quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Com racionamento de energia, PIB pode retrair 1,5%, estima Credit Suisse

Renata Agostini - Folha de São Paulo


Um eventual racionamento de energia neste ano pode levar à contração de 1,5% na economia do país, estima o banco Credit Suisse.

Segundo a instituição, por causa dos níveis atuais dos reservatórios de água e da falta de chuvas, a chance de um racionamento está agora em 40%. No final do ano passado, o banco estimava que a probabilidade de restrição de acesso à energia era de menos de 20%.

Ueslei Marcelino/Reuters
Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, durante a reunião ministerial desta terça (27), em Brasília
Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia, durante a reunião ministerial desta terça (27), em Brasília

"Basicamente, se considerarmos o que ocorreu em 2001, calculamos que, para cada 10% de racionamento durante um ano, teríamos um ponto percentual de PIB a menos", disse Daniel Lavarda, economista do Credit Suisse, durante evento promovido pelo banco nesta terça-feira (27) em São Paulo.

Se não houver racionamento, a economia brasileira deve recuar 0,5% em 2015, calcula o banco –a crise na Petrobras contribuiu para a que a instituição revisasse para baixo sua estimativa para o desempenho da economia para esse índice.

Segundo o economista-chefe do banco, Nilson Teixeira, a estatal forçou um corte de 0,2 ponto percentual na projeção do PIB (Produto Interno Bruto). "A Petrobras representa cerca de 10% de todos os investimentos do país", afirmou.

IMPACTO

A instituição afirma que, caso o governo decrete racionamento após o término do período de chuvas, em abril, haverá um forte impacto na atividade no segundo e no terceiro trimestre.

"Em 2001, o impacto foi visto no trimestre do anúncio e, logo em seguida, quando tivemos a maior redução", afirmou Lavarda.

O crescimento de 2016 também seria afetado. O Credit Suisse estima que, por causa dos ajustes feitos neste ano, a economia brasileira voltaria a crescer no próximo seguinte, registrando expansão de 1,5%. Caso haja racionamento, contudo, o aumento no PIB deve ficar em apenas 1%, projetam os economistas.

"Isso levaria provavelmente ao carregamento estatístico para o ano que vem. 
Teríamos um ponto de partida em 2016 muito menor do que esperávamos há alguns meses", disse Lavarda.

INFLAÇÃO

Para o banco, a inflação este ano deve ficar sempre acima de 7%, situação que não se via desde 2003, afirmou o economista-chefe da instituição, Nilson Teixeira.

O eventual racionamento de energia pode pressionar ainda mais os preços, levando a um acréscimo de 0,7 ponto percentual na taxa, de acordo com o banco. 

A inflação terminaria o ano em 7,8%.

"Ocorreria principalmente por conta de um aumento ainda maior nas tarifas de energia, água e esgoto e por uma maior inflação de alimentos, principalmente a dos alimentos in natura", afirmou Iana Ferrão, economista do banco.

Para o Credit Suisse, há dúvidas de como o governo reagiria num cenário de inflação ainda mais alta e redução mais brusca da atividade.

"Não está claro se manterá os ajustes ou se voltará à política de alíquotas de impostos e subsídios", afirmou o economista do Credit Suisse Leonardo Fonseca.
O banco afirma, contudo, que o mais provável é o resgate de políticas de incentivo aos setores produtivos e aumento maior na taxa de juros.