terça-feira, 28 de abril de 2020

Para suceder Kim Jong-un, irmã precisaria romper tradição norte-coreana

Com os rumores de que o ditador Kim Jong-un estaria gravemente doente, passou-se a debater quem poderia sucedê-lo no comando da Coreia do Norte. Sua irmã, Kim Yo-jong, tem sido citada pela imprensa internacional como opção, embora mulheres em cargos de comando seja algo raro no país.
Ela é apontada como uma das parentes mais próximas de Jong-un (na Coreia, o sobrenome é escrito antes do nome) e esteve ao lado do irmão em momentos importantes, como nas reuniões com o presidente dos EUA, Donald Trump, realizadas em 2018 e em 2019.
Kim Yo-jong, irmã do ditador Kim Jong-un, durante cerimônia em Hanói, no Vietnã 
Jorge Silva - 2.mar.2019/Reuters
Em um desses encontros, no Vietnã, Kim foi visto fumando do lado de fora. Ao lado dele, uma mulher que parecia Yo-jong segurava um cinzeiro para o ditador.
Yo-jong tem cerca de 30 anos. Sua idade, assim como a do irmão, não é confirmada pelo regime. Os dois estudaram na Suíça no fim dos anos 1990. Usaram nomes falsos e viviam em uma casa com vários funcionários e seguranças.
Esses anos juntos teriam ajudado a aproximá-los, segundo reportagens dos jornais The Guardian e The Washington Post.
Ao voltar para a Coreia, no início dos anos 2000, Yo-jong se formou em ciência da computação em Pyongyang. Naquela década, seu pai, Kim Jong-il, comentou com um visitante russo que via na filha um potencial para a liderança.
Jong-il morreu em 2011, e Yo-jong fez sua primeira aparição pública em seu funeral. Kim Jong-un se tornou ditador da Coreia do Norte e chamou a irmã para ser diretora no setor de Propaganda, responsável por cuidar de sua imagem e da do governo.
Yo-jong tem atuado para tentar modernizar a imagem do país no exterior. Embora a Coreia do Norte siga fazendo testes com mísseis com bastante frequência, os encontros de Kim com Trump ajudaram a suavizar a imagem de brutalidade do regime norte-coreano, uma ditadura familiar no poder desde 1948.
Yo-jong foi incluída pelos EUA, em 2017, em uma lista de governantes norte-coreanos acusados de cometer abusos severos contra os direitos humanos.
Nos últimos anos, ela estaria atuando como uma espécie de chefe de gabinete do irmão. Em 2018, foi enviada às Olimpíadas de Inverno em Pyeongchang, na Coreia do Sul, para representar o governo. O ato foi visto como um sinal de seu poder.
Em março deste ano, assinou seu primeiro comunicado em nome do governo, o que foi considerado mais um sinal de prestígio. Nele, acusou a Coreia do Sul de ser um "cão assustado que late" depois que Seul reclamou de um exercício militar norte-coreano.
"Kim Yo-jong será, por enquanto, a principal base de poder, com controle de partes do governo como o Judiciário e da segurança pública", disse Cho Han-bum, do Instituto para a Unificação da Coreia, em Seul, à agência Reuters.
Embora seja uma das pessoas mais influentes da família, terá grandes dificuldades para chegar ao comando do país. A principal delas é que a Coreia do Norte sempre coloca homens em postos de comando, além de valorizar figuras mais velhas.
"É improvável que ela assuma o poder, mas pode ajudar a construir um governo interino e mediar as forças políticas até que os filhos de Kim Jong-un cresçam", disse Go Myong-hyun, pesquisador do Asian Institute for Policy Studies, em Seul.
Especialistas em Coreia do Norte apontam que Jong-un, que se casou em 2009, teria três filhos, sendo que o mais velho têm dez anos.
Outro ponto é que há uma grande briga pelo poder na família Kim, que teve ao menos dois assassinatos nos últimos anos.
Chang Sung-taek, tio de Kim Jong-un, foi executado em 2013, acusado de traição. E, em 2017, um meio-irmão de Jong-un, Kim Jong-nam, foi morto por envenamento na Malásia.
Ele, que estava exilado, era crítico do regime, e há suspeitas de que colaborava com a CIA.
Rafael Balago, Reuters