sábado, 28 de fevereiro de 2015

Camargo Corrêa diz que não participou de acordo de delação premiada de seus executivos

Germano Oliveira - O Globo

Segundo a empreiteira, documentos foram tratados com o MPF individualmente


A construtora Camargo Corrêa divulgou nota neste sábado dizendo que não participou do acordo de delação premiada ao qual recorreram seus executivos Dalton Avancini, presidente da companhia, e Eduardo Leite, vice-presidente. A empreiteira diz que só "tomou conhecimento do acordo de seus executivos pela imprensa". Para a Camargo Corrêa, os dirigentes "firmaram acordos individuais de colaboração com o Ministério Público", insinuando que eles só tomaram essa decisão devido às pressões psicológicas que sofrem pelo fato de estarem presos na carceragem da Polícia Federal.

"A companhia lamenta que tenham sido submetidos a longo período de prisão, antes do julgamento do caso. Embora não tenha participado do citado acordo, a companhia permanecerá à disposição das autoridades para o que for necessário e sanará eventuais irregularidades, aprimorando a governança administrativa para seguir contribuindo com o desenvolvimento do país", diz nota da Camargo Corrêa divulgada neste sábado.

Na sexta-feira, Dalton Avancini e Eduardo Leite, conhecido por "Leitoso", firmaram acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em Curitiba. Eles passarão à condição de delatores, ou colaboradores com a Justiça nos processos que investigam a corrupção na Petrobras.

Eles passam a ser os primeiros integrantes de grandes empreiteiras a colaborarem com a Justiça para desvendar as irregularidades em obras da Petrobras. Outro dirigente da Camargo Corrêa, João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da empreiteira, também se ofereceu como delator, mas o MPF recusou sua oferta, por considerar que ele não vinha contando o que sabia sobre as irregularidades na relação da empresa com a Petrobras.

Para serem aceitos como delatores, Dalton Avancini e Eduardo Leite pagarão uma multa de R$ 5 milhões cada um. Eles já são réus na Justiça Federal do Paraná, acusados de terem pago cerca de R$ 40 milhões em propina para obter contratos com a Petrobras em obras como a Refinaria Abreu e Lima, no Pernambuco, e na modernização da Refinaria Presidente Vargas, no Paraná.

Com o acordo de Avancini e Leite, o MPF passa a contar com 15 delatores. Os principais acordos fechados até agora foram as confissões do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que permitiram dar início ao processo investigação das fraudes que lesaram a maior estatal brasileira, que sofreu desvios de aproximadamente R$ 30 bilhões.

ADVOGADO ABANDONA DEFESA DE DIRETOR DA CAMARGO

O advogado Celso Vilardi, que defende o presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, disse neste sábado que vai renunciar à defesa de seu cliente, por não ter participado de sua decisão de optar pela delação premiada.

— Não segunda-feira vou formalizar a desistência na defesa de Dalton Avancini, transferindo essa opção para o advogado Pierpaulo Botini, que participou do acordo de colaboração com a Justiça. A partir de agora, vou defender apenas João Ricardo Auler, que não optou pelo acordo de delação premiada — disse ao GLOBO o advogado Vilardi.

Vilardi disse que não iria “emitir juízo de valor” sobre a decisão de seu cliente de ter optado pela delação premiada e que só o fará depois de tomar conhecimento dos termos do acordo.

Já o jurista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Correa, disse que também não concorda com “o instituto da delação premiada”, mas que continuará a defender seu cliente no processo.

— A decisão de colaborar com a Justiça foi exclusiva do meu cliente, que levou em consideração uma redução de pena e até a perspectiva de obter sua liberdade. Mas não vou participar desse processo de delação, que ficará a cargo de outro advogado, o Marlos de Oliveira, de Curitiba. Entendo que meu cliente não optou pelo processo de delação para entregar outras pessoas, mas no sentido de colaborar com a Justiça. Aliás, ele já entregou farta documentação à Justiça para colaborar com as investigações. Ele não pretende apontar outros culpados — disse Mariz de Oliveira ao GLOBO.




