sexta-feira, 31 de maio de 2024

Jóias Musicais - Grandes Bandas

Clint Eastwood: A história de um grande ator - Biografia Completa (Três Homens em Conflito)

Top 10 Julia Roberts Movies

Fernão Lara Mesquita - Estados Unidos cara-a-cara com o ovo da serpente

Condenação de Trump é tiro no pé dos democratas? - Análise Deltan Dallagnol

Bolsonaro faz pronunciamento em São Bernardo do Campo e arrecada doações para o Rio Grande do Sul

'Oeste Sem Filtro' - Augusto,Ana Paula,Alexandre Garcia,Piotto e Paula Leal comentam decisão do STF de antecipar reunião para permitir viagem de facção da 'corte' ao exterior para mais uma farra, agora numa 'empresa' de Gilmar Mendes. Pode isso, Augusto?

Alexandre de Moraes x Alexandre de Moraes

Covil do Lula faz ato contra doações de Bolsonaro ao povo do Rio Grande do Sul. Mas, para variar, vira piada! 'O cartel Lula-STF' dá mais um vexame

União começa a ser condenada pelos atos de Alexandre de Moraes, afirma a ex-juíza Ludmila Lins Grilo, perseguida pelo 'cartel Lula-STF'. Hoje exilada nos Estados Unidos

'Oeste Sem Filtro' - Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Silvio Navarro, Alexandre Garcia e Paula Leal comentam a mobilização de Bolsonaro em ajuda à população do Rio Grande do Sul

Paulo Polzonoff: Janja está preocupada com a queda de popularidade de Lula

 

Primeira dama do PT, Janja: “Estou preocupada”.| Foto: Cláudio Kbene/PR


— Benhê!


— ...


— Benhê!


— ...


— Benhêêêêêêêêêêêê!!!!!— esbraveja Janja. Até que Lula, distraído que estava com o aspirador e uns delírios de grandeza, finalmente ouve. Ele se vira e a encontra numa poltrona Fauteuil aux Dragons que, no entanto, não pertence ao casal nem ao patrimônio da União. É de um amigo.


— O que foi, amor da minha vida? — pergunta ele todo meloso ao ver que a primeira-dama faz biquinho.


— É que eu tava aqui conversando com a Dani e... tô preocupada, mô.


— Mas por que isso agora? Tá tudo tão bem! Olhe ao seu redor. Você mora num palácio. Abra seu guarda-roupas. Você tem tudo e mais um pouco. Leia os jornais. Assista ao que dizem as tuas amigas. Nunca antes na história deste país um presidente e sua primeira-dama foram tão amados!


— Eu sei. Mas a imprensa é uma coisa e o povo é outra coisa — tenta Janja, num raro momento de bom senso. — Além disso.... — Janja hesita em revelar ao maridão que essa realidade da imprensa aí nem sempre é a realidade real. “Já sei!”, pensa ela e seus neurônios celebram a ideia genial. Ou seria janjeal? — Além disso, hoje eu vi uma fake news...


— Onde? Como? Quando? Chame já o Alexandre! Chame já o Bessias! Convoque o Noblat! Ligue pra Natuza! Vamos dar um jeito nesses fascistas de extrema-direita agora mesmo!


— Não, amor. Calma. Não é motivo pra tanto. Toma aqui seu remedinho pra pressão. —Lula toma o remédio e Janja continua: — Vi uma fake news que dizia que a sua popularidade tá em queda. Que tem mais gente desaprovando do que aprovando o seu governo. Que tem gente que acha que você é...


— Desembucha, Janja! Pode dizer sem medo. Eu já passei por muita coisa nesta vida. Já ouvi o Randolfe Rodrigues cantando Bee Gees. Já comi o pão que a Marilena Chauí amassou. Já tive aula de estatística com o Pochmann e de economia com o Galípolo. Já fiquei preso 580 dias naquela pocilga em Curitiba. Eu aguento, Janja.


— Já tem gente achando que você é pior do que o Bolsonaro. — Lula arregala os olhos como se fosse ter uma síncope. Mas, antes que ele possa entoar a velha ladainha de “nunca antes neste país”, “a zelite”, “picanha & cervejinha” e “graças a mim o pobre está andando de avião”, Janja emenda: — E eu tô preocupada, com medo de que isso respingue na minha imagem. Eu não quero entrar para a história como uma primeira-dama pior do que a Michele.


Lula se lembra da Michele, do sorriso da Michele, da voz da Michele, da elegância da Michele. Ele abre a boca para elogiar a ex-primeira-dama, mas se contém. Ufa! Essa foi por pouco mesmo.


— Mas e o resgate do cavalo?


— Não adianta nada eu resgatar um pangaré daqueles se você resolve cobrar imposto de quem compra brusinha na Shein! — ralha ela. E quem irá dizer que Janja não tem razão? Não há Viagra político capaz de levantar a popularidade de Lula. Se até o Jean Wyllys já pulou fora dessa canoa furada! Ops. Deixa eu colocar esse argumento na boca da Janja. Vamos ver o que o Lula responde: — Lula, até o Jean Wyllys já tá pulando fora e defendendo o voto na Tebet.


— Aquele... Aquele... Aquele... Aquele campeão do Big Brother! — diz Lula, quase matando meu editor do coração agora.


— Não adianta nada eu usar minhas melhores roupas e o Ricardo Stuckert focar no meu melhor ângulo e a gente sair por aí pegando criança ranhenta no colo se o seu governo tem um rombo fiscal pior do que o da pandemia. Se você veta a proibição das saidinhas. Se você... Ah, vamos falar o português claro, Lula. Se você só faz M!


— Não era o L?


— Engraçadinho. Não é hora de fazer piada, Lula. É a minha imagem que está em jogo aqui. A gente precisa fazer alguma coisa! — diz Janja, algumas oitavas acima do aceitável.


Ao sentir aquela estridência vocal a lhe ferir os tímpanos presidenciais, Lula tem um calafrio e, com ele, uma epifania. O velho barba abre o sorrisão malandro, aquele que até a recepcionista da Odebrecht conhece bem, e se deixa jogar no sofá novinho em folha. É, aquele de R$ 65 mil.


— Não se preocupe com isso, Janja. Não se preocupe com nada disso. Aliás, vem aqui do meu lado, vem.


— Como assim, homem?! Tá gagá?! Imagine se você perde a eleição! Imagine a vergonha! O que é que as minhas amigas vão dizer?! — pergunta e exclama em sequência Janja, um tiquinho descontrolada.


— Não se preocupe. Não tem o menor perigo de nada disso acontecer.


Janja fica ali pensando, subitamente admirada com o sorriso velho e autoritariamente arrogante de Lula. Foi por esse homem que ela se apaixonou quando ele ainda estava na cadeia, preso por corrupção e lavagem de dinheiro. Até que ela entende. Mesmo assim Lula faz questão de explicar bem explicadinho, como se Janja fosse uma socióloga de 57 anos.


— A gente tem a imprensa ao nosso lado. A gente tem o STF ao nosso lado. A gente tem o TSE ao nosso lado. Não há nenhum motivo pra você se preocupar, Janja. Só um milagre tira a gente do poder. Agora vem cá ler a Gazeta do Povo comigo, vem.


— O Popov já publicou a coluna de hoje? — pergunta Janja. — Adoro quando ele reproduz os nossos diálogos. Rio muito.


(O colunista agradece a preferência).


— Ele é bom, mas eu não entendo direito ironia. Prefiro as Frases da Semana. Aqui, ó — diz ele, entregando o celular a Janja. — Lê pra mim, Rô. Você sabe que tenho dificuldade...


Ela se senta ao lado dele, pega o celular, entra nas Frases da Semana e, de cara, dá uma risadinha. Mas, na hora de ler em voz alta, desiste, franze a testa e fica toda brabinha novamente.


— Tô chateada, Lula.


— O que foi desta vez?


— Você gosta mais do Hamas do que de mim... — começa Janja.


— Assim, do nada? Vish! — diz Lula. Ele sabe que está encrencado.



Paulo Polzonoff, Gazeta do Povo

Chegada do Bolsonaro em São Bernardo do Campo-SP 31-05-2024

'Brasil Paralelo'- Gianturco: querem reescrever a história do Brasil

A Igreja e as mulheres: resposta a um “señorito satisfecho” da BBC News Brasil, por Flávio Gordon

 

Detalhe de “Santa Helena”, de Giovanni Battista da Conegliano, retratando a mãe do imperador Constantino.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público


“You are entitled to nothing.” (Frank Underwood, House of Cards)


Etimologicamente, a palavra sacerdote deriva do latim “sacerdos”, termo formado pela raiz sacer- (“sagrado”) mais a partícula -dhe (“dar”, “oferecer”), de origem indoeuropeia. Traduzindo de maneira literal, sacerdote seria aquele que dá ou oferta o sagrado. O sentido da palavra tem relação direta com a noção de sacrifício, do latim sacrificius, formado pela mesma raiz sacer- mais o complemento -facere (“fazer”), e cuja tradução literal seria “fazer” ou “tornar” sagrado.

O português informal capta bem o sentido original do termo quando os seus falantes empregam conotativamente o substantivo “sacerdócio” para designar o ato de se autossacrificar por algo maior que o interesse próprio. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, Machado de Assis diz que “o amor é um sacerdócio, a reprodução de um ritual”.

