Campo de plantação | Foto: Shutterstock
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, almeja a liderança do mercado de agronegócio do Brasil até 2023
ACaixa projeta desbancar o Bradesco no crédito para o agronegócio em até três meses. Em julho, a estatal terá uma cartada poderosa: uma linha de crédito, a taxas menores, para pequenos produtores dos rincões brasileiros com faturamento anual de até R$ 250 mil. A Caixa teve uma subida quase meteórica no agro em três anos. Em outubro de 2019, o banco ocupava a oitava colocação no segmento com míseros 2% no share dentre as instituições. Em novembro de 2021, saltou para o terceiro lugar, com 15% do mercado. O líder é o Banco do Brasil. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse em reunião essa semana para vice-presidentes que almeja a liderança do mercado de agronegócio do Brasil até 2023.
…depois do tiro no pé…
A elaboração dessa nova linha de crédito ocorre cerca de um mês depois de o Bradesco ter arranhado a imagem com o público-alvo. Um vídeo publicitário para promover um aplicativo do banco que calcula pegadas de carbono foi tirado do ar após irritar o agronegócio e levou o presidente do Bradesco a se retratar. Diversas associações, federações e sindicatos emitiram notas de repúdio e ameaças de fechamento de contas. Não ficaram só nas ameaças. A Caixa e o BB viram um aumento de novas contas no setor nos últimos dias de 2021.
…100 agências
Com 4.200 agências atualmente, a Caixa vai abrir mais 300, sendo 100 exclusivas para o agronegócio, sem porta giratória, uma em cada Estado brasileiro, para servir de relacionamento ao pequeno, médio e grande produtor. Executivos do banco, incluindo o presidente, identificaram o Espírito Santo e Santa Catarina como regiões de maciços pequenos agricultores, que praticamente nunca receberam auxílio. “São colônias italianas e alemãs, com 10 ou 15 hectares, mas com grande produtividade. A orientação da Caixa antes era o repasse apenas para cooperativas de crédito e bancos, como Bradesco e Santander. “Decidi acabar com os repasses e assumir a operação”, disse Guimarães a Oeste.
I have a dream
Pessoas próximas a João Doria nutrem um sonho: colocar o governador de São Paulo na liderança da chapa presidencial, com a senadora Simone Tebet como vice e o ex-juiz Sergio Moro como senador. Argumentam, inclusive, que o silêncio de Doria neste mês é estratégico e seria uma prova de que ele quer deixar o ex-juiz da Lava-Jato “se queimar” sob os holofotes no começo de 2022, para abraçá-lo daqui uns meses. Todos são unânimes em dizer que não há nenhuma chance de Doria abrir mão da candidatura a presidente para ser vice de um nome da terceira via.
Sem calça apertada
Aos 60 anos, o empresário de hotéis e restaurantes de luxo Rogério Fasano vai se aventurar em outro ramo em 2022: ele prepara o lançamento de uma grife de roupas masculinas. A Gero Fasano será uma linha mais sofisticada, premium — com a promessa, diz Fasano, de acabar com as calças justas para os homens.
Tudo por um popstar
A ordem na operação brasileira da Netflix, com sede em Barueri, é não economizar para reter as grandes estrelas de seu casting no país. Na surdina, o maior serviço de streaming do mundo tem oferecido a seletos nomes bolsas de estudos para cursos de atuação, direção ou inglês no Estado norte-americano da Califórnia e um contrato maior para estrelar produções estrangeiras da empresa. A ideia é investir no que o país tem dado em troca: a Netflix tem cerca de 221 milhões de assinantes no mundo, e o Brasil já é o segundo maior mercado da empresa. No último trimestre de 2021, a empresa adicionou 8,2 milhões de novas contas em sua base. Parece muito (e é), mas o mercado financeiro esperava mais — razão pela qual as ações da companhia já recuaram 40% só em janeiro.
Duelo de gigantes
Os mimos oferecidos a poucos nomes brasileiros são uma resposta à concorrência feroz no mercado. A Disney quer expandir seu orçamento de conteúdo em US$ 8 bilhões em 2022. A Netflix deve gastar US$ 17 bilhões. A Amazon nem precisa falar: o gigante norte-americano de Jeff Bezos não mede esforços no conteúdo do Prime Video. Entre os funcionários da Netflix no Brasil, o nome mais temido é o da executiva Malu Miranda, da Amazon. É ela quem tem assediado nomes fortes do showbiz nacional, para atrair para a plataforma. Na lista, figuras com contrato vigente na Globo e na Netflix.
Brasil na tela
De fato, o Brasil gosta de ver o Brasil na tela: entre as dez produções mais vistas da Netflix, a maioria é nacional, como as novelas infantis do SBT. Com uma semana no ar, a comédia brasileira Lulli, estrelada por Larissa Manoela, virou o filme de língua não inglesa mais visto no mundo na Netflix. A consultoria inglesa Ampere Analysis reportou, recentemente, que o investimento em conteúdo vai ultrapassar US$ 230 bilhões (R$ 1,3 trilhão), sobretudo por serviços de streaming por assinatura.
