Pequenos comércios de bairro, costureiras, oficinas automotivas. O universo de microempresas no Brasil é estimado em 30 milhões de pequenos negócios, que frequentemente esbarram nas dificuldades para obter crédito nos bancos tradicionais.
O microcrédito, que engloba financiamentos de até R$ 15 mil direcionados a essas empresas, é irrisório no país: não chega a 0,5% das operações do SFN (Sistema Financeiro Nacional), segundo um levantamento realizado em 2015 pelo Banco Central.
O cenário do BC, porém, não contabiliza a entrada das fintechs –que unem soluções financeiras com tecnologia– no jogo. Com propostas mais inovadoras nas análises de risco e menos dependentes de burocracia, as start-ups veem no microcrédito um nicho importante para suprir a lacuna de crédito para os empreendedores invisíveis para outros agentes financeiros.
"Os bancos e financeiras no Brasil não contemplam o microempreendedor da base da pirâmide, que é justamente quem mais precisa de crédito", afirma Bernardo Bonjean, 40, ex-executivo do mercado financeiro que criou em 2012 a Avante, fintech cujo foco são os pequenos negócios de periferias e áreas carentes.
A inovação está presente em diversas frentes. A Avante não tem agência fixa, mas está presente em mais de cem cidades de Ceará, Maranhão, Pernambuco e São Paulo com agentes de crédito que visitam microempresários em periferias e comunidades rurais.
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Com entrevista e análise de um software desenvolvido pela empresa, o agente consegue calcular, na hora, o risco do potencial cliente –em muitos casos, a pessoa tem seu perfil aprovado mesmo que tenha restrições na praça. Embora o risco pareça alto, a taxa de inadimplência média é da ordem de 6%.
Com essa estratégia, a Avante construiu uma carteira de R$ 200 milhões em cinco anos, com tíquete médio de R$ 2.500 e empréstimos que começam em R$ 400.
A empresa está diversificando a oferta de serviços financeiros (lançou um aplicativo que permite ao empresário oferecer parcelamento das compras) e terá ainda uma modalidade de conta corrente para aqueles que hoje estão fora do sistema bancário. A meta é alcançar 1 milhão de clientes até 2021 –hoje são 40 mil no microcrédito.
MUDANÇA
Trocar dívidas caras por um financiamento mais barato, sem precisar recorrer aos bancos, é aposta da Creditas, plataforma digital de crédito com foco em produtos com garantia. O modelo de financiamento da empresa permite gerar empréstimos com recursos de investidores, tendo como contrapartida a garantia de imóvel ou automóvel do tomador.
O valor mínimo dos empréstimos é de R$ 2.500 e as taxas de juros variam entre 1,75% e 4% ao mês. "Os clientes incluem de pessoas físicas que querem se livrar de dívidas caras no cartão de crédito a pequenos negócios que buscam capital de giro ou realizar investimentos na própria empresa", explica Sergio Furio, fundador da Creditas, que trabalhou em bancos e consultorias e criou a empresa em 2014, com o nome BankFacil.
A tecnologia dá o principal suporte para a análise de risco, pois a empresa trabalha com análise de big data, um grande volume de dados, para cruzar informações sobre o perfil dos futuros clientes.
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Atrair microempreendedores que não são contemplados nas políticas de crédito dos bancos tem sido a aposta da BizCapital, fintech que atua há um ano e alcançou R$ 140 milhões em pedidos de financiamento. Os empréstimos começam em R$ 5.000 e ajudam os pequenos negócios a comprar insumos, ter capital de giro e saldar dívidas. Os juros variam entre 1,99% e 5,49% ao mês.
"Destravar o crédito para os pequenos é fundamental para o desenvolvimento da economia brasileira. As fintechs têm muito a contribuir", diz Francisco Ferreira, que fundou a BizCapital em 2015 com Cristiano Rocha e Daniel Orlean, todos da área de tecnologia