sexta-feira, 31 de março de 2017

Jornalista colombiana é agredida por militares na Venezuela

O Estado de São Paulo

Correspondente em Caracas da rádio Caracol foi cercada e arrastada por 10 membros da Guarda Nacional Bolivariana perto do Tribunal Supremo de Justiça; chancelaria colombiana acionou canais diplomáticos para 'expressar preocupação' ao presidente Nicolás Maduro



BOGOTÁ - A governo da Colômbia condenou nesta sexta-feira, 31, a agressão em Caracas de uma jornalista de uma rádio colombiana por militares venezuelanos (veja abaixo) durante uma manifestação de estudantes nos arredores do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). O grupo protestava contra a decisão do órgão de assumir as funções legislativas no país no lugar da Assembleia Nacional.
"O Ministério de Relações Exteriores, em nome do governo da Colômbia, rechaça a agressão contra a jornalista Ely Angélica González, correspondente em Caracas da rádio Caracol", disse a chancelaria em nota. De acordo com o texto, a jornalista "foi atacada por membros da Guarda Nacional da Venezuela quando cumpria funções pertinentes a seu cargo".

Foto: AP Photo/Ariana Cubillos
Jornalistas fogem de membros da Guarda Nacional Bolivariana em Caracas; correspondente de rádio colombiana foi agredida enquanto acompanhava manifestação de estudantes
Jornalistas fogem de membros da Guarda Nacional Bolivariana em Caracas; correspondente de rádio colombiana foi agredida enquanto acompanhava manifestação de estudantes
"Dez pessoas me chutaram, eram dez pessoas ao meu redor, gritando, puxando meu cabelo. Um me carregava pela perna, outro pelo braço e me jogavam de um lado para o outro", disse Ely, aos prantos, ao explicar a agressão em um programa da rádio para a qual trabalha.
A comunicadora afirmou que depois da agressão dos guardas, entre os quais mulheres, ficou com o corpo todo arranhado. "Eu gritava para eles o que podia gritar. Dizia que era jornalista, que estava fazendo meu trabalho, mas aqui isso parece que é o mesmo que ser um delinquente", disse.
A chancelaria afirmou que utilizou canais diplomáticos para expressar ao governo de Nicolás Maduro "sua preocupação e sua oposição a este ataque ao livre exercício da liberdade de expressão". Ao mesmo tempo, "está solicitando as garantias e medidas apropriadas para o exercício do trabalho jornalístico" no país.
Já o diretor de notícias da rádio Caracol, Darío Arizmendi, afirmou que o veículo já apresentou uma denúncia na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) e também na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). 
Várias associações e agremiações de imprensa da Colômbia também se manifestaram depois do episódio. Em uma carta conjunta, eles qualificaram como um ato de censura a agressão sofrida por Ely.
"Estes acontecimentos não são apenas humilhantes, autoritários, cruéis e desumanos contra uma jornalista mulher, mas também constituem uma grave violação da liberdade de imprensa e coloca em questionamento as garantias dos correspondentes internacionais que cobrem a difícil conjuntura atravessada pela Venezuela", diz o documento. / AFP

Conivência de instituições regionais contribuiu para 'atropelo' na Venezuela, diz Henrique Capriles, líder opositor

Cláudia Trevisan - O Estado de S. Paulo

Ele se reuniu com o secretário-geral da OEA e pediu que organização se pronuncie sobre situação após Justiça tomar poder do Congresso