Após morte de caminhoneiro, dobra nº de bloqueios em estradas do RS

Guilherme Celestino - UOL


Após a morte do caminhoneiro de São Sepé (RS) atropelado por um caminhão que furou o bloqueio, subiu de 13 para 28 o número de rodovias federais interditadas no Rio Grande do Sul neste sábado (28), de acordo com a Polícia Rodoviária Federal.

Os dados se referem aos boletins da corporação divulgados às 7h e às 15h. No país todo, o número de bloqueios também aumentou –de 38 de manhã para 56 à tarde (alta de 47%)– e está espalhado por seis Estados (eram cinco às 7h).

Os outros 28 bloqueios se dividem por Santa Catarina (12), Paraná (9), Mato Grosso (5), Maranhão e Rio de Janeiro (um em cada).

Gabriel Haesbaert/Agência RBS
Após o atropelamento e a morte de um caminhoneiro em São Sepé, colegas fazem homenagem
Após o atropelamento e a morte de um caminhoneiro em São Sepé, colegas fazem homenagem

Na comparação com sexta-feira (27), o número de protestos se mantém praticamente estável, segundo o boletim das 19h, quando foram registradas 57 interdições. Na semana passada –auge das manifestações–, porém, os números eram bem maiores: os caminhoneiros chegaram a realizar mais de cem bloqueios em 14 Estados –incluindo São Paulo.

Das 28 interdições no RS divulgadas no boletim das 15h da Polícia Rodoviária Federal, 15 são deste sábado –os 13 outros bloqueios começaram entre quinta (26) e sexta e continuaram hoje. Dessas 15 novas interdições, dez foram iniciadas após as 7h15, horário da morte do caminhoneiro Cléber Adriano Machado Ouriques, 38.

Ouriques foi morto após ser atropelado por um veículo dirigido por um colega de profissão na BR-392, na região de Santa Maria –centro-sul do RS.


De acordo com a Brigada Militar –a PM no RS–, a vítima foi atingida por um caminhão que furou duas vezes o bloqueio que os caminhoneiros faziam a pé e com carros particulares na estrada. Após o atropelamento, o motorista do veículo fugiu do local.

Segundo um tio de Ouriques, a vítima foi arrastada pelo caminhão por 20 metros e morreu na hora.

Procurada, a Polícia Rodoviária Federal no Estado informou que não há relação entre a morte de Ouriques e o aumento de interdições no RS.

Segundo Alessandro Castro, chefe de Comunicação da corporação no Rio Grande do Sul, o boletim das 15h está desatualizado, pois no final da tarde deste sábado eram 25 os pontos de bloqueio –e não 28.

ATROPELADOR IDENTIFICADO

No final da manhã deste sábado, o caminhão que atropelou Ouriques foi encontrado em Caçapava do Sul –cidade vizinha a São Sepé–, segundo José Antonio Taschetto Mota, um dos delegados responsáveis pelo caso.

De acordo com Mota, o caminhão transportava produtos têxteis e, na estrada havia marcas da tentativa de frenagem.

Já o delegado de São Sepé Antonio Firmino Freitas disse que o motorista continua foragido. Será mandado um pedido de prisão temporária contra o motorista, cujo nome não foi divulgado pela polícia.

REIVINDICAÇÕES

Os caminhoneiros pedem redução no preço do diesel e do pedágio, tabelamento dos fretes e a sanção, por parte da presidente Dilma Rousseff, de mudanças na legislação que flexibilizam a jornada de trabalho.

Na última quarta (25), o governo chegou a anunciar um acordo com a categoria, prevendo por exemplo a manutenção do preço do diesel por seis meses. Parte dos motoristas não reconhece o acordo.

Em nota, a Secretaria-Geral da Presidência da República informou lamentar a morte por atropelamento de Ouriques. "Ao mesmo tempo em que se solidariza com familiares e amigos da vítima, o governo federal reforça o compromisso e a disposição para o diálogo."

