sexta-feira, 31 de julho de 2020
Produção recode de petróleo e gás natural no pré-sal do Brasil
O crescimento foi atribuído aos campos Lula e Búzios, que respondem por mais de 50% da produção nacional.
A produção de petróleo e gás natural no pré-sal do Brasil foi recorde no mês de junho.
Foram 2,67 milhões de barris de óleo equivalente por dia, sendo 2,13 milhões de barris por dia de petróleo e 86,8 milhões de m³ por dia de gás natural.
O volume corresponde a uma alta de 13% na comparação com o mês de maio.
Os dados são do boletim mensal da produção de petróleo e gás natural da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), publicado nesta sexta-feira (31).
Tarciso Morais, Renova Mídia
‘Instituíram o AI-5 no Brasil’, diz o jurista Modesto Carvalhosa sobre o STF
O fato é que os ministros se afastaram da finalidade precípua do Poder Judiciário, que é fornecer aos cidadãos a segurança da lei
O Supremo Tribunal Federal continua atentando contra a liberdade de expressão. Seja por conta do bloqueio de contas no Twitter e Facebook, seja pelo inquérito que apura supostas ameaças e notícias falsas contra membros da Corte, o fato é que os ministros se afastaram da finalidade precípua do Poder Judiciário, que é fornecer aos cidadãos a segurança da lei.
“O Supremo Tribunal Federal critica o pessoal que quer o AI-5 — aliás, com toda a razão, porque ninguém pode querer o AI-5 —, mas eles, pela portaria 69 [que deu origem ao inquérito das fake news], instituíram o AI-5 no Brasil,” diz Modesto Carvalhosa. A atuação dos ministros do STF é tema da entrevista realizada com o jurista Modesto Carvalhosa, que tratou dessa e de outras questões na reportagem de capa da mais nova edição da Revista Oeste.
Revista Oeste
Após denúncias de Allan, povo protesta e hashtag "STF Vergonha Mundial" rompe as barreiras da web
Inevitavelmente o Supremo Tribunal Federal (STF), seria um dos assuntos mais comentados do dia.
Após as denúncias e acusações fortíssimas do jornalista Allan dos Santos, que está fora do Brasil, e expôs o que seria uma trama contra o presidente Jair Bolsonaro, envolvendo ministros do STF, os internautas não se calaram…
Em forma de protesto, o povo colocou a hashtag “STF Vergonha Mundial” no topo dos trending topics.
Confira:
A forte reação é o retrato da população cansada de tanta injustiça, ‘censura’ e da “ditadura da toga”, que parece estar dominando o país.
Se depender da maioria, este “jogo” está prestes a acabar!
Jornal da Cidade
Por que Ambev (ABEV3), Braskem (BRKM5) e Pão de Açúcar (PCAR3) tiveram os melhores desempenhos da semana na Bolsa
Ibovespa terminou a semana em alta de 0,52%, aos 102.912,24 mil pontos.
As três ações que mais perderam preço na semana foram Ambev (ABEV3), Braskem (BRKM5) e Pão de Açúcar (PCAR3).
Apesar de fechar a semana com três pregões em baixa, as altas do Ibovespa na segunda-feira (27) e na quarta-feira (29) sustentaram a semana positiva do principal índice da B3, que encerrou com alta de 0,52%, aos 102.912,24 mil pontos. No agregado de julho, o índice fechou o mês em alta de 8,27%.
Na semana, o dia de maior alta foi a segunda-feira (27), com variação positiva de 2,05%. No pregão o índice foi impulsionado pela espera do anúncio de um novo pacote de estímulos nos Estados Unidos que pode totalizar US$ 1 trilhão e novos sinais de retomada da economia chinesa.
Na outra ponta, o dia da maior queda foi na sexta-feira (31), com queda de 2%, aos 102.912 pontos . No último pregão de julho, as bolsas da Europa fecharam com forte desvalorização, reagindo à queda histórica de 12,1% do PIB da Zona do Euro – resultado maior do que se previa, refletindo osefeitos da pandemia de coronavírus.
Apesar do semana positiva, nem todas as ações subiram no período. Os papéis com as maiores baixas foram Ambev (ABEV3), Braskem (BRKM5) e Pão de Açúcar (PCAR3).
Confira a seguir o que influenciou o desempenho desses três papéis.
Ambev (ABEV3): -6,90%
Com desvalorização de 6,90% na semana, as ações da empresa encerraram com a maior baixa no período, cotadas a R$ 13,90. Com dois pregões entre as maiores quedas do dia, o papel da empresa sofreu com a divulgação de seu balanço no 2T20.
Embora o declínio nas vendas de cerveja no Brasil seja muito menor do que as expectativas do mercado, a mudanças no mix de vendas levaram a margens de lucro menores. “A pandemia está afetando a composição das vendas da Ambev, e isso chamou atenção”, disse Fernando Siqueira, gestor de ações da Infinity Asset, ao Broadcast.
No mês, as ações da empresa registraram baixa de 1,70% e 25,55% no ano.
Braskem (BRKM5): -5,55%
Com baixa de 5,55%, os papéis da companhia encerraram a semana com a segunda maior desvalorização, cotadas a R$ 22,80. O papel da empresa caiu sem nenhum motivo específico que justifique o desempenho fraco nas ações.
No mês, o papel da empresa tem desvalorização de 1,81% e de 23,62% no ano.
Pão de Açúcar (PCAR3): -5,21%
Com variação negativa de 9,66%, as ações da empresa fecharam o top 3 das maiores baixas da semana, cotadas a R$ 71. Os papéis da empresa foram penalizados devido a divulgação de seu balanço do 2T20.
Apesar dos números apontarem alta de 20,3% nas vendas em mesmas lojas (que considera apenas unidades abertas há mais de um ano) do multivarejo, eles foram ofuscados na comparação com seu principal concorrente, o Carrefour Brasil.
Ao Broadcast, Guilherme Assis e Felipe Reboredo, do Safra, disseram, ao Broadcast, que a alta das vendas foi ofuscada pelos “impressionantes” 30% de avanço do Carrefour. Ainda, Daniela Bretthauer e Eric Huang, da Eleven Financial, afirmaram que diferença indica que o Carrefour “ganhou muita participação de mercado durante a crise”.
No mês, o papel da empresa tem valorização de 0,03% e no ano desvalorização de 18,28%.
Mateus Apud, O Estado de São Paulo
Afinal quem é Igor Tobias?
Com a saída do Brasil, do jornalista Allan dos Santos, para denunciar internacionalmente uma suposta trama contra o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, envolvendo, inclusive, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), um fato no meio de todo esse imbróglio chama a atenção…
Quem é Igor Tobias?
Segundo Allan, Igor é um funcionário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que teria contratado a empresa Rohde & Schwarz para fazer uma “varredura” e encontrar grampos de telefone, que posteriormente teriam sido usados para investigar ilegalmente o presidente Bolsonaro.
“A pedido de IGOR TOBIAS MARIANO, funcionário do TSE, a empresa Rohde & Schwarz fez uma varredura em Brasília e descobriu maletas de escuta telefônica na Embaixada da Coréia do Norte, Embaixada da China e na casa do Kakay. O alvo: presidente Bolsonaro. [...] Barroso e Moraes prevaricaram. Isso é golpe de estado”, disse Allan.
Confira:
Outro fato que chamou a atenção, foi uma recente entrevista do jornalista Oswaldo Eustáquio, ao Jornal da Cidade Online, onde ele explica com detalhes como foi a sua prisão após determinação do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito das fake news.
Segundo Oswaldo Eustáquio, no momento de sua abordagem pela Polícia Federal (PF), o delegado, que estava no telefone, comemorou o fato de ‘conseguir pegar o celular aberto’ e gritou:
“Igor… Igor… Igor… Conseguimos pegar o celular aberto”, teria dito o delegado, segundo Eustáquio.
Quem será esse tal Igor?
A prisão de Eustáquio e o inquérito das fake news estão ligadas a esta suposta trama envolvendo o STF e grampos em celulares investigados ilegalmente?
São tantas questões em aberto... Mas, ao que tudo indica, logo serão reveladas...
Jornal da Cidade
"Censura Nunca Mais. O Supremo rasga a Constituição que deveria defender", por Denílson Faleiro de Souza - Advogado
O presidente do Supremo Tribunal Federal, aquele ministro que foi reprovado em duas provas para a Magistratura paulista, ex-advogado da ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA que atende pelo vulgo de PT, afirmou nesta última 3ª feira, dia 28 de julho, que o Judiciário existe para “dirimir conflitos”.
Até aí, nenhuma novidade. É isso mesmo.
O problema seria justamente quando o Poder Judiciário, ou qualquer Poder, invade a competência reservada a outro.
Mas, como no Brasil o buraco é bem, bem mais embaixo, o problema nem é a invasão da seara de outro Poder.
O problema surge quando Toffoli abre o jogo, e confessa seus veios ditatoriais:
“Nós, enquanto Judiciário, enquanto Suprema Corte, somos editores de um país inteiro, de uma nação inteira, de um povo inteiro”.
Esta é uma fala gravíssima, pois que se trata de o Supremo Tribunal Federal invadir uma competência exclusiva, privativa, essencial de cada um dos cidadãos brasileiros, muito além do direito de expressão.
Na ilustração usada pelo auto nomeado Censor Geral da República, ele fulmina o direito de quem se expressa, é fato. Mas isso não é o pior.
O pior é que Toffoli se expressa, e se arvora como aquela entidade que sabe o que eu e você podemos receber de informação.
Toffoli está nos chamando de débeis mentais, anencéfalos, ou ignóbeis que não tem capacidade cognitiva para diferenciar entre a mão direita e a esquerda. O certo e o errado. O justo e o vil.
Em seu coração marxista/comunista, Toffoli sinceramente crê que precisamos ser protegidos de nós mesmos. E ele deixa bem claro que precisamos de um “filtro” prévio antes de ter acesso à informação.
Resumindo, José Antonio Dias Toffoli está dizendo em alto e bom som para todos que tenham dois ouvidos e não sejam surdos, que o povo brasileiro precisa de alguém que o CENSURE.
O que chama a atenção é que justamente essa era a culpa que queriam jogar no Jair.
Se na campanha eleitoral de 2018, a os adversários de Jair, o Messias, Bolsonaro o acusavam de futuro ditador, que iria implantar a censura no Brasil, hoje podemos observar que o Ministério da Verdade não está surgindo no Poder Executivo, e sim está sendo gestado numa incestuosa relação entre o Legislativo e o Judiciário.
Entretanto, aqui cabe um parêntese.
Por mais odioso e indesejável que seja o controle da liberdade de expressão, em todas e qualquer das suas formas, e partindo do princípio que tal controle é INACEITÁVEL, sob todo e qualquer aspecto; uma verdade não pode ser ignorada, é certo que o Congresso Nacional detém a competência para criar leis para regrar a vida em sociedade.
Os parlamentares foram eleitos para representar aqueles que confiaram em cada um dos 513 deputados e 81 senadores, o poder que emana do conjunto formado por eu e você, nós, o POVO;
Nós o povo somos a fonte do PODER.
E a cada 4 anos compartilhamos este poder, que é só nosso, com alguém que nos promete usá-lo para o bem do Brasil, e de quebra, nos representar.
É claro que nem sempre, ou quase sempre, a promessa não é cumprida, e a pessoa nos passa a lábia, a perna, e nos passa para trás, se preocupando mais em encher a sua burra e sua conta bancária, e nos manda ir para aquele lugar.
Mas não tem problema, assim como dor de barriga, eleição não é uma vez só.
Na próxima a gente se lembra da traição, e a vingança é um prato que deve ser servida bem fria, e na próxima eleição, o político é defenestrado na urna.
Com o Poder Judiciário não. Depois que o cara senta na cadeira, é 40, 50, 100 mil reais por mês até depois de morrer.
Tudo bem, o cara para ser juiz tem que estudar prá burro, é verdade.
Mas o ponto central é justamente este, o juiz se matou de estudar para ser JUIZ, e não ser o EDITOR/CENSOR da sociedade.
Senhor Dias Toffoli, eu não preciso que o senhor diga para mim em que eu devo acreditar ou desacreditar.
Não lhe dou essa liberdade.
Muito pelo contrário, eu exijo exercer minha liberdade de ver, ler, examinar, acreditar ou duvidar.
Podem fazer FAKE NEWS para cima de mim à vontade. Cabe a mim analisar os fatos e as fakes, contrabalançar, e receber como verdade - ainda que não seja.
Eu tenho o direito de ser enganado, afinal já até votei no Lula e na Dilma.
(Deus me perdoe.).
Eu tenho o direito divino e inalienável de poder escolher entre dois caminhos: acreditar ou duvidar. Ou entre os dois, encontrar um terceiro.
E neste momento, diante de sua respeitosa presença, nobre presidente do Supremo Tribunal Federal, eu exijo, exerço e exercito o meu direito natural de acreditar que o senhor não quer me proteger das malévolas fake news, mas sim, retirar meu direito de poder me expressar livremente.
Censura?
Nunca mais, nenhum direito a menos.
O senhor quer saber qual é minha orientação política?
Vou dar uma dica: "BRASIL ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS”.
