terça-feira, 30 de setembro de 2025
‘O politicamente correto se tornou um câncer na sociedade’, diz o psicólogo Gad Saad
Crítico da cultura woke, ele afirma que os seres humanos podem ser parasitados não só por vermes que atacam fisicamente o cérebro, mas também por vermes ideológicos
O psicólogo Gad Saad, de 60 anos, é um crítico rigoroso do politicamente correto e das políticas identitárias que contagiaram o mundo ocidental nas últimas décadas. Por suas posições bem fundamentadas contra a cultura woke e pela forma direta e clara de comentar acontecimentos globais, como a invasão do Ocidente por imigrantes islâmicos, tornou-se um dos principais influenciadores digitais em sua área de atuação.
No X, onde é mais ativo, alcançou 1,1 milhão de seguidores, entre eles o empresário Elon Musk, controlador da plataforma, que outro dia republicou um post seu adicionando o seguinte comentário: “Todo mundo deve ler os livros de Gad”. Ele tem também 350 mil inscritos em seu canal no YouTube, onde apresenta um podcast chamado The Saad Truth (“A verdade de Saad”), e outros 200 mil seguidores no Facebook e no Instagram.
Tweets by GadSaad Nascido numa família judia no Líbano, de onde saiu no início da guerra civil, em 1975, e naturalizado canadense, Saad foi professor e pesquisador durante 32 anos da Universidade Concordia, localizada em Montreal, e agora está de mudança para a Universidade do Mississippi, nos Estados Unidos.
Dedicou a sua vida acadêmica principalmente ao estudo do comportamento do consumidor e do comportamento humano de forma geral, pela lente da biologia e da psicologia evolucionistas.
Nesta entrevista a Oeste, feita por videoconferência, Saad fala sobre os temas tratados em seu best-seller A Mente Parasita, publicado no Brasil em 2021 pela Editora Trinitas, como os “patógenos” que estão dominando a mente das pessoas, levando-as a negar a realidade e a adotar “posições idiotas”. “Os seres humanos podem ser parasitados não apenas por vermes que atacam fisicamente o cérebro, mas também por vermes ideológicos”, afirma. “O politicamente correto tornou-se um câncer para perseguir objetivos que deveriam ser baseados no mérito.”
Saad fala também sobre a “cultura da ofensa”, o “vitimismo” e o “stalinismo” que tomou conta das universidades, hoje transformadas, segundo ele, em “campos de treinamento de polícias politicamente corretas”. E dá a receita para as pessoas enfrentarem os “parasitas ideológicos”: “É preciso ativar o seu texugo-do-mel, que é considerado o bicho mais feroz do reino animal. É claro que não estou falando para as pessoas serem fisicamente violentas, mas para não se acovardarem num canto e ficarem chupando o dedo e tendo medo de suas sombras”.
“O maior perigo do politicamente correto e da polícia do pensamento não é o governo mandar você ficar quieto. É a autocensura.”
Confira os principais trechos da entrevista: No seu livro, o senhor diz que há “uma pandemia de ideias ruins” assolando o Ocidente e que isso está levando muitas pessoas a adotar “posições idiotas”. Que ideias e posições são essas a que o senhor se refere? Antes de a gente entrar nesta questão, deixe-me voltar um pouco no tempo e lhe contar como foi a minha trajetória científica e como isso me levou a escrever A Mente Parasita. Como eu aplico a biologia evolucionista e a psicologia evolucionista no estudo do comportamento, é claro que acredito que os seres humanos são criaturas biológicas, como o gato, o cachorro, o leão e a girafa. Mas, por alguma razão, os cientistas sociais passaram a acreditar que há apenas uma espécie na qual a biologia não importa: a dos seres humanos, chamada de Homo sapiens. Isso me levou a perguntar: como as pessoas podem ser tão idiotas? Como algo tão claro pode se tornar tão controvertido, quando tento publicar um artigo científico sobre a evolução humana, com base nas diferenças de sexo, nas diferenças entre homens e mulheres? Foi aí que me dei conta do que estava acontecendo e procurei desenvolver um arcabouço que me ajudasse a entender o que leva as pessoas a negar uma realidade tão óbvia. E, ao estudar a literatura sobre os animais, encontrei um campo da ciência que se tornou o ponto central do meu livro: a neuroparasitologia.
Best-seller A Mente Parasita, publicado no Brasil em 2021 pela Editora Trinitas | Foto: Divulgaçã
O que é exatamente a neuroparasitologia e como ela se relaciona com o politicamente correto e as políticas identitárias que o senhor aborda no livro?
A parasitologia é o estudo das interações de parasitas hospedeiros. A tênia, por exemplo, é um parasita que pode viver e se alimentar no intestino humano. Já um neuroparasita é um parasita que se hospeda no seu cérebro, alterando os seus circuitos mentais para atender os seus interesses. Veja o caso do grilo-da-madeira ou grilo do bosque. Ele detesta água, mas quando é alvo de um verme de cabelo, age contra as suas próprias características. O verme de cabelo precisa que o grilo pule na água e cometa suicídio, para poder completar o seu ciclo reprodutivo. O grilo se torna um zumbi. Seu cérebro é sequestrado para servir ao parasita. Esse foi o meu momento de eureca. Foi quando me dei conta de que poderia usar o arcabouço da neuroparasitologia para mostrar que os seres humanos podem ser parasitados não apenas por vermes que atacam fisicamente o cérebro, mas também por vermes ideológicos.
Voltando à pergunta inicial, então, que “vermes ideológicos” são esses a que o senhor se refere?
Vamos começar com o maior de todos, que é um grande parasita do cérebro, inclusive no Brasil: o pós-modernismo. O pós-modernismo acredita que não há verdades objetivas, que tudo é definido pela subjetividade, pela posição relativa de cada um. Não há padrões universais. E, se não há padrões universais, subida é descida, esquerda é direita, masculino é feminino, liberdade é escravidão, guerra é paz. Uma tela em branco se torna uma bela pintura, porque quem é você para julgar o que é arte. Não há medidas estéticas objetivas. Isso é uma forma de niilismo, do que eu chamo de “terrorismo intelectual”. Então, o que eu faço no livro é apresentar uma série desses parasitas ideológicos que agem no nosso cérebro e procurar oferecer uma vacina mental contra esse tipo de coisa.
Além do pós-modernismo, o senhor pode citar outros “parasitas ideológicos” que estão por aí atacando o cérebro das pessoas?
O relativismo cultural é outro exemplo. O relativismo cultural, como o próprio nome já diz, é um conceito que rejeita a ideia de um padrão cultural absoluto. De acordo com o relativismo cultural, quando você está analisando algo sobre uma cultura, tem de levar em conta os seus aspectos específicos. Se uma sociedade decide que deve cortar o clitóris das garotas de cinco anos, quem é você, racista, para julgar os seus valores culturais? Não há normas morais universais, como não há verdade científica universal, assim como não há preferências estéticas universais. O construtivismo social é mais um exemplo, que também é muito forte no Brasil. O construtivismo social defende a ideia de que os seres humanos nascem como tábula rasa, de que nascemos sem nada no nosso cérebro e apenas a socialização faz com que nós sejamos quem somos. Então, se eu prefiro mulheres de um determinado tipo, não é por causa da minha biologia. É porque eu devo ter assistido vídeos de música para ter aprendido isso. Se sou uma mulher que gosta de caras grandes e fortes, não pode ser por causa da biologia. Deve ser porque eu li romances que me ensinaram isso. Então, pelo social-construtivismo, todos nós nascemos iguais, com potencial igual, sem influências biológicas.
O politicamente correto se tornou um câncer na sociedade’, diz o psicólogo Gad Saad - Revista Oeste
Isso não é algo positivo, por colocar em xeque a ideia de que a nossa vida é determinada no nascimento?
Essa é uma mensagem que pode até trazer esperança, mas é totalmente equivocada. É claro que é auspicioso acreditar que, quando o meu filho nascer, poderei transformá-lo no próximo Lionel Messi, se eu encontrar o momento exato para reforçar as suas habilidades futebolísticas. Se eu puder abraçar o meu filho o suficiente — ou talvez não o abraçar o suficiente — ele poderá se tornar o próximo Messi. Se eu puder lhe dar a dose certa de hambúrguer, ele poderá se tornar o próximo Messi. Ou o próximo Einstein. Ou quem for. Trata-se de uma mensagem encorajadora, mas completamente desvinculada da realidade. Todos esses patógenos de ideias partem de objetivos nobres, mas, ao buscá-los, estamos assassinando e estuprando a verdade.
Agora, afinal, como isso se relaciona com o politicamente correto e com as políticas identitárias que contagiaram as universidades e a sociedade ocidental de forma geral?
Eu vou lhe dar um exemplo ocorrido na Universidade Concordia, em Montreal, onde fui professor por 32 anos. A Universidade Concordia queria ser muito amável, muito empática e ter muita compaixão. Achou, então, que não era justo, que não era bom que todos os físicos que estudavam a física da luz, a física óptica, fossem brancos, e que deveria haver maior diversidade. De repente, a física da luz deixou de ser totalmente verdadeira, porque quem gerou esse conhecimento tinha uma característica dermatológica específica. Eu tenho sorte, porque venho do Oriente Médio e a minha pele é um pouco mais escura. Agora querem “indigenizar” e “descolonizar” todos os campos de estudo. Este é um exemplo de como o politicamente correto — que é a ideia de que nós devemos favorecer pessoas que pertencem a certos grupos sociais, como mulheres, povos indígenas, pessoas com deficiência e minorias, para que sejamos todos iguais — tornou-se um câncer para perseguir objetivos que deveriam ser baseados no mérito.
No livro, o senhor chama esse conjunto de vírus ideológicos de Síndrome do Parasita de Avestruz (SPA). Por que o senhor escolheu esse nome?
