Sou promotor de Justiça há 27 anos, recém-completados. Sempre atuei no combate aos crimes violentos e corrupção, seja atuando em Varas Criminais, no Júri, Execuções Criminais e que cuidam de improbidade administrativa, onde são processados funcionários públicos e particulares que, dentre outras condutas, corrompem-se e desviam dinheiro público.
É uma tarefa inglória, já que atuamos contra todo o sistema, que é feito para não funcionar, alcançando, na maioria das vezes, o bandido pé de chinelo, que não tem condições de pagar excelentes advogados, a preço de ouro.
Nenhuma crítica à classe dos advogados, que, em sua imensa maioria, atuam com ética e são essenciais às funções jurisdicionais do Estado.
A Operação Lava Jato conseguiu uma façanha jamais vista neste país, quiçá no mundo: colocou na cadeia, dentre outras pessoas poderosas, um ex-presidente da República, governadores e presidente da Câmara dos Deputados, além do presidente de uma das mais ricas empresas do Brasil.
Com isso, acabou com a hegemonia de partidos políticos que há décadas tinham o Brasil como seu quintal, fazendo dele o que bem lhe aprouverem. O resultado está aí, um país arrasado, levando à quase quebra de empresas estatais até então ricas e eficientes, como a Petrobrás e os Correios.
O fim desse ciclo de bandidagem do colarinho-branco só foi possível graças à eficiente atuação do Ministério Público, da Polícia Federal, da Receita Federal, do Coaf e, principalmente, de um juiz de Direito, que, com coragem, dedicação e competência, presidiu os processos e colheu provas que levaram ao sucesso de ações penais extremamente complexas.
Foi um marco no combate ao crime organizado, que, com toda sua força econômica e política, desviou bilhões de reais do nosso Brasil, enchendo os cofres de empresas, empresários e políticos inescrupulosos, que, indiretamente, causam e causaram não só o empobrecimento do País, mas de milhões de brasileiros, que passam as maiores privações por conta do egoísmo e mau-caratismo desses bandidos travestidos de políticos e de empresários.
É triste ver que um punhado de mensagens criminosamente obtidas e flagrantemente editadas e falsificadas estejam sendo usadas para atingir um herói nacional, que em qualquer país mais desenvolvido estaria sendo venerado e não execrado por pessoas que têm apenas um propósito: voltarem ao poder, soltarem o chefe da maior organização criminosa que já atuou no Brasil para fazerem o que sabem melhor, saquear os cofres públicos.
Pessoas cultas, ou não, de todas as classes sociais, parecem ter sido lobomotomizadas a ponto de acreditarem, ou ao menos assim dizerem, que tudo não passou de armação. Armação de quem? Da Polícia Federal, do Ministério Público, do então juiz Sérgio Moro e dos demais magistrados que lhe sucederam em todo Brasil, do TRF, do STJ e da maioria dos ministros do STF? É isso?
Meus amigos, o Brasil precisa proteger o patrimônio nacional que é a Operação Lava Jato, que deve ficar para sempre, zelando pela lisura dos atos governamentais e punindo com severidade os traidores da nação, que se enriquecem ou enriqueceram às custas da miséria do nosso sofrido povo.
*César Dario Mariano da Silva, promotor de Justiça – SP. Mestre em Direito das Relações Sociais. Especialista em Direito Penal. Professor Universitário. Autor de vários livros, dentre eles Manual de Direito Penal, Lei de Execução Penal Comentada, Provas Ilícitas e Estatuto do Desarmamento, publicados pela Juruá Editora
O Estado de São Paulo