Com reajustes, deputado custará R$ 2 milhões por ano

Edson Sardinha - Congresso em Foco



Este é o valor que o contribuinte pagará pelo mandato de cada um dos 513 deputados após o “pacote de bondades” autoconcedido pela Câmara. Estimativa é de que gasto anual crescerá mais de R$ 150 milhões em relação a 2014

pacote de bondades autoconcedido pela Câmara esta semana vai elevar para R$ 2 milhões o gasto anual com cada deputado federal. Na média, cada parlamentar custará aproximadamente R$ 170 mil por mês. Os valores variam de acordo com o estado de origem do congressista, a utilização integral ou não da verba para custear o mandato e do uso do auxílio-moradia. No ano passado, antes do reajuste de todos os benefícios, o custo mensal de cada deputado era de aproximadamente R$ 145 mil e o anual, de R$ 1,77 milhão. Com isso, a estimativa de gasto com os 513 parlamentares, que girava em torno de R$ 908 milhões em 2014, passará a ser de R$ 1,06 bilhão – um aumento anual de R$ 157 milhões (cerca de 17%).
Com os novos valores, a despesa mensal por mandato poderá chegar a R$ 177 mil. Essa cifra poderá ser alcançada por um deputado de Roraima que fizer uso do auxílio-moradia e utilizar toda a verba a que tem direito para o exercício da atividade parlamentar (Ceap), mais conhecida como cotão. Nesse caso, cada um dos oito representantes de Roraima custará até R$ 2,15 milhões por ano.
Os dados são de levantamento do Congresso em Foco.  Uma estimativa que considera os novos valores dos 13 salários anuais, da verba de gabinete, do cotão, do auxílio-moradia e de uma ajuda de custo equivalente a dois salários extras – um no começo e outro no final da legislatura. Com o pagamento da primeira parcela dessa ajuda de custo, cada parlamentar receberá em fevereiro R$ 67,4 mil apenas em vencimentos.
Com exceção do salário de R$ 33,7 mil, em vigor desde o início do mês, os valores reajustados dos demais benefícios – verba de gabinete, cotão e auxílio-moradia – passarão a valer em abril. Segundo a direção da Câmara, apenas os reajustes desses três benefícios vão ter impacto de R$ 112,7 milhões nos cofres da Casa no restante de 2015. Essa diferença deve passar dos R$ 150 milhões a partir do ano que vem.
Outra realidade
Um aumento que, segundo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), será compensado com cortes do mesmo montante sobre outras despesas. Ou seja, mesmo que não haja aumento, a Casa não fará esforço para economizar e se enquadrar na política de ajuste fiscal patrocinada pelo governo federal e parte dos governos estaduais diante do cenário de agravamento da crise econômica e de déficit nas contas públicas.
Os parlamentares vivem outra realidade. A sucessão de “boas notícias” para os congressistas começou em dezembro, ainda no final da legislatura passada, quando a Câmara e o Senado aprovaram o aumento de 26% de seus vencimentos. Desde 2010, os parlamentares recebiam R$ 26,7 mil. A remuneração pelos próximos quatro anos será de R$ 33,7 mil. Ou seja, apenas em vencimentos, cada parlamentar receberá R$ 1,8 milhão ao longo do mandato – 13 salários anuais e outros dois extras no período de quatro anos.
Ao acabar com os chamados 14º e 15º salários, que cada congressista recebia por ano até 2013, o Congresso decidiu instituir uma “ajuda de custo”, correspondente a um mês de salário, para o primeiro e o último mês de mandato. O argumento utilizado para a benesse é que os parlamentares têm despesas extras nesses dois períodos com a mudança de cidade. Mas os reeleitos, que já têm estrutura montada na capital federal, também têm direito à regalia.
Promessas de campanha