Há uma metáfora de que o avestruz, que é um grande pássaro que não voa, esconde a cabeça na terra para evitar a realidade. Embora não seja verdade que isso aconteça, a metáfora passou a ser usada por todos nos casos em que as pessoas querem evitar a dura realidade. Muita gente prefere esconder a cabeça na terra para não ter de enfrentar os seus problemas. Então, eu chamei esse conjunto de vírus ideológicos que agem sobre o cérebro humano de Síndrome do Parasita de Avestruz, porque há certas realidades que as pessoas não deveriam esconder a cabeça na terra para evitar. Se elas fizerem isso, vai acontecer o que acontece com o grilo-da-madeira, que pula na água e comete suicídio, quando hospeda o verme de cabelo. Quando você pensa, por exemplo, que todas as religiões são igualmente capazes de promover atos terroristas, parabéns: você é um avestruz. Porque há uma coisa chamada dados, há uma coisa chamada realidade. Nós podemos escolher ignorar a realidade ou admiti-la e agir de acordo com ela.
O senhor poderia dar mais um exemplo de como a Síndrome do Parasita de Avestruz funciona?
A política de imigração de fronteiras abertas é outro exemplo. Quando a gente defende uma política de fronteiras abertas, estamos sendo empaticamente suicidas, que é o tema do meu próximo livro. Estamos dizendo que é injusto, que não é bom, que não é solidário argumentar que nem todas as pessoas são igualmente capazes de se assimilar na sociedade brasileira. Mas até uma criança de três anos saberia que, se eu vier de Portugal, a probabilidade de me assimilar no Brasil, mesmo que seja apenas por falar a mesma língua, pode ser maior do que se eu vier do Paquistão. Isso não quer dizer que não existam pessoas bonitas, amáveis e pacíficas no Paquistão. Mas os valores culturais importam. As culturas não são intercambiáveis. Agora, se eu sou infinitamente suicida e empático, rejeito essa ideia. Agora, um exemplo perfeito da Síndrome do Parasita de Avestruz é o que aconteceu no 11 de Setembro de 2001, há 24 anos. Desde o ataque ao World Trade Center, houve mais de 48 mil atos terroristas cometidos por pessoas de origem islâmica em quase 70 países. 48 mil apenas nos últimos 24 anos — e o número continua aumentando. Mas, no Ocidente, se você perguntar a professores e jornalistas famosos, no Brasil e em outros países — muitos dos quais sofrem da Síndrome do Parasita de Avestruz — qual é o principal fator que está levando terroristas islâmicos a cometer esses atos, eles não vão lhe dizer que há uma passagem no livro sagrado deles que justifica a explosão de uma estação de trem, em meio a gritos de “Allahu Akbar” (Alá é o maior). É assim que ela funciona. É como se um médico lhe dissesse que você está com um câncer muito perigoso e você afirmasse que não tem câncer e só está se sentindo mal porque está com fome.
O senhor afirma também que o “stalinismo ideológico” se tornou uma realidade diária nas universidades e que elas servem hoje como “campos de treinamento de polícias politicamente corretas” e de “guerreiros da justiça social”. Quem são esses guerreiros e como eles costumam agir? Qual o efeito que isso tem na vida acadêmica e na sociedade como um todo?
As pessoas pensam que você precisa de um milhão de guerreiros de justiça social no campus para causar o caos, mas não é verdade. Voltando ao 11 de Setembro, quantos terroristas você acha que foram necessários para mudar a paisagem de Nova York? 19 milhões? 190 mil? Não. Só foram necessários 19 terroristas, que eram muito comprometidos com os seus objetivos de derrubar as Torres Gêmeas. Só 19. Então, não precisa de 19 milhões de loucos, nem de 190 mil, no campus, para manter o resto de nós em silêncio. Não digo isso por mim mesmo, porque eu nunca fico quieto. Mas muitas pessoas têm medo de falar o que pensam. Então, na minha visão, o maior perigo do politicamente correto e da polícia de pensamento não é o governo mandar você ficar quieto. É a autocensura. Muita gente pensa: “Se eu for um aluno e disser na aula que talvez goste do Donald Trump, será que o professor vai me dar uma nota baixa? Será que os outros alunos vão pensar que eu sou uma pessoa ruim, por dizer que talvez o Donald Trump não seja um cara tão mau? Talvez seja melhor eu ficar quieto. Assim, eu não corro o risco de receber uma nota baixa e os meus amigos vão continuar a gostar de mim”. Hoje, o efeito de censura no Ocidente não vem tanto do governo, mas da criação de um ambiente em que todos ficamos com medo de pensar. É isso que é o stalinismo ideológico. Você é enviado para o Gulag por falar as coisas erradas.
Essa autocensura atinge também os professores? Eles também acabam ficando em silêncio para não serem perseguidos?
Posso lhe mostrar artigos muito dolorosos, escritos por professores, em que eles afirmam que têm medo de dizer uma palavra que leve algum estudante a se sentir ofendido e a denunciá-los para o diretor ou o reitor por causa disso. Os estudantes têm medo de falar na classe e os professores têm medo de dizer algo que possa ofender alguém. Nesse ambiente, é melhor você não fazer nenhuma pesquisa que ofenda alguém. É melhor você não encontrar nenhuma diferença de gênero. Agora, se a sua pesquisa sobre diferença de gênero mostrar que as mulheres são superiores aos homens em alguma coisa, aí você pode publicá-la com orgulho. Mas, se você, Deus nos livre e guarde, descobrir que os homens podem fazer algo melhor do que as mulheres, por favor deixe isso escondido na sua mesa, porque eles não querem propagar estereótipos sexistas. Só que não é assim que a ciência funciona. A ciência é a busca incessante da verdade, independentemente do que é politicamente correto e de ferir os sentimentos das pessoas. Hoje, a proibição de falar qualquer coisa que possa ofender, irritar ou insultar alguém que seja considerado “minoria” ou “progressista” se tornou parte do espírito do Ocidente.
Como o politicamente correto e as políticas identitárias estimulam essa cultura da ofensa e do vitimismo?
Uma sociedade construída com base na dignidade individual tem as suas raízes na ética da meritocracia. Você e eu podemos entrar no ringue e ambos sabemos as regras do jogo. Se eu ganhar, recebo a medalha. Se você ganhar, você recebe. Nós entramos no ringue com oportunidades iguais. O que a ética do vitimismo faz é dizer que “não, nós não podemos entrar no ringue com oportunidades iguais para competir, porque talvez você tenha a mesma cor da pele de alguém que sofreu por causa disso há 300 anos. Nenhuma das pessoas que foram vítimas naquela época nem os perpetradores têm nada a ver com ninguém hoje, mas as pessoas usam isso para se beneficiar na escala social.
Onde vamos parar com essa coisa toda?
Quando a gente mistura políticas identitárias com vitimismo, chega ao socialismo e ao comunismo de forma muito rápida. O E. O. Wilson (Edward Osborne Wilson), que era um professor e um biólogo muito famoso na Universidade Harvard, estudou o comportamento social das formigas e disse algo sobre isso que vale a pena mencionar. As formigas são comunistas, porque há uma rainha reprodutiva e todas as outras fazem parte de castas indistinguíveis de trabalhadoras e guerreiras. Então, quando perguntaram ao professor Wilson as suas opiniões sobre o socialismo e o comunismo, ele deu uma das melhores respostas que eu já ouvi: “É uma grande ideia, mas para a espécie errada”. No Brasil, quando vocês implementam o seu maldito socialismo, estão tentando aplicar um sistema político, econômico e social que pode ser ótimo para as formigas, mas é totalmente inadequado para os seres humanos. É por isso que tentamos implantar o comunismo em muitas, muitas culturas diferentes, para demonstrar mais empatia, mais compaixão e nos sentirmos mais amigáveis, sempre com o mesmo resultado. Afinal, não é justo que você possa ganhar mais dinheiro do que eu. Não seria melhor para o Estado benevolente e generoso pegar todo o seu dinheiro para me dar? Aí, nós seríamos iguais. Isso pode trazer um bom sentimento, se você for uma criança de três anos. Mas, se você entende como a vida funciona, percebe que sempre vai falhar.
O senhor conhece o comediante britânico Ricky Gervais? Ele tem uma frase que resume bem essa questão da cultura da ofensa e do vitimismo. Ele diz que “só porque alguém se sente ofendido por algo ou por alguém, não significa que está certo”. O senhor concorda com ele?
Concordo 100%. Conheço o Ricky. Tivemos contato no passado e ele me segue nas redes. Ele é meu fã e eu sou fã dele. Em A Mente Parasita e também no livro que escrevi depois, chamado “A Triste verdade sobre a felicidade”, menciono uma ideia do Sêneca, que era um filósofo romano estoico, quando abordo essa questão. Basicamente, o Sêneca argumentava que as árvores mais fortes são as que enfrentam muito vento, porque têm de desenvolver a habilidade de resistir a ele. Aí, elas ficam com troncos fortes, raízes fortes. Em outras palavras, para elas terem maior capacidade de lidar com o ambiente, têm de enfrentar ventos estressantes. Ser ofendido é como enfrentar o vento. Isso nos torna mais fortes. Se eu viver em um mundo totalmente higienizado, apenas cantando Imagine, de John Lennon, não estarei preparado para enfrentar os momentos mais difíceis da vida. Isso pode ser muito romântico, mas não é assim que a vida funciona. Uma das razões pelas quais a minha voz alcança milhares de pessoas é porque atuo no mundo real, tendo enfrentado fatores reais de estresse. Então, não, eu não tenho o direito de não ser ofendido. Isso é parte da vida. Espero que eu possa lidar com isso com ideias melhores.
