NOVA YORK
Cinquenta anos depois, 1968 finalmente acabou no Brasil com a eleição do candidato Jair Bolsonaro (PSL), afirmou Carlos Ivan Simonsen Leal, presidente da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Em palestra a executivos e personalidades brasileiros e americanos na Brazilian-American Chamber of Commerce, em Nova York, na quinta-feira (1º), Simonsen Leal disse que o novo governo representa uma ruptura com a mentalidade que direita e esquerda sustentavam até então e que tinha suas origens em 1968.
Naquele ano, estudantes realizaram em Paris protestos em que pregaram, entre outras coisas, o fim do capitalismo, dando origem a uma geração de políticos com o pensamento mais voltado ao social e a um Estado com peso maior.
“Há uma esquerda e uma direita que pensam que nós estamos em 1968, que pensam que o melhor negócio do mundo é uma siderúrgica. E não é a siderúrgica. O lucro anual da Google compra uma siderúrgica”, diz.
“Por que não somos capazes de fazer um Google? Inovação, mercado de capitais e insuficiência de crédito. Quais são as razões disso? Há um monte de razões. Essas razões são os incentivos, têm a ver com a montagem.”
Na França, afirma, essa mentalidade acabou depois que o presidente François Mitterrand (1981-1995), o primeiro socialista eleito para o cargo no país, adotou políticas econômicas consideradas fracassadas.
Ele foi substituído por Jacques Chirac (1995-2007), que adotou medidas de austeridade com cortes orçamentários —desafio semelhante ao que aguarda Bolsonaro.
A mudança de mentalidade passou ainda por uma reformulação da discussão capital-trabalho, algo que ficou mais evidente após a reforma trabalhista aprovada pelo governo de Michel Temer.
“Se você é empresário de si mesmo, você olha a relação capital-trabalho de outro jeito. Você não quer tantas garantias. Você quer que a empresa invista para alavancar seu trabalho”, diz.
Dentro das medidas de austeridade, a reforma da Previdência deve provocar mais controvérsia, como já ocorreu durante o governo Temer.
“O que você tem que dizer é falar com as pessoas que só podem se aposentar se tiverem 65 anos, se homens, e 63, se mulheres”, defendeu. E a discussão passa por rever o conceito de direitos adquiridos.
“Ninguém nunca diz de quem eles foram adquiridos. Eles foram adquiridos à custa de todo o mundo. Todo o mundo tem que pagar a conta. Foram adquiridos à custa de nossos filhos, netos, e assim em diante”, afirmou.
Mas sem confrontação. “As pessoas têm que entender que a discussão do Orçamento é parte da democracia. Eu quero que meu representante vá lá e discuta os gastos. Eu quero que meu representante acompanhe os gastos, para saber se o que ele discutiu foi aquilo que está sendo executado.”
Danielle Brandt, Folha de São Paulo