Denílson Faleiro de Souza. Advogado
Jornal da Cidade
Empresas perdem 34 mil horas por ano com burocracia
Uma única pessoa levaria quase quatro anos para dar conta de todo o processo; governo promete simplificar o sistema com a reforma tributária
Já imaginou ter uma empresa e gastar até 34 mil horas no ano para apurar e pagar tributos, preencher e entregar obrigações acessórias e acompanhar fiscalizações? Pois essa é a realidade das grandes corporações no Brasil, com faturamento de mais de R$ 7 bilhões, conforme a pesquisa Tax do Amanhã. Em síntese, a burocracia tributária consome muito tempo e dinheiro dos contribuintes. O levantamento considera diversos profissionais que atuam na área fiscal e contábil das empresas.
Se tratado de forma absoluta, levando em conta uma única pessoa, seriam necessários quase quatro anos para dar conta de todo o trabalho, informa o jornal Valor Econômico. Esse cálculo, porém, varia conforme o porte, a estrutura da área tributária da empresa e o setor de atuação, bem como a quantidade de Estados em que ela opera. Empresas com receita líquida média de R$ 45 milhões ao ano, por exemplo, gastam 2.960 horas com gestão tributária. É hora de mudar esse cenário.
Cristyan Costa, Revista Oeste
Ibovespa acumula alta de 8,27% no mês
As bolsas da Europa fecharam com forte desvalorização, reagindo à queda histórica do PIB da Zona do Euro.
Nos EUA as bolsas fecharam em alta em meio à divulgação de balanços positivos.
No cenário doméstico, prevaleceu o clima de cautela e os investidores aproveitaram para realizar lucros recentes.
No último pregão do mês de julho, as bolsas da Europa fecharam com forte desvalorização, reagindo à queda histórica de 12,1% do PIB da Zona do Euro, no 2º trimestre de 2020 na variação trimestral, maior do que se previa, refletindo os efeitos da pandemia de coronavírus.
Nos EUA, a sessão foi de muita volatilidade. Apesar da persistência do covid-19 e das tensões entre Estados Unidos e China, balanços corporativos positivos deram fôlego às bolsas, que fecharam no campo positivo.
No cenário doméstico, prevaleceu o clima de cautela e os investidores aproveitaram para realizar lucros recentes. O Ibovespa fechou com queda de 2,0% aos 102.912 pontos com giro financeiro de R$ 34,7 bilhões. Mas no mês de julho, o índice subiu mais de 8%.
O dólar, por sua vez, avançou 1,12% aos R$ 5,22/U$S. Na agenda econômica local da próxima semana, a decisão do Copom e o IPCA de julho concentrarão as atenções. No exterior, as divulgações finais dos índices PMI de julho deverão confirmar a melhora da atividade global no período.
O Estado de São Paulo
Apple ultrapassa Saudi Aramco como empresa de capital aberto mais valiosa do mundo
As ações da Apple atingiram recorde nesta sexta-feira, 31, depois da divulgação de forte resultado trimestral, o que ajudou a empresa norte-americana a brevemente ultrapassar a petrolífera Saudi Aramco como a companhia mais valiosa do mundo.
Nesta sexta-feira, as ações da Apple subiam mais de 7%, a cerca de US$ 412 dólares por ação, levando seu valor de mercado a US$ 1,762 trilhão, de acordo com a contagem de ações fornecida pela Apple ao mercado.
A Saudi Aramco, que foi a empresa de capital aberto mais valiosa desde a listagem no ano passado, tinha valor de mercado de US$ 1,760 trilhão, com base no preço das ações no fechamento do último pregão, segundo dados da Refinitiv.
Depois que a Apple recomprou US$ 16 bilhões em ações no trimestre encerrado em junho, a empresa possuía pouco mais de 4,2 bilhões de ações em circulação em 17 de julho, segundo o documento. Com a alta desta sexta-feira, a Apple acumula valorização de cerca de 40% no ano, com investidores apostando que ela e outras grandes empresas de tecnologia dos EUA emergirão da pandemia de coronavírus mais fortes do que as rivais menores.
No balanço trimestral, a Apple anunciou um desdobramento de ações de uma para quatro que entrará em vigor em 31 de agosto. O desdobramento será o primeiro da Apple desde 2014.
Reuters
Por ataques à Lava Jato, Aras agora é elogiado pelo covil do Lula e pelo puxadinho PSOL e até por Rodrigo 'botafogo' Maia
Criticado por partidos da oposição desde que foi escolhido em setembro do ano passado, o procurador-geral da República, Augusto Aras, passou a ser elogiado por parlamentares de partidos corruptos (redundância) como PT e PSOL devido a seus ataques contra a Operação Lava Jato. Desde que Aras afirmou, na última terça-feira, que a força-tarefa mantém dados sigilosos, parlamentares da oposição passaram a pedir que se investiguem se os procuradores de Curitiba mantém dados em sigilo.
Segundo Aras, a força-tarefa estaria mantendo um banco de dados próprio, com informações de 38 mil pessoas, fora do alcance da Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF). Aras também criticou os custos para manter a força-tarefa e falou em “corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure”.
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) defendeu a investigação de “todas as práticas ilegais, imorais e politicamente dirigidas por parte da operação” Lava Jato. “O que tem que prevalecer é a verdade. Os procuradores da Lava Jato não são intocáveis, eles precisam ser investigados. Se a Lava Jato agiu certo e não tem medo dos seus métodos, é só abrir os dados”.
Embora defenda a investigação, Valente questionou o interesse de Aras e do governo Bolsonaro no caso: “Aras é um cara do Bolsonaro. Ele certamente tem os objetivos dele, à serviço de Bolsonaro, que não são mais os mesmos do Moro, que era um dos pilares de sustentação do governo”, afirmou.
Já o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) defende a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a operação Lava Jato.
“Não é uma especulação qualquer. É o Procurador Geral da República, é o chefe do Ministério Público Federal, dizendo que a Lava Jato criou uma milícia judicial, que dispõe de informações sobre 38 mil brasileiros. (...) Essa milícia judicial dispõe de algum respaldo legal para criar um banco de dados para potenciais investigados? Por que essas informações estão em um sistema paralelo que a PGR não tem acesso, que as corregedorias não tem acesso?”, questiona o deputado em vídeo publicado em suas redes.
Embora o lavajatismo seja defendido por um grupo de parlamentares, em geral a classe política se incomoda com a força-tarefa. Na última quarta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo 'botafogo' Maia (DEM-RJ) afirmou que vê excessos em investigações e defendeu a legitimidade de Aras para criticar a operação.
“Está se fazendo buscas e apreensões de coisas de 2010 em 2020. Coisas que geram apenas constrangimento, na linha até do que o doutor Aras falou de criar uma criminalização generalizada da política, tirar as condições da política e do próprio Supremo”, disse Maia.
A base governista também defendeu o posicionamento do PGR. “Por que há tanto medo, dentro da força-tarefa de Curitiba, de que o Aras investigue o que eles estão fazendo?”, disse a parlamentar: “O que o Aras quer saber é: dentro desses dados todos, dessas 38 mil pessoas, desses 350 terabytes que vocês têm, por que há praticamente uma PGR paralela?”, afirma a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).
Com informações de Renato Vasconcelos, O Estado de S.Paulo
Allan mostra os primeiros indícios de provas do conluio contra Bolsonaro (vídeo)
Direto dos Estados Unidos (EUA), o jornalista Allan dos Santos está assistindo de ‘camarote’ o ‘desespero’ da extrema imprensa ao noticiar sua saída do país para denunciar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em uma suposta trama contra o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.
Em suas redes sociais, Allan escreveu:
“A pressa da mídia brasileira ao dizer que não tenho provas é uma confissão do conluio para DERRUBAR o Presidente Jair Bolsonaro.”
Junto com a declaração, o jornalista publicou a seguinte imagem:
É possível observar um espécie de carta ou documento da empresa ‘Rohde e Schwarz’, aos cuidados de Igor Tobias.
Segundo Allan, por meio desta empresa, Rohde & Schwarz, grampos de telefone foram encontrados para fazer uma varredura e investigar ilegalmente o presidente Jair Bolsonaro. O jornalista afirmou que o Igor Tobias foi quem contratou a empresa para poder ver onde existiriam os tais grampos de telefones.
“A pedido de IGOR TOBIAS MARIANO, funcionário do TSE, a empresa Rohde & Schwarz fez uma varredura em Brasília e descobriu maletas de escuta telefônica na Embaixada da Coréia do Norte, Embaixada da China e na casa do Kakay. O alvo: presidente Bolsonaro. [...] Barroso e Moraes prevaricaram. Isso é golpe de estado”, disse Allan.
Confira:
Em outra publicação, Allan mostrou um mapa onde aparece o endereço Tribunal Superior Eleitoral (TSE), junto com a captura de imagem onde estariam as suposto monitoramento de sinais (em tese de celulares), ou seja, dentro do próprio TSE.
Jornal da Cidade
"Fracasso de live Barroso-Felipe Neto demonstra que seguidores preferem 'imitação de foca', ao invés de opiniões políticas de YouTuber", por Frederico 'Fred' Rodrigues (vídeo)
A tão “aguardada” Live entre o imitador de foca profissional, Felipe Neto e o ministro do Supremo Tribunal federal, Luís Roberto Barroso, foi um fracasso sensacional. Antes mesmo de começar, o encontro já registrava mais de 100 mil “dislikes” (ou reações negativas) no Youtube. Sem dúvida um feito marcante.
O eterno adolescente de 32 anos, Felipe Neto, que se gaba de possuir mais de 39 milhões de inscritos em seu canal no Youtube, não conseguiu reunir 20 mil visualizações simultâneas (isso considerando que boa parte das pessoas iam até a Live só para deixar sua “descurtida”).
Para efeitos de comparação, o canal Terça Livre, com 1 milhão de inscritos, frequentemente atinge a marca de 30 mil visualizações simultâneas, com um índice baixíssimo de “descurtidas”.
Fica claro que os seguidores de Felipe Neto, não o seguem por suas opiniões políticas, e sim porque ele imita uma foca com maestria. Quase sempre que fala de política, o engajamento de seus posts é bem inferior ao padrão.
O que não quer dizer que Neto seja menos perigoso. Adotado pela mídia tradicional e por poderosos do sistema como o garoto propaganda anti-Bolsonaro, Felipe Neto goza de uma superioridade tática em relação aos seus adversários.
Há vários apoiadores de Bolsonaro que sofreram sanções e/ou foram presos por emitir sua opinião criticando ministros do STF, sem nunca receber um pingo de empatia da grande mídia. Felipe Neto é alvo de uma ação no Twitter de cidadãos indignados com seu passado e sua conduta atual, e recebe matéria do Jornal Nacional como se fosse um mártir da liberdade de expressão.
Em sua Live com o ministro Barroso, o Youtuber defendeu abertamente que o brasileiro precisa ser educado para “aprender a usar a internet”. Felipe Neto acredita que ele está em posição de ensinar alguém, ou de diagnosticar que o brasileiro precisa de educação virtual.
É uma piada.
Logo ele que atua em conjunto com o perfil criminoso e anônimo “Sleeping Giants” para chantagear empresas e obrigá-las a retirar o patrocínio de sites conservadores, promovendo uma censura digital para calar o adversário. Ou ele que recebe elogios do Partido Comunista e não se sente ofendido, que tenta pressionar as redes sociais para que estas censurem o que ele chama de “discurso de ódio”.
Felipe Neto é a última pessoa no planeta que deveria querer educar alguém ou definir o que é discurso de ódio.
A opinião do Youtuber foi, preocupantemente, compartilhada pelo ministro Luis Barroso. Barroso, que foi a favor do inquérito inconstitucional das Fake News e que recentemente declarou que o STF impediu um genocídio por parte do Governo Federal, concordou com Neto sobre como a “imprensa tradicional” e os “checadores de fatos” devem ser protagonistas no “combate às Fake News”.
Em resumo, somente notícias avalizadas por estes entes supremos é que seriam dignas de receber o selo de autenticidade dos donos da verdade.
Barroso ainda disse que as Redes Sociais já se mobilizam neste sentido. A verdade é que hoje, o próprio Twitter disse que vai recorrer da decisão de Alexandre de Moraes de bloquear as contas de críticos do STF. Nem o Twitter, (uma rede social abertamente progressista e com histórico de prejudicar conservadores), acha que as sanções aplicadas pelo inquérito das Fake News, são justas.
Nada mais preocupante do que um ministro da suprema corte reverberando a opinião de um adolescente tardio com ímpetos autoritários.
Também é muito preocupante a denúncia do jornalista Allan dos Santos, (um dos que tiveram suas contas bloqueadas pelo STF) de que redes sociais e a suprema corte se uniram para perseguir conservadores no Brasil.
Nossa liberdade de expressão não pode ficar nas mãos de pessoas que não tiveram um único voto.
Frederico "Fred" Rodrigues
Escritor, Empresário e Comentarista Político.