‘O politicamente correto se tornou um câncer na sociedade’, diz o psicólogo Gad Saad - Revista Oeste
O seu livro A Mente Parasita foi publicado originalmente em 2020. O que mudou nos temas que o senhor aborda desde a sua publicação, cinco anos atrás?
Depende de que país estamos falando. No Canadá, a situação só está piorando. Sabe como o animal se torna o mais perigoso quando está ferido? Então, no Canadá, eles estão dobrando, triplicando a aposta na loucura. Há zero autocorreção. O Justin Trudeau, do Partido Liberal, que se tornou primeiro-ministro em 2015, é um exemplo ambulante de cada ideia parasita que discuto no livro. É um degenerado lobotomizado. As meias que uso com os meus sapatos são substancialmente mais sofisticadas do ponto de vista intelectual do que o Justin Trudeau. Mas, veja, ele é alto, tem lindos cabelos, é jovem. Isso pareceu bom o suficiente para muita gente. Então, os canadenses votaram nele uma vez e ele chegou ao poder. O resultado foi que o Canadá entrou numa decadência desastrosa em todas as métricas em que você possa pensar. Aí, a solução foi “vamos votar nele mais uma vez” — e o Canadá continuou a ir para o inferno. Depois, a solução foi “vamos levantá-lo uma terceira vez” — e ele acabou renunciando. A saída, dessa vez, foi trazer um cara que talvez não fosse tão woke quanto o Trudeau, o Mark Carney, para substituí-lo. Mas ele é exatamente igual ao Trudeau, o mesmo elitista, o mesmo “wokista”.
No caso dos Estados Unidos, com a volta de Donald Trump à Casa Branca, o quadro mudou bastante. Qual a sua visão sobre o que está acontecendo lá?
Nos Estados Unidos, sim, nós temos o Donald Trump, e estamos vendo um recuo, mas isso não vai acabar num passe de mágica. O mandato do Trump termina em 2028. E se aparecer outro presidente como a Kamala Harris (ex-vice-presidente dos EUA e ex-candidata à presidência em 2024)? Bom, aí voltaremos ao que havia antes do Trump. Então, o que é preciso fazer é erradicar de forma permanente e definitiva essas ideias amaldiçoadas. E isso não vai acontecer em um ano, três anos ou cinco anos. Vai levar uma geração para tornar descaradamente idiota acreditar nessas coisas.
‘O politicamente correto se tornou um câncer na sociedade’, diz o psicólogo Gad Saad - Revista Oeste
Na sua avaliação, qual é a melhor forma de enfrentar essa situação? Que vacinas podemos aplicar contra esses vírus ideológicos?
Como falo em A Mente Parasita, é preciso ativar os seus texugos-de-mel interiores. O texugo-de-mel é considerado o bicho mais feroz do reino animal. É um título grandioso, porque há muitos animais ferozes por aí, mas ele é o número 1. É apenas do tamanho de um cachorro pequeno ou médio, mas, mesmo assim, anda num território muito perigoso na savana africana em meio a leões e hienas. Quando os leões veem o texugo-de-mel passando por perto, eles dizem “desculpe-me, senhor, não quis incomodar” e vão para o outro lado da rua. Agora, quando digo para as pessoas ativarem seu texugo-de-mel, é claro que não estou dizendo para elas serem fisicamente violentas. O que estou pedindo é para que elas sejam ferozes ao defender a realidade, o senso comum, a decência, a ciência, a razão, a lógica, as liberdades de pensamento e de expressão, e para não se acovardarem num canto e ficarem chupando o dedo e tendo medo de suas sombras.
Como o senhor disse há pouco, algumas pessoas têm medo de perder os seus amigos, o seu trabalho. Têm medo de ser canceladas. Como elas podem “agir como o texugo-do-mel” nessa situação?
Como Aristóteles nos explicou há milhares de anos, “todas as coisas boas com moderação”. Muito pouco não é bom. Demais não é bom também. Muito da vida é sobre encontrar esse ponto de equilíbrio. Isso é algo que abordo em detalhes no meu livro sobre felicidade. Se você é um soldado covarde, isso não é bom, porque você não conseguirá lutar. E, se você é tão corajoso a ponto de ser imprudente, vai morrer em 15 segundos. Entendo o reflexo para modular qual será a sua contribuição para a luta em função de sua própria avaliação de risco. Mas isso não significa que você deve ficar quieto e não dar nenhuma contribuição para a batalha, porque estará jogando a responsabilidade nos meus ombros. Então, acho perfeitamente razoável você decidir quanto risco quer assumir. Mas você não tem o direito de não assumir risco algum.
Em paralelo às suas críticas sobre a cultura woke, o senhor tem se mostrado muito preocupado com a expansão do islamismo no Ocidente. Em sua avaliação, quais são os riscos que isso apresenta?
As culturas e as religiões têm muitas coisas parecidas, mas muitas coisas diametralmente opostas. O badmínton, por exemplo, é um esporte. O boxe, também. Ambos são esportes e começam com a letra b. Isso não significa que eles sejam igualmente capazes de criar danos cerebrais. A maioria das pessoas concorda que é mais provável você ter um dano cerebral se lutar boxe do que se jogar badmínton. Agora, vamos aplicar isso à imigração. Na Islândia, um pequeno país com apenas 400 mil habitantes, onde dei uma palestra recentemente, eles são muito, muito empáticos e muito progressistas. Quando estava lá, diante de um grande público, eu disse: “Se eu despejar aqui 150 mil imigrantes da Dinamarca ou do Iêmen, alguém acredita que as pessoas do Iêmen têm maior probabilidade de assimilação? Se alguém concordar com isso, por favor, levante a mão.” Sabe o que aconteceu? Todo mundo ficou desconfortável e abaixou a cabeça, porque sabia qual era a resposta, mas não queria dizer porque achava que era algo ruim.
Na sua visão, o que explica essa diferença nas perspectivas de assimilação dos dois grupos?
Não é porque as pessoas do Iêmen são todas más. É porque culturas, religiões, podem ou não se misturar bem. O que fez o Ocidente grande é que temos certos valores que são extraordinariamente únicos na história: liberdades individuais, liberdade religiosa, liberdade de associação, liberdade de questionar, liberdade de expressão. Esta é uma realidade única em toda a história da humanidade. O islamismo não defende esses valores. Isso não diz nada sobre os muçulmanos individualmente. Posso ter mais em comum com um muçulmano que é muito secular do que com um judeu ortodoxo, mesmo que eu seja judeu. Então, não estamos falando de indivíduos, estamos falando sobre uma coisa chamada realidade estatística. A vida é navegar através de realidades estatísticas.
O senhor pode dar um exemplo de como essa “realidade estatística” funciona no nosso dia a dia, para esclarecer o que isso significa?
Se estou caminhando por uma rua escura e há quatro rapazes vindo atrás de mim, faz todo o sentido eu ficar mais preocupado do que se fossem quatro freiras idosas. Não porque eu seja sexista em relação às freiras idosas, mas porque reconheço que, na média, estatisticamente, os rapazes tendem a ser mais perigosos do que elas. Então, quando se trata da imigração para o Ocidente, se você permitir a entrada de milhões de pessoas que não compartilham os seus valores fundamentais, não precisa de um professor badalado para lhe dizer que vai ter problemas. É algo tão claro quanto o que acontece com quem tem diabetes. Sabemos exatamente o que acontece com quem tem diabetes. Sabemos exatamente o que vai acontecer se deixarmos pessoas que não compartilham os nossos valores imigrarem para o Ocidente. Individualmente, os muçulmanos podem ser as pessoas mais lindas do mundo, mas o islamismo pode não ser perfeitamente congruente com os valores ocidentais.
Como o senhor explica a aliança entre a esquerda e o radicalismo islâmico, que persegue homossexuais, subjuga as mulheres e essa coisa toda que vai contra as suas bandeiras?
O primeiro objetivo que os muçulmanos radicais e a extrema esquerda têm em comum é o ódio ao Ocidente. Algumas ramificações desse ódio têm origens comuns, outras, não. Mas o que os une em torno da mesa de jantar é que todos odeiam o capitalista e o malvado e nojento Ocidente. Então, por que não unirmos as nossas forças para sairmos do capitalista e malvado Ocidente? E, obviamente, tanto a extremaesquerda quanto os muçulmanos radicais pensam que, quando acabarem com o capitalismo e o Ocidente nojento, eles é que vão assumir o poder. Mas a esquerda radical não sabe da pequena surpresa que a espera quando eles se livrarem do Ocidente. Considere, por exemplo, o grupo Queers for Palestine (Gays pela Palestina). Que tipo de pessoa pode realmente acreditar nisso? Se você é gay, beleza. Você quer ser gay, tudo bem, mais poder para você. Viva e deixe viver. Mas, se a questão central da sua identidade for a sua homossexualidade, será que você deve dar o seu apoio à Palestina ou a Tel-Aviv, que é um dos lugares mais amigáveis para os gays do mundo, depois de São Francisco, Nova York e Montreal? Por outro lado, em Gaza, há uma terapia muito eficaz para conversão de gays. É chamada “terapia de conversão baseada na força da gravidade”. Jogamos você do telhado, você se espatifa no chão e resolve a sua homossexualidade. É exatamente por isso que uso os termos mente parasita e empatia suicida.
Aproveitando o gancho, o que o senhor pode nos dizer sobre o seu próximo livro, cujo título será justamente Empatia suicida. O que ele vai abordar e quando será lançado? Vai ser lançado também no Brasil?