WASHINGTON - Governador do Estado de Miranda e um dos principais líderes de oposição na Venezuela, Henrique Capriles acusou nesta sexta-feira, 31, instituições regionais como o Mercosul, a Unasul e a Organização dos Estados Americanos (OEA) de terem sido coniventes no passado com o "atropelo" promovido pelo chavismo. Agora, ele espera que os governos do continente condenem de maneira contundente a usurpação de poderes da Assembleia Nacional pelo Tribunal Supremo de Justiça, controlado por Nicolás Maduro.
Foto: AFP PHOTO / NICHOLAS KAMM
Henrique Capriles
Líder opositor venezuelano se encontra com secretário-geral da OEA e cobra posicionamento diante da situação na Venezuela 
"As instâncias internacionais têm de se pronunciar, porque as instâncias internacionais no passado foram refúgio para o atropelo do oficialismo em meu país", disse Capriles na sede da OEA, em Washington. "Houve uma ruptura da ordem constitucional, houve um golpe de Estado e a OEA tem de se pronunciar a respeito."
Na próxima segunda-feira, o Conselho Permanente da entidade se reunirá para debater a situação na Venezuela. "Há quatro anos, nós tínhamos três votos para discutir a situação do meu país. Agora nós temos 20", observou o governador, fazendo referência à votação do Conselho Permanente da terça-feira 28, na qual 20 países votaram a favor de analisar a crise venezuelana, apesar da oposição de Caracas.
Segundo Capriles, se a OEA tivesse tido uma postura menos tolerante em relação à Venezuela há quatro anos, o país não estaria mergulhado na atual turbulência institucional. Perguntado se era favorável à expulsão da Venezuela do Mercosul, ele disse que todas as organizações regionais têm cláusulas que devem ser cumpridas por seus membros. "Se o governo venezuelano não as cumpre, que venham as sanções, as consequências."
Na opinião do líder opositor, a crise na Venezuela colocou os países do continente diante de um momento decisivo, que revelará "os que estão a favor da democracia" e os que estão ao lado do "ditador e seus interesses". 

Após decisão da Justiça, venezuelanos saem às ruas para protestar

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Capriles deu as declarações depois de se reunir com o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, que no dia 14 de março defendeu a suspensão da Venezuela da organização, caso não fossem convocadas eleições no prazo de 30 dias. Na quinta-feira, Almagro anunciou a convocação urgente de uma reunião extraordinária do Conselho Permanente, que será realizada na segunda-feira. 
A expectativa da oposição venezuelana é que o encontro termine com uma "posição firme" em defesa do restabelecimento da ordem constitucional, disse Capriles. "Quanto tempo Maduro pode durar se decidir se isolar do mundo e da comunidade internacional?" O governador também espera que o Conselho Permanente dê os passos para a aplicação da Carta Democrática à Venezuela, um procedimento que envolve diferentes etapas e pode terminar com a suspensão do país da organização.
O líder opositor não vê possibilidade de avanço no âmbito do diálogo promovido por três ex-líderes de governo, entre eles o espanhol José Luis Rodríguez Zapatero. As conversas não produziram nenhum resultado e estão paralisadas desde o ano passado. "Nós não temos muito tempo", afirmou. "Com Maduro, é possível o diálogo? Dizem que não existe impossível. Isso é o mais próximo do impossível."


  

Manifestantes queimam Congresso do Paraguai

O Estado de São Paulo

Votação ocorreu na sede do partido do ex-presidente Fernando Lugo, sem a participação do restante dos legisladores e do presidente do Congresso