Membro fundador da Frente Conservadora de Goiânia e Membro da Direita Goiás
Em live, covil do Lula e comparsas ditadores latino-americanos celebram 30 anos do Foro de São Paulo. Encontro pífio teve 800 vizualizações até esta tarde
Para celebrar os 30 anos do Foro de São Paulo, o covil do PT e a nata das ditaduras sanguinárias e corruptas latino-americanas participaram de um debate online na terça-feira (28), em que não faltaram ataques ao imperialismo americano e à contribuição do capitalismo para a pandemia de coronavírus.
O evento reuniu os ditadores da Nicarágua, Daniel Ortega, e da Venezuela, Nicolás Maduro, além do líder do regime ditatorial cubano, Miguel Díaz-Canel.
Foi mediado pela dirigente da organização criminosa petista Mônica Valente, secretária-executiva do Foro, que reúne 123 partidos de esquerda de 27 países da América Latina e do Caribe.
Apesar da presença estrelada, o debate teve audiência pífia, com menos de 800 visualizações até a tarde desta sexta (31) no canal do PT no YouTube, que o transmitiu conjuntamente com a Presidência de Cuba.
“Desde o seu surgimento o Foro demonstrou que eram factíveis novos objetivos de luta, de construir uma sociedade mais justa e com igualdade de oportunidade para todos”, disse Valente na abertura, após chamar Ortega, Maduro e Diáz-Canel de “companheiros”.
Criado em 1990 por inspiração do então ditador sanguinário cubano, Fidel Castro, e do corrupto Luiz Inácio Lula da Silva, condenado (até agora) a mais de 20 anos de xilindró,
o Foro de São Paulo viveu seu auge na primeira década deste século, quando diversos presidentes de esquerda chegaram ao poder.
Nos últimos anos, perdeu influência com o refluxo da onda vermelha, mas continua sendo pintado como uma espécie de bicho-papão pela direita.
No poder desde 2007, à frente de um regime que persegue de forma violenta opositores e a imprensa, o nicaraguense Ortega criticou o que chamou de abusos cometidos pelos americanos.
“Eles dizem que são os pais da democracia, mas são os pais do colonialismo, do imperialismo, do terrorismo, da violação dos direitos humanos dos nossos povos”, declarou, ao lado de sua mulher e da número 2 do regime, Rosario Murillo.
Após mandar “nosso abraço e nosso carinho para Lula, que está no nosso coração”, o ditador nicaraguense culpou o capitalismo pela pandemia.
“O capitalismo é o maior vírus, a própria essência do egoísmo e da maldade”, afirmou ele, que no início da pandemia tinha atitudes negacionistas, até explodirem os casos da doença.
Em sua fala, Maduro fez gesto de coraçãozinho com as mãos para o Brasil e atacou duramente Bolsonaro, a quem chamou de “uma desgraça para o povo do Brasil”.
“O que fez Bolsonaro pelo Brasil? Melhorou o Brasil? Juntou mais o Brasil? Como foi o manuseio da pandemia, foi um sucesso?”, alfinetou.
Oficialmente, a Venezuela registra 158 mortes, mas há suspeitas de que o número real seja bem maior.
Embora lidere um regime que prende e cassa opositores, Maduro pregou em sua fala a tolerância e o fim do sectarismo da esquerda.
“Devemos nos caracterizar pela inclusão, o debate plural, democrático”, afirmou o ditador, que chamou o Foro de São Paulo de “a grande força democratizadora da América Latina e do Caribe”.
Ele ironizou o fato de o grupo ser acusado de ter fomentado protestos de rua em diversos países latino-americanos no ano passado.
“Quiseram nos culpar pelos protestos no Chile, Peru, Colômbia, Brasil. Somos culpados de acordar os povos, despertar os povos”, disse.
Também rechaçou ser um ditador, ao dizer que “esta ditadura aqui faz eleições todos os anos, quase todos os semestres”.
A próxima, marcada para dezembro, renovará a Assembleia Nacional, hoje controlada pela oposição, que alerta para a falta de lisura no pleito. “Desta vez o povo não vai falhar, vamos ganhar a Assembleia Nacional de forma democrática”, anunciou.
Dirigente de Cuba, Díaz-Canel louvou o papel de profissionais de saúde de seu país no combate à pandemia e disse que esse sucesso estaria gerando reação nos EUA, que mantêm um bloqueio econômico à ilha.
“Enquanto milhares morrem todos os dias no império [os EUA], os atuais inquilinos da Casa Branca mantêm pressão [sobre Cuba] e recebem o apoio de seus lacaios regionais”, afirmou.
No cargo desde o ano passado, Díaz-Canel tem seus poderes limitados pela influência que a velha guarda comunista exerce no país. O ex-ditador Raúl Castro, por exemplo, ainda controla o partido e mantém forte ascendência sobre as Forças Armadas.
O país teve 87 mortes pela Covid-19, mas, segundo o dirigente, nenhuma delas de criança, médico ou profissional da saúde, o que ofereceria algum consolo.
“Nem as mais sofisticadas armas conseguiram acabar com a pandemia do coronavírus. Agora, se tornou mais visível e aterradora a real e desumana face do capital”, declarou
Com informações de Fábio Zanini, Folha de São Paulo
Facebook não cumprirá decisão do tucano Moraes de barrar perfis de brasileiros no ar fora do Brasil. Facção do STF tenta impedir campanha contra a corrupção (sobretudo, após acusações a Serra,Alckmin,Aécio,Aloysio..., comparsas de FHC)
O Facebook decidiu que não cumprirá a determinação de Alexandre de Moraes e não tirará do ar internacionalmente os perfis de brasileiros que fazem campanha contra a corrupção e que são alvos do inquérito das fake news no momento. A empresa recorrerá ao plenário do STF e, enquanto isso, manterá as contas no ar fora do Brasil.
"Respeitamos as leis dos países em que atuamos. Estamos recorrendo ao STF contra a decisão de bloqueio global de contas, considerando que a lei brasileira reconhece limites à sua jurisdição e a legitimidade de outras jurisdições", diz nota da assessoria de imprensa do Facebook.
Empresa acredita que o bloqueio de perfis internacionalmente a partir de uma instância de jurisdição local como o STF poderia criar um precedente danoso ao funcionamento da plataforma.
Caso juízes em diversos países do mundo decidissem ordenar a suspensão de conteúdos globalmente devido a contextos locais, o Facebook teria seu espaço de atuação bastante limitado, avaliam.
O Facebook suspendeu os perfis no Brasil desde sexta-feira (24).
Com a decisão, o Facebook adota estratégia diversa do Twitter, que tirou do ar os perfis no mundo todo. Mas, o Twitter também afirmou que recorrerá da determinação truculenta do tucano Alexandre de Moraes.
Moraes passou a perseguir jornalistas e políticos depois que companheiros seus do PSDB entraram finalmente na mira da Lava Jato. E então se tornando réus.
Os tucanos foram preservados pela Lava Jato desde o início da caça aos corruptos no Brasil. Com a saída do ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça, companheiros de FHC, como Serra, Alckmin e Aloysis Nunes perderam a proteção.Estão virando réus, como ocorreu com integrantes da organização criminosa do Lula.
O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), Sara Giromini (conhecida como Sara Winter), o blogueiro Allan dos Santos e os empresários Luciano Hang (da Havan) e Edgard Corona (das academias Smart Fit), alvos de investigação no âmbito do inquérito das fake news, tiveram suas contas suspensas no Twitter.
Inquérito misterioso das fake news investiga ameaças e disseminação de supostas notícias falsas contra integrantes do STF nas redes sociais e representa um dos principais pontos de tensão entre o Palácio do Planalto e a corte.
Moraes pediu a suspensão dos perfis internacionalmente após constatar que o bloqueio que solicitou na sexta-feira (24) teve impacto reduzido. Após mudarem suas configurações de localização, os perfis bolsonaristas voltaram a publicar e, inclusive, a xingar o próprio ministro, como mostrou o Painel.
"As redes sociais Twitter e Facebook continuam permitindo que os perfis sejam acessados através de endereços IP de fora do Brasil, ou seja, permitindo que sejam acessados normalmente a partir de outros países. Isto possibilita que usuários do Brasil utilizem serviços de roteamento de conexão, como VPNs, contornando este tipo de bloqueio e acessando os perfis em território nacional, como se estivessem em outros países", diz laudo citado por Moraes em sua decisão.
"Portanto, para atender corretamente a ordem judicial, as redes sociais Twitter e Facebook deveriam bloquear o acesso aos perfis através de qualquer endereço IP", completa o tucano, qwue chegou ao STF pelas mãos do ex-presidente Michel Temer e ex-vice de Dilma Rousseff. Temer também é investigado por corrupção.
Com informações da Folha de São Paulo
Facebook não cumprirá decisão de Moraes de bloquear perfil de bolsonaristas
O Facebook decidiu não cumprir a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determina o bloqueio de contas, na rede social, ligadas aos investigados no inquérito aberto para apurar fake news e ataques contra a Corte. Em nota, a rede social afirmou que vai recorrer da decisão.
De acordo com o Facebook, a empresa respeita a legislação dos países onde atua. No entanto, alega "que a lei brasileira reconhece limites à sua jurisdição e a legitimidade de outras jurisdições”.
Na quinta-feira (30), Moraes determinou que o Twitter e o Facebook bloqueiem, em escala global, as contas apontadas no processo. O magistrado ampliou uma decisão anterior, tomada após reportagem do Correio, que concedeu prazo e fixou multa para que os perfis fossem suspensos para acesso em território nacional.
As empresas que gerenciam as redes sociais cumpriram a primeira decisão. No entanto, os investigados mudaram a descrição do país em que estavam, para burlar o bloqueio e voltar com a atividade das contas. Em novo despacho, Moraes determinou que a decisão anterior fosse cumprida integralmente, ou seja, que o acesso fosse impedido globalmente em relação às contas citadas no inquérito.
Entre os alvos da investigação, e que tiveram os perfis suspensos, está o blogueiro Allan dos Santos, o ex-deputado Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang, e a ativista Sara Giromini. O Facebook cumpriu a decisão referente ao território nacional, mas vai recorrer ao plenário da ampliação da suspensão em escala internacional.
Renato Souza, Correio Braziliense
"Tribunal da verdade suprema", por Guilherme Fiuza
Subversão da ordem é tudo aquilo que for considerado, na forma e no conteúdo, como ato subversivo à ordem por qualquer um dos supremos editores da nação
Opresidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, afirmou que o STF é o editor do Brasil. A declaração provocou uma imediata e redentora sensação de alívio em toda a nação. O povo andava preocupado com essa lacuna. “Quem é o nosso editor, afinal de contas?”, perguntava-se todo brasileiro, diariamente, ao acordar para mais um dia de trabalho.
Agora essa angústia acabou. Graças a Dias Toffoli, essa sensação de orfandade, esse complexo de abandono que Sigmund Freud definiu em sua obra fundadora da psicanálise como “carência editorial”, está superada. Você não precisa mais ter medo de falar o que não deve ou de incomodar os outros com o que você disser. Se sair da linha, o STF corta. Graças a Dias.
Agora você pode agir com confiança, finalmente liberto daquilo que Freud chamava de “insegurança jurídica”. O STF é uma instituição que funciona — e jamais prometeria editar a nação da boca para fora.
Os editores cortam — e se preciso prendem — para salvar os brasileiros de si mesmos
Por exemplo: outro dia, o editor Alexandre de Moraes captou, no vasto universo do Twitter e do Facebook, algumas publicações que contrariavam a linha editorial da cabeça dele — por sinal brilhante — e mandou cortar. Precisa ser um editor meticuloso para detectar erros cometidos por 16 pessoas num universo de milhões de editados. Mas ele está lá para isso. E numa demonstração de extremo zelo, para evitar que erros como aqueles se repetissem, em vez de mandar as plataformas suprimirem os textos, determinou que suprimissem logo as pessoas. Precaução é tudo no ofício de um editor.
Claro que a edição do Brasil feita pelo STF segue critérios rigorosos. No caso, o manual de redação do Supremo Tribunal da Verdade foi seguido à risca, com a observância estrita do item que trata das ameaças de subversão da ordem. Está lá, redigido em português claro para quem quiser confirmar: “Subversão da ordem é tudo aquilo que for manifestado, na forma e no conteúdo, em conformidade com algo que pareça ao Alexandre de Moraes, ao Dias Toffoli ou a qualquer dos supremos editores da nação um ato subversivo à ordem”.
Alguma dúvida? Não, né? Subversão é subversão, e ordem é ordem.
Assim ninguém mais no Brasil corre o risco de num descuido, num lapso, num rompante se transformar sem querer em ameaça subversiva. Fiquem tranquilos: os editores do STF estão de olho e com a tesoura afiada. Eles cortam — e se preciso prendem — para salvar os brasileiros de si mesmos. Basta de subversão. O preço da liberdade é a eterna mordaça. Mordaça no bom sentido.
Silêncio é bom porque nem precisa editar. Já vem pronto para publicação
A beleza da democracia é ver os históricos defensores da liberdade de expressão homenageando os supremos editores da nação com seu silêncio exuberante. Silêncio é bom porque nem precisa editar. Já vem pronto para publicação. E nunca dá problema com a chefia. Mirem-se no exemplo da moderna resistência democrática: você jamais — repetindo: jamais — vai ter problema de banimento ou exclusão se ficar de boca fechada.
