O ex-juiz da Operação Lava Jato Sergio Moro, que na última sexta-feira (2404) pediu demissão do governo Bolsonaro alegando “interferência política” do presidente sobre a Polícia Federal, afirmou, nesta sexta-feira (2004), que irá apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) provas das acusões que fez ao agora ex-chefe. Em entrevista à revista Veja, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública sentenciou: “O combate à corrupção não é prioridade do governo”.
Ao anunciar a saída do governo, motivada pela exoneração de Maurício Valeixo, seu homem de confiança, da direção-geral da Polícia Federal, Moro avisou: “O presidente queria alguém para ligar, colher informações, colher relatórios de inteligência. Isso não é papel da Polícia Federal”.
O presidente reagiu e, na mesma sexta, disse que seu então ministro da Justiça teria condicionado a troca de Valeixo por Alexandre Ramagem por uma cadeira no STF.
O episódio rendeu um inquérito pedido pela Procuradoria-Geral da República e aberto pelo STF. Nas investigações, tanto Moro quanto Bolsonaro terão que apresentar – e provar – suas versões. (Equívoco: é Moro quem tem que provar o que disse)
Segundo a Veja, Moro revelou que não vai admitir ser chamado de mentiroso e que apresentará à Justiça, assim que for instado a fazê-lo, as provas que mostram que o presidente tentou, sim, interferir indevidamente na Polícia Federal.
Momento oportuno
“Reitero tudo o que disse no meu pronunciamento. Esclarecimentos adicionais farei apenas quando for instado pela Justiça. As provas serão apresentadas no momento oportuno, quando a Justiça solicitar”, ressaltou o ex-juiz.
Sobre a divulgação de mensagens trocadas com a deputada federal Carla Zambelli, de quem foi padrinho de casamento, Moro disse à revista que não gostou de tomar tal atitude, mas o fez para se defender
“As apresentei única e exclusivamente porque no pronunciamento do presidente ele afirmou falsamente que eu estava mentindo. Embora eu tenha um grande respeito pelo presidente, não posso admitir que ele me chame de mentiroso publicamente. Ele sabe quem está falando a verdade. Não só ele. Existem ministros dentro do governo que conhecem toda essa situação e sabem quem está falando a verdade”, disse.
“Por esse motivo, apresentei aquela mensagem, que era um indicativo de que eu dizia a verdade, e também apresentei a outra mensagem, que lamento muito, da deputada Carla Zambelli. O presidente havia dito uma inverdade de que meu objetivo era trocar a substituição do diretor da PF por uma vaga no Supremo. Eu jamais faria isso. Infelizmente, tive de revelar aquela mensagem para provar que estava dizendo a verdade, que não era eu que estava mentindo”, completou.
Ataques à esposa
Moro ainda revelou que vem sofrendo tentativas de intimidação. Segundo ele, sua esposa foi atacada e estão confeccionando e divulgando dossiês contra ela com informações absolutamente falsas.
“Ela nunca fez nada de errado. Nem eu nem ela fizemos nada de errado. Esses mesmos métodos de intimidação foram usados lá trás, durante a Lava- Jato, quando o investigado e processado era o ex-presidente Lula”, observou.
O ex-ministro acredita que a abertura do inquérito em que ele pode ser acusado de denunciação caluniosa foi “intimidatória”. “Quero afirmar que estou à disposição das autoridades. Os ataques mais virulentos vieram principalmente por redes virtuais. Não tenho medo de ofensa na internet, não. Me desagrada e tal, mas se alguém acha que vai me intimidar contando inverdades a meu respeito no WhatsApp ou na internet, está muito enganado sobre minha natureza”.
À revista, Moro falou que a opinião pública compreendeu o que eu disse e os motivos da minha fala. Mas adimtiu lamentar ter adotado tal posição. “É importante deixar muito claro: nunca foi minha intenção ser algoz do presidente ou prejudicar o governo”.
Carlos Estênio Brasilino, Metrópoles