Já no sentido denotativo da palavra, ao longo de praticamente toda a história humana, e entre as mais variadas culturas, jamais terá ocorrido a alguém sensato conceber o múnus sacerdotal como algo diverso do ato de servir – algo como, por exemplo, a assunção de um cargo, a obtenção de uma promoção na carreira, uma realização pessoal, e, sobretudo, um direito universal a cujo acesso todos almejam e merecem. Não, em vez disso, o sacerdócio foi sempre concebido como um dever, não raro como um fardo doloroso e difícil de suportar sem um senso muito aguçado de autotranscedência.

E isso porque a noção de dever precede logicamente a de direito, que lhe é subordinada e relativa. É o que demonstra com maestria a filósofa Simone Weil em O Enraizamento:

“Um direito não é eficaz por si só, mas apenas pela obrigação a que corresponde; o cumprimento efetivo de um direito não provém de quem o possui, mas dos outros homens que se reconhecem obrigados a algo em relação a ele. A obrigação é eficaz desde que seja reconhecida. Ainda que uma obrigação não fosse reconhecida por ninguém, ela não perderia nada da plenitude de seu ser. Um direito que não é reconhecido por ninguém não é grande coisa. Não faz sentido dizer que os homens têm, por um lado, direitos, e por outro, deveres. Estas palavras expressam apenas diferenças de ponto de vista. A relação entre eles é a do objeto e do sujeito. Um homem, considerado em si mesmo, tem apenas deveres, entre os quais estão certos deveres consigo mesmo. Os outros, considerados do seu ponto de vista, têm apenas direitos. Ele tem direitos, por sua vez, quando é considerado do ponto de vista dos outros, que reconhecem obrigações em relação a ele. Um homem que estivesse sozinho no universo não teria nenhum direito, mas teria obrigações.”

Digo que em toda a história humana ninguém jamais concebeu o sacerdócio sob essa ótica e já me arrependo. Pois houve, sim, uma época e um lugar a partir dos quais, de maneira inédita, até mesmo essa função especial de intermediação entre o sagrado e o profano passou a ser secularizada, profanizada e compreendida sob a ótica do direito. Refiro-me, é claro, ao Ocidente contemporâneo.

Tudo começa na França do século 18, com a Declaração dos Direitos do Homem, recebida como um novo catecismo. “Todo governo deve ter por objeto a felicidade pública” – lê-se num dos esboços do documento. Há aí, claramente, uma fé política, cujo dogma principal foi consagrado pelos filósofos iluministas: o Estado pode e deve garantir a felicidade social.

Em 1791, por exemplo, lemos na La Feuille Villageoise, uma das publicações mais radicais da época: “O povo não deve apenas submeter-se à lei – ele deve adorá-la”. No mesmo jornal, o deputado jacobino Gilbert Romme afirmava que, se “o Evangelho fundou a religião das consciências, a lei é a religião do Estado, que também deve ter seus ministros, seus apóstolos, seus altares e suas escolas”. E, com efeito, na França revolucionária os legisladores passaram a ser vistos como os sacerdotes seculares da felicidade coletiva, os oficiantes dos direitos universais do homem.

Cito Simone Weil mais uma vez:

“A noção de direito, sendo de ordem objetiva, não é separável das de existência e realidade. Ela aparece quando a obrigação desce para o domínio dos fatos; consequentemente, sempre inclui em certa medida a consideração dos estados de fato e das situações particulares. Os direitos sempre aparecem como vinculados a certas condições. Apenas a obrigação pode ser incondicional. Ela se situa em um domínio que está acima de todas as condições, porque está acima deste mundo. Os homens de 1789 não reconheciam a realidade de tal domínio. Eles reconheciam apenas a realidade das coisas humanas. É por isso que começaram pela noção de direito. Mas, ao mesmo tempo, quiseram estabelecer princípios absolutos. Essa contradição os fez cair em uma confusão de linguagem e ideias que contribuiu significativamente para a confusão política e social atual. O domínio do que é eterno, universal, incondicional, é diferente daquele das condições de fato, e nele habitam noções diferentes que estão ligadas à parte mais secreta da alma humana.”

A sacralização do Estado promovida pelos “homens de 1789”, que fizeram dele um ente moral e um provedor da felicidade universal, resultou na absolutização da noção de direito. No século seguinte, como consequência, brotou do âmago da cultura burguesa europeia aquele tipo social que Ortega y Gasset alcunhou de “el señorito satisfecho” (o senhorito satisfeito). Em seu clássico A Rebelião das Massas, o filósofo espanhol descreveu-o como se segue:

“O novo fato social que aqui se analisa é este: a história europeia parece, pela primeira vez, entregue à decisão do homem vulgar como tal. Ou, dito de forma ativa: o homem vulgar, antes dirigido, resolveu governar o mundo. Essa resolução de avançar para o primeiro plano social ocorreu nele automaticamente, assim que amadureceu o novo tipo de homem que ele representa. Se, atentando aos efeitos da vida pública, se estuda a estrutura psicológica deste novo tipo de homem-massa, encontra-se o seguinte: 1) uma impressão nativa e radical de que a vida é fácil, abundante, sem limitações trágicas; portanto, cada indivíduo médio encontra em si uma sensação de domínio e triunfo que 2) o convida a afirmar-se a si mesmo tal como é, considerando bom e completo o seu patrimônio moral e intelectual. Esse contentamento consigo mesmo o leva a se fechar para qualquer instância exterior, a não ouvir, a não questionar suas opiniões e a não contar com os outros. Sua sensação íntima de domínio o incita constantemente a exercer predominância. Agirá, portanto, como se apenas ele e seus semelhantes existissem no mundo; portanto, 3) intervirá em tudo impondo sua opinião vulgar sem considerações, contemplações, formalidades ou reservas, ou seja, segundo um regime de ação direta (...) Esse personagem, que agora anda por toda parte e em qualquer lugar impõe sua barbárie íntima, é, de fato, o menino mimado da história humana. O menino mimado é o herdeiro que se comporta exclusivamente como herdeiro. Agora, a herança é a civilização – as comodidades, a segurança em suma, as vantagens da civilização (...) Pois bem: a civilização do século 19 é de tal natureza que permite ao homem comum instalar-se num mundo abundante do qual ele percebe apenas a superabundância de meios, mas não as angústias. Ele se vê cercado por instrumentos prodigiosos, medicamentos benevolentes, Estados previdentes, direitos confortáveis. No entanto, ignora o quão difícil é inventar esses medicamentos e instrumentos e assegurar sua produção para o futuro; ele não percebe o quão instável é a organização do Estado e mal sente dentro de si obrigações. Esse desequilíbrio o falsifica, o esvazia em sua raiz de ser vivente, fazendo-o perder contato com a própria substância da vida, que é o perigo absoluto, o problematismo radical. A forma mais contraditória da vida humana que pode surgir na vida humana é o ‘senhorito satisfeito’ (...) Isso, penso eu, evidencia com clareza suficiente a anormalidade superlativa que representa o ‘senhorito satisfeito’. Pois é um homem que veio à vida para fazer o que bem entende.”

Obviamente, da sensação de contentamento e triunfo, o senhorito satisfeito passa rapidamente à revolta, tão logo veja frustrado aquilo que considera seu direito. Dostoievski dedicou atenção ao tema em vários de seus romances e contos, mas gostaria aqui de lembrar passagens de um deles apenas: O Idiota. No livro, um espécime bem representativo do tipo geral revoltado, o personagem Antip Burdovski, é descrito pelo narrador da seguinte forma:

“Era um jovem vestido de um jeito pobre e relaxado, metido numa sobrecasaca com mangas que de tão sebentas tinham brilho de espelho, num colete engordurado, desabotoado até o alto, numa camisa de um branco que desaparecera, num cachecol de seda preto engordurado ao máximo e torcido feito corda, as mãos sujas, um rosto que era só espinhas, branco e, se é lícita a expressão, com um olhar de um descaramento nunca visto. Não era de estatura baixa, era magro, de uns vinte e dois anos. Seu rosto não expressava a mínima ironia nem a mínima reflexão; expressava, ao contrário, um enlevo completo e obtuso com o próprio direito e, ao mesmo tempo, algo que chegava a uma estranha e constante necessidade de estar e sentir-se permanentemente ofendido.”

A certa altura do romance, após invadir uma festa na casa do personagem-título – o Príncipe Liev Nikolaievitch Michkin –, Burdovski e três camaradas seus engatam num discurso furioso, repleto de exigências impertinentes e manifestações dos referidos “enlevo completo e obtuso com o próprio direito” e “necessidade de sentir-se permanentemente ofendido”. Nesse que, a meu ver, é um dos pontos altos da obra, a húbris e a autocomplacência dos jovens revoltados são impiedosamente expostas. Dostoievski faz Burdovski falar de maneira desconexa, a voz entrecortada por uma emotividade exacerbada e histriônica:

“‘Príncipe, não temos medo dos seus amigos, sejam lá quem forem, porque nós estamos no nosso direito... O senhor não tem o direito, não tem o direito, não tem o direito. Os seus amigos... Vejam só!’ – tornou subitamente a berrar Burdovski, olhando ao redor assustado e temeroso e excitando-se ainda mais do que antes, desconfiado e esquivando-se. – ‘O senhor não tem o direito!’ – e dito isto, parou bruscamente, como se tivesse cortado a conversa e, esbugalhando em silêncio os olhos míopes extremamente saltados, marcados por veias vermelhas e grossas, fixou-se interrogador no príncipe, inclinando-se de corpo inteiro sobre ele... ‘Não nos apresentamos humildemente, como parasitas em busca das suas graças. Entramos aqui de cabeça levantada, como homens livres, que não pedem uma esmola, mas sim formulam uma livre e altiva intimação (ouçam bem, notem bem!... uma intimação e não uma esmola)... Exigimos, exigimos, mas não pedimos!’ – balbuciou Burdovski, vermelho como um camarão.”