Atualmente, estou trabalhando no rascunho. Estou quase terminando a primeira versão. É difícil dizer exatamente quando será lançado, mas diria que provavelmente será no meio de 2026. O lançamento será global. O livro nem está disponível e já se tornou totalmente viral. Ao fazer uma pesquisa online com o título do livro, vejo que ele já foi citado em 60 ou 70 línguas. E acredito que a razão disso é porque as pessoas sabem exatamente o que eu quero dizer com essas duas palavras. Em A Mente Parasita, abordo o que acontece com as mentes humanas quando elas são parasitadas e sequestradas por ideias ruins. No “Empatia suicida”, eu mostro basicamente como uma série de políticas nacionais e internacionais é desastrosa. A empatia é uma nobre virtude totalmente apropriada. Somos uma espécie social. Faz todo o sentido para sentirmos empatia. Para você e eu termos uma interação significativa, nós dois temos de ter o que se chama de “teoria da mente”. Preciso me colocar na sua mente e você, na minha, para que possamos ter uma troca expressiva. Agora, como dizia Aristóteles, todas as coisas boas devem ter a sua quantidade certa, em certas situações, para os alvos certos. O que a empatia suicida faz, antes de qualquer outra coisa, é ser hiperativa. E, depois, atira no alvo errado.
Na prática, como se dá efetivamente essa “empatia suicida”?
Hoje, por exemplo, os integrantes das gangues da Guatemala merecem mais a nossa empatia do que os veteranos americanos que lutaram pelos Estados Unidos. As pessoas também acham que todos os imigrantes têm a mesma probabilidade de assimilação, como falei há pouco. Se eu sentir empatia de forma suicida, vou ter uma grande empatia com os sem-teto que estão injetando Fentanil num parque público, mesmo que eles estejam impedindo que os meus filhos possam brincar lá. Os meus filhos não merecem a minha empatia como os nobres sem-teto. Há um caso que ilustra isso de forma perfeita. Um norueguês foi estuprado por um imigrante da Somália. Depois que esse imigrante foi preso, ele ficou na prisão por pouco tempo, algo em torno de três anos, porque os noruegueses são muito atenciosos e empáticos. Quando ele saiu da prisão e iria ser deportado de volta para Mogadíscio (capital da Somália), o cara que ele havia estuprado se sentiu muito culpado pelo fato de que ele não poderia se desenvolver plenamente na sociedade norueguesa e intercedeu em seu favor. E eu estou aqui para lhe dizer que o nosso sistema emocional não evoluiu para sentir empatia por nossos estupradores. Isso é empatia suicida.
No livro, o senhor se diz um libertário. Qual é a sua visão sobre a ascensão do presidente da Argentina, Javier Milei, e seu governo? E como o senhor vê o presidente americano, Donald Trump, nesse ambiente?
Ambos são produtos do mesmo tecido e se contrapõem a todas as ideias parasitas, ao comunismo, ao socialismo, ao Estado de bem-estar social, ao Estado babá. Eles desprezam essas coisas. Veja o caso do Milei. Por qualquer métrica que se possa usar, a gente vê o quanto a sociedade argentina está saudável hoje e como ela era antes de ele assumir o poder. Então, parece que o Milei está indo na direção certa. O Donald Trump, que é alguém que construiu coisas antes de se tornar presidente, também. É por isso que eu detesto políticos de carreira. Porque tudo o que um político de carreira faz é ir da escola para a universidade e daí direto para o parlamento. Eles nunca foram cirurgiões, advogados, professores, jornalistas, empresários. Qual é a experiência de vida que eles podem trazer para enfrentar os problemas do mundo real? É por isso que os “pais fundadores” dos Estados Unidos diziam que você só deveria se tornar um político depois de ter uma carreira de sucesso em outra área. Os políticos de carreira não são forjados na realidade. Os acadêmicos também não, porque se isolam em suas torres de marfim. Abraçam ideias totalmente dissociadas da realidade, sem qualquer mecanismo de autocorreção. Então, eu apoio o que o Milei e o Trump estão fazendo. Espero que a gente possa ter o nosso próprio Trump no Canadá.
José Fucs - Revista Oeste
CPMI prende o sindicalista de R$800 milhões roubados dos aposentados. Mas..., ele já está solto. Afinal, o país é governado pelo 'cartel lula-stf-globolixo'. O sistema que tem no comando Gilmar, Moraes, Lula... é f*
Voz de prisão ocorreu ao final da sessão que interrogou Carlos Roberto Ferreira Lopes, da Conafer
Já era madrugada desta terça-feira (30) quando presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), determinou a prisão do sindicalista Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer). Passaram pela “entidade” mais de R$800 milhões dos aposentados, dos quais R$140 milhões foram para as mãos de um assessor de Carlos Roberto Lopes. O sindicalista mentiu muito e caiu em contradição inúmeras vezes, até que a comissão decidiu por sua prisão por dificultar as investigações. Porém, ainda na madrugada, Carlos Roberto Ferreira Lopes pagou fiança e foi solto.
Lopes foi convocado como testemunha e estava sem habeas corpus preventivo que o fizesse se calar ou ser preso, por isso não haverá pretexto para a Procuradoria Geral da República não o denunciar. Na prisão anterior, “ordem superior” soltou o economista Rubens Costa, braço direito de Antonio Carlos Antunes, o “Careca do INSS”, que também recebeu voz de prisão por mentir muito à CPMI.
Ao final da sessão da CPMI e após decretar a prisão de Lopes, Viana explicou que “durante essa sessão, ficou constatado que o depoente omitiu informações deliberadamente, entrou em contradição em várias delas e, ao ser questionado novamente pelo relator e por membros desta comissão, manteve as afirmações. Essas contradições configuram mentira deliberada e ocultação de informações com intuito de prejudicar as investigações dessa comissão”, disse Viana.
O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), que mais uma vez foi o destaque da sessão, comparou Ferreira Lopes a Maurício Camisotti, que criou três entidades sindicais e com elas é acusado de tomar mais de R$580 milhões dos aposentados. “Hoje, a gente descobriu outro Maurício Camisotti, se chama Carlos Roberto Ferreira Lopes. Pelas mãos da Conafer passaram mais de R$ 800 milhões, aqui nós descobrimos que R$ 140 milhões foram direcionados diretamente para o assessor dele, Cícero Marcelino”, disse Gaspar.
Diário do Poder
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
Fachin, que forjou a retirada de Lula do xinlindró, é o novo 'chefe' do STF. E anuncia solidariedade a Alexandre de Moraes, vulgo Xandão, segurança jurídica e enfrentamento da corrupção. Dá para acreditar?
Petista prometeu preservar a Constituição, reforçar o combate à improbidade e manter a confiança entre os Poderes
Em seu discurso de posse como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira, 29, Edson Fachin destacou a necessidade de fortalecer a segurança jurídica e de enfrentar a corrupção. O ministro defendeu previsibilidade nas relações jurídicas, confiança entre os Poderes e anunciou medidas contra o crime organizado, como a criação de um Mapa Nacional do Crime Organizado e de um Observatório de Integridade e Transparência no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“O Judiciário não deve cruzar os braços diante da improbidade. Ninguém está acima das instituições, elas são imprescindíveis e somos melhores com elas”, afirmou o novo presidente da Corte. Fachin acrescentou que o país precisa de estabilidade institucional: “O Tribunal tem o dever de garantir a ordem constitucional com equilíbrio”.
Solidariedade de Fachin a Moraes
Logo no início da fala, Fachin prestou solidariedade ao mais novo vice-presidente do STF, Alexandre de Moraes, a quem classificou como “um amigo e um juiz feito fortaleza”. Ele assegurou que Moraes e todos os integrantes do tribunal sempre receberão apoio.
“Sua Excelência merece nossa saudação e nossa solidariedade”, disse Fachin, ao se dirigir a Moraes. “Sempre a receberá, como assim o faremos em desagravo a cada membro deste colegiado, a cada juiz ou juíza deste país, em defesa justa do exercício autônomo e independente da magistratura.”
Compromissos da gestão O novo presidente reforçou que presidir o Supremo “não é um poder, mas um dever”. Além disso, prometeu conduzir sua gestão com austeridade, transparência e foco na liberdade de imprensa, no combate às desigualdades e na defesa do meio ambiente.
Segundo ele, o STF deve ser firme na proteção da Carta de 1988. “A Constituição de 1988 nasceu da resistência cívica, e antes dela havia a chama da esperança. Ela continua acesa. E nós vamos mantê-la”, declarou. Em tom de defesa da separação de Poderes, enfatizou: “Ao Direito, o que é do Direito. À política, o que é da política”.
Ao final do discurso, reafirmou que a independência judicial é condição para a democracia: “A independência judicial não é um privilégio, é uma condição republicana. Um Judiciário submisso, seja a quem for, mesmo que seja ao populismo, perde sua credibilidade. A prestação jurisdicional não é espetáculo, exige contenção”.
Cristyan Costa - Revista Oeste
domingo, 28 de setembro de 2025
'O voto jurídico de Fux', por Ives Gandra Martins
Análise do ministro do STF sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro é de quem conhece o Direito
Muito antes do início do julgamento da Ação Penal 2668, posicioneime sobre aqueles que participaram dos eventos de 8 de janeiro e que ainda se encontram presos, condenados a penas que considero excessivas — como 14, 15 e 16 anos. Também me manifestei contra o que chamam de núcleo golpista. Afirmo: não houve golpe, nem tentativa, pois nenhum soldado foi mobilizado e nenhum comandante militar agiu para tal. Segundo os jornais, o que houve foram conversas que, em minha opinião, jamais resultariam em um golpe, uma vez que, para isso, seria necessária a participação das Forças Armadas.
Fui professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército durante 33 anos. Ao longo de todo o ano de 2022, vinha alertando, em artigos, audiências públicas no Congresso, palestras e declarações em instituições das quais participo, que não haveria risco de golpe. E não houve.
Sempre mantenho respeito aos ministros do Supremo Tribunal Federal, algo pelo qual sou, muitas vezes, criticado. Reafirmo, pois, o que está presente na minha vida e pode ser lido no “Decálogo do Advogado”, que elaborei para meus alunos no Mackenzie na década de 1980, onde enfatizo tal posicionamento.