ASSUNÇÃO - Violentos protestos tomaram nesta sexta-feira, 31, o centro de Assunção e manifestantes invadiram o Congresso e atearam fogo dentro do edifício após um grupo de 25 senadores aprovar o projeto de emenda constitucional para habilitar a controvertida reeleição presidencial. 
A votação ocorreu nas dependências da Frente Guasú, partido do ex-presidente Fernando Lugo, e sem a presença dos outros 20 legisladores da Casa e do presidente do Congresso, Roberto Acevedo.
Os senadores agora levarão o projeto à Câmara de Deputados, de maioria governista, que votará a medida hoje. Se a emenda for aprovada, será encaminhada ao Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, que convocará um referendo em até três meses sobre a reeleição presidencial, até agora proibida pela Constituição. 
Foto: EFE/Andrés Cristaldo Benítez
Crise no Paraguai
Manifestantes ateiam fogo ao Congresso paraguaio após senadores fiéis ao presidente aprovarem emenda de reeleição  
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Velásquez, anunciou que já havia recebido o projeto e havia convocado uma sessão extraordinária para amanhã. Na Câmara, o presidente Horacio Cartes conta com uma cômoda maioria sobre um total de 80 deputados.
A votação dos senadores ocorreu depois de o governista Juan Darío Monges apresentar um pedido para tratar o projeto ontem em sessão extraordinária. Monges disse em entrevista coletiva que o projeto aprovado estabelece que os presidentes e os vice-presidentes do Paraguai poderão se candidatar a mais um mandato, seja de modo consecutivo ou alternado.
Acevedo havia marcado a discussão sobre esse projeto para agosto. Isso porque em agosto de 2016 a Câmara Alta rejeitou a emenda para a reeleição e a normativa estabelece que se deve esperar ao menos um ano antes de apresentar um processo similar. Se a discussão ocorresse apenas em agosto prejudicaria os planos eleitorais de Cartes e de Lugo.
Foto: EFE/Andrés Cristaldo Benítez
Crise no Paraguai
Grupo de manifetasntes invade o Congresso do Paraguai após grupo de senadores fiéis ao presidente Horacio Cartes aprovar emenda de reeleição 
O projeto sancionado e divulgado nas redes sociais, está firmado pelos senadores do governista Partido Colorado, de Cartes, da Frente Guasú, além do Avança País, a União Nacional de Cidadãos Éticos e o Partido Liberal Radical Autêntico. 
Os dois partidos fizeram um pacto para obter a reeleição presidencial, permitindo que Lugo e Cartes possam se apresentar às eleições de 2018. Na terça-feira, o presidente do Congresso acusou os legisladores do Partido Colorado e da Frente Guasú de montarem um “Senado paralelo” para aprovar um novo regulamento da Casa que permitisse que qualquer projeto de lei fosse analisado rapidamente. 
O vice-presidente do Congresso, Eduardo Petta, declarou ontem, logo após a aprovação do projeto de lei, “tudo é ilegal e esperamos que a Justiça Eleitoral não convoque nenhum referendo” sobre a reeleição presidencial.
A figura da não reeleição foi instituída na convenção nacional constituinte de 1992 para blindar o país contra ditaduras, lembrou o analista político Horacio Galeano.
O senador Luis Alberto Wagner, do opositor Partido Liberal Radical Autêntico, disse que seus colegas cometeram “um golpe de Estado porque de maneira irregular e ilegal modificaram nada menos que a Constituição”.
Manifestantes contrários ao projeto de emenda enfrentaram ontem a polícia, que usou jatos d’água e balas de borracha, invadiram o Congresso, no centro de Assunção. Apesar do cerco policial, os manifestantes arrancaram partes da cerca, quebraram janelas e entraram no edifício para depois atear fogo. Havia vários feridos, entre eles políticos e jornalistas. O pré-candidato Efraín Alegre, presidente do Partido Liberal, o maior de oposição, foi atingido por uma bala de borracha, sem gravidade. Policiais foram atacados com paus e pedras e também ficaram feridos. / EFE e AP

Foto: NORBERTO DUARTE /AFP
Crise no Paraguai
Manifestante foi ferido por policiais em protesto em Assunção 

Corrupto número 1 do Brasil, Lula já montou um plano para o caso de ser preso



Bruna Narcizo - Veja

Conforme declarou há três semanas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acorda todos os dias achando que será preso. 
Se vai ser mesmo, e quando, ninguém pode dizer. 
Mas, caso isso aconteça, já é certo que nem ele nem o PT serão pegos de calças curtas. 
A defesa e o partido do ex-presidente montaram um roteiro pormenorizado para os minutos que se seguirem à entrada da Polícia Federal na cobertura de São Bernardo do Campo onde mora o petista. 
Depois de ouvir sete fontes, VEJA desvendou os detalhes já definidos da operação. 
O plano de contingência do PT para o “Dia D” de Lula terá início em um grupo de WhatsApp batizado de “Tamoios”. 
O nome é uma referência à aliança formada por povos indígenas brasileiros no século XVI. 
O grupo Tamoios de WhatsApp reúne cerca de quarenta pessoas, incluindo o presidente do PT, Rui Falcão, senadores do partido e os presidentes da CUT e do MST. 
Seu objetivo: dar uma demonstração de força do PT e conferir a Lula a aura de “injustiçado”.