Eis que, por esses dias, deparei-me com um avatar brasileiro do senhorito satisfeito gassetiano e do revoltado dostoievskiano. Trata-se do jornalista Edison Veiga, que publicou na BBC News Brasil um artigo com título autoexplicativo: “Como as mulheres acabaram sempre relegadas ao segundo plano pelo cristianismo” (também reproduzido na Folha de S. Paulo). Seu argumento central é simples, como soem serem simples os clichês, os estereótipos e as ideias prontas: por sua longa história de machismo e misoginia, a Igreja Católica continua até hoje sem dar sinais de que um dia irá conceder às mulheres o direito de serem ordenadas e, assim, assumirem a função de sacerdotisas (diáconas, padras, bispas e papisas).

Refém inconsciente de uma filosofia progressista da história – segundo a qual a passagem do tempo implica necessariamente um aprimoramento moral da humanidade, e, portanto, concede ao homem contemporâneo o privilégio de se portar como juiz e palmatória dos homens de eras passadas –, Veiga mostra-se inconformado com o fato de que, em pleno século 21, a Igreja permaneça tão “atrasada”, e que, em vez de manter-se up-to-date com as últimas tendências em avanço social e igualdade de gênero (das quais as redações de jornal ocupam, por óbvio, uma posição de vanguarda), tenha ainda como prioridade a insistente tarefa de livrar as almas da danação eterna.

Para sustentar seu argumento e partilhar de sua indignação, Veiga convoca o que chama de “especialistas em história do cristianismo”, dentre eles o teólogo e pastor protestante Gerson Leite de Moraes (cuja missão declarada é afastar os evangélicos do radicalismo “neofascista” de Bolsonaro e reaproximá-los de Lula), a teóloga e freira feminista Ivone Gebara, e o famigerado “Frei” Betto, militante da Teologia da Libertação, amigo de Fidel Castro e sacerdote do lulopetismo. Uma seleção tão extraordinária de nomes nos faz recordar o comentário imortal do veterano repórter da CBS Bernard Goldberg: “Um jornalista pode sempre encontrar um especialista para dizer qualquer coisa que ele queira”.

O que o jornalista da BBC Brasil queria dos “especialistas” é que dessem um ar de autoridade científica a um arsenal de velhas lendas sobre a história da Igreja Católica, criadas na Reforma Protestante, difundidas pelos iluministas franceses, depois por desinformantes comunistas profissionais, e até hoje repetidas como verdades inquestionáveis pela intelligentsia de esquerda mundo afora, que professam sobre o tema uma historiografia à la O Código Da Vinci, a patacoada anticlerical de Dan Brown. Dentre essas lendas, destacam-se: 1) a ideia de que a Igreja Católica nada tem a ver com o cristianismo primitivo; 2) que o catolicismo foi institucionalizado pelo imperador Constantino (ou, em algumas versões, por São Paulo Apóstolo); e, finalmente, 3) que a hierarquia da Igreja e a proibição do sacerdócio feminino foram uma invenção humana, baseada numa deturpação (machista e misógina, por óbvio) da mensagem de Nosso Senhor Jesus Cristo.

De acordo, por exemplo, com a teóloga feminista: “Sacerdócio [feminino] oficialmente ordenado creio que não existiu. Porém, mais uma vez, é preciso voltar à distinção entre o movimento Jesus e o cristianismo institucionalizado”. Uma opinião que, para não restar dúvidas, o autor da matéria julgou por bem esclarecer aos leitores: “Ou seja: é preciso distinguir como se organizava aquele protocristianismo com Jesus vivo – ou logo após sua morte – em que havia uma certa horizontalidade, com homens e mulheres ocupando postos semelhantes, e o cristianismo que começou a se institucionalizar como religião em um contexto dominado por homens, comandado por homens e a serviço de homens”.

Já para o teólogo protestante e antibolsonarista, os relatos da época seguinte à morte de Jesus promoveram um “apagamento” intencional da figura feminina: “Ao longo do tempo, as mulheres foram sendo apagadas, o que revela uma tradição androcêntrica, machista e misógina que acompanhou a história da Igreja”, diz ele. “Foi feita uma opção ao longo da trajetória da Igreja que via na mulher uma inferioridade moral, representada por exemplo na figura de Eva [do livro do Gênesis], vista como a responsável pelo pecado, pelo mal do mundo. Sua contraposição é a figura de Maria [a mãe de Jesus], apresentada como um símbolo de uma esposa obediente, colocada no seu ‘devido lugar’, obedecendo e cumprindo seu papel.”

Segundo um outro especialista consultado, o historiador André Leonardo Chevitarese, a hierarquia eclesiástica não proveio de Jesus, tendo surgido depois, entre os séculos 2.º e 5.º. Nessa época, as mulheres foram absolutamente excluídas dos altares: “Elas jamais foram pensadas, lidas, concebidas para serem sacerdotisas. Este processo de hierarquização [da Igreja] ocorreu a partir de um intenso diálogo com as estruturas imperiais romanas, culminando com a Igreja Católica sendo o Império Romano e o Império Romano sendo essa Igreja Católica”.

Referindo-se a um trecho da Suma Teológica, em que São Tomás de Aquino fala de passagem da inferioridade da mulher, “Frei” Betto – conhecido por sua postura social progressista, sublinha com júbilo o jornalista – diz que “o único grande equívoco de São Tomás foi adotar a visão misógina da filosofia grega e considerar a mulher um ser inferior ao homem, inclusive no uso da razão”, visão que hoje “reverbera na misoginia da Igreja Católica, que ainda impede as mulheres de acesso ao sacerdócio e a outras escalas hierárquicas”.

Dos tantos disparates proferidos pelos especialistas prêt-à-porter, comecemos pelos mais vulgares (se é que há os menos). Em primeiro lugar, temos o teólogo protestante apontando o contraste, segundo a visão católica, entre a insubmissa Eva e a obediente Maria. Quanto a Eva, é preciso não esquecer, antes de tudo, que ela foi tentada e seduzida pela Serpente (Satanás). Mas, ao ceder à tentação de comer o fruto proibido, as Escrituras não a fazem mais pecadora que Adão, tanto que a punição divina, a expulsão do Paraíso, recai sobre ambos, e não apenas sobre ela, a mulher.

Já quanto a Maria – e aí reside a verdadeira aberração exegética –, ela não é retratada prioritariamente como uma mulher obediente ao marido, mas obediente a Deus. Ao contrário do que diz o pastor antibolsonarista, Maria não foi “colocada em seu devido lugar”, no sentido pejorativo e misógino que ele quis transmitir. Ela jamais cogitou a hipótese de não ser colocada no “devido lugar” de progenitora do Messias e de “cumprir o seu papel” na história da Salvação. Tempos depois, apesar de estar junto a eles no cenáculo, por ocasião do Pentecostes, tampouco lhe passou pela cabeça exigir o “direito” de ser incluída (por uma questão de paridade de gênero) entre os 12 apóstolos, caso em que talvez fosse hoje conhecida como Janja, e não como Santa Maria. Essa demanda artificial criada pela ideologia feminista (ideologia de origem marxista partilhada tanto por mulheres quanto por homens) nunca fez parte – e continua não fazendo – das expectativas da mulher católica média.

Maria não foi subjugada a cumprir o papel que Deus lhe atribuiu. Aceitou-o por livre decisão, por uma questão de fé, quando lhe teria sido muito mais fácil e cômodo recusá-lo. “Eu sou a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” – foi sua resposta ao anjo Gabriel. Uma resposta que, longe de fazer de Maria uma mulher submissa, tornou-a insubmissa e infensa a Satanás, ao contrário de Eva, que disse não a Deus e sim ao Diabo (o que talvez explique o desejo por parte de alguns feministas e feministos de convertê-la em símbolo de libertação feminina). Porque a serpente da qual a velha Eva não se libertou no Gênesis é, enfim, pisada e esmagada pela “nova Eva” no Apocalipse.

Os “especialistas” insistem ainda, como vimos, numa suposta distinção entre o movimento de Jesus e o cristianismo institucionalizado. Trata-se aí, ao fim e ao cabo, do argumento protestante central, que consiste em negar a origem divina da Igreja. Assumindo esse argumento inteiramente, como se protestante fosse, diz a freira feminista:

“Acho importante igualmente distinguir o cristianismo do movimento Jesus. O movimento Jesus nasce dentro do judaísmo e foi uma espécie de volta à tradição ético-profética. Jesus de Nazaré não era cristão, era judeu. O cristianismo vai se afirmar através do Império Romano notadamente a partir de Constantino e Teodósio. Nessa perspectiva jamais perdeu seu caráter institucional imperial, salvo as pequenas exceções ao longo da história.”