Discordo, porém, da decisão da Suprema Corte. Por ser consideravelmente mais velho do que todos os magistrados e a maioria dos advogados em exercício no STF, nos meus 68 anos de carreira advoguei tanto à luz do Código de Processo Civil anterior quanto do atual, bem como sob a vigência das Constituições de 1946, 1967 e 1988.
Em todos esses anos, nunca havia presenciado um processo no qual o ministro relator realizasse declarações prévias sobre seu desfecho e incluísse uma série de atos não intrinsecamente ligados à magistratura, mas exercidos pelos ministros em funções extramagistratura.
Fux, um jurista de excelência
Por todas as considerações e manifestações que fiz, confesso que fiquei muito feliz ao ver exposto, pelo ministro Luiz Fux em seu voto, tudo aquilo que defendi. Minha admiração por ele sempre foi grande. Somos confrades na Academia Brasileira de Letras Jurídicas, e tenho muito orgulho de ter votado nele quando se candidatou a ingressar na mais importante academia de Direito do Brasil. Há que se destacar, também, que ele presidiu a Comissão de Juristas que elaborou o atual Código de Processo Civil.
Ele é o único ministro de carreira entre os cinco presentes na 1ª Turma. O ministro Zanin, embora um grande advogado, não era magistrado. O ministro Dino foi juiz, mas deixou a magistratura para seguir carreira política, tendo sido governador, senador e ministro da Justiça antes de ingressar no STF, sendo, portanto, político. A ministra Cármen Lúcia é uma respeitada procuradora de Estado e professora, mas não teve carreira na magistratura. Por fim, o ministro Alexandre de Moraes também não foi magistrado de carreira, mas promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo e ocupou diversos cargos políticos no Estado, como secretário de Segurança Pública e de Justiça, além de ter sido ministro da Justiça e secretário municipal de Negócios Jurídicos.
Juiz de carreira
Portanto, o único magistrado que ascendeu ao Supremo Tribunal Federal tendo construído uma carreira na magistratura foi o ministro Fux, que também foi o relator do nosso Código de Processo Civil. Assim, estamos falando do cidadão que mais entende de processo dentro da Corte.
Nosso entendimento é que o processo civil é matriz, desde o direito romano, de outras esferas processuais — como penal, tributária, pública, trabalhista e militar. Conforme ensinava Canuto Mendes de Almeida, o Código de Processo Penal não tem como objetivo proteger a sociedade, mas sim o acusado, servindo como uma carta de defesa contra linchamentos públicos. Essa foi a tese de doutoramento e de cátedra por ele defendida, em 1941, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Nessa esteira, em sua decisão, o ministro Fux expôs as falhas no rito observado ao longo deste processo. Embora eu não seja penalista, com 68 anos de advocacia aprendi alguma coisa — e vi detalhado, em seu brilhante voto, aquilo que eu vinha dizendo, demonstrando inclusive que as sustentações orais foram limitadas e que os advogados não tiveram acesso às provas em tempo hábil para estudálas.
A defesa da democracia
Repito o que sempre disse: o direito de defesa é um direito sagrado em uma democracia. É o direito de defesa — inexistente nas ditaduras — que garante a democracia. Não existe, portanto, na China, Rússia, Venezuela e Cuba, países nos quais o direito de defesa é uma farsa. Na democracia brasileira, entretanto, o direito de defesa é garantido pelo ordenamento jurídico processual, conforme elucidado pelo ministro Fux.
Lembro que coordenei, anos atrás, com o então presidente da OAB/SP, Marcos da Costa, o livro A importância do direito de defesa para a democracia e a cidadania, com a colaboração de eminentes autores, como o ex-presidente da OAB Claudio Lamachia, o relator da Constituição Brasileira Bernardo Cabral e grandes penalistas do Brasil, valorizando o artigo 5º, inciso LV, da Lei Suprema.
Tenho admiração pelos outros quatro ministros, mas considero o ministro Fux o mais competente em matéria processual — inclusive por ter participado da elaboração do atual CPC e por ser magistrado de carreira. Seu voto foi, para mim, o mais jurídico e isento de conotações políticas, o que é fundamental para o momento atual do Brasil.
Anistia pacificaria o país
Seguindo essa lógica, não falo em anistia por uma questão política; defendo-a porque precisamos de pacificação. O Brasil não crescerá enquanto mantivermos radicalizações que só aumentam as tensões e, pior, o ódio entre irmãos brasileiros.
Por isso, como advogado e professor de Direito há 61 anos, atuando como solicitador desde 1957 e, posteriormente, como advogado a partir de 1958, o voto do ministro Fux me trouxe enorme satisfação. Ele demonstra que, apesar dos meus 90 anos, não estou com Alzheimer e que meu raciocínio jurídico permanece sólido, pois se alinha rigorosamente ao pensamento de quem elaborou nosso CPC. Seu voto foi brilhante, estritamente jurídico e desprovido de conotação política.
‘O voto do ministro Fux me trouxe enorme satisfação’, escreveu o jurista Ives Gandra | Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Revista Oeste
Flávio Gordon e 'O Brasil à moda Hamas'
Governo Lula manifestou simpatia aos terroristas palestinos e ignorou o discurso de Benjamin Netanyahu
“O antissemitismo tradicional consistia na discriminação, negação ou ataque ao direito dos judeus de viverem como iguais em suas nações hospedeiras. O novo antijudaísmo faz o mesmo em relação ao direito de Israel e do povo judeu de viverem como iguais dentro da grande família das nações.” (Irwin Cotler, em Europe’s Crumbling Myths: The Post-Holocaust Origins of Today’s Anti-Semitism, 2003)
Se houvesse um Oscar para a indecência diplomática, o Brasil teria saído ovacionado da última Assembleia Geral da ONU. Não bastasse o presidente já ter comparado, com a sutileza de um rinoceronte numa aula de balé, a ação militar israelense ao Holocausto, nossos representantes decidiram elevar a desonra ao patamar de doutrina: vestiram o lenço kef iyeh — convertido em estandarte do Hamas — e se retiraram do recinto quando Benjamin Netanyahu começou a falar.
O gesto não foi um lapso de protocolo, mas a exteriorização simbólica de uma política externa coerente com a ideologia que a inspira. Trata-se de um antissemitismo de Estado, meticulosamente cultivado sob o pretexto da “solidariedade aos povos oprimidos”.
Ao alinhar-se visual e gestualmente com um grupo terrorista responsável pelo massacre de civis em 7 de outubro, o representante oficial (porém ilegítimo) do Brasil transmitiu uma mensagem política deliberada, cujas consequências ultrapassam o mero folclore diplomático.
Numa Assembleia Geral já historicamente marcada pela presença indecorosa de genocidas, terroristas e corruptos ofertando ao mundo suas lições de moral, o Brasil lulo-alexandrista resolveu se destacar na infâmia. Não é que o Itamaraty tenha sido tomado por idealismo juvenil ou ignorância de gabinete.
A instituição do Barão do Rio Branco foi capturada por uma visão de mundo execrável, a qual, oriunda dos piores bas-fonds universitários nacionais, inverte vítima e agressor, transformando terroristas em combatentes da liberdade e democracias em regimes genocidas. Aqui se manifesta a clássica “inversão do Holocausto”, expressão usada por historiadores do antissemitismo para descrever a apropriação distorcida da memória do genocídio judeu a fim de justificar violência contemporânea, num procedimento retórico que transforma perpetradores em vítimas e vítimas em culpados.
Pois a “inversão do Holocauso” — expediente típico dos islamonazistas contemporâneos — tornou-se a política externa brasileira no que diz respeito a Israel, numa reversão inaceitável do legado de Oswaldo Aranha.
O apoio ao Hamas
Não se trata, portanto, de simples ridículo a ser zombado. Há muito que as patifarias do descondenado-em-chefe, Celso Amorim e cia deixaram de ter qualquer graça. Trata-se, antes, de um sinal de alerta. O Brasil, sexta maior nação do planeta, está normalizando no mais alto nível diplomático o tipo de discurso que pavimentou catástrofes históricas.
Trata-se, de novo, de um antissemitismo de Estado revestido de preocupação humanista, capaz de minar a credibilidade de instituições, legitimar a violência e sinalizar que o país se coloca, deliberada e oficialmente, ao lado do terror.
Ao exibir o lenço do Hamas no concerto das nações, não se está apenas tomando partido num conflito distante, mas consagrando, de modo deliberado e quiçá irreversível, a ruptura do país com os alicerces morais e institucionais do Ocidente.
Flávio Gordon - Revista Oeste
sábado, 27 de setembro de 2025
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
'A intolerância nas universidades', por Ubiratan Jorge Iorio
Quando apenas um único ponto de vista predomina, as ideias não podem ser testadas pela realidade, o que torna a sociedade um mundo do faz de conta
O brutal assassinato de Charlie Kirk enquanto palestrava no campus da Universidade do Vale de Utah e as demonstrações de intolerância que se seguiram colocaram no centro do palco o problema gravíssimo da doutrinação ideológica nas universidades, um processo silencioso, solerte e devastador que vem acontecendo há décadas, mas que sempre foi omitido pela imprensa e pelos meios ditos culturais, por motivos óbvios.
Disfarçado de “pedagogia da libertação”, “formação crítica”, “sensibilidade social” e outras máscaras, o veneno ideológico transformou escolas e universidades em todo o Ocidente em centros de militância esquerdista e institutos de intolerância, onde somente o pensamento único é admitido e qualquer visão divergente é carimbada imediatamente de retrógrada, preconceituosa, elitista ou “fascista”. A atestar que esse triste quadro também está presente no Brasil, dentre tantos outros exemplos, está o incidente ocorrido recentemente em Curitiba, com o cancelamento das palestras que o advogado Jeffrey Chiquini e o vereador Guilherme Kilter iriam fazer — a convite dos próprios alunos — na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, pela ação intolerante de um grupo com cerca de 800 manifestantes, que cercaram o prédio e inviabilizaram a realização do evento. A polícia dissolveu a manifestação, mas as palestras não aconteceram, o que causou prejuízo aos 300 alunos que haviam se inscrito.
