terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Democratas terão um Kennedy para desafiar plano migratório de Trump


Nova geração. Joe Kennedy III visita túmulo do tio-avô em Arlington - Maddie Meyer / The Washington Post/2013


Henrique Gomes Batista, O Globo



WASHINGTON - Caberá a um nome de “família nobre” da política americana rebater o discurso sobre o Estado da União, que Donald Trump fará ao Congresso: o deputado Joe Kennedy III, de 37 anos. Ele subirá à tribuna do Capitólio logo após o presidente para contestá-lo. Mas o neto do senador Bobby Kennedy e sobrinho-neto do presidente John Kennedy terá a difícil missão de criticar Trump sem exagerar no pessimismo.

Embora essas respostas acabem ofuscadas pelo discurso do presidente, neste ano a atuação da oposição será importante para medir a estratégia democrata na reforma imigratória, uma das questões centrais dos EUA. Tanto é assim que, além de Kennedy, desta vez haverá uma versão em espanhol, por parte de Elizabeth Guzman, deputada da Virgínia de 44 anos, nascida no Peru.

A legenda está diante de um impasse após defender os “sonhadores” (dreamers) — cerca de 700 mil pessoas que podem ser deportadas com o fim do programa criado pelo então presidente Barack Obama — a ponto de ter causado a paralisação do governo com a falta de acordo orçamentário. Se aceitar a proposta de Trump, que quer um caminho à regularização destes jovens em troca do muro na fronteira e de regras mais difíceis para entrar no país, pode ser acusada de ter feito os EUA ficarem mais fechados do que nunca.

Por outro lado, se não o fizer, pode passar à opinião pública a imagem de abandono aos sonhadores.

Os democratas precisarão se posicionar sobre o programa de infraestrutura de Trump, que quer dedicar US$ 1 trilhão (R$ 3,2 trilhões) para obras em rodovias, estradas, portos e aeroportos. O tema atrai a opinião pública, que sonha com estruturas melhores e empregos. Em entrevistas, a líder democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, disse que não é um grande desafio, pois o partido manterá o norte:

— Será muito difícil para alguns democratas, principalmente os que tentam a reeleição em estados vermelhos (tradicionalmente republicanos), se posicionarem contra este projeto — afirmou John Hudak, diretor do Centro de Gestão Pública Eficaz da Brookings Institution.

O partido levará desconhecidos ou nomes importantes à tribuna do Congresso como convidados para o discurso pós-Trump. Estarão lá jovens sonhadores; imigrantes indocumentados; a prefeita de San Juan (Porto Rico), Carmen Yulin Cruz, que ficou famosa por criticar a demora do governo Trump em socorrer as vítimas do furacão Maria, diferentemente do que ocorreu em Flórida e Texas; e Jean Bradley Derenoncourt, vereador da cidade de Brockton e primeiro haitiano eleito para um cargo público nos EUA. Este último será em clara provocação a Trump por supostamente ter chamado Haiti, El Salvador e nações africanas de “países de merda” neste mês.