BRUXELAS
Metade do tráfego aéreo de passageiros sumiu em março de 2020, na comparação com o mesmo mês do ano passado, mostram dados globais divulgados nesta quarta-feira (29) pela Iata (associação das companhias aéreas).
A demanda medida por receita total de passageiros-quilômetro (RPKs, indicador usado pela indústria) mergulhou 52,9% na comparação dos dois períodos, o maior declínio da história, segundo a associação.
A queda é reflexo das medidas tomadas para reduzir o contágio pelo vírus chinês. Em termos dessazonalizados, o volume global de passageiros retornou a níveis de 2006. O setor teria frotas e funcionários para o dobro.
“Foi um mês desastroso para a aviação. Pior, sabemos que a situação se deteriorou ainda mais em abril, e a recuperação deve ser lenta”, disse Alexandre de Juniac, diretor-geral da Iata.
Na terça, a entidade reafirmou que é urgente uma ajuda dos governos. “A maioria das empresas tem caixa suficiente para garantir dois meses de despesas. E os governos têm demorado a agir”, afirmou Juniac.
A demanda internacional de passageiros caiu proporcionalmente mais que a doméstica: 55,8% em março de 2020, na comparação com março de 2019. Em fevereiro, havia sido 10,3%.
Todas as regiões registraram um declínio percentual de tráfego de dois dígitos. Na Ásia-Pacífico, o tráfego de março caiu 65,5%, mais que o dobro da queda de 30,7% em fevereiro. Na Europa, a queda foi de 54,3% ano a ano —em fevereiro, não havia alteração em relação a 2019.
O tráfego das operadoras norte-americanas mergulhou 53,7% em relação a março do ano passado, contra 2,9% em fevereiro. Na América Latina, a queda de demanda foi de 45,9%; em fevereiro, o tráfego foi praticamente igual ao de 2019.
Já a demanda por viagens domésticas encolheu 47,8% em março.
“O setor está em queda livre e não chegamos ao fundo”, disse Juniac. Segundo ele, governos precisam trabalhar com as companhias aéreas para que, quando começarem a diminuir as restrições de mobilidade e abrir fronteiras, haja medidas para impedir a propagação da doença.
ASSENTOS VAZIOS
"O distanciamento físico não é necessário nem viável a bordo de uma aeronave", afirmou a Airlines for Europe (A4E), que reúne as 16 maiores empresas do setor, em carta enviada à União Europeia.
A entidade argumenta que é impossível para as tripulações trabalhar mantendo uma distância de dois metros dos passageiros ou entre si, e que não há modelo financeiramente viável para tirar do solo um avião com apenas dois terços da capacidade.
Nesta terça, o diretor-geral da Iata já havia afirmado que reduzir a capacidade eleva os custos em 50%, o que seria o fim das viagens “low cost” (mais baratas).
A mensagem foi enviada aos ministros dos Transportes da UE, que se reuniram na quarta para discutir o impacto da pandemia no setor de transporte.
Segundo a Ryanair, uma das empresas low cost, só seria possível operar com menos assentos ocupados se o governo pagar pelas cadeiras que ficarem vazias.
Ao jornal britânico Financial Times, ele disse que exigir uma ocupação menor “é uma idéia idiota”, porque manter um assento vazio entre os passageiros não garante o distanciamento físico.
Segundo a Ryanair, uma das empresas low cost, só seria possível operar com menos assentos ocupados se o governo pagar pelas cadeiras que ficarem vazias.
Ao jornal britânico Financial Times, ele disse que exigir uma ocupação menor “é uma idéia idiota”, porque manter um assento vazio entre os passageiros não garante o distanciamento físico.
Ana Estela de Sousa Pinto, Folha de São Paulo