Deveria ser inquestionável que um dos principais objetivos da educação é formar cidadãos com uma construção plural, livres e capazes de pensar por conta própria, mas, infelizmente, o que se vê nas salas de aula e nos campi é exatamente o contrário: professores comprometidos com causas políticas de esquerda e que, não raramente, utilizam as disciplinas que ministram como pretextos para promover sua visão ideológica e até mesmo fazer política partidária.
A esquerda dita a “Educação” A hegemonia do pensamento progressista nos meios acadêmicos, no Brasil e no Ocidente, não é fruto do acaso. Desde os anos 1980, ao encampar o pensamento gramsciano e adotar a cartilha da Escola de Frankfurt, a esquerda percebeu que, para transformar a sociedade, seria necessário primeiro ocupar os espaços educacionais, culturais e artísticos.
Nessa esteira é que Paulo Freire, o patrono da educação brasileira, com aquela risível prolixidade calculada — que lhe dava ares intelectuais e lhe rendia a admiração dos boçais — sustentava que, mais do que ensinar a ler, escrever e fazer contas, a pedagogia precisava propor uma reinterpretação marxista da realidade. É a “pedagogia do oprimido”, responsável, primeiro, pela construção de gerações de brasileiros idiotas e semianalfabetos, reduzidos à condição de meros repetidores de chavões; segundo, pelo consequente desempenho vergonhoso de nossos estudantes em comparações internacionais; e, terceiro, pela produção de milhões de eleitores cativos dos partidos de esquerda.
Esse processo de fabricação de aparvalhados começa no bê-á-bá e vai até o pós-doutorado. O cenário é ainda mais visível nas áreas de ciências humanas, em que abundam “pesquisas” voltadas para o que a filósofa norte-americana Kimberlé Williams Crenshaw chamou de “interseccionalidade”, ou seja, a sobreposição e interação de temas — apresentados como formas de opressão — como racismo, sexismo, classismo, homofobia, capacitismo e outros assuntos que, na maioria das vezes, apoiam-se em premissas muito mais ideológicas do que científicas. Quem conhece o meio universitário sabe que há uma abundância de relatos de alunos, e mesmo de docentes, que foram marginalizados ou até retaliados academicamente, simplesmente por questionarem essas abordagens.
A marginalização das divergências
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de 2021 apontou que mais de 70% dos professores universitários da área de ciências humanas se identificam ideologicamente com a esquerda e que somente 6% declararam alguma afinidade com ideias conservadoras. Ou seja, diversidade de pensamento nas universidades é um bem muito escasso.
No ensino médio, o problema é o mesmo: um levantamento do Instituto Millenium de 2022 revelou que 64% dos alunos relataram já ter presenciado declarações abertamente políticas de professores em sala de aula, a maioria com viés crítico ao capitalismo, aos empresários, ao agronegócio, à economia de mercado, à família e a outros valores tradicionais, e 41% disseram que se sentem receosos de expressar opiniões conservadoras.
Ilustração: ShutterstockÉ bastante perceptível o silenciamento da visão de mundo liberal e conservadora: enquanto qualquer pensador de esquerda, por maior que seja a sua mediocridade ou a fraqueza de seus argumentos, é enaltecido, autores como Bruno Leoni, Roger Scruton, Olavo de Carvalho, Russell Kirk, Eric Voegelin e Jordan Peterson, entre muitos outros, são sistematicamente ignorados nos currículos acadêmicos. Em minha área de conhecimento, há gerações de economistas que se formaram e chegaram a completar o doutoramento sem sequer terem conhecimento de quem são, por exemplo, Thomas Sowell e Israel Kirzner e de quem foram Richard Cantillon, Frédéric Bastiat, Carl Menger, Ludwig von Mises, Friedrich Hayek, Milton Friedman e Murray Rothbard, mas que foram bombardeados com ideias de John Maynard Keynes, Celso Furtado, Paul Krugman, Joseph Stiglitz, Thomas Piketty e um sem número de outros economistas “progressistas”.
O material didático das escolas, dirigido pelo MEC e centralizado no estilo soviético, apresenta invariavelmente uma narrativa enviesada da história do Brasil, demonizando desde a família imperial ao “regime militar” e idealizando movimentos e personagens da esquerda armada como se fossem heróis da democracia. A Controladoria-Geral da União revelou, em 2020, em auditoria sobre o conteúdo dos livros didáticos, que mais de 80% das obras distribuídas pelo MEC exaltavam figuras e movimentos ligados à esquerda, enquanto personalidades de pensamento liberal ou conservador eram omitidas, ou mencionadas de forma negativa.
Em 2018, uma pesquisa do Datafolha revelou que 70% da população brasileira é contra a doutrinação política em sala de aula, independentemente da corrente ideológica. O mesmo levantamento apontou que 65% dos brasileiros acreditam que os professores devem se abster de expor suas opiniões políticas durante as aulas. Nos Estados Unidos, a Heterodox Academy, organização fundada em 2015 por Jonathan Haidt para promover a diversidade política nos campi universitários, em estudo de 2020, mostrou que mais de 70% dos professores da área de ciências humanas se identificam como liberals (“progressistas” no contexto norte-americano), enquanto menos de 10% se declaram conservadores. Em 2019, reportagem do jornal britânico The Times informou que 46% dos acadêmicos conservadores do Reino Unido disseram se autocensurar por medo de retaliação.
Por sua vez, o Instituto Paraná Pesquisas, em 2017, apurou que 80,3% dos professores da educação básica avaliaram positivamente os governos do PT, sinalizando um predomínio “progressista” entre educadores, o que inevitavelmente se reflete na formação dos alunos.
Nas aulas de História, Sociologia e Ciência Política, em todos os níveis de ensino, o capitalismo é invariavelmente apresentado como um sistema opressor e a liberdade econômica como um elemento concentrador de riqueza, enquanto o socialismo é tratado com uma simpatia burra e doentia, que ignora sem qualquer cerimônia seus incontáveis fracassos históricos e seus muitos milhões de mortos, mas cuida de impor uma visão única que condiciona o aluno a adotar a postura política desejada pelos “educadores”.
Doutrinação ideológica e intolerância
Mas a doutrinação ideológica vai além de moldar opiniões: além das distorções irrecuperáveis que provoca nas mentes, ela alimenta a intolerância e, em casos extremos, é usada para legitimar a violência. O assassinato recente de Charlie Kirk, pelo simples fato de ser um ativista conservador, além de chocar o mundo, expôs um fenômeno perturbador: as não poucas reações de indiferença ou até de escárnio vindas de setores da mídia e de indivíduos e grupos militantes de esquerda, em todo o Ocidente, com as subsequentes reações da direita.
É evidente que tal comportamento desumano e cruel não tem explicação isolada, por estar inserido no “estado geral das artes” descrito acima, em que, durante décadas, universidades e espaços culturais vêm apresentando e impondo apenas uma narrativa política — a sua! — como moralmente legítima. A doutrinação ideológica nas salas de aula e nos meios de comunicação cria uma divisão maniqueísta, em que os que compartilham a agenda “progressista” são vistos como virtuosos e os que discordam são rotulados de “extremistas”, “inimigos da democracia” ou do “Estado Democrático de Direito”. Quando esse enquadramento se torna hegemônico e o que deveria ser regra — a pluralidade — passa a ser exceção, torna-se manifesto que a intolerância deixa de ser tratada como uma falha moral a ser desprezada, para ser considerada como um dever patriótico, um ato “antifascista” de bravura a ser cultivado e que garante uma vaga no “clube dos bonzinhos”.
Esse desprezo pela morte criminosa e brutal de um adversário político não surge do nada, mas é fruto de muitos anos de ações sistemáticas para deslegitimar as diferenças, ridicularizar os valores conservadores e hostilizar o verdadeiro debate, cultivadas em ambientes onde, paradoxalmente, fala-se o tempo todo em “diversidade” e em “combater extremismos”, mas em que a pluralidade intelectual é substituída pela aceitação ideológica passiva e o verdadeiro extremismo está dentro de casa, esparramado no sofá e com as pernas na mesinha. Com efeito, décadas de doutrinação “justificam” que qualquer opositor seja enfrentado não com argumentos, mas com agressões físicas ou mesmo tiros de fuzis, e que palestrantes que têm ideias opostas ao padrão permitido sejam impedidos de falar em universidades públicas.
A defesa do pluralismo
Infelizmente, a tirania da maioria pode ser tão opressiva quanto a de um déspota. Quando o verdadeiro pensamento crítico é sufocado e até a violência é relativizada, desde que dirigida ao “inimigo certo”, a própria democracia entra em risco. A doutrinação ideológica não apenas distorce o debate público, mas abre e asfalta o caminho que leva a sociedade a tratar a intolerância como uma virtude a ser ensinada às crianças.
A concentração ideológica, ao empobrecer o debate e influenciar a formação de professores, juristas, jornalistas e gestores, é muito mais prejudicial à evolução das sociedades do que se costuma imaginar. Thomas Sowell, em Intellectuals and Society (2009), alertou que, quando apenas um único ponto de vista predomina, as ideias não podem ser testadas pela realidade, o que torna a sociedade um mundo do faz de conta.