Íntegra da reportagem na VEJA

Odebrecht depositou propina para Aécio em NY, diz Benedicto Junior, ex-­pre­sidente da empreiteira

Renato Onofre - Veja


Ex-presidente de infraestrutura da Odebrecht afirma em delação que a empreiteira pagou propina ao tucano por meio de conta no exterior operada por sua irmã



O senador Aécio Neves é o terceiro grão-tucano a cair na teia de delações da Odebrecht — e em relação aos seus antecessores, José Serra e Geraldo Alckmin, é seguro dizer que sua situação é um pouco pior. E pode se complicar ainda mais. VEJA teve acesso com exclusividade ao conteúdo da delação do ex-­pre­sidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Junior, um dos 78 executivos da empreiteira a firmar acordo de delação com a Justiça.
Em seu depoimento, BJ, como é conhecido, afirmou que a construtora baiana fez depósitos para Aécio em conta sediada em Nova York operada por sua irmã e braço-direito, a jornalista Andrea Neves. De acordo com BJ, os valores foram pagos como “contrapartida” — essa é a expressão usada na delação — ao atendimento de interesses da construtora em empreendimentos como a obra da Cidade Administrativa do governo mineiro, realizada entre 2007 e 2010, e a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Estado de Rondônia, de cujo consórcio participa a Cemig, a estatal mineira de energia elétrica.
VEJA confirmou a denúncia de BJ com três fontes distintas, todas elas ligadas ao processo de delação organizado pela Odebrecht. As fontes pediram o anonimato porque não estão autorizadas a fazer revelações sobre as delações e temem algum tipo de represália ou censura. Os três depoimentos colhidos por VEJA confirmam a natureza da denúncia:
depósitos de “contrapartida” feitos em conta bancária em Nova York operada por Andrea. A jornalista Andrea Neves, 58 anos, é irmã do senador e uma das principais conselheiras de Aécio desde as primeiras incursões do mineiro na política, nos anos 1980. Andrea cuida pessoalmente da imagem do irmão e assumiu a área de comunicação do governo de Minas e a interlocução com empresários nas duas gestões do tucano. Sua atuação a fez temida e respeitada por aliados, e também a colocou em rota de colisão com os opositores de Aécio, que a acusavam de praticar censura ao pressionar veículos de comunicação críticos à gestão do então governador.
A denúncia de BJ é grave e atinge em cheio a imagem de um político que, até outro dia, firmava-se como a principal liderança da oposição ao governo do PT e, com o impeachment de Dilma, tornou-se figura expressiva, embora atuando nos bastidores, no governo de Michel Temer. Por meio de sua assessoria, Aécio Neves classificou a acusação de “falsa e absurda”. E acrescentou: “Se confirmadas tais declarações — vazadas ilegalmente —, elas precisam necessariamente de comprovação, dada a gravidade de seu conteúdo”. O senador ainda reclama de que se trata de uma acusação da qual nem tem como se defender, já que vem desacompanhada de detalhes, como o nome do banco ou o número da conta.
Na delação, BJ falou da conta e dos repasses, mas ainda precisa comprovar o que disse. Suas informações, no entanto, já foram homologadas pelo Supremo Tribunal Federal, o que indica que os investigadores entenderam que precisam ser levadas a sério. Do contrário, teriam sido desprezadas.
BJ era amigo de Aécio e frequentemente era visto jantando com o senador no Rio. Na hierarquia da Odebrecht, já foi o terceiro homem mais importante, tendo presidido a divisão de Infraestrutura da empreiteira. Depois de Marcelo Odebrecht, presidente e herdeiro da empresa, BJ é o principal delator entre os 78 que fecharam acordo com a Procuradoria-Geral da República. Com seu status dentro da empresa, BJ tornou-se uma espécie de diretor informal do já famoso “departamento da propina” da Odebrecht, cuja existência só foi descoberta depois que a PF achou, em seu escritório, planilhas com valores associados ao nome de mais de 200 políticos. Portanto, BJ ocupou cargos e exerceu funções que lhe davam acesso a informações relevantes e sigilosas dentro da empresa. Essa é uma das razões pelas quais o Ministério Público considerou sério o bastante o conjunto da delação do executivo. BJ, que já esteve preso, hoje se encontra em liberdade.
