Há mais de três décadas no setor, Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul, acompanhou os 20 anos da negociação entre União Europeia e Mercosul. O desfecho foi considerado importantíssimo por ele, muito porque vem “de maneira bem gradual”.
No mercado automotivo, haverá carência de sete anos até que as alíquotas de importação, hoje em 35%, caiam. Para ele, é tempo para o país resolver o ajuste fiscal e se preparar para a revolução de carros autônomos e elétricos.
Enquanto isso Após a aprovação do acordo, não vem redução tarifária por sete anos, mas no período há uma cota de importação de 50 mil veículos. “É uma cota pequena no contexto do mercado brasileiro, e é para o Mercosul”, diz.
Sobrevivência Para Golfarb, é complicado para o país abrir um mercado como este quando a prioridade é a Previdência. “Após o sétimo ano, exportar e ter níveis altos de competitividade global não é uma questão de oportunidade, é sobrevivência. Temos de estar preparados.”
Lição de casa Dá para fazer, mas é preciso começar já, ele diz. “Hoje, a prioridade estratégica é ajuste fiscal, com razão, mas exportação tem que ser também. É como futebol: quem não ataca leva gol. Quando se faz um acordo dessa magnitude e se assume que em alguns anos a tarifa será zero, precisa estar afiado na competitividade dos seus produtos.”
Receita O VP da Ford cita um tripé que daria poder à exportação, mas é insolúvel no curto prazo: 1) questão tributária, 2) crédito e 3) infraestrutura logística, nos aspectos de marco regulatório, cabotagem, portuário e outros.
Fumaça O aceno de Trump a uma trégua na guerra comercial com a China, em especial a Huawei, animou o mercado e a empresa no sábado (29), mas para analistas o otimismo vem com cautela.
Fogo “Por dois motivos: a disputa de EUA e China veio para ficar e Trump governa pela instabilidade. Em uma tuitada ele muda tudo”, diz Evandro Carvalho, coordenador de estudos Brasil-China na FGV.
Aliás Em suas contas verificadas no Twitter, a Huawei republicou notícias do tema em tom de empolgação.
Maturação Algumas mudanças do texto-base da nova lei de licitações, aprovado na Câmara, podem não engrenar. Novidades como o diálogo competitivo, em que a iniciativa privada apresenta soluções a um problema, devem demorar a ser incorporadas, diz Henrique Frizzo, sócio do Trench Rossi Watanabe.
Passado Segundo o advogado, os governos têm receio de que órgãos de controle não aceitem a inovação e julguem o processo ilegal.
Resistência Precedentes não faltam, afirma o professor da FGV Carlos Ari Sundfeld. “Um exemplo foi a desconfiança dos tribunais de contas com modelos já introduzidos, como a contratação de consultorias na área de TI. Então não é uma queixa sem razão”, afirma.
Jalecos A área da saúde preencheu quase um terço dos postos de trabalho criados nos últimos 12 meses até maio, segundo o Iess (Instituto de Estudos da Saúde Suplementar).
PROSA
"Este é um acordo de grande magnitude, feito no momento em que as questões de comércio globais estão caminhando em outro sentido”Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do SulCom Igor Utsumi e Paula Soprana
Joana Cunha, Folha de São Paulo