É preciso restaurar o pluralismo e garantir que as salas de aula, os jornais e as redes sociais sejam palcos de debates genuínos entre ideias divergentes. Esperamos que o triste episódio da morte de um jovem que só discutia com argumentos seja um marco e que a partir dos Estados Unidos se inicie e irradie para o mundo livre um processo de resgate do equilíbrio, do respeito às diferentes visões, da responsabilidade pedagógica e, portanto, da libertação dos jovens da prisão ideológica em que foram lançados.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor
Revista Oeste
Sílvio Navarro - 'O sistema não quer a anistia'
As forças ocultas de Brasília se unem para tentar empurrar um projeto de redução das penas aos presos políticos, mas que mantenha Jair Bolsonaro sufocado e impedido de atuar nas eleições
D esde a semana passada, uma pergunta permanece sem resposta na cabeça de centenas de milhares de brasileiros: por que o Projeto de Lei da anistia empacou no Congresso Nacional? E ainda: onde estão os 311 deputados que deram aval para que ele fosse votado em regime de urgência — ou seja, era algo para ontem?
Se a política que se respira nos corredores do Congresso fosse uma ciência exata, a resposta seria simples: a esquerda, que sustenta o governo Lula da Silva, não quer aprovar a anistia. Ocorre que essa conta não fecha: a base lulista é frágil e não tem votos sequer para emplacar um projeto de interesse do presidente. O bloco do PT e seus satélites nanicos reúne 80 cadeiras, que chegam a 130 com o apoio de partidos como PSB, PDT e mais alguns votos no varejo. Portanto, a conclusão óbvia seria: a anistia tem número suficiente.
Para deixar a cabeça do eleitor ainda mais confusa, outro dado importante é que o Regimento Interno facilita a aprovação de projetos de lei simples, que não exigem quórum qualificado, como uma emenda constitucional — esta requer o mínimo de 308 votos, em dois turnos, no Plenário. Para avançar com um projeto de lei, basta ter metade mais um dos presentes na sessão — por exemplo, com 400 deputados dentro do Plenário, 201 votos resolvem. Isso também explica por que a oposição comemorou tanto a aprovação da urgência para votar a anistia na semana passada — urgência exige o mínimo de 257 votos. Novamente, qual a conclusão? É mais fácil aprovar a anistia do que foi vencer a batalha para colocá-la em regime de urgência.
Então, se agora resta a etapa mais fácil, por que o país não pode dormir numa terça ou quarta-feira (dias de quórum cheio) festejando a aprovação do projeto? É aqui que entra um sujeito oculto, que muitos políticos e a velha imprensa buscam descredenciar, chamado “sistema” — a engrenagem do poder. Foi esse sistema que colocou seus operadores em ação, menos de 24 horas após a aprovação da urgência da anistia. Logo depois, o sistema anunciou que ela morreu na praia. O assunto, de fato, murchou nesta semana e transmitir a ideia de que ela é inconstitucional é parte do plano de sabotagem.
Deputado Paulinho da Força | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Aos fatos: no dia seguinte à votação, o presidente da Câmara, Hugo Motta, escalou o deputado Paulinho da Força para ser o relator da matéria mais importante do país. Paulinho ficou 13 anos seguidos na Câmara até ser condenado, em 2020, a mais de dez anos de prisão pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), à época com outra formação. Ele foi acusado de participar do desvio de R$ 350 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Três anos depois, em 2023, o ministro Alexandre de Moraes utilizou um recurso chamado “embargo declaratório” para reverter a condenação no plenário. Esse tipo de recurso não tem essa finalidade: os advogados usam para esclarecer algum trecho confuso da sentença. Até hoje, juristas não entendem o malabarismo de Moraes para reverter um julgamento com essa ferramenta — algo feito por meio de embargo infringente. Desde então, a relação entre Paulinho e Moraes é assunto nos corredores da capital federal.
Em novembro de 2023, Paulinho conseguiu reassumir o posto de deputado federal depois da cassação pela Justiça Eleitoral de Marcelo Lima, do PSB, de quem era suplente. Com 64 mil votos nas urnas, ele é líder de uma central sindical decadente, que rivaliza com a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Não tem formação em Direito nem é lembrado pelo saber jurídico. Não há registros de um discurso histórico na tribuna em quase duas décadas. Mas, naquele que pode ser o seu último ano na Câmara, o deputado tem muitas contas a pagar.
Tão logo foi escolhido a dedo para a missão, Paulinho se reuniu com o ex-presidente Michel Temer, responsável por enviar Alexandre de Moraes ao STF, e o também deputado Aécio Neves, que, assim como o relator, não eram vistos em Brasília há anos. Aécio também tem uma fatura a acertar com a Corte: ele foi flagrado em conversas pedindo propina ao empresário Joesley Batista na época da Lava Jato. Chegou a ser afastado do Senado e só não perdeu o mandato por um acordo de bastidores, que o obrigou a sair de cena e voltar para a Câmara sem ser notado por dois mandatos.
O tucano não só reapareceu na TV, como tem conduzido as entrevistas ao lado do relator. Afinal, por que resgataram Aécio? Desde o vazamento de áudios da Lava Jato, que por muito pouco não o aposentaram, foi exposta sua amizade com o decano do STF, Gilmar Mendes. E o ministro decidiu negociar algo com o Congresso para tentar abafar as manifestações da direita nas ruas à medida que o calendário eleitoral se aproxima.
Foi então que surgiu a proposta indecente do “Projeto de Lei da Dosimetria”. Embora presuma-se que a autoria seja de Gilmar Mendes e Michel Temer, não se sabe a paternidade real do monstrengo jurídico. O texto prevê a redução de 11 anos nas penas dos envolvidos no tumulto de 8 de janeiro de 2023, por meio de alteração do Código Penal e de um dispositivo que impede a sobreposição de penas para crimes parecidos. O resultado seria a liberdade para praticamente todos, inclusive os que estão no exterior. Atualmente, há 144 pessoas em penitenciárias, 44 em prisão domiciliar e 500 consideradas foragidas (no exterior ou sem rastreamento da tornozeleira).
Uma das raras exceções é o ex-presidente Jair Bolsonaro. Condenado a mais de 27 anos de prisão, ele passaria um ano e sete meses em regime domiciliar por causa de problemas de saúde, usando como referência o benefício dado a outro ex-presidente, Fernando Collor de Melo. Bolsonaro, porém, permaneceria impedido de concorrer ou fazer campanha para aliados em 2026. A proposta colocada na mesa é claríssima: o sistema não quer Bolsonaro no jogo eleitoral.
Paulinho e Aécio percorreram gabinetes de líderes partidários nesta semana. Também houve uma reunião aberta, com a presença de familiares e advogados dos presos políticos de 8 de janeiro. O relator disse que entregará seu texto a Hugo Motta na próxima terça-feira para votação no plenário. Não há nenhum indicativo de que tenha mudado de ideia. O PL, principal partido de oposição, não topa o texto de Paulinho. Isolado, contudo, não tem votos suficientes para reverter o cenário.
Derrubar o relator, como alguns chegaram a sugerir nos microfones, é uma decisão particular de Hugo Motta. Trata-se de um beco sem saída? Não. Porque aí entra a política e, historicamente, sempre foi assim em grandes votações — como a própria Lei 6.683, a simbólica Anistia de 1979, que saiu do Congresso como “ampla, geral e irrestrita”.
Alguns deputados mais experientes argumentam que seria possível redigir outro parecer, chamado de “substitutivo” no jargão do Congresso, com caráter de anistia e não de dosimetria. Restaria o trabalho de convencer, na tribuna, a maioria da Casa de que esse texto é melhor. Detalhe: a votação ocorre em turno único, ou seja, se passar em votação acelerada, segue diretamente para o Senado. Outra possibilidade muito comum é tentar remendar o próprio texto de Paulinho, depois de aprovado, com os chamados “destaques” — ajustes pontuais, mas decisivos. Nesse caso, não seria uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, mas algo melhor do que o texto de Paulinho.
É impossível fazer previsões quando se trata do Congresso Nacional. Brasília sempre encontra seus próprios caminhos. As coisas podem mudar muito depressa, sobretudo quando entra em cena outro sujeito, aquele que é capaz de escrever a História: o povo. A Câmara dos Deputados é conhecida, desde que foi erguida no centro da Praça dos Três Poderes, como a Casa do Povo. É hora de o povo dizer aos deputados o que deve acontecer dentro da sua casa.
Sílvio Navarro - Revista Oeste
'A ONU e Lula continuam os mesmos. Trump e o mundo, não!', por Adalberto Piotto
A chancela da organização sempre carregou credibilidade, o problema é quando um lado apenas controla esse privilégio
E mbriagado pelo poder de seu consórcio com o Supremo Tribunal Federal, dentro do Brasil, e falando a uma plateia dócil de globalistas que vive a vida boa e segura da democracia capitalista, em Nova York, Lula ficou confuso quando o País foi citado por Donald Trump, em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU. No momento em que o presidente americano dedicou pouco mais de dois minutos ao País, logo após denunciar a Venezuela como um narcoestado, as câmeras de TV flagraram o presidente brasileiro desatento, atabalhoado, que parecia não saber o que estava acontecendo. Coube a Celso Amorim, o embaixador de fato, e a Mauro Viera, o ministro de Relações Exteriores formal, alertar Lula de que Trump o mencionara.
Mesmo com o aparelho de tradução simultânea no ouvido, o presidente brasileiro mostrou não estar prestando atenção ao momento singular. No que estaria pensando, então? A cara fechada com indisfarçável mauhumor de Janja, a primeira-dama, também distante e perdida, é outra daquelas imagens que revelam muito do casal presidencial. Liturgia, sobriedade diplomática ou simplesmente boa educação em ouvir quem está falando de seu País na ONU, nada disso foi contemplado pelos milhões de pessoas que acompanhavam a transmissão da sessão. O oposto, sim. Recompostos pela urgência do momento, voltaram-se ao discurso.
