PARIS E MADRI - A pandemia provocada pelo do vírus chinês causa estragos na economia europeia. Os dois primeiros países a divulgar o desempenho da atividade econômica do primeiro trimestre registraram tombos históricos.
Na França, o PIB encolheu 5,8% no primeiro trimestre, maior queda desde 1949, quando começaram os registros do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Com o resultado, o país mergulha em recessão, já que é o segundo trimestre seguido de recuo na atividade econômica.
Já a economia da Espanha teve contração de 5,2%, a maior queda em quase um século, ou seja, desde a Guerra Civil espanhola. No quarto trimestre de 2019, o país cresceu 0,4%.
Na Itália, país europeu mais afetado pelo novo coronavírus com mais de 27 mil, o retrocesso do PIB foi de 4,7% em comparação com o trimestre r.
Os governos de ambos os países atribuem a queda aos efeitos da paralisia da economia devido ao coronavírus. Comércio e fábricas foram fechados para evitar a disseminação do vírus. O resultado é um indício de que outras nações do país terão contração no primeito trimestre.
A zona do euro registrou queda de 3,8% nos três primeiros meses do ano, o retrocesso trimestral "mais importante'' da série histórica, segundo o Instituto Europeu de Estatística (Eurostat).
Mas não é só na Europa que o avanço da Covid-19 teve forte impacto nos índices econômicos. Na quarta-feira, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou que o PIB americano caiu a uma taxa anualizada de 4,8% no primeiro trimestre, pior resultado desde o quarto trimestre de 2008, quando o país foi o epicentro da crise financeira global.
Mas o cenário pode piorar.De acordo com Escritório Independente de Orçamento do Congresso (CBO, na silga em inglês), o PIB americano pode cair cerca de 12% no segundo trimestre em relação ao primeiro, e o desemprego aumentará, assim como o déficit fiscal e a dívida.
Há duas semanas, a China divulgou um tombo de 6,8% em sua economia nos três primeiros meses de 2020, primeiro resultado negativo desde 1992.
Previsão de queda ainda mais acentuada
Na França, o tombo do primeiro trimestre supera amplamente as contrações dos três primeiros meses de 2009 (-1,6%), provocada pela crise financeira global, e do segundo trimestre de 1968 (-5,3%), quando greves e protestos de maio de 68 pararam o país.
No último trimestre de 2019, o PIB francês havia recuado 0,1%.
O Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (INSEE) atribuiu o resultado ao confinamento decretado pelo governo para combater a Covid-19.
A queda da atividade "está principalmente relacionada com a paralisação das atividades não essenciais, no contexto da implementação do confinamento desde meados de março", explica o INSEE em um comunicado.
O Banco da França previu no início de abril uma contração de 6% do PIB do país no primeiro trimestre. Analistas da Reuters esperavam recuo de 3,5%.
O INSEE não publicou previsões para o conjunto de 2020, mas afirmou que cada mês de confinamento reduziria o crescimento francês em três pontos em ritmo anual e que a recuperação "vai demorar" após o confinamento, que deve ser flexibilizado a partir de maio.
O governo francês prevê uma queda do PIB de 8% para este ano.
No caso da Espanha, O Instituto Nacional de Estatísticas (INE) destacou em seu comunicado que a estimativa provisória do PIB pode passar por uma revisão "de una magnitude maior que a habitual" pela dificuldade de elaborar estatísticas precisas em meio ao rígido confinamento da população devido ao coronavírus, em vigor desde 14 de março.
Em 2019, a Espanha registrou crescimento de 2% do PIB. Mas o Banco da Espanha prevê para 2020 uma queda "sem precedentes na história recente", com uma contração de entre 6,6% e 13,6% da quarta maior economia da zona do Euro. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta uma contração de 8% da economia espanhola para este ano.
- Estamos diante de uma situação econômica e social gravíssima - admitiu na quarta-feira o primeiro-ministro Pedro Sánchez, durante uma sessão no Congresso.
A taxa de desemprego, que já era elevada, subiu para 14,4% no primeiro trimestre e pode atingir 20,8% até o fim do ano, segundo o FMI.
A Espanha, um dos países mais afetados do mundo pela COVID-19, mantém desde 14 de março um rígido confinamento para conter os contágios, o que incluiu duas semanas de paralisação de todas as atividades econômicas não essenciais.
O governo espanhol anunciou que o confinamento será progressivamente flexibilizado nas próximas semanas, em quatro etapas. A expectativa, segundo o premier Pedro Sánchez, é que o processo se inicie na próxima segunda-feira, dia 4 de maio, e seja concluído até o fim de junho. A velocidade do desconfinamento irá variar de região para região, a depender de fatores como o número de casos e de leitos disponíveis no local e da adesão ao distanciamento social.
Pandemia afeta 'pulmão econômico' da Itália
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatísticas da Itália(Istat), o PIB italiano retrocedeu 4,8% na comparação com o igual período do ano passado. A pandemia afetou regiões que representam o pulmão econômico da península, Lombardia, Veneto e Emilia-Romana.
Os italianos estão em confinamento desde 9 de março. No dia 22 do mesmo mês, o país interrompeu as atividades produtivas. No entanto, há alguns dias, as empresas começaram a retomar aos poucos as atividades, mas de maneira ainda limitada.
A terceira maior economia da Eurozona enfrentará uma severa recessão este ano, com uma queda do PIB de 8%, de acordo com o governo. Mas se a pandemia persistir, a contração pode atingir 10,4%, destacou o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.
O desemprego registrou queda em março, mas um resultado relativo porque deve ser considerado o aumento expressivo de inativos, pessoas que não buscam emprego ante o impacto do vírus na economia. A taxa de desemprego, ou seja, de pessoas sem trabalho que procuram uma vaga, caiu 0,9 ponto, para 8,4%, segundo o Istat.
Efeitos na Zona do Euro
A primeira estimativa do Eurostat foi precedida pelos declínios anunciados por França e Espanha, e agora a expectativa é quanto aos números da Alemanha, maior economia da Europa.
O FMI, em suas projeções mais recentes, já previu, para 2020, uma contração de 7,5% do PIB nos 19 países da zona do euro como um todo devido ao coronavírus, e não descartou um impacto maior.
Os dados para a zona do euro como um todo "são os declínios mais importantes desde o início da série cronológica em 1995", afirmou o Eurostat em comunicado, que colocou a contração do PIB em 3,3% em relação ao mesmo período de 2019.
O impacto das medidas de contenção para conter a pandemia na Europa também foi sentido na inflação, que continuou sua desaceleração em abril para 0,4% em relação ao ano anterior, e no desemprego, que registrou uma leve recuperação para 7,4% em março.
O núcleo da inflação, que não leva em conta os preços voláteis de energia, alimentos, álcool e tabaco, desacelerou em abril para 0,9% nos 19 países do euro como um todo, informou o escritório europeu em outro comunicado.
Com agências