O aumento no valor dos benefícios faz parte da lista de compromissos assumidos com os deputados por Eduardo Cunha durante sua campanha à presidência. Parte das promessas ele cumpriu na quarta-feira (25), quando a Mesa Diretora aprovou, além do pacote de aumento dos benefícios, a liberação a esposas e maridos de parlamentares para voarem com a cota de passagens aéreas asseguradas a deputados para o exercício do mandato. Alguns congressistas reclamaram de ter de tirar do próprio bolso dinheiro para pagar o voo de suas companheiras. Por normas internas, o uso está restrito ao deputado e a assessores em viagem de trabalho desde 2009, quando o Congresso em Foco revelou a “farra das passagens“.
A verba aérea sai do cotão, que cobre despesas dos parlamentares com locomoção, refeição, hospedagem, telefone, aluguel de escritório, contratação de consultoria e divulgação do mandato, entre outras. O cotão teve aumento de 8,7%, o que deve onerar os cofres públicos de abril a dezembro em R$ 14,6 milhões, segundo a Câmara. O menor benefício é pago a deputados do Distrito Federal, que devem passar a receber R$ 30,4 mil por mês. A quantia mais elevada é garantida aos deputados de Roraima, que poderão gastar depois de abril até R$ 45,2 mil por mês.
Mais de R$ 753 milhões
Na legislatura passada, o cotão consumiu mais de R$ 753 milhões da Câmara e do Senado, como mostrou a Revista Congresso em Foco. Dinheiro que saiu dos cofres públicos sem licitação. Com esse montante, daria para erguer mais de 11 mil casas popu­lares ou 115 escolas públicas para atender aproximadamente 500 alunos. Ou construir 40 hospitais com uma centena de leitos. Na maioria dos casos, o parlamentar apresenta a nota fiscal e é ressarcido imediatamente pela Câmara.  Alguns já foram denunciados no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Justiça por mau uso dessa verba pública, já que os controles de conferência são frágeis. Por suspeitas de mau uso do benefício, o Ministério Público Federal cobra que parte dessas despesas seja alvo de licitação.
Já a chamada verba de gabinete permite a cada deputado contratar até 25 funcionários. Com o aumento de 18%, saltará de R$ 78 mil para R$ 92 mil por mês. Nesse caso, o impacto será de R$ 97,3 milhões.
O auxílio-moradia teve reajuste de 11,92%; passou de R$ 3,8 mil para R$ 4,2 mil. Este benefício não é usufruído por todos os deputados. Parte deles vive em amplos apartamentos funcionais, recentemente reformados pela Câmara. A Casa ainda não atualizou, em sua página na internet, o número de parlamentares que utilizam essas unidades neste começo de legislatura. Mas também nesses casos há gasto público para a manutenção dos imóveis. A estimativa da Câmara é que a elevação do valor do auxílio vai gerar gastos extras de R$ 805,5 mil até o final deste ano.
Sob demanda
Com exceção do salário, os demais benefícios são usados de acordo com a demanda. Um deputado pode, por exemplo, economizar na verba de gabinete ou no cotão e não utilizar todo benefício a que tem direito ou mesmo abrir mão do auxílio-moradia e do apartamento funcional, caso tenha imóvel em Brasília. Os valores não utilizados ficam na conta da Câmara.
A lista de benefícios dos deputados ainda contempla itens de difícil mensuração. Além de plano de saúde, os parlamentares têm à disposição os serviços prestados pelo Departamento Médico da Câmara. Eles ainda podem ser reembolsados com suas despesas médico-hospitalares casos os serviços tenham sido prestados fora da Casa.
Diferentemente do Senado, onde cada senador tem um veículo oficial à sua disposição; na Câmara, os carros oficiais estão restritos a 11 ocupantes de cargos de direção, como o presidente da Casa, os integrantes da Mesa Diretora, o chefe do Conselho de Ética, entre outros. Todos os deputados deputado têm direito a uma série de materiais de impressão, como 5 mil cartões de visita por ano e quantidades generosas de resmas de papel e blocos de anotação, entre outros itens de papelaria.