Para que arriscar? Mantenha sua cabeça em lockdown e ninguém vai te incomodar.
Vários intelectuais corajosos se posicionaram em apoio aos supremos editores da nação. Eles acharam os critérios excelentes e argumentaram que essa edição rigorosa vai limpar o debate nacional. A ideia de limpeza por meio da anulação segue um preceito altamente libertário que só não dominou o mundo após a 2ª Guerra Mundial porque Adolfo ficou pelo caminho. O erro de Adolfo foi ser óbvio. Com dissimulação se chega mais longe.
A censura do bem dispensa a volúpia do censor. A alma do negócio é o vassalo.
Revista Oeste
A Revista Oeste e "a versão progressista da segregação racial, os autossegregados ministros da Suprema Corte e a importância de estabelecer limites para dar significado à experiência humana"
Há um tipo de segregação racial em curso perpetrado por… antirracistas. Isso mesmo. Sob pretexto de criar “espaços seguros” para que negros não sejam expostos a situações com potencial de ensejar preconceitos, os ativistas querem agora separar os indivíduos de acordo com a raça — embora o próprio conceito de “raça” a partir da cor da pele seja preconceituoso. Universidades norte-americanas têm organizado cerimônias de abertura de ano letivo especialmente para alunos afrodescendentes. Há até as que criaram alojamentos separados para estudantes brancos e negros. No Reino Unido, uma jornalista-militante, autora de um livro alçado a best-seller pelo movimento Black Lives Matter, defende a ideia de que não tem como um branco não ser racista. É racista, sim, e ponto-final.
Carrega nas entranhas o gene do racismo. Mesmo se for casado com uma negra e tiver um filho miscigenado. A miscigenação, aliás, tornaria as relações raciais “mais complicadas”. E, como a missão atual é “descomplicar”, melhor mesmo é não misturar. Eis os valores que a nova esquerda busca instituir — e, em certos casos, tem obtido sucesso. O fenômeno é examinado por Fraser Myers, da Spiked, no artigo “Caminhamos sonâmbulos para a segregação”. E as raízes e consequências das incendiárias manifestações em Portland são objeto da análise de Ana Paula Henkel no texto “A violenta revolução progressista”.
Uma modalidade de autossegregação é observada num certo tribunal no Distrito Federal. Numa Corte da qual os onze integrantes se julgam acima dos humanos “normais”. Eles não precisam puxar cadeiras, ficar em filas, fazer check-in em aeroportos ou hotéis, espetar o cartão de crédito na maquininha, reclamar com o provedor de internet da conexão instável. Não. Nada disso. Estão certos de que habitam um éter acima desta prosaica e malfadada realidade, uma magistrosfera exclusiva. E todo o seu entourage, naturalmente, está sempre presente para confirmar essa peculiar visão de mundo — ou “de outro mundo”. É esse o tema de mais um artigo extraordinário assinado por Augusto Nunes.
A ideia de que os onze iluminados estão além da humanidade efêmera materializa-se na missão de “editar” o que os cidadãos brasileiros poderão ou não ver na internet. Os ministros do Supremo Tribunal Federal agora se acham responsáveis por essa nova e colossal incumbência, a de serem “editores de um país inteiro, de uma nação inteira, de um povo inteiro”, como anunciou — solenemente, porém num português claudicante — o presidente da Corte, Antonio Dias Toffoli. “O STF passou rapidamente da ilegalidade para o disparate, e do disparate para o delírio — é onde estamos no momento”, escreve J. R. Guzzo. O colunista Guilherme Fiuza também discorre sobre o tema: “Vários intelectuais corajosos se posicionaram em apoio aos supremos editores da nação. Eles acharam os critérios excelentes e argumentaram que essa edição rigorosa vai limpar o debate nacional.”
A necessidade de que o país passe a discutir seriamente novas normas para a ocupação das cadeiras do STF é um dos assuntos de maior relevância abordados na entrevista que o experimentado jurista Modesto Carvalhosa concedeu ao repórter Afonso Marangoni. Para Carvalhosa, o Supremo e o próprio Estado precisam atuar sob imposições de limites mais restritos — preferencialmente, estabelecidos por uma nova Constituição.
Limites entre o público e o privado, entre crianças e adultos e mesmo entre nações estão no cerne da conversa que a editora Paula Leal teve com o sociólogo Frank Furedi. Furedi, já apresentado aqui anteriormente neste espaço da Carta ao Leitor, é uma das mentes mais notáveis do pensamento conservador contemporâneo. Portanto, é uma satisfação tê-lo no time de colunistas da Revista Oeste.
Desta feita, no entanto, ele participa na condição de entrevistado. Fala sobre seu livro recém-lançado, Why Borders Matter — Why Humanity Must Relearn the Art of Drawing Boundaries (“Por Que Fronteiras São Importantes — Por Que a Humanidade Deve Reaprender a Arte de Estabelecer Limites”). Trata-se, sem dúvida, de uma reflexão pertinente.
"Caminhamos sonâmbulos para a segregação racial", por Fraser Myers, da Spiked
A nova política de raça apresenta-se como progressista e antirracista, mas acaba por segregar os indivíduos e impor limites à miscigenação
Oempoderamento virou o mundo de pernas para o ar. Hoje, são aqueles que pensam neles mesmos como antirracistas que estão adotando visões segregacionistas.
O policiamento empoderado das fronteiras raciais ocorre há algum tempo e à vista de todos, embora tenha enfrentado pouco desafio. Inicialmente, sua expressão mais óbvia no mainstream foi o patrulhamento da arte e da cultura. Celebridades e artistas foram expostos e ridicularizados pelo pecado da “apropriação cultural”. O uso de penteados, moda, comida e música supostamente “negros” por pessoas brancas (e até certos não brancos) foi denunciado como uma forma de roubo cultural. Aqueles que se afastaram além de seus limites raciais receberam o alerta: “Fique na sua”.
Agora, mais ideias obscuras sobre “branquitude” e “cultura branca” se enraizaram na pauta contemporânea e seus limites se tornam mais nítidos. Em 2018, o jornal britânico The Guardian tentou e falhou em definir com precisão “cultura branca”. “Se a branquitude não toma forma, as estruturas concretas que a moldaram (e geralmente se beneficiam dela) também permanecem invisíveis”, escreveu a jornalista especializada em análise de dados Mona Chalabi. Examinando os dados, Chalabi descobriu que os brancos gostam de artes, vegetais, álcool e laticínios. No entanto, ela estava convencida de que essa nebulosa cultura branca era uma força para o mal, canibalizando todas as outras culturas raciais para seus próprios fins.
O fatalismo racial levou alguns “antirracistas” a adotar ideias explicitamente segregacionistas
Contudo, após os recentes protestos do movimento Black Lives Matter, o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana apresentou uma lista muito mais definitiva dos “aspectos e premissas da branquitude e da cultura branca nos Estados Unidos”. A lista, publicada em meados de julho, poderia facilmente ter sido elaborada por um supremacista branco. Enquanto alguns dos aspectos de branquitude destacados são bastante prosaicos, como um estilo de vida que prefere uma família tradicional e segue o cristianismo, muitas das inclusões são totalmente racistas quando se consideram seus opostos. Por exemplo, se “polidez”, “trabalho árduo” e “pensamento racional e objetivo” são marcas da “branquitude”, o que isso diz sobre as pessoas que não são brancas? Devemos concluir que são rudes, preguiçosas e irracionais?
Mais significativa é a suposição subjacente — agora amplamente difundida por nossas elites empoderadas — de que brancos e não brancos devem não apenas ser mantidos com padrões diferentes, mas também com valores diferentes. Essas divisões intransponíveis não se baseiam em visões racistas da velha escola da supremacia branca, mas em um profundo pessimismo sobre as relações raciais. Como ilustra a sanha derrubadora de estátuas dos manifestantes do Black Lives Matter, agora é comum ver as minorias étnicas acorrentadas para sempre aos horrores passados da escravidão e do colonialismo (daí a necessidade de destruir simbolicamente o passado). Apesar de todas as evidências em contrário, e apesar de todos os ganhos concretos dos movimentos antirracistas históricos, a narrativa empoderada insiste que nada realmente mudou para os negros.
Esse fatalismo racial levou alguns “antirracistas” a adotar ideias explicitamente segregacionistas. Novamente, essas ideias não são enquadradas em termos de superioridade racial, mas quase como uma espécie de espaço seguro de um suposto mundo irremediavelmente racista. No Reino Unido, um acadêmico planeja estabelecer a Universidade Negra Livre, que pode atuar como “um espaço de comunidade e cuidado para estudantes negros, conectando-os a terapeutas negros, conselheiros e curandeiros da comunidade para oferecer apoio de vários tipos”. Mesmo em instituições estabelecidas como a Universidade de Oxford, a noção de que estudantes negros só podem se relacionar com outras pessoas negras é generalizada — sejam professores ou conselheiros negros no presente ou autores negros no passado. Por exemplo, nas últimas semanas, a reitora Louise Richards comprometeu-se a trazer conselheiros negros de fora da universidade para atender às necessidades de saúde mental dos estudantes negros.
No Brasil, a Universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, tem 90% de alunos negros e, entre seus valores declarados, anuncia: “Estímulo ao diálogo de negros e não negros na realidade brasileira”. Que realidade é essa em que negros e brancos do país não se comunicam, apenas a direção da universidade pode esclarecer.
Mais de 75 faculdades norte-americanas ofereceram eventos de início de ano letivo segregando negros e brancos
A atitude segregacionista começa a fazer-se presente também nos espaços físicos. Muitas universidades nos Estados Unidos oferecem acomodações e instalações recreativas exclusivas para negros. Em 2017, a Harvard sediou sua primeira cerimônia de graduação somente para negros. Um relatório de 2019 constatou que mais de 75 faculdades norte-americanas ofereciam eventos de início de ano letivo segregando negros e brancos. Obviamente, isso não é nada parecido com os males do apartheid ou com as leis de Jim Crow, que impuseram a segregação racial no sul dos Estados Unidos. Porém, é surpreendente que a lógica supostamente progressista da política identitária e do espaço seguro do câmpus também tenda à separação física das pessoas de acordo com sua raça.
Essa visão hiper-racializada do mundo foi promovida por todos os lados — na educação, na mídia e até nas grandes corporações. De forma perturbadora, também afeta claramente como algumas pessoas se veem e enxergam seus relacionamentos mais íntimos. Escrevendo no jornal The New York Times em 2017, um professor de direito perguntou: “Meus filhos podem ser amigos de pessoas brancas? Ensinarei meus meninos a ter profundas dúvidas de que a amizade com os brancos seja possível”.
No início deste mês, durante uma reunião via Zoom de um Conselho de Educação Comunitária da cidade de Nova York, um conselheiro branco passou uma reprimenda em uma criança negra que estava em seu colo (o bebê era sobrinho de um amigo). O gesto inocente provocou uivos de indignação. “Dói nas pessoas ver um bebê negro levar uma bronca no colo de um branco”, gritou uma mulher, membro do conselho, indignada. “Isso é prejudicial. Isso faz com que as pessoas chorem. Isso faz com que as pessoas saiam da nossa reunião.” Ela deixou clara a origem de sua ira. “Leia White Fragility e How to Be an Anti-Racist!” Esses dois livros (“Fragilidade Branca” e “Como Ser um Antirracista”) lideraram as listas de best-sellers durante as manifestações do Black Lives Matter. Vêm sendo ensinados em escolas e usados em ambientes de trabalho para treinar as pessoas a ser “antirracistas”. Ambos promovem uma hipersensibilidade a raça e um fatalismo extremo.
Os pais de crianças miscigenadas, diz a especialista, precisam “ser humildes e aprender que são racistas”
Essa visão das raças como distintas e divididas é particularmente prejudicial para miscigenados. No Reino Unido, as raças miscigenadas são o maior grupo étnico em crescimento. As pessoas comuns estão vivendo numa sociedade multiétnica. Muitos indivíduos não se incomodam com a diferença racial e estão começando famílias miscigenadas em escala sem precedentes.
Mas, para os empoderados, isso simplesmente não funciona — pelo menos não sem a intervenção deles. Em seu best-seller Por Que Não Converso Mais com Pessoas Brancas sobre Raça, a jornalista e escritora britânica Reni Eddo-Lodge insiste que a existência de pessoas miscigenadas “torna as relações raciais mais complicadas, e não menos” — o que significa que torna a consciência racial mais necessária. “O privilégio branco nunca é mais pronunciado do que em nossos relacionamentos íntimos, amizades próximas e em nossa família”, ela escreve. Eddo-Lodge, em seguida, cita um entrevistado miscigenado que foi claramente influenciado pela política empoderada da raça: “Agora, quando vejo um casal inter-racial, eu me sinto desconfortável”. Os pais de crianças miscigenadas, ela diz, precisam “ser humildes e aprender que são racistas, mesmo que pensem não ser”.