Se BJ comprovar a denúncia em sua delação, a Lava-Jato terá disparado um petardo letal contra o senador tucano, que é um dos políticos mais citados nas denúncias da Odebrecht. Dos 83 inquéritos que a Procuradoria-Geral da República pediu para abrir com base nas delações da empreiteira, seis se referem a Aécio. De acordo com o conteúdo das delações, ele é também o político que recebeu uma das mais altas somas da construtora, 70 milhões de reais, considerando-se os pagamentos de 2003 até agora. Esse dinheiro não apareceu nas contas de campanha de Aécio declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral. (Oficialmente, nos registros do TSE, Aécio recebeu 15,9 milhões de reais da Odebrecht em 2014. Nos anos anteriores, não é possível levantar o montante, já que a lei permitia que as doações fossem feitas aos diretórios ligados ao candidato.)
Do total de 70 milhões, 50 milhões foram repassados ao senador depois que a Odebrecht venceu o leilão para a construção da hidrelétrica de Santo Antônio, em dezembro de 2007. A afirmação, que já veio a público, foi feita pelo ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht em depoimento ao TSE, na ação que julga a chapa Dilma-Temer. Além da Odebrecht, fizeram parte do consórcio vencedor da obra fundos de investimento, a Cemig e Furnas. Em sua delação, antecipada pelo jornal Folha de S.Paulo no mês passado e confirmada por VEJA, Marcelo Odebrecht declarou que decidiu repassar os 50 milhões ao tucano porque queria ter uma boa relação com as duas sócias da usina sobre as quais Aécio tinha influência — a Cemig, estatal mineira que na época era controlada pelo tucano, e Furnas.
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A usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia (Divulgação/VEJA)
Não foi a primeira vez que o senador tucano foi apontado como destinatário de propina. Em fevereiro, a Folha publicou que BJ disse, em delação, ter se reunido pessoalmente com Aécio ao menos uma vez para tratar de um esquema de fraude em licitação na obra da Cidade Administrativa. O objetivo era favorecer as grandes empreiteiras na construção do centro, que custou mais de 2 bilhões de reais. No encontro relatado, o executivo diz que o senador mineiro mandou as construtoras Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão combinar os detalhes do esquema com Oswaldo Borges da Costa Filho, o Oswaldinho, diretor da Cemig e apontado como seu tesoureiro informal. Em troca, afirmou o delator, ficou acertada uma propina de 2,5% a 3% do valor da obra. Segundo o executivo, o próprio Aécio decidiu quais empresas participariam da empreitada, liderada pela Odebrecht. Na época, Aécio repudiou o teor do relato de BJ e defendeu o fim do sigilo sobre as delações, afirmando ser “impossível responder a especulações, interpretações ou informações intencionalmente vazadas por fontes não identificadas”.
Em nota a VEJA, Aécio reafirmou que é um “defensor da liberação imediata e total do conteúdo das delações. Com isso, os acusados poderão saber exatamente do que precisam se defender”. Diz o mesmo sobre a acusação de BJ a respeito dos depósitos em conta de Nova York controlada por Andrea. A assessoria do senador declarou que, “se feita, a afirmação sobre a existência de uma conta em Nova York controlada pela irmã do senador Aécio Neves obriga que o delator apresente dados da mesma. Ao fazê-­lo, ficarão comprovadas a mentira e a covardia da falsa acusação”. O tucano disse que “jamais manteve com o delator qualquer abordagem ilícita”.
Em nota, sua irmã afirmou que a declaração de BJ “é falsa e covarde” e a deixa “impotente nesse momento, refém de uma afirmação mentirosa”: “É lamentável que afirmações dessa gravidade sejam divulgadas sem que seja checada antes a sua veracidade. Assim que forem apresentados os dados que permitam identificar o banco e a conta, vou cuidar pessoalmente de provar a falsidade da acusação. Infelizmente, quando isso ocorrer, a publicação do desmentido não será capaz de reparar os danos causados pela divulgação da falsa informação. Tristes tempos esses em que palavras de acusação, mesmo quando facilmente comprovadas suas falsidades, valem mais que a verdade”. Consultada, a Odebrecht limitou-se a informar que prefere não se manifestar sobre a delação de BJ.