"The Economist": A queda de um titã

O Estado de São Paulo

As ferramentas fiscais e monetárias estão emperradas. O País corre o risco de ficar preso em um atoleiro econômico


Wilton Júnior/Estadão
Beleza ilusória. Quanto mais de perto se olha, pior a economia se revela

É fácil para o visitante que chega ao Rio achar que não há nada de errado com o Brasil. A classe média com certeza sabe viver: Copacabana e Ipanema distam apenas alguns minutos dos principais centros financeiros e comerciais e de um jogo de vôlei ou o surfe para começar o dia. Os escritórios das corretoras localizados no alto dos prédios têm a visão do Jardim Botânico e dos morros cobertos de vegetação. Mas, mal saímos dos bairros mais ricos, o esplendor desaparece rapidamente. As favelas assoladas pela pobreza e pela violência agarram-se aos morros. O mesmo ocorre com a economia do Brasil: quanto mais profundo é o nosso olhar, pior ela se revela.
O Brasil viu consideráveis altos e baixos nos últimos 25 anos. No início dos anos 90, a inflação subiu acima de 2.000%; desapareceu quando foi introduzida uma nova moeda em 1994. Na virada do século, os déficits do Brasil mergulhavam o País na lama, obrigando o Fundo Monetário Internacional a empreender uma operação de ajuda em 2002. Mas, em seguida, os problemas desapareceram. O Brasil tornou-se um gigante em matéria de crescimento, expandindo-se a uma taxa de 4% ao ano entre 2002 e 2008, enquanto as exportações de ferro, petróleo e açúcar registravam um boom e o consumo interno contribuía com um forte impulso adicional. Agora, o Brasil volta a afundar em problemas. Nos últimos quatro anos, o crescimento foi em média de 1,3%. Uma pesquisa realizada entre 100 economistas pelo Banco Central do Brasil sugere que, este ano, a contração será de 0,5%, seguida por um crescimento de 1,5% em 2016.
Ambos os elementos dessa previsão - uma crise suave e uma rápida recuperação - parecem otimistas. As perspectivas para o consumo privado, que contribuiu para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 50% nos últimos dez anos, são péssimas. Com uma inflação acima de 7%, o poder aquisitivo dos consumidores vai se esvaindo. Os aumentos elevados dos preços continuarão. O Brasil enfrenta uma grave crise hídrica; como 75% de sua eletricidade são gerados por hidrelétricas, a seca deixa o País sem energia. A fim de evitar apagões, o governo pretende reduzir o seu uso elevando os preços: as tarifas aumentarão até 30% este ano. Com uma desvalorização do real de 10% em relação ao dólar somente no mês passado, o aumento dos preços dos importados provocará uma elevação da inflação.
Não há esperanças de que a renda disponível acompanhe esse ritmo. Um dos motivos é a produtividade do trabalhador brasileiro, que não justifica maiores aumentos. Nos últimos dez anos, os salários do setor privado cresceram mais rapidamente do que o PIB; os dos trabalhadores do setor público, privilegiados em muitos sentidos, tiveram uma evolução ainda melhor. Como o salário mínimo brasileiro está indexado ao PIB e à inflação, uma recessão congelará o valor real dos pagamentos dos milhões de trabalhadores que vivem dele.
Além disso, a austeridade também terá consequências profundas, porque o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai procurar equilibrar as contas. Se Levy reformar o generoso sistema das pensões estatais, a renda dos brasileiros mais idosos congelará.
O pagamento da dívida contribui para os problemas. O total dos empréstimos ao setor privado saltou de 25% do PIB para 55% nos últimos dez anos, com a dívida das famílias equivalente a cerca de 46% da renda disponível. As famílias brasileiras estão muito menos endividadas do que as italianas e as japonesas. Entretanto, os preços desses empréstimos são altíssimos. Oitenta por cento deles referem-se ao crédito ao consumidor, cujo custo chega a ser punitivo (os juros médios dos novos empréstimos chegam a 27%, segundo o Banco Central). 
Quando se soma o pagamento do principal da dívida, o serviço da dívida chega a 21% da renda disponível. Com a redução do ritmo da economia e com a relutância do Banco Central em reduzir as taxas de juros por causa da inflação elevada, os consumidores sentirão o aperto, diz Arthur Carvalho, do Morgan Stanley. No dia 25 de fevereiro, uma pesquisa mostrou que a confiança dos consumidores atingiu o ponto mais baixo dos últimos dez anos.
São poucas as fontes de demanda capazes de compensar essa situação. Os investimentos, que subiram durante oito dos dez anos até 2013, muitas vezes a uma taxa considerável, despencarão em 2015. A Petrobrás, empresa de economia mista, a maior investidora do Brasil, está atolada num escândalo de corrupção que paralisou os gastos e deverá custar até 1% do PIB em investimentos estrangeiros perdidos. No dia 24 de fevereiro, a agência de classificação de risco Moody’s cortou a nota da estatal para grau especulativo; se a Petrobrás não publicar dentro em breve seus resultados auditados, poderá ficar totalmente impossibilitada de tomar dinheiro emprestado.
Exportar não é solução, apesar da queda do real. Cinco países - China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Alemanha - adquirem 45% das exportações brasileiras. Há dez anos, o crescimento médio do PIB dessas economias, proporcional ao seu peso no comércio brasileiro, era 12%; este ano, 5% seria ótimo.
Entretanto, a maior preocupação não é que o Brasil tenha um ano ruim, mas que as alavancas emperradas de sua política levem o País ao marasmo. Em 2014, o Brasil gastou R$ 311,4 bilhões (6% do PIB) com o pagamento dos juros, um aumento de 25% em relação a 2013.
Isso significa que, mesmo se as medidas que o ministro Levy adotar na área fiscal chegarem a funcionar - o seu objetivo é um superávit primário de 1,2% do PIB -, o Brasil nem chegará a sair do vermelho. Tem sido difícil controlar os gastos, porque os pagamentos dos benefícios aumentam apesar da redução do desemprego. Numa recessão, isso será mais difícil ainda.