A autora não observa como é devastador para uma criança miscigenada ter um pai branco que se vê como um racista. Contudo, alguns pais aceitam obrigatoriamente essa condição. “A supremacia branca vive dentro de mim”, escreveu recentemente um dos pais empoderados, cuja bizarra mea culpa se tornou viral. É difícil exagerar quão cruel tudo isso é. Quando até os relacionamentos mais íntimos são envenenados pela necessidade de ver a raça em toda parte, o resultado é que os pais se sentem alienados dos próprios filhos — e vice-versa.
A nova política de raça pode se apresentar como progressista e antirracista, mas é tudo menos isso. Procura explicitamente dividir as pessoas por raça. Se não nos posicionarmos contra isso, ou se não oferecermos uma alternativa universalista e daltônica, iremos caminhar para uma nova segregação.
Leia também nesta edição a coluna de Ana Paula Henkel e a entrevista com o sociólogo anglo-húngaro Frank Furedi
Fraser Myers é redator da Spiked
Revista Oeste
"O que esta tragédia traz de bom", por Jeffrey Tucker
Aprendi três grandes lições a partir da experiência do lockdown. A principal, a certeza de que é preciso lutar permanentemente pela manutenção da liberdade.
Muitos milhões de pessoas passaram os últimos quatro meses em tristeza e depressão. É difícil ver o mundo despedaçado pelo mau comportamento dos governos — e ver tantos de nós torcer pela destruição — e não ter uma sensação de desespero.
No entanto, a humanidade é algo incrível. Se nos empenharmos, poderemos encontrar uma boa lição em eventos terríveis. Fazer isso — é preciso esforço — pode elevar espíritos e apontar o caminho para sair do pântano.
Eu tirei três coisas positivas dessa experiência.
Primeiro, superei completamente meu vício de décadas no noticiário. Sempre amei acompanhar as notícias, mesmo quando era criança. Por anos, li o Washington Post com meu café matinal. Então, eu pegava o New York Times. Aprendia a obter a verdade da cobertura tendenciosa, mas abrangente, deles. Então acrescentava o Wall Street Journal. Quando os home assistants surgiram, programei o meu para transmitir oito horas de noticiário sem interrupção: BBC, NPR, NYT e tantos outros. Parecia um luxo.
O ponto de virada aconteceu em 28 de fevereiro de 2020, quando o podcast do New York Times (que costumava ser meu favorito) lançou um episódio de pornografia do pânico que previa que o novo coronavírus mataria 8,25 milhões de norte-americanos, ou “seis amigos seus”.
Foi um choque constatar que eles colocaram seu principal podcast para provocar um medo público que estimulasse o lockdown. Explicitamente. Essa era a pauta. E mais ou menos admitiram isso. Soube naquele momento que o jornal tinha aceitado contribuir para essa trama maliciosa de encenar um empreendimento social/político sem precedentes.
O NYT abriu o caminho. Em pouco tempo, a mídia mainstream se tornou universalmente pró-lockdown, provavelmente por razões políticas. Um vírus leve e disseminado, perigoso principalmente para uma população específica com baixa expectativa de vida e quase inofensivo para todos os demais, foi retratado todo dia e toda hora como a nova peste bubônica.
Devo ter ouvido o podcast por mais uns dois dias. Então parei. Tudo ficou claro. Decidi, de maneira súbita e surpreendente para mim, parar de encher a cabeça com bobagens. As “notícias” não estavam trazendo informações para me ajudar a entender o mundo; elas estavam atrapalhando minha habilidade de pensar com clareza. Alguns meses depois, como estava programado, a revolução do New York Times foi concluída quando o diretor de opinião, contratado para diversificar as opiniões do jornal, foi demitido sem a menor cerimônia por diversificar as opiniões do jornal. (O pessoal da teoria crítica descobriu um novo amor pelo direito das instituições de demitir pessoas, contradizendo décadas de oposição da esquerda.)
Comecei a obter minhas informações procurando por elas, buscando perfis confiáveis para seguir no Twitter, dedicando meu tempo às páginas de estatísticas e, fora isso, pesquisando fatos, lendo história e me informando de maneira mais aprofundada, em vez de apenas confiar na mídia.
Uma exceção aqui: The Wall Street Journal, que teve um desempenho heroico durante o processo todo.
Neste momento, posso dizer que nunca mais vou voltar. Meu vício nas “notícias” se acabou. Estou melhor assim. Foi doloroso, mas estou feliz.
Alguns leitores agora estão dizendo: até que enfim. O noticiário sempre esteve interessado em atrair olhos e ouvidos e vender anúncios. É apenas entretenimento. Isso se tornou especialmente verdadeiro com o ciclo de 24 horas de notícias.
Não discordo. Eu deveria ter parado há anos. Mesmo agora, sou capaz quase imediatamente de ver a diferença entre uma pessoa que assiste ao noticiário da TV ou ouve rádio mainstream versus aquela que de fato se informa sobre o que está acontecendo.
De todo jeito, considero isso uma vitória real, cortesia do lockdown.
Segundo, economizei uma quantidade enorme de dinheiro não indo a restaurantes, bares e ao cinema. Fico triste por todos os lugares que fecharam. É injusto e ruim. Mas, da minha perspectiva, aprendi a viver uma vida boa gastando provavelmente 30% menos do que antes. Eu me apaixonei de novo por cozinhar, pelos coquetéis caseiros e pela leitura.
É melhor assim. Duvido que volte, agora que sei preparar todas as minhas refeições favoritas por uma fração do que costumava pagar. Agora que as coisas estão abrindo, talvez até vá a alguns restaurantes, mas duvido que volte a como as coisas eram.
Terceiro, aprendi uma lição muito valiosa, a de que uma civilização pode ser desmontada em questão de meses. Pode acontecer de novo se não houver vozes apaixonadas por aí que entendam sua base e sejam capazes de defendê-la com integridade intelectual, fatos e poder retórico. Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer. Achei que fosse impossível — com uma Constituição, uma tradição de liberdade, e um povo que nunca permitiria que os direitos humanos fossem retirados de modo tão repentino e cruel. Aconteceu, e saber disso trouxe uma paixão renovada por meu projeto de vida de amar, entender e difundir a ideia de liberdade.
É impressionante como tudo se deu.
Governos e seus defensores tomaram para si um assunto sobre o qual a população é, hoje, bastante ignorante e temerosa — um vírus e a afirmação de que 8,25 milhões de norte-americanos iam morrer — e exploraram essa ignorância para fazer as pessoas abrir mão de seus direitos. Mesmo que a coisa estivesse mapeada 14 anos antes, talvez como forma de encontrar alguma fundamentação para a presença contínua e crescente do governo em nossa vida, apesar de sua irrelevância cada vez maior em outras circunstâncias, muitos do lado pró-liberdade das coisas foram pegos com a guarda baixa e não souberam como reagir.
Muitas pessoas — até mesmo aquelas empregadas no trabalho de “promover a liberdade” — apenas ficaram em silêncio. Por meses. Exatamente quando suas vozes eram mais necessárias. Isso foi uma tragédia. Serei eternamente grato pelo site do American Institute for Economic Research [organização da qual o autor é diretor]. Em algumas ocasiões nestes meses, o site pareceu uma solitária voz de sanidade.
Essa terceira lição — ser grato pelas nossas liberdades e pela nossa civilização, e nunca achar que elas podem ser menosprezadas — talvez seja a mais valiosa. Tenho pensado que, certamente, muitas outras pessoas aprenderam lições semelhantes. Perderam a fé no noticiário, redescobriram a frugalidade e encontraram uma nova forma de se comprometer com a defesa da liberdade e dos direitos humanos. Nos dias vindouros, vamos precisar de mentes mais fortes e mais inteligentes para travar as batalhas do futuro. Esses meses terríveis podem ter sido a preparação de que precisamos para garantir que a verdade e a liberdade prevaleçam no fim.
Jeffrey Tucker é economista norte-americano, defensor da Escola Austríaca e do libertarianismo, associado do Action Institute e autor do livro Coletivismo de Direita (2017), publicado no Brasil pela LVM Editora.
Revista Oeste
"Trabalhando em casa, para sempre", por Dagomir Marquezi
As “três internets” (do conhecimento, da energia e da mobilidade) criam a infraestrutura da Terceira Revolução Industrial
Um dia eu vou contar aos netinhos (que ainda não tenho) sobre meu último emprego “normal”. Vou lembrar que me envenenava de stress no trânsito, a caminho da empresa de jornalismo onde trabalhava. Chegando lá, ligava o computador, checava as redes sociais, conversava com os amigos e amigas, debatia a rodada no futebol, tomava café, dava boas risadas, ouvia as fofocas sobre possíveis mudanças de chefia, tomava outro café, dava uma volta solitária no jardim, jantava no bandejão da firma. E então, quando voltava para casa, escrevia meus artigos com toda a seriedade e dedicação madrugada adentro. Sim, queridos netinhos. Meu local de trabalho era um clube. Minha casa era meu verdadeiro local de trabalho.
Trabalhar em casa era “exótico” há apenas 15 anos. Hoje o homeworking está virando a norma. Especialmente com o empurrão de uma pandemia global, que nos trancou numa escassez de opções viáveis. Mas a tendência já estava se fortalecendo antes mesmo da covid-19.
Não tem mais sentido (em muitas atividades profissionais) jogar no lixo horas diárias de deslocamento pela cidade. E mesmo o ato rotineiro de juntar as pessoas num único lugar de trabalho vem tendo sua lógica — finalmente — contestada. Sob essa nova perspectiva, a vida “na firma” parece cada vez mais um ritual corporativo cheio de significados ocultos e pouca eficiência. Como um episódio repetido da série The Office.
Claro que médicos continuarão indo aos hospitais, bombeiros aos quartéis, cozinheiros aos restaurantes etc. São profissionais que precisam estar em seu local apropriado de trabalho. Mas para uma vasta parcela de atividades profissionais não existe o menor sentido em permanecer emburrado num escritório de olho no relógio, esperando que as horas passem rápido. Isso não é trabalho. É emprego. Depois que inventaram a internet, todos esses costumes profissionais que pareciam eternos deixaram de ter sentido. E, com a implantação da internet das coisas, nem mesmo os médicos terão de se deslocar para realizar suas cirurgias.
De casa, em São Paulo, a executiva dirige sua equipe na costa leste dos EUA
O sociólogo norte-americano Jeremy Rifkin resumiu para a BBC um pouco dessa vasta mudança. “A revolução comunicativa é a internet, assim como foram a imprensa e o telégrafo na Primeira Revolução Industrial no século 19 no Reino Unido ou o telefone, o rádio e a televisão na Segunda Revolução no século 20 nos Estados Unidos. Hoje, temos mais de 4 bilhões de pessoas conectadas […]. Em um período como o que estamos vivendo, as tecnologias nos permitem integrar um grande número de pessoas em uma nova estrutura de relações econômicas. A internet do conhecimento é combinada com a internet da energia e a internet da mobilidade. Essas três internets criam a infraestrutura da Terceira Revolução Industrial. Elas convergirão e se desenvolverão em uma infraestrutura de internet das coisas que reconfigurará a maneira como todas as atividades são gerenciadas no século 21.”
Uma personagem desse novo tempo é Gabriela, que prefere não dizer o sobrenome. Gabriela é gerente de projetos especiais de uma grande multinacional norte-americana. Ela coordena sua equipe na costa leste dos EUA… dando de mamar em seu apartamento em São Paulo. “A empresa é superadepta do home office e flex time. Então, desde que o trabalho esteja sendo feito, não há horário fixo. Tenho um filho pequeno que está em casa comigo todos os dias enquanto trabalho. Não dá para fazer o típico horário das 8 às 17. Só fico mais atenta enquanto o pessoal está ativo na matriz devido ao fuso horário. Mas dá tranquilamente para trabalhar sob demanda.”
Claro que Gabriela ganharia muito mais, e em dólar, se trabalhasse na sede da empresa. “Eles criaram esse movimento de realocação de funções em outros países justamente para diminuição de custos. Acho vantajoso para mim, pois estou tendo a oportunidade de me expor a outra cultura e a pessoas que nunca conheceria. Networking internacional é fantástico. Globalização ao extremo.”
Uma volta imediata aos escritórios imporia um inferno de regras de distanciamento, controle de temperatura, normas restritas de comportamento e vestuário
Nem todo mundo convocado a trabalhar em casa está gostando da novidade. Uma pesquisa realizada em abril nos Estados Unidos pela consultoria Eagle Hill constatou que cerca de metade dos trabalhadores não vê a hora de voltar ao escritório. Eis as principais razões para queixa: maior carga de trabalho, a mistura entre vida profissional e pessoal, falhas de apoio da empresa, aumento da pressão do tempo.
O problema para os descontentes é que não existe retorno tão cedo para a “normalidade”. Nicholas Bloom, professor de Economia na Universidade Stanford, estuda trabalho remoto desde muito antes da pandemia. Bloom calcula que uma volta mais ou menos imediata aos locais tradicionais de trabalho imporia um inferno de regras de distanciamento, controle de temperatura, normas restritas de comportamento e vestuário, batalhas jurídicas trabalhistas etc. Apesar das dificuldades, é mais fácil para as empresas mandar todo mundo para casa.