“Os brasileiros estão lendo mais e continuarão a ler”
Além dos gigantes norte-americanos — como Google, Amazon e Microsoft, esta última viu o lucro crescer 21% no último trimestre —, um dos setores que se beneficiaram na pandemia foi o mercado de livros. No Brasil, o faturamento das editoras brasileiras subiu 29% em 2021, comparado com o ano anterior. A bonança se traduz em mais números: a indústria faturou R$ 2,28 bilhões no ano passado, contra R$ 1,76 bilhão em 2020. Os brasileiros compraram 55 milhões de exemplares em 12 meses, outro aumento significativo, comparado aos 42,5 milhões de 2020. Os dados são do Sindicato Nacional de Editores de Livros, o SNEL, em parceria com a consultoria Nielsen.
“Os brasileiros estão lendo mais”, conclui Marcos da Veiga Pereira, dono da editora Sextante e que acaba de encerrar um ciclo de sete anos na presidência do SNEL. Ele fala, em entrevista a Oeste, sobre os resultados positivos atuais e os desafios da indústria livreira, com a concorrência de gigantes como a Amazon às séries populares de TV. Para ele, o hábito das pessoas em maratonar uma série talvez inviabilize o surgimento de um novo fenômeno livreiro nos próximos anos, como Harry Potter, Cinquenta Tons de Cinza, O Código da Vinci, A Cabana e O Segredo. A propósito, os três últimos foram lançados por Pereira.
Como o senhor vê o aumento de faturamento e exemplares vendidos no Brasil?
Foi uma gratíssima surpresa. Nenhum de nós imaginava isso no início da pandemia. Os brasileiros estão lendo mais e continuarão a ler, porque o hábito da leitura é muito poderoso. Há ainda uma porção de novas lojas menores surgindo e fazendo sucesso, como a rede Leitura, em Salvador, e a Vila, no Rio. Entre setembro de 2020 até o fim de 2021, 40 novas lojas foram abertas. Estão redescobrindo os novos lugares. Não é mais a megastore. A ideia da megastore (um dos motivos da recuperação judicial da Saraiva e da Cultura, duas redes que já foram as maiores do país) é ineficiente, desnecessária. Para que 100 mil títulos diferentes? A livraria tem de ter uma boa curadoria, bons livreiros, bom atendimento, ter os lançamentos. Hoje, a tendência são lojas que precisam ser menores, aconchegantes, como se fosse um ponto de encontro.
O senhor e seu irmão Tomás (também acionista da Sextante) são conhecidos no mercado pelo faro em descobrir títulos estrangeiros, comprados a preço de banana — em torno de US$ 5 mil —, que são transformados em fenômenos editoriais no Brasil. Quando teremos um novo fenômeno editorial?
Acho que vai ser cada vez mais difícil vermos livros de enorme sucesso. E sabe por quê? Temos um concorrente avassalador chamado séries de TV. Muitos anos atrás, eu sentei em uma churrascaria no Rio e contei umas três mesas falando do mesmo assunto: o livro O Código da Vinci, de Dan Brown. Comprei esse título nos Estados Unidos por US$ 5 mil e vendemos 1 milhão de exemplares no país, um sucesso estrondoso. Dias atrás, tive um encontro com pessoas variadas, e algumas rodas só falando de séries de TV, como Succession. Essa concorrência é pesada. Acho também que nunca mais teremos um sucesso como O Monge e o Executivo, título que ficou durante mais de dois anos em listas de mais vendidos. Porque os títulos — sejam livros sejam séries — são mais efêmeros: são lançados, logo consumidos, porque sempre tem novidade vindo aí.
A Amazon se transformou em um dos maiores vendedores de livros no Brasil. Como o mercado encara o gigante de Jeff Bezos?
Atualmente, 45% dos livros vendidos no Brasil são em lojas físicas e 55% são on-line, tendo a Amazon praticamente na totalidade. Torço para que esses dados se equilibrem. A Amazon é uma empresa notável. Como loja de livros, é das melhores apresentações de produto que se tem: há a informação do livro e do autor e um sistema de avaliação que ninguém tem — com um algoritmo muito eficiente, que mostra quem leu, por exemplo, num modelo copiado da Netflix. Mas tem o lado ruim, que é a depreciação do produto. Um exemplo: vou entrar agora para ver o romance Torto Arado, do Itamar Vieira Junior. Está sendo vendido a R$ 32,90, enquanto nas livrarias está R$ 57,90. É impossível uma livraria competir com esse valor. Isso cria uma percepção de valor que é ruim para o mercado inteiro. Cria uma mentalidade na cabeça do consumidor de que o livro no Brasil é caro.
Revista Oeste