Nada mais falso. Aparentemente não equipados cultural e cognitivamente para compreender a natureza sui generis de uma instituição simultaneamente espiritual e temporal, divina e humana, formada por um compósito transcendente-imanente representado pelo fenômeno singular da Encarnação do Verbo, os tais “especialistas” não concebem a ideia da Igreja como o corpo místico e visível de Cristo, fundada e instituída por nenhum outro além d’Ele. Sim, é verdade que Cristo instituiu uma Igreja baseada no amor. Mas não menos verdade é que também a tenha instituído com base na autoridade. “Com que autoridade você ensina essas coisas?” – perguntavam-Lhe os fariseus. E Jesus conclamava a autoridade do Pai, manifesta de forma inequívoca nos milagres do Filho.

Pois Jesus decidiu transferir essa Sua autoridade a um grupo de escolhidos. O apostolado é criado na Quinta-Feira Santa, na Última Ceia, quando Jesus institui a Eucaristia e exorta os comensais: “Fazei isto em memória de Mim”. É fato que Ele pregava a todos, com isso atraindo muitos seguidores e discípulos. Mas, dentre estes, Cristo resolveu selecionar apenas 12 para serem instruídos de modo especial, constituindo-os como os primeiros bispos, os quais deveriam falar e agir em nome Dele. A esses 12 escolhidos, deu poderes especiais para instruir, curar e converter toda a humanidade, uma missão que, obviamente, teria de se prolongar na história para além do tempo de vida dos primeiros 12, algo que, por si só, subentende a necessidade de uma contínua transmissão da autoridade originária. Dentre todas as suas ovelhas, portanto, Cristo selecionou um pequeno grupo de homens para serem pastores. “Apascenta as minhas ovelhas” – disse três vezes a Pedro, transmitindo ao pescador (agora já de almas, e não mais de peixes) a Sua autoridade para guiar os homens rumo à Salvação.

Daniel-Rops, autor de uma obra monumental sobre a história da Igreja, e especialista de fato, esclarece no primeiro volume da História da Igreja de Cristo, A Igreja dos apóstolos e dos mártires, a organização inicial da Igreja:

“Só podemos fazer uma ideia aproximada da sua organização. Não se pode pôr em dúvida que essa organização existisse, porque todo o empreendimento humano a pressupõe; o próprio sucesso do cristianismo no plano temporal prova que o seu desenvolvimento obedeceu a essa lei profunda da história segundo a qual um movimento, para se desenvolver, precisa de quadros sólidos, de um princípio de comando, de um método de ação, e tudo isso em estreita relação, como que fazendo corpo com a doutrina. O próprio Jesus, aliás, tinha transmitido essas estruturas aos seus discípulos: para quem souber ler os Evangelhos, um dos aspectos mais admiráveis da sua atividade sobre a terra é o esforço prático de organização e de instrução que realizou, e cujos efeitos se prolongaram até os nossos dias. Tudo nos prova que Jesus, Deus feito homem, sabia perfeitamente que, para lhe sobreviver, a sua obra teria necessidade de instituições humanas.”

O autor continua:

“Na comunidade primitiva, distinguem-se bem os fundamentos institucionais criados por Cristo. Colhemos a impressão de que os Apóstolos, suas primeiras testemunhas, aqueles que Ele mesmo ‘designou e estabeleceu’, gozam, como é natural, de uma grande autoridade moral. O número de 12, a que Jesus limitou o seu pequeno grupo, tem certamente o valor de um sinal, porque, assim que se tornou conhecido o suicídio de Judas, e antes que tivesse soprado o vento sagrado do Pentecostes, Pedro pediu aos outros que o substituíssem de comum acordo; tendo o colégio apostólico proposto dois candidatos, lançaram sortes e o Espírito Santo designou Matias (At 1, 15-26). Entre os 12, Pedro parece ocupar o primeiro plano. Vê-lo-emos assumir diversas vezes a liderança, como fez por ocasião desta eleição: é ele quem toma as iniciativas e a sua opinião sempre tem muito peso. Além dele, apenas João, filho de Zebedeu, parece destacar-se. Esta preeminência de Pedro, cuja importância será considerável quanto às suas consequências na história cristã, assenta também sobre uma declaração expressa do Mestre, que quis dar à sua fundação um princípio hierárquico; Cristo nitidamente designara, como ‘a pedra sobre a qual a sua Igreja seria construída’, este homem de coração generoso: Simão, a velha rocha.”

Nota-se, portanto, que Constantino não pode ter sido o responsável pela instituição e organização da Igreja, uma vez que foi essa organização já existente que permitiu a sua própria conversão. O imperador romano não se teria convertido sem a existência prévia de uma Igreja organizada, para a qual, aliás, contribuiu a sua própria mãe, Flávia Júlia Helena ou, simplesmente, Santa Helena, que construiu várias igrejas, dentre elas a da Natividade, em Belém, e a Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Como prova, basta lembrar que já houvera dezenas de bispos ao longo dos dois séculos anteriores a Constantino. Como, ainda no primeiro século, escreveu celebremente o santo e mártir Inácio de Antioquia, discípulo de João e sucessor de Pedro no bispado da então capital da província romana da Síria: “Onde está o bispo, aí esteja a comunidade, assim como onde está Cristo Jesus, aí está a Igreja Católica”.

Por fim, examinemos agora a tese central do artigo, segundo a qual é a “tradição androcêntrica, machista e misógina que acompanhou a história da Igreja” – nas palavras do pastor antibolsonarista – que impede o acesso das mulheres ao sacerdócio católico. Nesse tipo de argumentação, resta evidente, em primeiro lugar, o senso progressista de superioridade moral, e o quanto os adeptos dessa ideologia se acham no pináculo da história. Mas, ademais de soberbos, eles são também extremamente provincianos, proferindo juízos históricos não apenas desde a perspectiva restrita de sua própria geração, como também de seu próprio grupo político-ideológico de referência.

Com efeito, ignorando as lições de dois dos maiores historiadores europeus de todos os tempos – a de Fustel de Coulanges, segundo quem “é à luz de suas ideias, e não das nossas, que devemos julgar os antigos”, e a de Leopold von Ranke, segundo quem “todas as épocas são iguais perante Deus” –, esses autointitulados progressistas demonstram uma notável falta de amplitude de perspectiva temporal. São, nesse sentido, a ilustração perfeita daquilo que, em 1943, na palestra inaugural proferida na recém-criada Virgil Society, o poeta T. S. Eliot chamou de provincianismo temporal:

“Em nossa época, quando os homens parecem cada vez mais propensos a confundir sabedoria com conhecimento, conhecimento com informação, e a tentar resolver os problemas da vida com engenharia, começa a existir um novo tipo de provincianismo que requer um novo nome. É um provincianismo não de espaço, mas de tempo; um provincianismo para o qual a história é apenas o registro dos aparelhos que tiveram seu uso e que depois foram descartados, um provincianismo em que o mundo é propriedade exclusivamente dos vivos, um território onde os mortos não têm vez.”

Imersos, portanto, nas miudezas de sua própria época, esses caipiras temporais preocupam-se apenas em julgar com base nas próprias ideias, e jamais em compreender, as decisões dos antigos. Daí que os julgamentos sejam, necessariamente, boçais e extemporâneos, como dizer que a Igreja é historicamente androcêntrica, machista e misógina, quando a verdade é exatamente o contrário.

Ora, qual seria o status das mulheres no mundo ocidental contemporâneo se Jesus Cristo e Sua Igreja não tivessem existido? Basta, por exemplo, olhar para a situação feminina nos países islâmicos para imaginar. Enquanto o Corão diz que “os homens são superiores às mulheres”, o que autoriza os maridos a castigarem as esposas em caso de insubmissão (Surata 4:34), é diametralmente oposta a mensagem do Novo Testamento. Dirigindo-se aos cristãos em Éfeso, disse São Paulo: “Maridos, amai vossas esposas, assim como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (...) Assim também os maridos devem amar as suas mulheres, como a seus próprios corpos” (Efésios 5,25-28). Também na Epístola aos Gálatas, lemos que “não há homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus”.

Essa ética matrimonial elevada, que decorre das interações de Cristo com as mulheres de seu tempo, é completamente ausente na literatura greco-romana. Hoje, a postura esperada de um marido para com sua esposa, mesmo entre pessoas de mentalidade secular e anticlerical, reflete o efeito revolucionário que a presença histórica de Cristo teve sobre as vidas das mulheres e sobre o casamento, especialmente no Ocidente. No livro As Mulheres Romanas: Sua História e Hábitos, o historiador romanista John Percy V. D. Balsdon afirma que “a conversão do mundo romano ao cristianismo [trouxe] uma grande mudança no status da mulher”. Referindo-se a um período histórico muito posterior, o mesmo foi dito pelo grande medievalista Jacques Le Goff em Uma Longa Idade Média: “O cristianismo medieval, longe de reduzir a mulher a um papel secundário, deu-lhe um verdadeiro lugar ao lado do homem”.

Tratava-se de um fenômeno inédito. Na Grécia antiga, por exemplo, a mulher tinha o mesmo estatuto de um escravo. Uma mulher ateniense respeitável não tinha permissão para sair de sua casa a menos que estivesse acompanhada por um vigia masculino confiável, geralmente um escravo designado por seu marido. Quando os convidados masculinos do marido estavam presentes em sua casa, ela não tinha permissão para comer ou interagir com eles, devendo se retirar aos aposentos femininos (gynaeceum). Como lamenta Calonice em Lysistrata, de Aristófanes: “Nós, mulheres, não podemos sair quando queremos. Temos de esperar pelos nossos homens”. E, como se queixa Medeia, de Eurípides: “Certamente, de todas as criaturas vivas e inteligentes, nós, mulheres, somos as mais infelizes”.