Essa mudança (ou parte dela) provavelmente não será revertida com o fim da pandemia. É para sempre — ou pelo menos até que haja outra transformação. O Wall Street Journal noticiou que a Google/Alphabet determinou que toda a sua força de trabalho — 200 mil funcionários ao redor do mundo — passe a trabalhar em casa até julho de 2021. “Sei que não vai ser fácil”, comunicou o CEO da empresa, Sundar Pichai, a seus funcionários. “Espero que isso ofereça a flexibilidade que vocês precisam para equilibrar trabalho com cuidar de vocês e de seus amados pelos próximos doze meses.”
Mark Zuckerberg enxergou mais adiante e já declarou que espera que pelo menos metade dos 45 mil empregados do Facebook passe a trabalhar em casa não no próximo ano, mas durante toda a próxima década. A Twitter nem tem prazo para a volta aos escritórios. Espera que apenas 20% dos seus funcionários retornem. Já mandou avisar aos outros 80% que podem trabalhar em casa “indefinidamente”, se quiserem.
Hotéis de Nova York estão adaptando suítes para que se tornem luxuosos escritórios individuais de aluguel
Está complicado em casa? Alugue uma salinha de coworking, um ramo que tende a crescer com esse panorama. Com a baixa do turismo, hotéis de Nova York estão adaptando suítes para que se tornem luxuosos escritórios individuais de aluguel. Com room service, claro.
O melhor ambiente de trabalho que conheci na minha vida de repórter foi a sede da produtora Pixar, na Califórnia. A Pixar oferece a seus funcionários um câmpus onde mistura ambientes de trabalho altamente aconchegantes e confortáveis, instalações esportivas, restaurante, lanchonete, tudo funcionando 24 horas. A maior dificuldade era fazer os funcionários voltar para casa. Tudo ali foi feito para incentivar a criatividade e a vontade de produzir.
Quando voltei para a redação da revista onde trabalhava, olhei para aquelas pessoas amontoadas em ambiente fechado, grudadas umas nas outras, todas falando ao mesmo tempo, olhando para seus computadores ou para outras pessoas olhando seus computadores. Eu não entendia como alguém pudesse escrever uma linha que fosse num ambiente como aquele. Preferia o aconchego do meu home office, minha roupa larga, a boa música nos fones. Em casa, eu escrevia sem parar porque escrevia com prazer. E procurava estar o mais bem equipado possível para o trabalho. Sabia que essa relativa independência no emprego dependia de minha capacidade de produzir, me comunicar e entregar minha produção.
Mesmo os mais “humildes” (e essenciais) têm encarado as novas exigências da tecnologia
Na atual situação, a tecnofobia se tornou o novo analfabetismo. O maior exemplo disso foi dado por profissionais mais “humildes” (e essenciais). Eles foram muito rápidos em perceber que ninguém mais pode oferecer um trabalho de faxineiro, encanador ou pedreiro se não tiver um celular com os aplicativos essenciais de comunicação e finanças, um endereço de e-mail e uma maquininha de cobrança de cartões. É cada um empresário de si mesmo.
Toda mudança assusta. A estabilidade do passado recente era artificial e deslocada da realidade, garantida por uma legislação ultrapassada. Essa insegurança com as novas regras é natural. Pode paralisar. É campo fértil para demagogos que prometem a estabilidade e a segurança de volta, em pleno terremoto.
O futuro do modo como trabalhamos e ganhamos nosso dinheiro se parece hoje com uma floresta escura e cheia de ameaças. É um péssimo momento para quem tem medo de mudanças. O resto de nós acorda, escova os dentes, tira o pijama, coloca uma roupa confortável, liga o computador e aproveita mais um dia de revolução.
Dagomir Marquezi, nascido em São Paulo, é escritor, roteirista e jornalista. Autor dos livros Auika!, Alma Digital, História Aberta, 50 Pilotos — A Arte de se Iniciar uma Série e Open Channel D: The Man from U.N.C.L.E. Affair. Prêmio Funarte de dramaturgia com a peça Intervalo. Ligado especialmente a temas relacionados com cultura pop, direito dos animais e tecnologia.
Revista Oeste
"O Estado Islâmico da Turquia", por Bruno Garschagen
Reconvertida em mesquita, a Santa Sofia passa a representar um país islamizado, autoritário e hostil ao Ocidente
Reconverter em mesquita a histórica Basílica cristã de Santa Sofia (Hagia Sophia), localizada em Istambul, é parte do processo de instauração de uma teocracia nacionalista e autoritária na Turquia levada a cabo pelo presidente Recep Tayyip Erdogan.
A bela e imponente edificação, construída em 537 pelo imperador romano Justiniano I, foi a maior igreja cristã do Império Bizantino até 1453, quando os otomanos ocuparam Constantinopla, mudaram o nome da cidade para Istambul e transformaram o local numa mesquita muçulmana.
Assim foi até 1934, ano em que passou a funcionar como museu por ordem do presidente Mustafa Kemal Atatürk, fundador da república turca após a independência do Império Otomano, personagem político fundamental na construção da Turquia contemporânea e na separação entre Islã e Estado. Desde a ascensão política de Erdogan em 2003 como primeiro-ministro, entretanto, o legado de Atatürk vem sendo destruído.
Presidente eleito pela primeira vez em 2014, a tentativa de golpe que sofreu em 2016 tem servido como justificativa para Erdogan concentrar mais poderes, violar liberdades, calar a imprensa, prender opositores, dissuadir qualquer oposição, governar o país com mão de ferro e restituir o Islã na política.
A aparente normalidade institucional era possível graças aos militares que serviam como obstáculo a uma teocracia
Visitei Istambul em 2008 a convite da Associação de Amizade Luso-Turca. Fui com um grupo formado por jornalistas portugueses. Conheci diversos locais históricos e a redação do maior jornal do país, o Today’s Zaman. Tive reuniões com famílias turcas, com empresários, jornalistas, intelectuais, escritores. Naquele ano, a Turquia vivia certa normalidade institucional, reformas políticas e econômicas estavam em andamento e havia a expectativa de o país ser aceito na União Europeia.
Fiquei encantado com as pessoas, com a comida, com a cidade, tanto do lado ocidental quanto do lado asiático, onde conheci um bairro em que, no passado, igreja católica, sinagoga e mesquita eram vizinhas de muro. A Basílica de Santa Sofia foi uma das construções mais belas em que já pus os pés (e os olhos). Lá dentro havia turistas de várias partes do mundo, pessoas de nenhum e de vários credos.
Regressei a Portugal maravilhado com o que vi, mas sabedor de que a aparente normalidade institucional a que me referi só era possível graças aos militares que serviam como obstáculo a uma teocracia na Turquia. A liberdade de expressão também era precária e opiniões críticas ao regime poderiam causar sérios problemas aos seus autores, segundo me alertaram os jornalistas e escritores com quem conversei.
O presidente conseguia na Justiça a prisão de jornalistas sob a acusação de disseminação de propaganda terrorista
E aqui reside um aspecto importante: o advento da república turca e as profundas reformas realizadas por Atatürk de cima para baixo, com base na sua visão de uma Turquia secularizada e ocidentalizada, não modificou a cultura religiosa e política do país fundada no Islã. A separação entre religião e Estado só perdurou pelo temor de uma reação militar, pois o exército turco ainda se vê como guardião do legado do antigo líder. Com a ascensão política de Erdogan, representante da ala nacionalista-teocrática, o que não era sólido se desmanchou no ar. Isso explica a tentativa de golpe por militares em 2016. Mas o fracasso do levante fortaleceu o presidente e o projeto de submeter o Estado ao Islã.
Em 2015, aliás, a situação na Turquia já estava complicada. No lançamento do meu primeiro livro em São Paulo, reencontrei o colega turco que, em 2008, nos levou a Istambul. Ele me disse que, naquele momento, a nossa viagem seria impossível de ser realizada. Meses depois dessa conversa, o editor-chefe da versão em inglês do jornal Zaman, o Today’s Zaman, Bülent Kenes, foi preso na redação do jornal por fazer críticas a Erdogan no Twitter. Em 2014, o editor-chefe do Zaman, Ekrem Dumanli, já havia sido preso.
A sanha de Erdogan contra a imprensa começou em 2013 quando foram publicadas denúncias de corrupção contra membros de seu governo. O presidente conseguia na Justiça, que já estava a seu serviço, a prisão de jornalistas que o criticavam sob a acusação de disseminação de propaganda terrorista e de abusos da liberdade de expressão.
O Legislativo turco aprovou uma lei que permite ao governo controlar o conteúdo publicado em redes sociais
Kenes não foi o primeiro nem o último jornalista a ser preso naquilo que foi chamado de “zelo despótico” por sua substituta, a jornalista Sevgi Akarcesme, num artigo publicado em 10 de março de 2016. No texto, ela fazia sérias objeções ao governo, que já havia conseguido assumir judicialmente o controle do jornal, e dizia que aquele talvez fosse seu último artigo como editora. O temor do que lhe poderia acontecer levou a jornalista a fugir para Bruxelas e, depois, a se exilar nos Estados Unidos. E no dia 30 de março, foi anunciado o novo editor-chefe do Zaman: Kenan Kiran, que era diretor da redação do jornal pró-governo Yeni Akit.
O novo ataque contra as liberdades foi desferido na quarta-feira, dia 29. O Legislativo turco aprovou uma lei que permite ao governo controlar o conteúdo publicado em redes sociais. Empresas como Youtube, Facebook e Twitter serão obrigadas a abrir escritórios no país somente para, em até 48 horas, bloquear ou remover conteúdo considerado ofensivo pelo governo. Caso não o façam, serão penalizadas, inclusive com multas de mais de US$ 700 mil. A lei passa a vigorar no dia 1º de outubro.
Desde 2019, segundo reportagem do The New York Times, as autoridades turcas conseguiram bloquear o acesso a mais de 400 mil sites, excluir 40 mil posts no Twitter, remover 10 mil vídeos no Youtube e retirar 6,2 mil posts no Facebook. Quando estive em Istambul em 2008, não era possível acessar o Youtube.
A Turquia vem se transformando numa unha encravada numa região delicada
À Europa também cabe parte da culpa pelo que está acontecendo na Turquia. Durante anos, a União Europeia ludibriou os turcos com exigências de reformas baseadas na promessa, nunca cumprida, de entrada no bloco europeu. Aos olhos de um povo majoritariamente muçulmano, o processo de secularização e de reformas talvez tenha representado tão somente um rebaixamento intolerável diante de um Ocidente considerado moralmente degradado. O mesmo Ocidente que tem se deixado rebaixar pelos seus inimigos internos.
Num artigo publicado em 2009 na revista Azure (https://bit.ly/33av9Jp), ao analisar a relação entre o Ocidente e o Islã, Roger Scruton afirmou que os ocidentais estavam “à beira de um perigoso período de concessão, em que as conquistas legítimas da nossa própria cultura e herança serão ignoradas ou subestimadas numa tentativa de provar as nossas intenções pacíficas”.
Caracterizado pela ausência de “confiança em seu modo de vida” e pela falta de certeza a respeito das “exigências desse modo de vida”, o problema apontado pelo filósofo ganhava dimensão ainda mais sombria quando o Ocidente enfrentava um oponente, o islamismo, “que acredita que o modo de vida Ocidental é profundamente degradado e que talvez seja mesmo uma ofensa contra Deus”.
A reconversão da Basílica de Santa Sofia em mesquita é questão mais ampla do que parece: simboliza o que a Turquia se transformou sob Erdogan e a mensagem política que passa ao mundo. De complicada aliada geopolítica estratégica do Ocidente, outrora símbolo de país muçulmano que desenvolveu a sua democracia, a Turquia vem se transformando numa unha encravada numa região delicada. Num editorial publicado na capa do jornal francês Le Figaro (https://bit.ly/3fd2HZx) no dia 24 de julho, o jornalista Patrick Saint-Paul foi enfático: Erdogan provocou uma divisão irreparável com o Ocidente. Pergunto-me: já não o tinha feito?
Uma das muitas questões política que se coloca é como serão firmadas alianças internacionais após a fase mais aguda dos efeitos negativos do novo coronavírus mundo afora. No momento posterior, de necessidade de recuperação econômica e de rearranjo geopolítico, o governo turco pode ser um parceiro importante ou um antagonista relevante.
Sendo museu, a Basílica de Santa Sofia era espaço ecumênico, de tolerância religiosa, que ligava o passado ao presente, que atraía visitantes pela história e pela beleza, imagem que a Turquia tentava projetar para si mesma internacionalmente. Reconvertida em mesquita, mesmo aberta a turistas, passa a representar um país islamizado, autoritário e hostil ao Ocidente: o Estado Islâmico da Turquia.
Bruno Garschagen é cientista político, mestre e doutorando em Ciência Política no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa) e autor dos best-sellers Pare de Acreditar no Governo e Direitos Máximos, Deveres Mínimos (Editora Record).
