segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Bolsonaro diz que fará 'tudo que for legal' para extraditar Cesare Battisti

O presidente eleito, Jair Bolsonaro ,  disse na tarde desta segunda-feira que fará "tudo o que for legal" para extraditar "imediatamente" o ex-ativista italiano Cesare Battisti . Bolsonaro fez a afirmação em entrevista à TV Band, após ter discutido o assunto com o embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, pela manhã.


O embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, ao lado do presidente eleito Jair Bolsonaro Foto: Divulgação


- Ele [ex-presidente Lula] decidiu, no apagar das luzes, dar status de refugiado a um terrorista italiano chamado Cesare Battisti. O que disse é que tudo o que for legal da minha parte nós faremos para devolver este terrorista para a Itália, disse Bolsonaro sobre o encontro com o embaixador italiano.


Questionado, então, se na opinião dele Battisti deve ser extraditado, o presidente eleito respondeu:
- Volta para a Itália, sim, imediatamente. Volta para lá. Vai depender do Supremo Tribunal Federal esta decisão.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu hoje ao Supremo Tribunal Federal (STF), preferência para o julgamento da ação sobre Battisti.
Em outubro do ano passado, o ministro do STF Luiz Fux concedeu liminar que garante que Battisti não seja expulso, extraditado ou deportado do Brasil. Segundo o ministro, o plenário do STF precisa julgar se a decisão do ex-presidente Lula de não extraditá-lo em 2009 pode ser revista. A Corte não tem data marcada para debater a questão.
Pela manhã, o embaixador conversou por cerca de uma hora com Bolsonaro na casa do presidente eleito, no Rio. Segundo Bernardini, há sintonia entre as visões do presidente eleito e do governo italiano sobre o caso.
- Claro que falamos do caso Battisti. O caso é muito claro, a Itália está pedindo a extradição e o caso é discutido no Supremo Tribunal Federal. Esperamos que o Supremo tome a decisão no prazo mais curto possível - afirmou.
- Ele tem a mesma ideia que eu sobre o caso.
Além de discutir a extradição, a delegação italiana tratou da ampliação das relações comerciais e da cooperação entre as nações depois da posse do novo governo. Há tratativas para uma visita do presidente brasileiro à Itália, mas "tudo será definido no futuro", garantiu.
- Foi uma conversa muito simpática. O nome Bolsonaro é de origem italiana, o presidente falou da origem da família - relatou.
- Temos uma presença no Brasil que é histórica, claro que estamos olhando as possibilidades para no futuro aumentar a presença italiana e cooperar com o Brasil.
Mais cedo, Bolsonaro recebeu uma comitiva diplomática chinesa, liderada pelo embaixador do país no Brasil, Li Jinzhang. Maior parceiro comercial do Brasil, a China foi alvo de críticas de Bolsonaro durante a campanha eleitoral.

ENTENDA O CASO BATTISTI

Battisti teve sua extradição requerida pela Itália em razão de ter sido condenado naquele país a prisão perpétua por quatro assassinatos na década de 1970, quando era integrante de um grupo militante de esquerda. No entanto, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu, no final de 2010, conceder a Battisti status de asilado no Brasil.
Em outubro do ano passado, Battisti foi detido em Corumbá (MS), cidade próxima à fronteira com a Bolívia, carregando dólares e euros em espécie, numa indicação de que poderia estar planejando uma fuga do país, o que levou a Itália a reiterar seu pedido ao governo brasileiro pela extradição.
Battisti, no entanto, foi solto por ordem da Justiça e responde ao processo em liberdade, sob algumas medidas restritivas.
Na década de 1970 Battisti pertenceu ao grupo guerrilheiro chamado Proletários Armados pelo Comunismo. Ele escapou da prisão em 1981 e morou na França antes de seguir ao Brasil para evitar ser extraditado para a Itália.


Igor Mello, O Globo