A esposa grega não podia se divorciar de seu marido, enquanto este podia divorciar-se dela quando bem entendesse. Em Atenas, os meninos não escravos eram enviados à escola, ensinados a ler e escrever, e educados em poesia, música e ginástica. Já as meninas não frequentavam escola de modo algum. Ao longo de toda a vida de uma mulher, ela não tinha permissão para falar em público. Na Odisseia, por exemplo, Homero faz Telêmaco repreender a sua mãe Penélope por falar na presença de homens.

A única mulher com relativa liberdade era a hetaera, ou amante, que geralmente acompanhava um homem casado quando ele participava de eventos fora de sua casa. A hetaera era a companheira e parceira sexual do homem. Como mostra a historiadora medievalista Régine Pernoud em O Mito da Idade Média, essa prática foi retomada no Ocidente moderno justo a partir do Renascimento, quando a influência cristã começou a decair em face da nostalgia pela antiguidade clássica, e quando a outrora frequente presença de rainhas e mulheres poderosas que caracterizou o período medieval (a exemplo de Leonor da Aquitânia) foi minguando, substituída justamente pela proeminência de amantes e concubinas (a exemplo de Madame de Pompadour).

O status das mulheres também era extremamente baixo na sociedade romana. Assim como na Grécia, a mulher romana não possuía nenhum dos direitos e privilégios desfrutados pelos homens. Enquanto muitas meninas de classe alta recebiam informalmente alguma educação em gramática e leitura, uma esposa romana, como sua colega ateniense, não tinha permissão para estar presente com os convidados de seu marido durante uma refeição. Havia inúmeras outras restrições. Por exemplo, uma mulher casada era comumente regida pela lei romana do manus, que a colocava sob o controle absoluto de seu marido, a quem pertencia todos os seus bens. Assim como na Grécia, essa lei permitia ao marido divorciar-se da esposa, mas a recíproca não se aplicava. De acordo com a Lex Voconia, promulgada em 169 a.C., uma mulher sob manus estava legalmente proibida de herdar propriedades. Ainda em vigor no início do quinto século, a lei recebeu fortes críticas de Santo Agostinho.

No entanto, as mais severas privações da liberdade e dos direitos de uma mulher romana tinham raiz na tabela 4 da Lei das Doze Tábuas da lei romana, surgidas no quinto século a.C. Estabelecera-se aí a lei do patria potestas, que conferia os direitos de pater familias ao homem casado. Nessa condição, o homem exercia um controle supremo e absoluto sobre a mulher, os filhos e até os netos, mesmo quando já adultos, tendo, inclusive, o direito de os castigar fisicamente e até de os executar.

Portanto, considerando o contexto em que surgiu, nota-se o quão inovador foi o modo como Jesus Cristo tratou as mulheres. Ao encontrar uma mulher samaritana no Poço de Jacó e ao pedir-lhe água para beber, Jesus provocou choque na própria mulher, que jamais poderia esperar que um homem judeu se lhe dirigisse a palavra: “Tu és judeu, e eu sou samaritana; como, pois, me pedes de beber?” (João 4,9). Segundo o costume da época, falar com um samaritano já era ruim o suficiente, mas Jesus foi ainda mais longe, ignorando a crença rabínica existente de que um homem respeitável não falava com uma mulher em público.

A elevação do estatuto social da mulher por parte do cristianismo fica evidente quando, no domingo de Páscoa, Cristo escolheu aparecer primeiro a mulheres, instruídas a contar de Sua ressurreição. Por que Jesus não disse a Pedro e João, que também tinham ido ao túmulo, para contar aos outros discípulos o que havia acontecido? Por que fez questão de que fossem as mulheres a contar aos homens? Porque, obviamente, a Sua mensagem e a Sua vida terrena consistiram precisamente na defesa dos mais fracos, humilhados e desfavorecidos, num contexto cultural em que, relativamente, as mulheres eram social e religiosamente negligenciadas.

Os Evangelhos ressaltam frequentemente a grande presença de mulheres entre os seguidores de Jesus, um fenômeno altamente incomum na Palestina do primeiro século. Na cultura predominante de então, apenas prostitutas e mulheres de reputação muito baixa seguiriam um desconhecido sem a vigilância de um homem da família. Assim é que, da perspectiva feminina, tão reconfortante deve ter sido a mensagem de Cristo que mulheres honradas não hesitaram em desafiar as normas sociais convencionais para segui-Lo, e Dele jamais ouviram palavras de reprovação. No Evangelho de Marcos, por exemplo, relata-se a ocasião em que uma mulher menstruada – um sinal de impureza, segundo o Levítico – veio por trás de Jesus a fim de Lhe tocar a borda do manto e ser curada de sua enfermidade física (Marcos 5,25-34). A resposta do Cristo foi curá-la e desejar-lhe paz.

A Igreja apostólica primitiva seguiu o precedente de Cristo quanto ao relacionamento com as mulheres. Os primeiros cristãos ignoraram as normas culturais restritivas e limitadoras às quais as mulheres estavam sujeitas em sua sociedade. Logo após a ressurreição física de Cristo, seus seguidores se reuniam regularmente no primeiro dia da semana (domingo) para renovar sua alegria pelo milagre testemunhado. Nessas ocasiões, as mulheres eram proeminentes, não apenas como adoradoras, mas também como lideranças. São Paulo observa que Apia, por ele chamada de “nossa irmã”, era líder em uma igreja doméstica na cidade de Colossos (Filêmom 2). Na cidade de Laodiceia, havia Ninfa, que tinha uma “igreja em sua casa” (Colossenses 4,15). Em Éfeso, junto ao seu marido Áquila, Priscila tinha uma igreja que se reunia “em sua casa” (1 Coríntios 16,19). Paulo refere-se a ela como uma de suas “companheiras de trabalho” (Romanos 16,3) na promoção da Grande Comissão de Cristo, na qual os seguidores foram instruídos a sair pelo mundo e fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28,19).

A aceitação que as mulheres tinham nos círculos cristãos não era um fim em si mesmo. Isso as levou a se tornarem ardentes evangelistas e missionárias, como ilustram os casos de Priscila, Febe, Apia, Ninfa e tantas outras. De fato, o trabalho e o zelo das mulheres cristãs fiéis foram uma força poderosa no crescimento espiritual e numérico da igreja primitiva, bem como em sua expansão geográfica. Como afirma o historiador W. E. H. Lecky, as mulheres tiveram grande importância na grande conversão do Império Romano. “Nas épocas de perseguição”, diz ele, “figuras femininas ocuparam muitos dos primeiros lugares e fileiras do martírio”.

Não apenas as mulheres foram uma força importante na ascensão do cristianismo, mas também superaram em número os homens nos primórdios da Igreja. O sociólogo Rodney Stark estima em 60% a presença feminina na comunidade cristã primitiva. De fato, tão visível era a participação feminina na Igreja que o filósofo platônico Celso, um dos primeiros críticos do cristianismo, chegou a ridicularizar a nova religião pela atração que exercia sobre as mulheres, fazendo dela, segundo a perspectiva pagã tradicional, uma religião fraca e pouco viril (um juízo que, aliás, seria emulado por vários pensadores da modernidade, em especial por Maquiavel, Rousseau e Nietzsche).

Depois de tudo isso, o leitor ainda pode estar tentando a questionar: mas não seria contraditória a afirmação católica da dignidade da mulher e, ao mesmo tempo, a recusa em conceder-lhe acesso ao sacerdócio? Teriam os críticos razão em afirmar uma ruptura entre Jesus Cristo e a Igreja institucionalizada subsequente, notadamente em relação ao estatuto da mulher? A carta apostólica Ordinatio Sacerdotalis, segundo a qual a Igreja não tem o poder de permitir a ordenação feminina, teria sido uma invenção da cabeça do papa João Paulo II? Por outra, um ano depois, teria sido uma invenção da cabeça do então cardeal Ratzinger (futuro papa Bento XVI) a afirmação, na condição de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, de que a doutrina expressa na Ordinatio deve ser considerada pertencente ao depósito da fé? Teria sido uma decisão pessoal do cardeal William C. Levada, em seu “Decreto Geral sobre o delito da tentada sagrada ordenação de uma mulher”, de 2007, a punição com excomunhão automática (latae sententiae) a quem tente ordenar uma mulher e à própria mulher em busca da ordenação?

A resposta é, obviamente, não. Também nesse tema, como em tudo o mais referente ao apostolado, não há qualquer divisão entre Jesus Cristo e a Igreja. Porque, dentre as inúmeras manifestações e ações de Cristo em favor da elevação da dignidade da mulher, há só uma coisa que Ele não fez: escolher uma mulher para integrar o grupo dos 12 apóstolos. Assim também procedeu a Sua Igreja. Ao longo da história, várias mulheres santas, dentre elas Santa Teresa de Ávila e Santa Catarina de Sena, chegaram a ser incluídas entre os doutores da Igreja, uma das maiores honrarias católicas. Todavia, nem mesmo elas foram admitidas como sacerdotisas, e justamente porque o sacerdócio não é uma honraria, mas um serviço. Não é um direito, mas um dever.

