A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira o operador Lúcio Bolonha Funaro e recolheu documentos na casa do lobista Milton Lyra, apontado por delatores como facilitador de negócios espúrios em partidos junto a empresas públicas e bancos como a Caixa, o BNDES e o Banco do Brasil. Conformerevelou VEJA, Lyra foi citado como operador do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) no fundo de pensão Postalis, dos Correios. Funaro, por sua vez, é suspeito de ser operador do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A PF também cumpriu nesta manhã mandados de busca e apreensão na sede da JBS Friboi e na casa do empresário Joesley Batista, dono da indústria de alimentos.
A operação de hoje, batizada de Sépsis, foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal e é um desdobramento da Lava Jato em Brasília. O nome da ação é uma referência a uma doença desencadeada por um grave quadro de infecção geral.
A nova fase da Operação Lava Jato, embora não tenha como alvos políticos com foro privilegiado, atinge em cheio a cúpula do PMDB, em especial Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Funaro, ligado a Cunha, e Lyra, a Calheiros, foram alvo das investigações. Ao todo, foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão - dez em São Paulo, um em Sorocaba (SP), um em Lins (SP), três no Recife, dois no Rio de Janeiro e dois em Brasília - além do mandado de prisão preventiva contra Funaro.
Lúcio Bolonha Funaro é um velho conhecido da justiça. Em 2013, ele deixou de ser punido no escândalo do mensalão depois de ter fechado um acordo de delação premiada. Na época, ele era engrenagem fundamental para lavar dinheiro sujo para o então Partido Liberal, hoje Partido da República. Novamente com o cerco contra ele, Funaro pode negociar com a justiça e se tornar também delator na Operação Lava Jato.
As investigações e o cumprimento de mandados desta sexta-feira estão relacionados majoritariamente à recente delação premiada do ex-vice-presidente de Loterias da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, ex-aliado de Cunha. Cleto foi exonerado do cargo da Caixa no fim de dezembro do ano passado, logo depois do peemedebista ter autorizado a abertura do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Na época, a decisão de Dilma foi vista como um "troco" ao seu desafeto.
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Quando Cleto fazia parte dos Comitê de Investimentos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), a fabricante de celulose Eldorado Brasil, um dos projetos mais ambiciosos da holding J&F, controlada pela família Batista, recebeu polpudos 940 milhões de reais repasses do FI-FGTS - parte do dinheiro teria acabado nas mãos de Funaro. Na mira da Operação Lava Jato desde que Fábio Cleto fechou acordo de delação premiada, o FI-FGTS registrou pela primeira vez no ano passado prejuízo no resultado anual. A queda foi de 900 milhões de reais no patrimônio líquido do fundo que usa recursos dos trabalhadores para aplicar em projetos de infraestrutura. O patrimônio do FI-FGTS é largamente ligado a empresas investigadas no petrolão: boa parte de seus recursos foram aplicadas em companhias como a Odebrecht Transport e a Odebrecht Ambiental, a OAS Óleo e Gás e a CCR, concessionária de rodovias da Andrade Gutierrez e da Camargo Correa.
Em sua delação premiada, Cleto apontou o nome do deputado Eduardo Cunha como destinatário de 1% dos quase 1 bilhão de reais aprovado pelo FI-FGTS à empresa Eldorado. O ex-vice da Caixa também já havia confirmado que Cunha cobrou 52 milhões de reais em propina para viabilizar recursos para o projeto do Porto Maravilha, no Rio.
Em nota à Comissão de Valores Mobiliários, a JBS afirmou que "não é alvo e não está relacionada" à operação de hoje. Em nota, a Eldorado disse que "desconhece as razões e o objetivo desta ação e prestou todas as informações solicitadas".