Estadão

A dívida limita o espaço de manobra
A complicada situação das finanças brasileiras não deixa espaço para um estímulo econômico financiado por títulos da dívida. Sua dívida pública, hoje equivalente a 66% do PIB, é a mais alta dos países do Bric. Seus títulos rendem 13%, mais do que os da Rússia. E poderão subir ainda mais.
A outra agência de classificação de risco, Fitch, coloca o Brasil um ponto acima em alto risco, mas o País tem uma dívida maior, déficits maiores e juros mais altos do que a maioria dos países que entram nessa categoria. Se o crescimento evaporar, haverá certamente um rebaixamento da nota, elevando ainda mais o custo da dívida.
Essa difícil situação não é incomum, mas os problemas monetários do Brasil são. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, será obrigado a escolher entre duas medidas igualmente odiosas. A primeira é a estratégia da moeda forte: manter os juros altos apesar da economia fraca. A medida sustentaria o real e reforçaria as credenciais do banco na contenção da inflação. 
Mas não só as famílias seriam afetadas pelos juros altos; as empresas também. No conjunto, as grandes empresas brasileiras classificadas pela Fitch registram fluxos de caixa negativos desde 2010. Elas fecharam o hiato reduzindo as economias e emitindo títulos da dívida. A tomada de empréstimos aumentou 23% em cinco anos. Com o risco do aumento da moratória, 20% dessas empresas enfrentam um rebaixamento da sua nota, que em muitos casos é iminente.
Na realidade, uma dura política monetária deveria ser abrandada por uma extensão dos suntuosos subsídios financeiros do Brasil. Bancos estatais como o BNDES e a Caixa Econômica Federal, de varejo, apresentavam 39% de empréstimos em 2009. Hoje, sua parcela equivale a 55%. Como muitas empresas brasileiras não podem pagar os juros do mercado privado (a média para os novos empréstimos corporativos é 16%), o BNDES empresta a taxas favoráveis, atualmente 5,5%. Isso torna o sistema bancário brasileiro uma operação fiscal, diz Mansueto Almeida, especialista em finanças públicas. O financiamento vem do Estado, que toma emprestado a um juro muito maior do que o pago pelas empresas. Quem arca com a diferença, o prejuízo, são os contribuintes. 
A alternativa para Tombini é cortar os juros apesar do aumento da inflação - uma medida audaciosa, considerando a história brasileira. Afinal, a causa do aumento dos preços não é uma economia superaquecida, mas a queda do real, o aumento dos impostos e a seca. A resposta acadêmica seria ignorar a inflação.
Mas o dinheiro barato também seria doloroso. Acentuaria a desvalorização do real, e desse modo aceleraria os aumentos dos preços dos bens importados. A dívida externa, acumulada pelas empresas e pelos governos locais brasileiros em razão da queda dos juros, se tornaria uma carga mais pesada. 
Os dados coligidos pelo Banco de Pagamentos Internacionais (BIS, na sigla em inglês) mostram que as dívidas em dólares subiram de US$ 100 bilhões para US$ 250 bilhões nos últimos cinco anos. Mas o ônus em moeda local subiu muito mais, de cerca de R$ 210 bilhões para R$ 655 bilhões. Aqui também o Estado dá uma mão: o Banco Central oferece contratos de swap para garantir as empresas contra a queda do real. O esquema custou ao banco R$ 38 bilhões somente no segundo semestre do ano passado. 
Diante dessas terríveis opções, será mais provável um caminho intermediário. Os juros serão demasiado elevados para as famílias e as empresas, portanto os financiamentos subsidiados aumentarão. Mas serão demasiado baixos para proteger o real, portanto os custos dos swaps aumentarão também. Ambos os subsídios representarão uma pressão adicional sobre as finanças do governo. Mesclando desse modo a política monetária à fiscal, o Brasil acabará aos poucos tornando ambos ineficientes. Numa economia que caminha para a recessão, este não é um bom lugar para se viver.
© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ANNA CAPOVILLA, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