Foi da decisão original de Jesus Cristo que derivou a conclusão de João Paulo II na Ordinatio. Tal como a própria Igreja em sua totalidade, também a interdição à ordenação feminina tem fundamento divino. Foi o próprio Cristo quem o desejou. E, se assim Jesus decidiu, a razão não pode ter sido a acomodação aos costumes da época, uma vez que Ele os desafiou sempre que preciso, especialmente em prol da elevação feminina. Não, Jesus decidiu pelo apostolado exclusivamente masculino provavelmente por saber que, conquanto válida para todos os discípulos, a sentença “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos” valeria especialmente para os apóstolos, escolhidos para um ato supremo, e extremo, de abnegação.


Como se lê na Declaração Inter Insigniores, sobre a questão da admissão das mulheres ao sacerdócio:


“A Igreja não pode mudar sua doutrina com relação à reserva do sacerdócio aos homens apenas, porque esta é uma questão que toca na própria constituição da Igreja e na vontade divina manifesta no exemplo de Cristo. A teologia do sacerdócio ministerial, em sua conexão inseparável com a teologia dos sacramentos, a deixa ainda mais claro. Essa visão, longe de diminuir a dignidade da mulher, exalta o valor próprio e insubstituível da função feminina na Igreja, a exemplo de Maria, Mãe de Deus, e de tantas santas mulheres que ao longo dos séculos contribuíram de maneira singular para a edificação do Corpo de Cristo.”

Portanto, a Igreja não veda o sacerdócio feminino por não reconhecer a dignidade da mulher. Ao contrário, a Igreja sempre a reconheceu, de maneira única e inédita no decorrer da história humana. O que a Igreja não fez e não fará é ceder à estupidez feminista, a qual, negando a diferença e a complementariedade entre os sexos, tudo o que consegue é forçar a mulher, mesmo contra a sua vontade, a mimetizar o homem. Como, em 1950, escreveu Gustavo Corção em A Vocação da Mulher: “A famosa emancipação da mulher é qualquer coisa como andar sempre uma oitava acima de nossos timbres masculinos. Dizem as nossas mesmas frases, mas em falsete”.

E, contra as fantasias do feminismo, concluiu esse que foi um dos nossos maiores escritores: “Quem ainda duvida que nós precisamos do socorro e da ajuda feminina? Nós precisamos da mulher. Não somente em casa, como as vezes se diz. Mas na cidade, no mundo, na civilização. Precisamos que venham, mas que venham realmente como mulheres, isto é, com a paciência do véu e com a impaciência do amor”.

Que venham, enfim, como Marias, Apias, Priscilas, Febes, Teresas, Teresinhas, Bárbaras, Ediths, Verônicas etc., mas nunca como Janjas, Anittas e Natuzas...



Flávio Gordon, Gazeta do Povo

Kim Paim - Ex-presidiário Lula e GloboLixo na encruzilhada

AuriVerde Brasil - News da Manhã Brasil – Alexandre Pittoli - 31/05/2024

Romario ● Most Clinical Striker Ever ||HD|| ►Impossible Goals◄

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Romário - A Arte do Gol

Barcelona 5 x 0 Real Madrid (Hat-Trick de Romário) ● La Liga 93/94 Gols e Melhores Momentos HD

Nunca houve um goleador como Romário. Segundo Johan Cruyff, o Baixinho era o 'Rei da Grande Área'

J.R. Guzzo: 'Governo Lula não leva em conta a realidade – por isso tomou uma surra do Congresso'

 

O descondenado deve aos brasileiros decentes 30 anos de xilindró - Foto: reprodução/Canal Gov


O governo do presidente Lula ganhou nesta última terça-feira a maior oportunidade que já teve, desde sua reencarnação mais recente, para ser apresentado à vida real. A demora não foi por culpa dela, a realidade. Os fatos sempre estiveram na frente de Lula, prontos para serem recebidos em audiência, mas a sua existência nunca foi reconhecida – e o resultado é que o presidente passou o último ano e meio vivendo dentro de um mundo imaginário.

O principal desses fatos, para resumir a opera, é que Lula faz um governo horrível. Pelas regras da lógica comum, governo ruim é a mulher de César ao avesso: não apenas é ruim, mas parece ruim. Aí, a menos que haja uma ditadura em que o povo cala a boca e obedece ao ditador, cada vez mais gente vai percebendo a combinação de incompetência, vigarice e desonestidade em massa a que está submetida. É óbvio que uma hora vai dar problema.

E acaba de dar: num único dia, Lula foi transformado em paçoca ao levar a maior surra que o seu governo já teve até agora no Congresso. O veto que queria manter, como questão de honra, foi exterminado por 314 votos contra 116. (Do Senado, então, é melhor nem falar nada: perdeu de 52 a 11.) O veto que queria derrubar, vindo do governo anterior, foi mantido por 317 votos a 139.

Lula queria anular a lei que restringe a “saidinha”, e que os parlamentares queriam manter. Perdeu. Queria ressuscitar a lei das fake news, que os parlamentares não queriam mais. Perdeu. Se o governo tivesse prestado mais atenção ao mundo dos fatos, não pagaria esse mico geral. A “saidinha” é uma das aberrações legais mais detestadas pela população brasileira, e foi unicamente por isso que o Congresso aprovou a lei que limita a sua aplicação. Bastaria que Lula ficasse quieto, mas não – ele teimou em ficar contra o povo e a favor dos criminosos.

A censura é uma obsessão do governo (a lei vetada tinha prisão de cinco anos para os infratores), mas o brasileiro comum não quer isso, comprovadamente; se quisesse já teria dito, e não diz. Nos dois casos, Lula não quis receber os fatos em audiência, da mesma forma como não admite as realidades de que não gosta. O resultado foi o desastre dos vetos.

O governo poderia pensar um pouco no que acaba de acontecer e perguntar a si próprio: “Será que não estamos fazendo alguma coisa errada?”. Mas apesar da grande chance que acaba de receber para corrigir seus erros, ou pelo menos alguns deles, o instinto do regime é continuar usando o erro para errar mais. Insistem em repetir que o problema não é a ruindade fundamental do governo, mas a falta de “comunicação”; quer dizer, nós somos ótimos, mas não estamos sabendo explicar isso ao público. Põe a culpa no “bolsonarismo” e na “articulação da direita”, e não no fato de que não têm força nenhuma no Congresso.

Acham que ficar traficando o orçamento com deputado e senador é ter influência; só serve para aumentar o apetite da “base de apoio”, que sabe perfeitamente bem que o governo não pode fazer nada de prático a respeito. Jogam a culpa dos fracassos na nulidade do “líder do governo” e do ministro encarregado de tratar com o Congresso – como se eles tivessem alguma possibilidade de mudar as decisões de uma Câmara onde a oposição tem mais de 350 votos num total de 513.

O governo Lula não entende, pelo que mostram os seus atos, que está em minoria incurável no Congresso – e se está em minoria, não pode impor a todos a agenda que quer para o país. Os parlamentares aceitam muita coisa que o governo quer: Cristiano Zanin e Flávio Dino no Supremo, “arcabouço fiscal”, liberação de verbas e tudo o que se sabe. Mas só aceitam aquilo que querem aceitar; é inútil insistir que façam alguma coisa que realmente não querem.

Lula e o seu sistema dão dinheiro para o Congresso e se sentem no direito, por causa disso, de exigir que o Brasil das suas preferências pessoais seja aprovado pelos congressistas. Não funciona. Querem mais terras para os índios. Querem “educação sexual” nas escolas. Querem o aborto, a linguagem neutra e a censura na internet. Querem a volta do imposto sindical. Querem reduzir a população das penitenciárias. Querem se aliar aos terroristas do Hamas e romper relações com Israel. Querem ficar contra os Estados Unidos e a favor do Irã. Os brasileiros não querem nenhuma dessas coisas, e outras mais. O Congresso também não quer. Raramente, a não ser em defesa de interesses estritamente materiais, se anima a ficar contra os desejos evidentes da população.

Lula, a esquerda e as classes intelectuais acham que o defeito básico do Brasil é o povo brasileiro. É, na maioria, uma gente de direita, conservadora, feia, que vai no templo evangélico, acredita em família e se veste de verde-amarelo quando sai às ruas. É gente que não se interessa por sindicato. É gente que não aparece nos comícios de Lula. É gente que não tem capacidade para entender as virtudes do socialismo. É isso, queira-se ou não, que a maioria do Congresso reflete – por pior que seja, continua sendo a instituição em que as pessoas têm mais chance de serem ouvidas. Não dá para trocar de povo. Não dá para fechar o Congresso, ou não deu até agora. O governo Lula parece não pensar nisso.



J.R. Guzzo - Gazeta do Povo

Fugindo do comunismo: cresce número de chineses que enfrentam rotas ilegais rumo aos EUA

 

A forte repressão do chinês, comandado por Xi Jinping, tem motivado muitos jovens a deixar o país| Foto: EFE/EPA/MINH HOANG


Os registros oficiais dos EUA revelam um crescimento exponencial no número de chineses que enfrentam rotas ilegais em direção ao país.

