menos alguns pontos da proposta, como idade mínima e a igualdade para servidores públicos. “Alguns defendem que é esse texto ou nada. acho que se tiver voto com esse ótimo, se tiver voto para outro, bom. Ninguém vai achar que mesmo o próximo governo eleito com força vai fazer uma reforma previdenciária profunda. Não vai fazer.”
Para complementar: “Vamos conversar com os deputados. Não é o que a gente gostaria, é o que a gente pode. Não adianta sonhar com coisas que não existem. Não há apoio da sociedade para uma reforma ampla que não existe.”
Pesquisas a que Maia teve acesso mostram que 80% das pessoas acham que há outras formas de recuperar a Previdência. É esse entendimento que precisa mudar, afirma. “Quando vejo autoridades do governo dizendo que a Previdência quebrou, elas precisam explicar melhor o motivo de ter quebrado. Precisa explicar melhor para que a gente possa aprovar alguma solução que ajude o próximo presidente a começar seu governo. O mito da Previdência está diminuindo, não tá diminuindo como a pesquisa do governo diz, mas está diminuindo.”
Para o presidente da Câmara, o problema é de comunicação. “A Previdência está quebrada, mas a sociedade não acredita nisso. Culpa de quem? Culpa nossa que comunica mal. Culpa do governo, que tem um canhão na mão que são os comerciais e está comunicando mal. Culpa nossa que quando a gente fala a gente também não fala direito.”
O governo comemorou ontem pesquisa Ibope que “mostra pela primeira vez que menos da metade dos entrevistados (44%) se dizem contrários à reforma da Previdência proposta pelo presidente”, como escreveu no Twitter o ministro Moreira Franco.
AGENDA. Maia pretende tocar após fevereiro temas como licenciamento ambiental, distrato, agências reguladoras e segurança pública. “Tem um projeto que é criação do sistema integrado de segurança pública. Desarmamento, do jeito que está não dá para ficar. Houve um resultado negativo do Estatuto do Desarmamento para a sociedade. Não se tratar de armar o cidadão, mas de você dar a quem está distante da cidade o direito de ter uma arma porque ela está isolada”, explica.
Ele prevê que é possível ter sessão na Câmara até 15 de julho, uma vez que a eleição é de apenas 45 dias.
SANEAMENTO E GÁS. O presidente da Câmara criticou a decisão do governo de suspender os empréstimos da Caixa para estados e municípios sem “preparar o dia seguinte”. “Eu entendo a necessidade de se reorganizar a Caixa, mas o que vai colocar no lugar? É preciso se preocupar com o impacto na vida das pessoas no dia seguinte. Faltou ao governo do Michel essa preocupação do dia seguinte”, disse. “Suspender investimentos na área de saneamento é um desrespeito com as pessoas mais pobres. Na hora que suspende a gente tem que dizer para a sociedade, para a pessoa mais simples que o filho dela quando for brincar vai continuar no valão do esgoto”, atacou.
Maia usou o mesmo raciocínio para comentar o aumento no preço da gasolina. “A decisão correta de caminhar para o preço internacional do gás gerou impacto na vida das pessoas. As pessoas têm coração, estão desempregadas, pagam conta. Na hora que você pega um produto tem que se compensar essa parte da sociedade. Isso falta muitas vezes para a tecnocracia. Não desse governo, mas de todos.”
Maia, que teve seu quinto filho nesta madrugada, Felipe, não interrompeu a agenda. Ele participou na manhã de hoje de evento na Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), onde falou sobre a reforma da Previdência e suas prioridades para este ano. Na ocasião, prometeu pautar ainda em março o projeto que regulamenta o lobby no País, demanda da entidade. (Andreza Matais)