Revista Oeste
"Os riscos de um mundo sem frobnteirs", segundo o sociólogo Frank Furedi
Em sua nova obra, o sociólogo Frank Furedi explica a importância de estabelecer limites para dar significado à experiência humana
Depois de se inspirar no nascimento de seu filho, em 1995, para escrever sobre a “cultura do medo” em sua obra How Fear Works – Culture of Fear at the 21st Century, o sociólogo anglo-húngaro Frank Furedi se propôs a desvendar as nuances de um mundo “sem fronteiras e sem limites”. Em seu mais recente livro, lançado neste mês, Why Borders Matter – Why Humanity Must Relearn the Art of Drawing Boundaries (“Por Que Fronteiras São Importantes — Por Que a Humanidade Deve Reaprender a Arte de Estabelecer Limites”, sem lançamento previsto no Brasil), o colunista da Revista Oeste conta que, ao debruçar-se sobre o tema, chegou à conclusão de que “todos os limites que deram significado à experiência humana por centenas de anos estão sendo questionados e postos à prova.”
Professor emérito de Sociologia na Universidade de Kent, na Inglaterra, Furedi chama a atenção para grupos que acreditam que as fronteiras se tornaram irrelevantes na era da migração em massa e da globalização. Mas não apenas as fronteiras físicas que dividem as nações. Estão em xeque também limites simbólicos que separam adultos de crianças, homens de mulheres, a esfera privada da pública. Para o sociólogo, os grupos que criticam os limites impostos socialmente são os mesmos que estão ocupados construindo novos limites e imposições para se ver livres das críticas.
A obra também se propõe a uma reflexão sobre a falta de limites que separam adultos e crianças na sociedade. Nas palavras do professor, “hoje em dia, quando os filhos querem se rebelar e chutar a porta, não há mais porta para chutar; os adultos deixaram as portas abertas”. Furedi tratou dessa e de outras questões em entrevista à Revista Oeste por videochamada, de seu apartamento na Itália, onde passa as férias de verão.
A experiência do nascimento do seu filho, em 1995, o inspirou a escrever sobre o medo. O que o motivou a escrever Why Borders Matter?
Há dois anos, a sociedade de filosofia da Bélgica pediu que eu fizesse uma palestra sobre fronteiras. Uma semana depois, filósofos holandeses também me pediram que falasse sobre o assunto. O fato de eu ser húngaro e ter cruzado fronteiras como refugiado fez com que me interessasse ainda mais pelo tema. Enquanto fazia minhas leituras e estudos, percebi que as mesmas pessoas que odeiam fronteiras nacionais e clamam por fronteiras abertas também se sentiam desconfortáveis com os limites que separam, por exemplo, adultos de crianças. Para tais indivíduos, trata-se de artificialidades que não deveriam existir. Esses grupos são os mesmos que ficam desconfortáveis com os limites entre homens e mulheres, e acreditam que as pessoas precisam ser mais flexíveis e abertas. Então, comecei a perceber que o que acontece na sociedade ocidental é que todos os limites que deram significado à experiência humana por centenas de anos estão sendo questionados e postos à prova.
É possível determinar a partir de que momento a sociedade começou a protestar contra fronteiras e limites? Houve algum fato determinante ou foi um processo natural?
Acho que foi um processo natural, com início a partir dos anos 1980, e a razão pela qual isso começou foi uma crise moral. O cerne dessa crise moral é motivado pela crença de que é errado fazer distinções e julgamentos. Na cultura anglo-saxã, acreditamos que o não julgamento é um atributo positivo. Mas, para mim, ter uma conduta de não julgamento é estúpido porque o ser humano está julgando o outro a todo momento. É como nos relacionamos. Contudo, no mundo anglo-americano, o julgamento é uma coisa ruim. Julgar as pessoas é visto como uma conduta discriminatória. E, com o tempo, o não julgamento se tornou um valor fundamental para a moralidade da sociedade. É o que se ensina nas escolas — “não julgue o colega”, “não existe bom ou ruim”, “não existe certo ou errado”. Mas, se você começa a destruir os limites morais, cria-se uma mentalidade em que as pessoas se tornam intolerantes com limites em geral.
Muitos grupos identitários hoje acreditam que os limites se tornaram irrelevantes. Eles questionam os limites tradicionais que separam adultos de crianças, homens de mulheres, seres humanos de animais. Paradoxalmente, esses grupos estão estabelecendo novos limites como o policiamento da linguagem e a eliminação de distinções biológicas entre homens e mulheres. Como lidar com essa contradição?
Hoje, temos uma situação interessante em que, se você diz que precisa de limites, pode ser acusado de ser uma pessoa má. Indivíduos que questionam os limites por acreditar que estes reforçam o racismo, a xenofobia, a violência são os mesmos que estão ocupados policiando as próprias divisas. Existe um movimento para criar espaços seguros. Esses grupos querem criar áreas para ficar livres das críticas. Existe uma grande discussão nos Estados Unidos sobre policiamento de fronteiras e limites. Por exemplo, uma pessoa branca não poderia escrever uma história sobre uma pessoa negra, um homem não poderia escrever uma história sobre uma mulher, ou um judeu não poderia escrever sobre um cristão. Todas essas situações são tentativas de monopolizar e policiar a cultura. Ao mesmo tempo em que os limites antigos são questionados, esses grupos estão constituindo suas novas fronteiras, novos limites.
“Quando minha família emigrou para o Canadá, eu quis me sentir canadense o mais rápido possível”
O que o senhor pensa sobre a migração em massa rumo à Europa nos últimos anos? Esse movimento migratório pode destruir o conceito de comunidade e de fronteiras?
Sou a favor de fronteiras entre as nações porque somente em nações unidas é possível ter democracia. De fato, quando a democracia foi criada em Atenas, na Grécia antiga, juntamente com o Estado de Direito, as leis das cidades-estado fizeram seus cidadãos entender que todos eram iguais — no sentido de que todos estavam sujeitos às mesmas regras e responsabilidades. O maior problema da migração em massa não é tanto a migração em si, mas o fato de que muitos países europeus abandonaram a política de assimilar os imigrantes e passaram a acreditar no multiculturalismo. Em vez de criarem uma sociedade em comum, criam-se mundos e sociedades paralelas. E isso torna o problema da imigração ainda pior. Quando minha família emigrou para o Canadá, eu quis me sentir canadense o mais rápido possível. Ainda era criança e minha atitude não foi dizer “não quero aprender inglês ou francês” porque sou húngaro. Pelo contrário, quis aprender a língua para me sentir parte da comunidade. Mas na Inglaterra e em alguns outros países europeus essa assimilação cultural passou a ser considerada antiquada.
O senhor chama a atenção para a existência de um fenômeno social contemporâneo em que há infantilização dos adultos e adultização das crianças. Como isso afeta os limites tradicionais que separam adultos e crianças?
As crianças se desenvolvem interagindo com os pais. E, em algum momento, meninos e meninas se rebelam contra os genitores. Tenho certeza de que você já fez isso, eu já fiz. Aquela atitude rebelde “eu não vou fazer, eu não quero ir”. Isso é muito importante porque é por meio de atitudes como essas que os jovens aprendem a lidar com suas forças e fraquezas, tornam-se independentes, desafiam-se a correr riscos. Hoje em dia, quando os filhos querem se rebelar e chutar a porta, não há mais porta para chutar. Os adultos deixaram as portas abertas. E, quando todas as portas estão abertas, não há nada contra que se rebelar. Então, a transição entre a vida na infância e a vida adulta é estendida. E não apenas se torna mais longa como desencoraja os jovens a ter atitude, a desenvolver o senso de independência.
Pode citar alguns exemplos?
São vários. Quando pego meu filho na escola, muitos pais chegam para mim e falam orgulhosos que vestem a mesma camiseta que o filho, que escutam a mesma música. “Nós somos tão cool!” Vejo isso com tristeza porque o pai se tornou infantilizado. Se você falar com as mães, é a mesma coisa: “Adoro trocar ideias com a minha filha, ela me dá conselhos e eu dou conselhos a ela”. Então, você tem a situação em que uma filha dá conselhos à mãe sobre os problemas da vida. E vira uma confusão. Não quero ser o melhor amigo do meu filho, quero ser seu pai. Por outro lado, um grupo acredita que isso é artificial e que os pais devem ser os melhores amigos de seus filhos em vez de manter uma postura de autoridade.
Se você assiste a séries na Netflix, pode perceber que todas as crianças são sempre sensíveis, têm inteligência emocional, são elas que resolvem os problemas. Os adultos da família são um bando de idiotas fora do controle, que não sabem o que fazer. A vida em família é representada por gerações mais velhas, que são um bando de idiotas, e os mais jovens têm todos a sabedoria de Greta Thumberg. Na Inglaterra, muitos especialistas argumentam que os pais não deveriam ouvir seus pais e avós porque seus conselhos são antiquados, não são bons. E, se você usar esses conselhos com seu filho, vai estragar a criança, como se pessoas mais velhas não tivessem nada com que contribuir.
“Em vez de resolver seus problemas por conta própria ou com a ajuda de amigos próximos, você é estimulado a partilhar sua intimidade”
Gostaria que o senhor comentasse o conceito de “openness” (abertura, mentalidade aberta, em português), abordado em seu livro. Grupos identitários de esquerda parecem ter se apropriado do termo para justificar a luta por uma “sociedade sem limites”.
Essa foi minha grande descoberta. Porque sempre achei que ser “cabeça aberta” era uma coisa boa. Mas, quando comecei a estudar, percebi que o conceito hoje é usado para destruir os limites e diferenças entre o que é público e o que é privado. Somos encorajados a abandonar nossa vida privada e a viver como se estivéssemos em um programa de reality show da televisão. O conceito antigo em que “openness” significava a defesa de uma postura crítica, de estar aberto a novas ideias e novas experiências não existe mais. Ser aberto tornou-se uma obrigação, um valor moral. Psicologicamente, dizemos às pessoas que elas devem partilhar suas emoções. Então, em vez de resolver seus problemas por conta própria ou com a ajuda de amigos próximos, você é estimulado a partilhar sua intimidade. Frequentemente, partilhar e ser aberto nos faz evitar o problema, deixando de aproveitar oportunidades e de correr riscos. E mais, se você se torna uma pessoa muito aberta, começa a perder a noção de quem você realmente é. Porque o limite entre você e todas as pessoas ao redor se torna tão permeável que você perde a individualidade e precisa se conformar com quaisquer que sejam os valores daquele grupo.
Essa ausência de limites também se observa na tolerância a determinados comportamentos antes tidos como obscenos ou imorais?
Se não há mais diferença entre as esferas pública e privada, e se perdemos a noção de ter um espaço íntimo para discutir e resolver questões privadas ou mesmo fazer sexo, ocorre o que podemos chamar de a “pornograficação” da vida cotidiana. Basicamente, você se comporta em público como se estivesse em uma performance diante dos outros. Isso leva a um débito cultural. O que eu acho ruim não é simplesmente o eventual gesto obsceno em si, mas o fato de várias pessoas estarem tirando foto, querendo fazer parte do show. Não sou puritano, não me importo com o que o outro faz. Mas, se a intimidade é arrastada à esfera pública, deixa de ser intimidade. Ou seja, fazer sexo em seu quarto, entre quatro paredes, tem um significado diferente de fazer sexo em frente a um monte de gente no carnaval. É o mesmo ato físico, mas muito diferente moral e psicologicamente, e com significado social distinto.
O presidente Jair Bolsonaro foi eleito com um discurso conservador em defesa da família e do cristianismo. Em meio a uma sociedade que questiona limites o tempo todo, o que pode justificar a vitória dele nas urnas?
Acredito que muitas pessoas estejam incomodadas com certos comportamentos mas não sabem como lidar com isso. Temem ser tachadas de caretas. Têm medo de parecer ultrapassadas. E há aquelas que simplesmente ficam em silêncio. Políticos também ficam em silêncio nessas questões. Eles tentam fingir que são legais, modernos. Não querem parecer um padre e ditar regras. Na verdade, poucos indivíduos são capazes de adotar uma linguagem moral. Então, quando aparece um candidato que deixa explícita sua visão acerca de questões morais, isso dá uma sensação de alívio e gera empatia. Talvez esse fenômeno ajude a explicar por que muita gente votou nele. “Esse cara pensa como eu penso.”
O Brasil terá eleições municipais neste ano. A confusão entre as esferas pública e privada pode interferir no comportamento de políticos durante a campanha e influenciar na escolha de candidatos?
Não entendo muito de política brasileira. Mas, em geral, quando inexistem limites entre o público e o privado, a esfera pessoal se torna política. Daí, ganha importância no discurso do candidato o fato de ele ser aberto às emoções. Ficam ofuscadas suas ideias e plataformas de governo. Gostamos de políticos que falam sobre sua vida pessoal, de divórcio e casos amorosos, de problemas de saúde. Eles se comportam como se estivessem em um reality show. Há pessoas que dizem gostar de determinado político porque ele fala de seus sentimentos. Então, percebe-se uma corrida para a sarjeta, em que candidatos a cargos públicos se tornam atores de circo em vez de homens de Estado. Eles ficam obcecados pela imagem e pela necessidade de que o mundo veja que ele é um homem de família, que tem uma esposa que sobe no palanque durante os comícios, ou que gosta de jogar beisebol ou golfe, ou mesmo tomar um drinque. Mas o que você não vê é o que eles defendem, no que realmente acreditam. Isso é péssimo para a democracia. Quando a esfera pessoal se torna política, problemas pessoais tornam-se questões públicas. Problemas atrelados à vida privada, como, por exemplo, a criação de um filho, tornam-se problemas públicos. E, de repente, todo mundo se sente no direito de opinar.