Dados do ano passado mostram que cerca de 37 mil migrantes do gigante asiático foram detidos na fronteira com o México, um movimento que aumentou quase 10 vezes em comparação ao ano anterior, 2022.

A maioria das análises, como a da revista Foreign Policy, aponta que esse "êxodo" não é uma novidade no contexto migratório. Contudo, o que chama a atenção é que, cada vez mais, diferentes grupos que antes não buscavam essa alternativa têm optado por deixar o país em condições ilegais.

É o caso de universitários chineses, que estão aparecendo na fronteira sul pela primeira vez em meio a perspectivas limitadas em seu país de origem.

A principal motivação apontada para essa fuga do regime de Pequim é a questão econômica.

A China teve uma fraca recuperação desde a pandemia, com um crescimento estimado de 5,2% no último ano, um pouco acima da meta oficial, mas longe do ideal esperado por investidores, que se veem cada vez mais atentos ao agravamento da crise imobiliária no gigante asiático.

Combinado a isso, as regras de confinamento e outras imposições da ditadura de Xi Jinping também levam parte da população chinesa a deixar o país, inclusive optando por meios arriscados como a travessia ilegal pela selva de Darién, hoje enxergada como o principal caminho ilícito para chegar na fronteira entre México e EUA.

O crime organizado desempenha um papel importante nessa migração clandestina. Segundo a revista Foreign Policy, organizações criminosas chinesas forjaram laços com cartéis latino-americanos para facilitar esse mercado que tem ganhado força nos últimos anos.

A parceria fraudulenta rende altos valores para o crime, com viagens da China até a fronteira sul dos EUA que custam, em média, entre US$ 10 mil e US$ 20 mil (de R$ 52 mil a R$ 103 mil).

Além disso, as pessoas que fogem da China muitas vezes pedem dinheiro emprestado a gangues que organizam a viagem para pagar com juros por meio de trabalho após obterem acesso ao território americano.



Isabella de Paula, Gazeta do Povo

Intervencionismo indigesto

 

Lavoura de arroz em Bagé: Rio Grande do Sul responde por 70% do arroz produzido no Brasil.| Foto: Wenderson Araujo/Divulgação CNA


Como se não bastasse a exploração política da tragédia que acometeu o Rio Grande do Sul, com uma “intervenção branca” comandada por um pré-candidato petista ao governo gaúcho, Lula viu na catástrofe das enchentes a chance de colocar em prática sua obsessão pelo intervencionismo na forma mais pura. Alegando uma suposta escassez de arroz, já que os gaúchos respondem pela grande maioria da produção nacional, Lula autorizou a importação de 1 milhão de toneladas do grão; ainda por cima, o produto será vendido diretamente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com rótulo próprio e a R$ 4 o quilo, preço inferior ao que vinha sendo praticado antes das enchentes, em condições normais de mercado.

Não havia, no entanto, razão para pânico; houve perdas, mas quase toda a safra gaúcha de arroz já tinha sido colhida, a ponto de a Conab informar uma produção superior à do ano passado – falava-se até em excedentes para exportação. A elevação dos preços do arroz que efetivamente se verificou logo após a água tomar conta do Rio Grande do Sul não tinha relação nenhuma com quebra de safra ou perda de produto já colhido e armazenado: o que houve foi um minichoque de oferta causado por dificuldades logísticas e burocráticas, combinado com um minichoque de demanda provocado por uma corrida aos mercados, baseada na crença equivocada de que faltaria arroz. Os preços já estavam começando a voltar ao normal quando o governo interveio para bagunçar tudo novamente.

A atuação direta do governo, ao anunciar um leilão de compra de arroz, voltou a inflacionar o produto, como afirmou a senadora e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS). A incapacidade de entender como funciona a lei da oferta e demanda levou até a críticas infundadas do atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a parceiros do Mercosul. Além do caos no curto prazo, a intervenção do governo ainda tem tudo para elevar os preços do arroz no médio prazo, já que a entrada de arroz estrangeiro – ainda por cima isento de impostos de importação, enquanto o produto nacional segue muito bem tributado – reduzirá os retornos dos agricultores, que tendem a trocar o arroz por outros cultivos, como a soja. O resultado lógico é a redução das próximas safras, e o consequente aumento de preços nas gôndolas dos supermercados nos próximos anos.

Os produtores não foram os únicos a chamar a atenção para a irracionalidade da interferência governamental; economistas e a academia também apontaram a falta completa de lógica na ideia de importar arroz e colocar a Conab para cuidar do processo de uma ponta a outra. Nada disso, no entanto, serviu para dissuadir Lula de ver na medida mais uma chance de capitalizar sobre o drama dos gaúchos, por meio de uma ação facilmente perceptível pela população, ainda que as consequências negativas não demorem muito para chegar – qualquer semelhança com a MP 579, com que Dilma Rousseff desorganizou o setor elétrico em 2012 sob o pretexto de baratear as contas de energia, não é mera coincidência.

O petismo se mantém irredutível em seu terraplanismo econômico, apoiado em princípios surreais como a crença na geração espontânea de dinheiro público para ser gasto, e a convicção de que canetadas governamentais são suficientes para resolver quaisquer problemas, reais ou imaginários (como o inexistente risco de escassez de arroz). Tudo isso, é claro, já foi amplamente testado e reprovado no mundo real, inclusive no Brasil, o que não impede Lula e seu partido de seguir insistindo no erro. Usar o drama gaúcho para autopromoção com fotos e narrativas constrangedoras, para perseguir críticos e para dar início à corrida pelo governo do estado em 2026 já é suficientemente baixo; aproveitar a tragédia para desorganizar o agronegócio local alegando estar fazendo um favor à população, no entanto, é a mais completa falta de vergonha.



Gazeta do Povo

Deltan Dallagnol: A magistocracia: Lula ressuscitará “saidinhas” e crime de “fake news” no STF

 

Foto: EFE/André Borges


A sociedade brasileira teve duas grandes e importantes vitórias na noite de terça-feira, dia 28, no Congresso Nacional. A primeira delas foi a manutenção do veto 46/2021, do presidente Jair Bolsonaro, que barrou a criação do crime de fake news, que restringiria ainda mais a liberdade de expressão dos cidadãos, com pena de prisão de até cinco anos para conteúdos legítimos, mas críticos a Lula, que já foram derrubados pelo TSE como “fake news”. Na sessão conjunta do Senado e da Câmara dos Deputados, o veto de Bolsonaro foi mantido por 317 votos contra 139 dos governistas. A segunda vitória foi a derrubada do veto de Lula ao projeto de lei que acabou de vez com as “saidinhas” temporárias dos presos, um verdadeiro bueiro destampado para novos crimes contra cidadãos inocentes.

Imediatamente após as derrotas do governo Lula serem anunciadas no Congresso Nacional, a esquerda e jornalistas da grande mídia começaram a noticiar quais serão os próximos passos do governo para ressuscitar ambas as pautas, que naufragaram de maneira acachapante no Congresso Nacional. A estratégia não poderia ser outra: acionar o Supremo Tribunal Federal (STF), tribunal alinhado até a medula com o governo Lula, para reverter as derrotas e impor no tapetão à população brasileira mudanças legislativas que o Congresso já rejeitou. É o judicialismo de coalizão do governo Lula em modo turbo.

Em relação ao fim das “saidinhas” temporárias de presos, o governo estuda ações diretas de inconstitucionalidade, que podem ser ajuizadas por partidos políticos ou pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para buscar, no Supremo, uma declaração de que o fim das “saidinhas” é inconstitucional. Basta o governo Lula, por exemplo, acionar os partidos de esquerda satélites do PT para que entrem com a ação no Supremo, como eles já fizeram naquela ação que pretende derrubar de vez todos os acordos de leniência da Lava Jato, acordos esses que os partidos de esquerda, que dizem defender os pobres e os trabalhadores, agora dizem terem sido celebrados sob um “estado de coisas inconstitucional”. Deve ser um caso único em democracias modernas em que partidos de esquerda, socialistas e comunistas defendem os interesses de grandes empreiteiras e empresários bilionários.

Na quarta-feira, dia 29, a CNN cravou que já há uma maioria no Supremo para derrubar a decisão do Congresso de dar um fim às “saidinhas”. Ministros do STF, que já afirmaram em público estarem numa autodeclarada “lua de mel” com o governo Lula, teriam dito nos bastidores que acabar com as “saidinhas” violaria decisões anteriores da corte, que já reconheceu, em uma ação relatada pelo ministro Alexandre de Moraes, que também há um “estado de coisas inconstitucional” no sistema penitenciário brasileiro. Para esses ministros, as “saidinhas” seriam uma maneira efetiva de reduzir a superpopulação carcerária e ressocializar os presos. Nada mais longe da verdade, como demonstrei neste artigo.

Em relação ao crime de fake news, depois do fracasso gigantesco do PL da Censura e do PL da Globo, o STF parece cada vez mais impaciente para sujar as próprias mãos e resolver o assunto por conta própria, definindo ele mesmo o que pode ou não ser dito nas redes sociais, qual a responsabilidade das plataformas e quais seriam as penas cabíveis para quem andar fora da linha. Há pelo menos duas ações no Supremo que tratam do assunto, relatadas por Dias Toffoli e Luiz Fux, em que se discute a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet. Há uma pressão grande no Supremo para que essas ações sejam pautadas logo, e Toffoli já sinalizou na imprensa que deve liberar os processos para julgamento até o fim de junho. Com as derrotas do governo Lula nesta semana, o Supremo pode imprimir um passo ainda mais rápido para essas ações.