Youssef envolve Andre Esteves em esquema, diz Época

Ricardo Leopoldo - O Estado de São Paulo


Segundo reportagem, doleiro afirmou em delação que banqueiro é dono de empresa que pagou propina para fechar negócio com a BR Distribuidora

A revista Época desta semana traz reportagem com trecho da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, em depoimento na Operação Lava Jato realizada pela Polícia Federal e Ministério Público, envolvendo o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, num suposto esquema de corrupção com uma empresa vinculada à BR Distribuidora.

De acordo com a revista, Esteves estava envolvido em 2008 com o empresário Carlos Santiago na empresa Derivados do Brasil, a DVBR, uma rede de 118 postos de combustíveis com atuação principal em São Paulo e Minas Gerais. A reportagem relata que a sociedade acumulou prejuízos e em 2011, Santiago e executivos do banco BTG procuraram a BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobrás. A empresa coligada da estatal teria aceitado pagar recursos para colocar sua marca na rede DVBR e garantir que essa companhia apenas compraria combustível da BR Distribuidora.
Segundo a reportagem, a BR Distribuidora em 2011 era dominada por três forças políticas que teriam indicado diretores da companhia. Uma delas era o ex-ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, o senador Fernando Collor (PTB-AL) e a bancado do PT na Câmara.
A revista Época aponta que a sociedade da BR Distribuidora na DVBR, que teriam como sócios Esteves e Santiago, é investigada pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato. A revista relata que teve acesso ao depoimento do doleiro Alberto Youssef prestado à Polícia Federal no dia 4 de novembro de 2014, cujo título é "BR DISTRIBUIDORA E BTG PACTUAL".
Youssef teria relatado que ocorreu o pagamento de propina de R$ 6 milhões no negócio entre a BR Distribuidora e a DVBR e ele foi responsável para entregar o dinheiro. Destes recursos, metade do valor foi entregue ao senador Fernando Collor, uma parte para empregados da BR e outra parcela para Pedro Paulo Leoni Ramos, amigo de Collor e que participou de seu governo quando foi presidente da República.
Em nota enviada à revista, o banco BTG nega qualquer envolvimento sobre o que foi narrado pelo doleiro Youssef.
"O Banco BTG Pactual esclarece que o investimento na Derivados do Brasil foi feito pela BTG Alpha Participações, uma companhia de investimento dos sócios da BTG, e não pelo Banco BTG Pactual. O investimento na Derivados do Brasil foi feito em 2009 e foi mantido apartado do Banco BTG Pactual desde então. O investimento, que nunca foi relevante nos negócios da companhia de sócios, foi malsucedido e apresentou perda de 100% do capital investido. Nunca houve qualquer distribuição de dividendos ou qualquer forma de retorno de capital. Ao longo do tempo, por diferenças de visões estratégicas e empresariais, a sociedade foi desfeita e o processo de cisão vem sendo conduzido há mais de dois anos. Nunca houve nenhum outro investimento da companhia de sócios no setor de distribuição e comercialização de combustíveis".
Segundo a revista, a BR Distribuidora também apontou em nota que o contrato com a DVBR requereu investimentos compatíveis a valores de mercado e que a sociedade foi importante para elevar sua participação no setor, sobretudo em São Paulo. Pedro Paulo Leoni Ramos relatou em nota à Época negar "qualquer atuação em negócios referentes a 'embandeiramento' de postos pela BR Distribuidora" e que "desconhece informações relativas ao assunto".
O senador Fernando Collor também manifestou em nota à revista que os relatos de Youssef "padecem de absoluta falta de veracidade e credibilidade, ainda mais quando recolhidas e vazadas de depoimentos tomados em circunstâncias que beiram a tortura de um notório contraventor da lei, agravados por suas condições físicas e psicológicas."