quinta-feira, 30 de abril de 2020

Bolsa sobe 10,25% em abril e recupera parte das perdas com a crise do vírus chinês. Saída de Mandetta e Moro teve impacto zero

Em abril, a Bolsa de Valores brasileira teve o primeiro mês de valorização no ano, acumulando alta de 10,25%, a maior desde janeiro de 2019, quando o Ibovespa subiu 10,8% com o otimismo de investidores com o início do governo de Jair Bolsonaro.
O desempenho positivo de abril mostrou que a saída do governo de Luiz Henrique Mandetta e de Sergio Moro tiveram impacto zero.


Operador na Bolsa de Nova York
Ibovespa sobe 10,25% em abril e tem primeiro mês positivo de 2020 - Xinhua/Wang Ying
A alta no mês é um alívio após o pior trimestre da história, com queda de 36,85% do índice entre janeiro e março de 2020 devido à crise provocada pelo vírus chinês. Apesar da recuperação, o ano acumula queda de 30,4%, o pior desempenho desde 2008, ano da crise financeira, quando a Bolsa caiu 41,2%.
“Ainda não temos nenhum dado econômico a respeito da recuperação e o risco político continua sendo maior, mas se espera que a retomada da economia suavize os impactos da paralisação”, diz Ilan Arbetman, analista da corretora Ativa Investimentos.
Arbetman destaca que o otimismo que sustenta a Bolsa é do investidor doméstico. Os estrangeiros seguem retirando recursos do mercado acionário brasileiro. Até 27 de abril, saíram R$ 5 bilhões de investimento estrangeiro no mês, o melhor resultado desde setembro, quando entraram R$ 425 milhões. Em 2020, a saída é recorde: R$ 69,5 bilhões.
“Vimos uma nova leva de investidores nacionais entrando na Bolsa com os preços mais convidativos e com a iminência de um corte mais robusto na taxa de juros, fazendo com que menos pessoas busquem a renda fixa e procurem ativos de risco”, diz o analista.
A Selic a 3,75% e a perspectiva de que ela deve cair para 3% reduz o retorno de muitos investimentos, como a poupança, que rende 0,7% da Selic + TR (Taxa Referencial), hoje zerada.
Também contribuiu para a alta da Bolsa brasileira, a recuperação do preço do petróleo e das Bolsas no exterior.
Após cair abaixo de US$ 20 o barril no início da semana, o contrato do Brent, referência internacional do óleo, ganhou força nos últimos pregões e está a US$ 25.
Neste mês, as principais Bolsas globais com o otimismo na retomada das atividades na Europa e Estados Unidos conforme a flexibilização da quarentena.
Nesta quinta-feira (30), porém, o Ibovespa caiu 3,2%, a 80.505 pontos, com o aumento do desemprego no Brasil nos Estados Unidos e queda recorde no PIB (Produto Interno Bruto) da zona do euro.
"O afrouxamento das medidas de restrição de isolamento social está em curso no velho continente, com diversos membros caminhando na direção da reabertura gradual da economia, resta saber se esta será sustentável e, se sim, quanto tempo levará para a demanda voltar a se aproximar dos patamares pré-crise", diz relatório da Guide Investimentos.
O índice Stoxx 600, que reúne as principais empresas da Europa, fechou em queda de 2,3% na sessão, mas acumulou alta de 6,2% no mês.
Nos Estados Unidos, Dow Jones caiu 1,2% nesta quinta. S&P 500 e Nasdaq tiveram recuos de 0,9% e 0,3%. No mês, Dow Jones saltou 11% e S&P 550, 12,7%, as maiores valorizações mensais desde janeiro de 1987. Já a Bolsa de tecnologia Nasdaq disparou15,4% em abril, seu melhor mês desde junho de 2000.
Dentre os destaques negativos do dia, as ações preferenciais (sem direito a voto) do Bradesco caíram 7,2%, a R$ 19,15, e as ordinárias (com direito a voto) 6,44%, a R$ 17,56, após o lucro do banco despencar 40% no primeiro trimestre.
O cenário de juros baixo também contribuiu para a alta de 4,6% do dólar no mês devido ao carry trade. Nessa prática de investimento, o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior. Com a Selic na mínima histórica, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país, elevando assim sua cotação.
Em abril, o dólar teve sucessivos recordes e atingiu o maior patamar nominal (sem contar a inflação) da história do Plano Real, a R$ 5,6680 na segunda (27) e, durante o pregão de sexta (24), a moeda chegou a R$ 5,7450 na máxima, após a saída de Moro do governo Bolsonaro.
No ano, o real tem o pior desempenho dentre todas as divisas globais, com desvalorização de de 35,4% ante o dólar, a maior desde 2015, quando a moeda americana disparou 49% no Brasil.
Nesta quinta, a moeda subiu 1,5%, a R$ 5,4370, após acumular queda de 5,5% nos últimos dois pregões. O dólar turismo está a R$ 5,73 na venda

Com informações de Júlia Moura, Folha de São Paulo