Barafunda no ninho


Alckmin, Aécio e Serra: na boca dos delatores (Adriano Vizon/Folhapress)
A Lava-Jato virou mais um fator de instabilidade no já bastante instável ninho tucano. Com as delações dos executivos da Odebrecht, os três principais quadros do PSDB para 2018 estão vendo suas pretensões políticas ser postas em xeque. O primeiro afetado pelas revelações da empreiteira foi o senador paulista José Serra. Ele foi acusado pelo ex-­CEO da Odebrecht Pedro Novis de ter recebido 23 milhões de reais do departamento da propina da construtora em contas na Suíça, o que ele nega.
A acusação veio a público em agosto. Com seu espaço no partido reduzido, Serra viu-se obrigado a apoiar a manobra de Aécio Neves para se manter na presidência do PSDB até as vésperas da eleição do ano que vem. Com isso, o mineiro pretendia garantir o controle da forma como se dará a escolha do candidato presidencial — nas últimas eleições, seu nome foi escolhido por aclamação. Em resposta, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, passou a defender publicamente a convocação de prévias no partido. Alckmin é o menos afetado dos três grão-tucanos citados nas delações da Odebrecht e sabe que isso pode contar a seu favor no ano que vem. Executivos da empreiteira afirmaram que não chegaram a discutir o pagamento de vantagens indevidas diretamente com ele. Os repasses teriam sido negociados com pessoas próximas a Alckmin. O governador também nega qualquer recebimento ilegal da empreiteira.
As delações da Odebrecht, somadas à guerra nos bastidores do partido, já ceifaram boa parte dos efeitos do sucesso eleitoral da legenda no ano passado, quando o PSDB interrompeu um ciclo de queda de representatividade que durou dezesseis anos e conquistou 98 novos municípios. A supersafra incluiu a prefeitura de São Paulo, hoje ocupada pelo empresário João Doria — por exclusão, cada vez mais próximo de ser o nome a representar os tucanos em 2018.



'É impossível não sentir vergonha pelo que está acontecendo no Brasil', diz Luís Roberto Barroso

Rafael Moraes Moura e Breno Pires - O Estado de S.Paulo

Ministro do STF afirmou que o caixa 2 'frauda a democracia' e defendeu as delações premiadas


Em meio à sucessão de escândalos de corrupção que abalam o País, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira, 31, que é impossível não sentir “vergonha” diante dos últimos acontecimentos do noticiário. O ministro fez a palestra de encerramento do seminário “Diálogo entre Cortes: fortalecimento da proteção dos direitos humanos”, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
Foto: Dida Sampaio/Estadão
Luís Roberto Barroso
O ministro do STF, Luís Roberto Barroso
Barroso também disse que o caixa 2 “frauda a democracia” e defendeu as delações premiadas, que permitiram, segundo ele, o desbaratamento de organizações criminosas infiltradas no poder público.
“É impossível não sentir vergonha pelo que está acontecendo no Brasil e não podemos desperdiçar a chance de fazer com que o futuro seja diferente. Nós nos perdemos pelo caminho e precisamos encontrar um caminho que nos honre como projeto de País e nação”, disse Barroso.
Segundo o ministro, há uma “impressionante quantidade de coisas erradas” ocorrendo no País. “É uma prática institucionalizada, que vai do plano federal, passa pelo estadual e chega ao municipal. Pode ser na Petrobrás, no BNDES, na Caixa Econômica, nos fundos de pensão, no Tribunal de Contas do Estado A, B ou C, tudo está contaminado pelo vício de levar vantagem indevida, pra deixar de fazer o que se tem de fazer”, comentou.
Na avaliação do ministro, a corrupção é “um mal em si” e “não devemos pegar esse atalho equivocado que não nos levará a lugar algum de que não se pune aqueles que frequentam os mesmos banquetes que a gente”.
Caixa 2. Em meio a movimentações no Congresso Nacional para tentar anistiar punições para doação não declarada de campanha, Barroso ressaltou que, embora diferentes, "corrupção e caixa 2 são crimes, porque ambos desviam o dinheiro do lugar para onde deveria ir".
"O caixa 2 frauda a democracia, porque faz com que quem tem mais dinheiro tenha mais representatividade do que quem tem menos dinheiro. O caixa 2 frauda o sistema democrático, a representação popular”, criticou, ressaltando que a não declaração de doações tem se tornado uma “prática institucionalizada”.
Em entrevista ao Estado publicada na última segunda-feira, o vice-procurador-geral eleitoral, Nicolao Dino, disse que não vê “como separar caixa 2 e corrupção”. “Ambas são condutas graves, implicam abuso de poder", afirmou Dino.
Em manifestação encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Ministério Público Eleitoral (MPE) pediu a cassação do presidente Michel Temer (PMDB) e a inelegibilidade da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na ação que apura se a chapa Dilma-Temer cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger em 2014. 