O aceno de Donald Trump a Lula foi inesperado. Em forma e conteúdo. Mas só o aceno. O contexto de todo o discurso em que denuncia tudo o que Lula defende no mundo e o trecho sobre o Brasil, que reproduzo abaixo, recomendam cautela diante das interpretações apressadas e eufóricas da esquerda diante da revelação do abraço entre os dois e sobre o rápido encontro que tiveram nos bastidores. Quando se referia a esse momento mais, digamos, simpático, Trump aparentemente saiu do roteiro, mas é importante notar o que disse antes e depois deste aceno, que destaco na fala:
— O Brasil agora tem tarifas imensas em resposta aos seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e na liberdade de cidadãos americanos e de outros por meio de censura, repressão, corrupção judicial e perseguição política de críticos nos Estados Unidos. — Eu tenho um pequeno problema em lhes contar isso, mas devo dizer: eu estava chegando e o líder do Brasil estava saindo. Nós nos vimos, eu o vi, ele me viu e nós nos abraçamos. E você pode acreditar porque eu vou dizer isso em apenas dois minutos. Nós concordamos em nos encontrar na semana que vem. Nós não tivemos muito tempo para falar, só 20 segundos mais ou menos, mas foi bom que eu tenha esperado (nos bastidores) porque as coisas não têm funcionado bem. Mas nós conversamos, tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na próxima semana, se isso for interessante. Ele pareceu uma boa pessoa. Ele gosta de mim, eu gosto dele. E eu só faço negócio com quem eu gosto. Quando eu não gosto, não gosto. Por 39 segundos nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal. — Mas no passado, você pode acreditar, o Brasil tarifou os EUA de forma injusta. E, por isso, nós também aplicamos altas tarifas de volta. Como presidente, eu defendo a soberania e os direitos dos cidadãos americanos. Eu lamento dizer que o Brasil está indo mal e continuará indo mal. Eles só irão bem se trabalharem conosco. Sem a gente, eles vão falhar, como outros falharam. É verdade.
Trump critica censura e perseguição política no Brasil e relata encontro breve com Lula | Foto: REUTERS/MIKE SEGAR
Depois da ranhetice quase infantil de Lula que, apesar dos problemas que o tarifaço causa à economia brasileira, negava-se a tomar a iniciativa do contato — algo que ficou evidente na entrevista desconexa que concedeu à BBC dias atrás — Trump foi o adulto da relação e esperou para ter o encontro de bastidor. A esquerda e parte de sua representação na mídia chegaram a comemorar como se fosse um prêmio. Não deixa de ser estranho. Até outro dia, Trump era o “fascista”. Um biscoito em forma de aceno bastou para mudarem de opinião ou era só implicância? Fato é que ao narrar o tal abraço e a aproximação mútua em seu discurso no palco da ONU, Trump expôs Lula aos parceiros preferenciais do petista. O que pensarão um desconfiado Xi Jinping e Vladimir Putin, companheiros de Brics? À sua maneira, Trump pode ter causado de propósito um deslumbre na equipe de Lula. Porque sobre isso não há dúvida. Ficaram deslumbrados. No mais, antes do suposto afago, denunciou “censura, repressão, corrupção judicial e perseguição política” no Brasil. É onde a verdade está e pode ser comprovada, seja pela perda de vistos de aliados do Palácio do Planalto ou pela aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes e à sua mulher por decisão da Casa Branca.
A própria ordem dos discursos favoreceu Trump, visto que por tradição o representante do Brasil é o primeiro a falar. E como era de se esperar, a pretensão de Lula em se imaginar um líder global — há muito tempo escanteado pela sensatez internacional — o fez repetir a ladainha da soberania brasileira, ao reclamar das tarifas e sanções, e defender a condenação de Bolsonaro na Primeira Turma do STF — naquele momento pareceu prestar contas ao parceiro de consórcio que o reabilitou politicamente. Na seara internacional, ficou longe do que pensa a maioria dos brasileiros, como de praxe. Condenou Israel, onde é persona non grata, e foi incapaz de exigir a libertação dos 20 reféns israelenses — como Trump faria a seguir — que ainda estão em poder dos terroristas do Hamas.
Até condenou o ataque de 7 de outubro, mas comparou a operação das Forças de Defesa de Israel a um genocídio. Um escárnio. Até porque é essencial lembrar que o atual conflito só começou depois que o Hamas invadiu o solo israelense. Naquele dia, os terroristas do grupo mataram e sequestraram homens, mulheres, idosos, jovens e bebês. Famílias inteiras foram vítimas do mais brutal ataque a civis desde o 11 de Setembro. Logo depois, num outro momento, insistiu na teoria do Sul Global e não condenou o governo de Maduro, na Venezuela. Vale a descrição deste momento do discurso de Lula:
— Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento. Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias. A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela.
Era notório que reclamava das ações da Casa Branca contra o narcotráfico na região. A fixação lulista em proteger o tirânico regime de Maduro é inexplicável apenas pela ideologia. Que outro interesse Lula teria em manter seu ditador de estimação na Venezuela? Ou que esforço fez, usando a “via do diálogo” que reclama, para convencer Maduro a deixar o poder, depois de mais uma fraude explícita na última eleição? Ou para fazê-lo parar a perseguição a opositores como María Corina Machado, a líder da oposição?
Nada. Ou para nada que tenha sido efetivo. Talvez porque, no Brasil, Lula apoia a perseguição política do Supremo ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a vítima mais evidente do mesmo tipo de perseguição política desta crescente e preocupante venezuelização tupiniquim sob seu governo. Mas o ápice da desconexão com a realidade viria a seguir, quando Lula defendeu que não se poderia comparar criminalidade com grupos terroristas. No Brasil, onde facções já estão infiltradas na política, no Judiciário, na polícia e na economia? A resposta a Lula viria a seguir, como política de Estado real e efetiva contra o narcotráfico do terror na América Latina.
Era a vez de Donald Trump. Ao criticar diretamente a burocracia e a ineficiência da ONU e de organizações multilaterais que se perderam no tempo, tamanha a irrelevância dessas entidades ou tamanhos os escândalos que protagonizaram, Trump não angariaria muitos aplausos em meio ao seu discurso. Foi interrompido apenas uma vez ao defender textualmente a libertação dos civis israelenses em poder do Hamas. Mas o silêncio apreensivo dos mesmos burocratas, durante os 56 minutos de seu discurso, foi eloquente. Trump trouxe números, defendeu a economia do livre mercado e ressaltou a recuperação de investimentos nos Estados Unidos, depois do pífio governo de Joe Biden. Defendeu as liberdades das pessoas e fez forte crítica às agendas ambientais e de imigração do globalismo que automaticamente bloqueiam quem pensa diferente. Foi à ineficiência da ONU nas últimas décadas que Trump dedicou suas mais severas críticas. Não é de hoje que se questiona a efetividade da Organização.
Daí, Trump só colocou ainda mais luz à pergunta: como se permitiu que determinados grupos de interesse político dominassem as Nações Unidas para apenas legitimar seu discurso em detrimento de outros? A chancela da ONU sempre carregou credibilidade, é inegável. O problema é quando um lado apenas controla esse privilégio em detrimento de outros.
É inegável que a crítica dura de Trump às fontes de energia verde mereçam uma melhor contextualização. O Brasil, por exemplo, é exemplo de sucesso de como fontes alternativas podem conviver lado a lado com o petróleo e garantir segurança energética. Desde o etanol, no final dos anos 70 do século passado, até os novos biocombustíveis, a sólida matriz hidrelétrica e as inovações dos parques eólicos e solares.
Por outro lado, ao criticar europeus que, em determinado momento no passado, transformaram a energia sustentável em ditadura, é impossível não considerar este ponto de seu discurso:
— Eu odiaria ver a Europa arrasada pela energia (limpa) e pela imigração. Esse monstro de duas caudas destrói tudo. Vocês querem ser politicamente corretos e estão destruindo sua herança… Então, a Europa conseguiu reduzir sua pegada de carbono em 37%. Parabéns, Europa. Ótimo trabalho. Isso custou empregos, muitas empresas fecharam, mas vocês reduziram em 37%. Todo esse sacrifício não fez diferença porque houve um crescimento de 54% nas emissões, muito vindo da China e arredores. A China e países vizinhos produzem mais CO₂ do que todas as nações desenvolvidas juntas.
O fato não pede licença. Sim, a China e arredores vendem ao mundo bilhões em produtos sem se preocuparem com a pegada de carbono, a mesma que limita a economia no restante do mundo. É esse mundo ocidental apenas que está na mira de ONGs de acadêmicos obscuros. Entre as quais, as mesmas que atormentam o agronegócio brasileiro, financiadas por fundações e grupos de interesse pouco transparentes. Por que o mundo não se junta para protestar contra a China? Há ditadura, massivo consumo de combustíveis fósseis e perseguição às liberdades. O mundo ocidental pode ter defeitos, mas sempre haverá uma democracia que permite o debate. E lá? O discurso do presidente americano, que ainda justificou a ação no mar da Venezuela contra o cartel de drogas do ditador venezuelano — “cada barco afundado pela Marinha tinha potencial de matar 30 mil americanos” — expôs a hipocrisia dessa turma toda. Há uma máxima da história recente do mundo que diz que até antes da Segunda Guerra Mundial, a eleição nos Estados Unidos só interessava aos americanos. Depois, passou a interessar ao mundo. A eleição de Trump é prova inconteste disso.
Fato é que duas datas definiram a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York: os 80 anos de fundação da própria ONU, ressaltados pelo secretário-geral António Guterres, e os 250 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, que serão comemorados no ano que vem, como lembrado por Trump. Somente uma mantém os valores originais de sua fundação. A inequívoca garantia de liberdade das pessoas, da defesa da igualdade e dos direitos naturais do cidadão ainda permanecem na Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América
\Adalberto Piotto - Revista Oeste