Leia também nesta edição os artigos de Ana Paula Henkel e Fraser Myers
Paula Leal, Revista Oeste
"O STF tornou o Brasil uma piada sinistra", diz Modesto Carvalhosa
O jurista Modesto Carvalhosa critica a atuação do STF, diz que a Corte instituiu no país o crime político e propõe uma nova Constituição para reordenar o relacionamento entre as instituições
Na semana passada, em mais uma presepada na esfera do inquérito das fake news — uma completa aberração desde a origem —, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de 16 contas de aliados do presidente Jair Bolsonaro no Twitter e 12 perfis do Facebook. O Supremo Tribunal Federal continua atentando contra a liberdade de expressão. Quanto a isso, não resta dúvida. Mas nem isso está fazendo “direito”. Não mexe com nomes que representam alto nível de risco. Importantes vozes da direita, até mais expressivas que as “interditadas”, seguem atuantes e ouvidas por milhões de cidadãos, em que pesem as investidas do STF.
Atento observador do Supremo brasileiro, o jurista paulistano Modesto Souza Barros Carvalhosa, de 88 anos, um dos mais prestigiados nomes do direito no país, diz que a Corte instituiu uma espécie de “AI-5 sem data para terminar”. Carvalhosa vê Alexandre de Moraes como “o ministro inquisidor-geral da nação”. E a presidência de Antonio Dias Toffoli, para o jurista, é “uma página negra na história do STF”.
Com intensa atuação política, o advogado especialista em Direito Societário é sempre chamado a contribuir para o debate público. Apresenta costumeiramente análises precisas e contundentes de quem não deve e não tem nada a temer. “O STF tornou o Brasil uma piada sinistra”, diz Carvalhosa. Em 2019, juntamente com dois colegas, ele ingressou junto ao Senado Federal com um pedido de impeachment contra o ministro do STF Gilmar Mendes.
Carvalhosa é autor de várias obras — entre elas, Da Cleptocracia para a Democracia em 2019: um Projeto de Governo e de Estado e O Livro Negro da Corrupção, este, premiado com o Jabuti de Literatura Jornalística em 1995.
O jurista defende uma mudança estrutural na vida política brasileira e uma nova Constituição para que o Estado volte a servir o povo: “Hoje, o Estado domina completamente a coletividade e impede o desenvolvimento do país, que é um dos mais atrasados do mundo em todos os planos, em tudo”.
Carvalhosa conversou com a Revista Oeste para a seguinte entrevista.
O STF tem autonomia para cancelar contas de cidadãos em redes sociais?
O Supremo Tribunal Federal não tem jurisdição para cancelar contas. Cabe ao Instagram, ao Facebook e ao Twitter selecionar o que será publicado. É como em um jornal ou em uma revista: só se publicam as notícias que a redação considera que devem ser veiculadas. Portanto, é da responsabilidade privada dos próprios veículos bloquear essas contas com fake news, e não do STF. A propósito, fake news não têm tipificação penal nenhuma. A tipificação é aquela tradicional: calúnia, injúria e difamação. Portanto, são crimes de ação privada que não cabem na competência nem da Procuradoria-Geral da República nem do Supremo Tribunal Federal. Quem cancela contas é o veículo para a sua própria preservação e reputação. É o que as plataformas devem fazer, e parece que já têm feito.
Qual sua posição acerca do inquérito das fake news?
A partir de março de 2019, o STF resolveu penalizar os crimes de opinião e a liberdade de expressão, ou seja, decidiu restaurar o crime político em nosso país, como nos tempos do regime militar. O STF dedica-se a atemorizar a cidadania e inibir o direito de crítica à conduta das autoridades e de seus familiares. Se você falar mal dos familiares desses ministros, vai pegar um processo brutal, sua casa será invadida, você vai prestar depoimentos na Polícia Federal porque falou mal da ‘familinha’ dos ministros. Então, essa é a democracia que temos no Brasil. Esse inquérito do fim do mundo pune os crimes de opinião e de liberdade de expressão, passando a ser mera retórica o artigo 5º da Constituição, que trata da livre manifestação de pensamento e da inviolabilidade do domicílio. O Supremo Tribunal Federal critica o pessoal que quer o AI-5 — aliás, com toda a razão, porque ninguém pode querer o AI-5 —, mas eles, pela portaria 69 [que deu origem ao inquérito das fake news], instituíram o AI-5 no Brasil. Esse terrorismo de Estado, esse regime político de exceção, é imposto à cidadania. Nós temos o AI-5 sem data para acabar.
O que, eventualmente, poderia ser considerado fake news ou ofensa ao Supremo?
Qualquer crítica pessoal ou familiar aos ministros será considerada fake news. Ocorre que fake news não é delito tipificado no Código Penal, não podendo ser objeto de ação criminal alguma. Esses ministros do Supremo Tribunal Federal são ao mesmo tempo vítimas, investigadores, acusadores e julgadores do mesmo fato. Como é que você se diz vítima de um crime que não existe? E se faz investigação, acusa e julga um crime que não existe?
Mas agora há um inquérito aberto pela Procuradoria-Geral da República para apurar ações relacionadas a “manifestações antidemocráticas”…
A democracia aguenta desaforos, inclusive críticas sobre suas próprias instituições quando elas não funcionam. E, no Brasil, não funcionam. A crítica às instituições democráticas é da natureza da própria democracia. No entanto, agora é crime, segundo o tal do [ministro Antonio Dias] Toffoli, o tal do Alexandre de Moraes. Trata-se de crime político o que eles instituíram nesse inquérito secreto 4828. A liberdade de opinião do regime democrático não é mais garantida. Então, se você atacar as instituições, quando considera que elas não funcionam, isso é crime. Esses sinistros inquéritos estão instalados em plena democracia, na assim chamada democracia brasileira.
Como o senhor avalia a atuação do ministro Alexandre de Moraes nesses inquéritos?
O Alexandre de Moraes é o ministro inquisidor-geral da nação. Ele se outorgou o poder ilegítimo de investigar secretamente todos os cidadãos que ousem criticar os ministros daquela Corte e atacar as instituições republicanas, que eles mesmos quebraram. A partir de março de 2020, esses inquéritos secretos foram estendidos às demais autoridades ofendidas do Senado e da Câmara, o tal do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o Botafogo, Rodrigo Maia. Se falar mal do Davi Alcolumbre ou do Botafogo, Rodrigo Maia, você já tem inquérito, porque é contra as instituições. O STF tornou este país uma piada sinistra.
“Temos no Brasil o Supremo Tribunal da Impunidade”
Qual a sua opinião sobre a decisão do STF de manter a possibilidade de decisões monocráticas contra atos de outros poderes? [Por 10 votos a 1, o STF decidiu em 1º de julho que os ministros continuariam a decidir sozinhos sobre questões que interferissem no Executivo e no Legislativo. O ministro Marco Aurélio de Mello foi voto vencido.]
Trata-se de uma conduta absolutamente contrária ao regimento interno do próprio STF, que tem sido menosprezado pelos ministros daquela Corte, criando 11 cortes judiciárias, cada uma com sua cabeça e suas preferências políticas e que decidem hoje em dia o destino político do país.
Como o ativismo judicial interfere na atuação do STF, principalmente no direito criminal?
Esse ativismo judicial em matéria criminal ocorre por força da Constituição de 1988, que deu aos tribunais superiores poderes que eles não conseguem nem sequer absorver. São poderes quase que de delegacia de polícia, misturado com Ministério Público, com competências de primeira, segunda, terceira e quarta instâncias. O Supremo Tribunal Federal é hoje em dia nada mais do que uma máquina, uma fábrica de habeas corpus, atitude que deve ser tomada geralmente na primeira instância ou no máximo na segunda. Eles fabricam habeas corpus todo dia. E a favor de quem? A favor dos negros, pobres e moradores das periferias? Não! São protegidos por essa fábrica de habeas corpus os políticos e os empresários que estão ligados à corrupção e a organizações criminosas. O Supremo Tribunal Federal hoje é o grande espaço onde todos os delinquentes de alto coturno encontram uma maneira de não continuarem presos ou não serem presos. Enfim, é o Supremo Tribunal da Impunidade.
Seria possível eliminar o ativismo judicial?
A única maneira é uma nova Constituição. Trato do tema no livro que lançarei em novembro [Uma Nova Constituição para o Brasil — De um País de Privilégios para uma Nação de Oportunidades (Editora Revista dos Tribunais)]. O novo texto constitucional precisa instituir que as nomeações para o Supremo Tribunal Federal sejam feitas por antiguidade. Funcionaria assim: os ministros do Superior Tribunal de Justiça mais antigos ocupariam os cargos de ministros do STF por um período de oito anos, e não mais para a eternidade. O senhor Toffoli, por exemplo, ficará lá até seus 75 anos. Esse tipo de permanência eterna dentro do Supremo deve acabar. Essa proposta também valeria para tribunais superiores em geral. Essa é a solução para acabar com esse ativismo judicial que temos hoje, que é extremamente prejudicial ao povo brasileiro.
“O ministro Toffoli na presidência do STF cometeu todos os crimes de responsabilidade que se pode imaginar”
Como o senhor recebeu a revelação de que Marcelo Odebrecht disse à Procuradoria-Geral da República que seu grupo empresarial mantinha um acerto ilícito com o então advogado-geral da União, Antonio Dias Toffoli?
Fico impressionado com a pouca repercussão que esse escândalo nacional, absoluto, teve na imprensa escrita e televisiva. Não se falou praticamente nada, como se fosse um assunto de pouco interesse público. Na realidade, é um escândalo total que deveria, inclusive, ter levado o Senado a imediatamente colocar em plenário um pedido de impeachment contra esse ministro, coisa que não aconteceu. O Senado não reagiu. A Câmara não reagiu. A imprensa também não reagiu, e assim as coisas continuam como sempre estiveram.
De que modo o ministro Toffoli vem conduzindo a presidência da Corte?
O ministro Dias Toffoli na presidência do STF cometeu todos os crimes de responsabilidade que se pode imaginar, além dos de prevaricação e crimes comuns. Tudo está relatado nos pedidos de impeachment que existem contra ele no Senado Federal. É claro que o ministro acrescentou neste ano de 2020 outros delitos também no plano da responsabilidade e da prevaricação, demonstrando que é um político que está ali para proteger deputados, senadores, ministros, presidente da República e familiares das garras da Justiça. A presidência de Dias Toffoli é, vamos dizer claramente, uma página negra na história do STF, que é uma das grandes instituições da República brasileira, sem a qual não podemos nunca passar. O STF tem de existir, tem de funcionar, mas não pode ter na sua composição pessoas desse jaez. É um absurdo o que Dias Toffoli fez na presidência do STF, o elenco de todos os malfeitos que ele praticou. Talvez fosse o caso de um aditamento aos pedidos de impeachment dele pelas condutas que teve no fim de 2019 e, agora, nesse primeiro semestre 2020.
“Luiz Fux tem se alinhado ao grupo dos cinco ministros que realmente defendem a Justiça”
O que a sociedade brasileira pode esperar da condução do STF com o ministro Luiz Fux na presidência da Corte?
O povo brasileiro tem uma grande esperança na presidência do ministro Luiz Fux. Não só por ser o único ministro que restou naquela casa que vem da carreira da magistratura, homem de grande competência jurídica, mas pela idoneidade que tem demonstrado claramente em todos os votos proferidos no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral. Naquele caso histórico em que a Dilma e o Temer foram absolvidos por excesso de provas, ele foi veementemente contra a absolvição. O ministro tem votado favoravelmente à prisão em segunda instância. Em todos os casos que o Supremo tem julgado nesses últimos dois anos que se referem à proteção dos corruptos e à impunidade, o ministro Luiz Fux tem se alinhado ao grupo dos cinco ministros que realmente defendem a Justiça e o povo brasileiro dessa claque de políticos sórdidos que dominam este país.
O senhor protocolou um pedido de impeachment contra Gilmar Mendes. Qual seria o crime cometido pelo ministro?
Ingressamos com um pedido de impeachment contra o ministro Gilmar Mendes baseado em três condutas dele: na vida privada, empresarial e como juiz. Na vida privada, porque ele, realmente, exerce ou exerceu atividades políticas muito intensas, na defesa do governador de Mato Grosso, que é um notório corrupto, e de seus secretários, por exemplo. No plano político, ele tem uma promiscuidade enorme com os réus do próprio Supremo Tribunal Federal. Como juiz, ele solta qualquer camarada que tenha boa projeção política ou empresarial. Se for um grande empresário, como aquele “Rei do Ônibus”, ele é solto imediatamente. Então, ele é o soltador-mor da nação. Todos os políticos e grandes empresários corruptos são soltos pelo Gilmar Mendes. A figura de Gilmar Mendes não constrói nada, só destrói as nossas esperanças no Brasil.
Leia mais sobre o tema nesta edição nos artigos de J. R. Guzzo, Guilherme Fiuza e Augusto Nunes.
Revista Oeste
Afonso Marangoni, Revista Oeste
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