Uma das principais acusações contra a campanha da petista à reeleição é de que tenha recebido recursos provenientes de caixa 2. 

Temer sanciona terceirização, mas veta possibilidade de trabalho temporário por mais de 9 meses


O presidente, Michel Temer, convidou os embaixadores dos maiores mercados importadores de carne do Brasil para ir a uma churrascaria - Givaldo Barbosa / Agência O Globo

Letícia Fernandes e Geralda Doca - O Globo



O presidente Michel Temer sancionou nesta sexta-feira, com três vetos, o projeto de lei que regulamenta a terceirização, todos relacionados ao trabalho temporário. O comunicado será publicado em edição extra do Diário Oficial de hoje.

Temer vetou a possibilidade de um novo acerto quanto ao período de trabalho dos temporários, o parágrafo terceiro do artigo 10: " O prazo previsto neste artigo poderá ser alterado mediante acordo ou convenção coletiva." Com isso, o trabalho temporário permitido será de no máximo nove meses - seis meses prorrogáveis por mais três.


O texto vetado detalhava que ele deveria ter salário equivalente ao dos empregados que desempenham a mesma função ou cargo; que ele deve ter jornada de trabalho equivalente aos empregados na mesma função e também dispunha sobre a "proteção previdenciária e contra acidentes de trabalho a cargo do INSS".

A Câmara aprovou o projeto da terceirização no último dia 22, numa votação recheada de polêmica e críticas da oposição, que argumenta que a matéria retira os direitos dos trabalhadores e precariza as relações de trabalho.

Com a sanção do texto, fica permitida a contratação por qualquer empresa de trabalhadores terceirizados para exercerem cargos na atividade-fim, ou seja, as principais atividades da companhia.O projeto aprovado data de 1998. Três partidos questionaram no Supremo Tribunal Federal a votação do texto, argumentando que a sessão tem que ser anulada por quebra do regimento interno. O principal argumento do governo e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, defensor do projeto, é que a nova lei ajudará a combater o desemprego que atinge quase 14 milhões de brasileiros.


Moro desmoraliza o Evangelho segundo Lula, o corrupto número 1 do Brasil


A operação aloprada de Marcos Valério

Condenado a 37 anos pelo mensalão, o publicitário mineiro faz o diabo para sair do presídio em Contagem (MG). Até reeditar sua aliança com o PT. De olho em possíveis benefícios, como redução de pena, ele tenta emplacar na praça um dossiê fajuto que, por inconsistente, não pára em pé