O artigo 19 do Marco Civil da Internet dispõe que os provedores de internet, websites e redes sociais só podem ser responsabilizados civilmente (por meio do pagamento de indenizações, por exemplo) por postagens e conteúdos ilícitos se não tomarem providências para a remoção desses conteúdos após decisão judicial. Acontece que uma ala do Supremo, liderada por Alexandre de Moraes, entende que as plataformas deveriam agir por conta própria para remover conteúdos considerados ilegais e impróprios, ou serem punidas por isso – como previa, aliás, o texto do derrotado PL da Censura. O risco é que, por trabalharem por meio de algoritmos e não de análises individualizadas, a criança seja jogada ralo abaixo junto com a água suja do banho. É esperado que, durante o julgamento desse caso, o Supremo forme uma maioria para endossar esse entendimento, além de modular e criar novas regras para o debate nas redes, o que pode aumentar ainda mais a censura e a ameaça ao direito à liberdade de expressão no Brasil.

Pelo jeito, a “democracia inabalada” do governo Lula significa que, toda vez que o governo perder votações importantes no Congresso, ele vai tentar ganhar no tapetão do Judiciário, mandando às favas a separação entre os poderes, a democracia representativa e o poder do voto. Não se ignora que o Supremo tem, sim, o poder e o dever de fazer o controle de constitucionalidade das leis, e que essa é também uma função importante na democracia. A crítica que fazemos, na direita, é contra o desvio de finalidade que o Supremo tem dado a esse poder/dever nos últimos anos, e que tem sido utilizado para atropelar as atribuições e prerrogativas do Legislativo enquanto o Supremo se anaboliza e concentra cada vez mais poder, tornando a nossa democracia disfuncional e cada vez mais parecida com uma magistocracia, uma ditadura de magistrados togados que nunca receberam nem um voto sequer nas urnas.



Deltan Dallagnol, Gazeta do Povo

'Brasil Paralelo' - O Brasil inventou a 'descondenação' - Lohbauer

'Oeste Sem Filtro' - Integrantes da organização criminosa do ex-presidiário Lula - como os gigolôs da grana dos pagadores de impostos Chico Buarque e Gilberto Gil - exigem que o governo brasileiro, comandado por um ladrão (condenado em 3 instâncias a mais de 30 anos de cadeia), rompa relações com Israel

'Brasil Paralelo'- Sérgio Moro “se vendeu” para o sistema?

'Oeste Sem Filtro' - Augusto Nunes, Silvio Navarro, Fabiana Barroso, Rodrigo Constantino e Paula Leal comentam a 'Marcha para Jesus'. Mais uma vez, o ex-presidiário Lula escafedeu-se. Óbvio, por ódio ao cristianismo e medo de vaias.

'Um Pingo de Liberdade' - Com Fernão Lara Mesquita, Marcos Cintra e Gerson Gomes

Bolsonaro participa no interior de São Paulo de arrecadação de doações para o povo do Rio Grande do Sul

'Brasil Paralelo' - Lohbauer: o governo vai prejudicar o produtor de arroz

CHARLA #380 - João Pedro [Jogador do Brighton]

'Oeste Sem Filtro' - Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Silvio Navarro, Rodrigo Constantino e Paula Leal ... Ex-presidiário Lula foge da 'Marcha para Jesus'

JULIA ROBERTS BLOOPERS COMPILATION. (Pretty Woman, Erin Brockovich, Ticket to Paradise, etc)

Bolsonaro arrecada donativos em Jundiaí-SP #aovivo

Kim Paim - Ressaca da derrota

Guarani dá camisa 10 a Bolsonaro e torcida grita "CHUPA, NETO!"

Derrotas e pesquisas mergulham governo em crise

 

(Foto: Ricardo Stuckert)


As sucessivas pesquisas mostrando desaprovação bem maior que a aprovação, uma governança baseada em ódio e vingança e derrotas vexatórias como nesta terça (28), no Congresso, instauraram uma crise inédita no governo empossado há apenas 16 meses. A derrubada de vetos de Lula, que queria manter as “saidinhas” de presidiários, e outras derrotas em votações importantes levaram José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, a pedir mudanças. “Não está bom”, admitiu.

Lula lá embaixo

“Ainda dá tempo”, diz Guimarães, de olho em pesquisas como a Quaest, indicando que, para 55% dos brasileiros, ele não merece ser reeleito.

Radicais, go home

O deputado petista defende mudanças urgentes, engajando não petistas para a articulação política, como nos primeiros governos Lula.

Censura, não, camarada

“Doeu” a decisão do Congresso contra o governo e o STF de jogar no lixo a censura nas redes sociais, a pretexto de “combate à fake news”.

Primarismo no comando

Petistas veteranos atribuem erros de Lula à falta de assessores que ele respeite, levando-o a dar ouvidos a figuras primárias, como Janja.

Diário do Poder

quarta-feira, 29 de maio de 2024

Grandes Bandas Americanas dos anos 40 e 50

Bradock Show - Com Vitor Brown, Pablo Marçal, Constantino, Fabiana Barroso e Ricardo Salles

Olha o que Caiado fez com o ex-presidiário Lula

Augusto Nunes - O uso de aviões da FAB por deputados, senadores e ministros é uma bofetada no rosto do povo

Fernão Lara Mesquita - O arrazobrás e outras notícias

'Brasil Paralelo' - A reconstrução contra a corrupção' - Magna Carta por Ricardo Gomes

Terça Livre, com Allan dos Santos

Marinho aciona AGU contra Haddad por mentir sobre rombo no governo Lula

"São inaceitáveis as narrativas distorcidas e manipulação de dados fiscais“, diz o líder da oposição no Senado


Senador Rogério Marinho (PL-RN) (Foto: Agência Senado)



O líder da oposição no Senado, senador Rogério Marinho (PL-RN) protocolou representação contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na Advocacia Geral da União (AGU), que, de acordo com o parlamentar, mente sobre números da economia brasileira e sobre precatórios. Haddad estaria tentando associar ao governo Bolsonaro um ‘rombo’ causado pelo governo Lula.

O líder da oposição no Senado sustenta que o chefe da equipe econômica do governo federal distorce dados sobre o impacto fiscal deixado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Haddad estaria tentando culpar o governo Bolsonaro por um suposto impacto de R$ 92 bilhões nas contas públicas, quando, o impacto real, seria de R$ 30 bilhões. Os valores restantes são referente a 2023 e 2024, já sob a gestão do governo persista.

São inaceitáveis as narrativas distorcidas e manipulação de dados fiscais de um governo que tanto acusa seus críticos de fake news!”, afirma o senador. 

A representação enfatiza, ainda, que o governo Lula se beneficiou da chamada PEC dos Precatórios, utilizando o espaço fiscal resultante para acomodar R$ 62 bilhões em gastos extras, apesar de críticas à medida.

Marinho ainda afirma que o ato de representar contra o governo testa a integridade e imparcialidade da Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia, uma estrutura da Advocacia-Geral da União (AGU), que tem o dever de defender as instituições. “E que está sendo aparelhada para perseguir adversários políticos”, critica Rogério Marinho.

Diário do Poder

'Oeste Sem Filtro' - Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Silvio Navarro, Carlo Cauti e Paula Leal falam sobre os piores resultados das contas públicas do Brasil em face do desgoverno do 'cartel Lula-STF'. E a retirada do embaixador em Israel

Bolsonaro no Ginásio do Guarani

'Oeste Sem Filtro' - Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Silvio Navarro, Adalberto Piotto e Paula Leal comentam as derrotas do 'cartel Lula-STF' em votações do Congresso Nacional. Pressão popular tem impedido que o 'cartel' infernize a vida dos brasileiros

Ex-presidiário Lula sofre nova derrota... o rastro do dinheiro

Congresso mantém veto que protege a liberdade de expressão

'Te Atualizei' - O dia do "PERDEU MANÉ, NÃO AMOLA" ! Lule DERROTADO no congresso Brasileiro

AuriVerde Brasil - News da Manhã Brasil – Alexandre Pittoli - 29/05/2024

Congresso irá vetar censura seja qual for o pretexto

 

(Foto: Lula Marques/Agência Brasil).


A decisão do Congresso de manter veto do ex-presidente Jair Bolsonaro, de 2021, na prática preserva o exercício à livre expressão, inclusive nas redes sociais. Assim, o Congresso descartou regra de inspiração fascista que previa até 5 anos de prisão para quem difundisse supostas “notícias falsas”. Um órgão do governo atuaria como um “tribunal da verdade” para determinar o que seria falso. A votação desta terça (28) mostrou que o Congresso não deverá a aprovar qualquer regra que implique censura.

Aqui, não, espertalhão

O “PL da Censura” está empacado desde 2022, quando a Câmara barrou a “urgência. Até hoje não há consenso dos líderes para ser pautado.

Brasil não aceita censura

A Câmara tem se recusado a legislar sobre censura, e não deixa andar o a iniciativa de Orlando Silva (SP), filiado ao PCdoB, partido stalinista.

Vozes da tirania

Deputados acham que não pode ser boa coisa proposta de um deputado cujo partido idolatra tiranos como Josef Stalin e o albanês Enver Hoxha.

Diário do Poder