sexta-feira, 2 de novembro de 2018

"O rabo e a porca", por Miranda Sá

“A pátria de um porco encontra-se por toda a parte onde há bolotas”. (François Fénelon)
Houve uma época muito antes dos cinemas exibirem a futurologia das séries de Flash Gordon e da entrada triunfal da Internet no concerto das nações. Imaginem que então se discutia qual das duas ferramentas da cultura, a imprensa e o livro, seria extinta em primeiro lugar.
“O livro absorverá o jornal? O jornal devorará o livro? ” – São duas perguntas escritas por Machado de Assis no artigo “O Jornal e o Livro”, em que o fundador da Academia Brasileira de Letras fez uma extraordinária defesa do jornal.
Bons tempos aqueles em que o jornal tinha compromisso com a verdade sem pender em apoio ao pensamento dos anunciantes e muito menos submeter-se à defesa do governo auferindo verbas públicas.
Na época de Machado, o jornal era, para ele, a “literatura cotidiana”, reproduzindo o espírito do povo, “espelho comum de todos os fatos e de todos os talentos, onde se reflete, não a ideia de um homem, mas a ideia popular, esta fração da ideia humana”.
Cito Machado, sem dúvida um dos maiores escritores da língua portuguesa, cuja obra leio e releio permanentemente. Louvo-o como intelectual e como pessoa humana que ocupa o vértice da sociedade brasileira como jornalista, escritor e pensador, que foi.
Respeito o homem Joaquim Maria Machado de Assis como neto de escravos alforriados, nascido e criado na pobreza no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, tendo atingido a glória sem coitadismo e sem cotas…
O livro e o jornal são, sem dúvida, manifestações do movimento no mundo social. É inegável, porém, que diferente do passado, o livro e principalmente o jornal, se movem mais para o mundo econômico… E, falando em movimento, veio a minha cabeça a sinuosidade do rabo da porca.
É por causa do dinheiro a decadência da imprensa. Assim, valho-me do chiste popular que o Dicionário de Expressões Populares Portuguesas define como uma posição diante da dificuldade, “Chegou a hora da decisão”.  “É agora ou nunca”.  “Tem que resolver é agora”.
Estes significados se deparam com a crítica feita pelo presidente eleito Jair Bolsonaro à Folha de São Paulo e o consequente socorro corporativo de jornalistas, e a defesa do jornal pelos coirmãos que se penduram no úbero farto dos governos populistas.
O Brasil não quer a “resistência” às mudanças. É chegada a hora de remover a craca da politicagem no casco do nosso navio. Pouco importa a origem do hábito, mas a verdade é que os governos anteriores usavam vultosas verbas publicitárias para comprar apoios na mídia e conquistar a simpatia de alguns profissionais de imprensa.
Perante os problemas que se acumularam anos a fio, exige-se o enfrentamento corajoso para enfrentá-los e resolvê-los; no caso da Folha de São Paulo, mesmo de menor importância, é uma pedrada em casa de maribondos. Esvoaçam com seus ferrões os “defensores da imprensa livre”, os inconformados com a derrota nas urnas e, de carona no enxame, zumbem os patoteiros do “lula livre” fazendo apologia ao crime…
Com sua linguagem simples, compreensível para o povão, e a decisão de cumprir as propostas de campanha, o presidente eleito Jair Bolsonaro precisa como nunca do apoio popular; a campanha eleitoral acabou, mas o inimigo sorrateiro da Pátria se mantém fazendo sabotagens.
É aí que a porca torce o rabo. A luta continua!