A operação aloprada de Marcos Valério
FALSIDADE O publicitário Marcos Valério tenta implicar tucanos, em troca de mordomias na cadeia
Nos últimos dias, o advogado Jean Robert Kobayashi, que representa o publicitário Marcos Valério Fernandes, condenado a 37 anos e cinco meses de prisão por causa dos crimes cometidos no mensalão do PT, está tentando emplacar na praça um dossiê fajuto contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e outros políticos tucanos. O documento difundido por Valério, que cumpre pena num presídio em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, faria parte de um esboço de uma suposta delação premiada que ele estaria disposto a fazer. Trata-se de uma operação aloprada que passa pela reedição de uma antiga aliança com o partido a quem serviu durante o primeiro mandato de Lula, o PT. Em troca do compromisso firmado pelo publicitário de implicar lideranças do PSDB em sua delação, o PT, por meio do governador petista Fernando Pimentel, responsável pela administração da cadeia de Contagem, tem garantido benefícios a Valério no presídio, como cela individual, que só pode ser concedida a quem tem curso superior. Não é o caso de Valério.
O problema é que a armação não se sustenta. Não resiste nem a uma avaliação cronológica dos fatos. Ao se verificar os dados disseminados pelo publicitário, se percebe que o dossiê é uma farsa. Valério diz, por exemplo, que em 1999, durante o governo Fernando Henrique, teria havido uma reunião entre o então presidente da Câmara, Aécio Neves, o ministro da Secretaria das Comunicações, Andrea Matarazzo, e o ministro das Comunicações, Sérgio Motta. O encontro teria sido marcado para acertar um repasse de dinheiro para tucanos proveniente das contas publicitárias da DNA, a empresa de Valério. As supostas propinas viriam de contratos da DNA com a Câmara dos Deputados e com a Fundacentro, do Ministério do Trabalho. A versão não pára em pé. É humanamente impossível que Motta tivesse participado de uma reunião em 1999, como quer fazer crer Valério. Afinal, Sérgio Motta morreu no ano anterior: 1998. Há ainda outra inconsistência grave. Aécio não era presidente da Câmara. A Casa era comandada por Michel Temer (PMDB). Na ocasião, Aécio era apenas mais um deputado. Ou seja, a tese de Valério se revela tão frágil como um castelo de cartas.
contrapartida O governador Fernando Pimentel (PT) concedeu privilégios a Valério na cadeia
CONTRAPARTIDA O governador Fernando Pimentel (PT) concedeu privilégios a Valério na cadeia
Na mesma linha, o dossiê apresenta outro erro grotesco. Valério diz ter participado em 2000 de uma reunião na residência oficial do presidente da Câmara, Aécio Neves, com o ministro da Secom Andrea Matarazzo para repassar aos tucanos 2% de uma conta de publicidade que a DNA tinha junto ao Banco do Brasil. De novo, há uma equívoco tendencioso de datas. Aécio só assumiu a presidência da Câmara em 2001. Além disso, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” em 2012, o próprio Valério acusou o PT de instituir em 2013 um pedágio de 2% para os contratos de publicidade do governo federal. Contrariando o que ele mesmo disse lá atrás, agora o publicitário diz que o partido envolvido na propina de 2% foi PSDB, mostrando uma grande confusão mental. Em que momento, afinal, Valério diz a verdade?
Boquirroto
O material que o publicitário mineiro tenta emplacar na praça apresenta outros trechos risíveis. Ele garante que, em 2002, ajudou o ministro da Secom Andrea Matarazzo a amealhar R$ 20 mil para a campanha de Roberto Freire a deputado. Acontece que nessa época Matarazzo não era mais ministro de Estado. Havia sido nomeado por FHC embaixador do Brasil em Roma. Não bastasse isso, Freire sequer foi candidato a uma cadeira na Câmara naquele ano, pois estava em pleno exercício do mandato de senador por Pernambuco.
A quarta grande trapalhada de Valério foi dizer que, em 1998, repassou R$ 200 mil de caixa dois para a campanha de Aécio a deputado, por meio de um depósito que teria sido feito na conta de uma empresa de sua irmã Andrea Neves. Extratos da conta mostram, no entanto, Andrea já separou que o faturamento médio mensal dessa empresa – uma loja de carrinhos de bebê em Belo Horizonte – foi de R$ 7 mil naquele ano. Não há um depósito com valor dessa natureza.
O dossiê aloprado produzido por Valério, ao qual ISTOÉ teve acesso, chegou às mãos dos advogados do PSDB de Minas nos últimos dias. Diante das acusações levianas, o jurídico do partido estuda ingressar com uma ação na Justiça. A ideia é impedir também que ele obtenha os benefícios da delação. Valério é useiro e vezeiro no lançamento de bravatas. No afã de deixar a cadeia, o publicitário recorre a expedientes dos mais espúrios. Recentemente, ele prometeu implicar petistas no episódio da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Mas, na frente do juiz Sergio Moro, capitulou. Seria mais uma parceria de Valério com o PT?

Desacatos em série

De forma inconseqüente e comportando-se como se estivessem acima da lei, Lula e Ciro Gomes voltam a atacar autoridades da Lava Jato, numa escalada de intimidações ao Judiciário sem precedentes na história recente do País. Até quando?


Desacatos em série