sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

"Riscos sistêmicos", por Eliane Cantanhêde

O Estado de São Paulo


A presidente Dilma Rousseff nunca fala do seu primeiro mandato, ou só fala para enaltecer o Pronatec e o Minha Casa, Minha Vida. Por que será? Quando é de economia, vai buscar os oito anos de Lula. Quando fala dos ganhos sociais, refere-se aos 13 de PT. Quando é de Petrobrás, despreza o passado e joga para o futuro. Um futuro incerto e não sabido.
A Petrobrás é hoje o grande vexame nacional. Acumula má gestão, escândalos, balanços mequetrefes, quedas estonteantes do seu valor de mercado, processos na Justiça norte-americana. Tudo somado, chega-se a uma perda infinitamente maior, e mais doída, do que os bilhões de reais e dólares sugados pela corrupção.
Ninguém ousa falar, nem ao menos pensar alto, na hipótese da quebra da maior e mais simbólica empresa brasileira. Mas o pavor de dois riscos sistêmicos começa a surgir sutilmente até mesmo das falas da presidente e de altos escalões da República.
O primeiro é sobre a economia. A Petrobrás é o centro de uma engrenagem que movimenta centenas de empresas, bilhões de reais e milhões de pessoas. Se ela engasga, a máquina para, as empresas perdem grandes negócios, mamatas e crédito. Os bancos acendem o sinal amarelo. As pessoas perdem emprego e renda.
E ela está engasgando. O governo do Rio (aliado ao Planalto) ameaça cancelar os benefícios fiscais da Petrobrás, os consórcios estão se livrando das parceiras metidas na Operação Lava Jato, empreiteiras sinalizam com pedido de recuperação judicial, as demissões já começaram.
É por isso, pelo pavor do risco sistêmico, que Dilma disse que "nós temos de punir as pessoas, e não destruir as empresas". E o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi na mesma linha. Ok. Mas as pessoas não agiram em nome de suas empresas? O conluio era entre executivos da área privada e funcionários da Petrobrás, ou entre as empresas e a Petrobrás?
Independentemente da resposta, o fato é que o pavor faz sentido. Quebrar as maiores empreiteiras do País, tenham ou não errado, é um risco não só delas, mas do País. Anotem aí: a qualquer hora vão inventar um "Proer" das empreiteiras. (Para quem não lembra, o Proer foi criado para evitar o risco sistêmico de quebradeira de bancos no governo FHC.)
Dilma também disse, sem ficar ruborizada, que "nunca um governo combateu com tamanha firmeza e obstinação a corrupção e a impunidade". Mas a verdadeira história é que a corrupção e a impunidade foram institucionalizadas na Petrobrás durante o governo Lula, na era PT. E quem a combate com firmeza e obstinação são o Ministério Público, a Polícia Federal e o juiz Sérgio Moro.
Enquanto Joaquim Levy empresta uma nova cara para o governo e tenta atrair o olhar internacional de volta para o Brasil, a Petrobrás tira a máscara de um País corrupto e permissivo, onde a má gestão e os desvios devoram a credibilidade das suas empresas e os lucros de grandes e pequenos investidores. Por ora, uma guerra inglória desse Levy. Luiz Trabuco não é bobo nem nada...
E o segundo risco sistêmico é o político. Já estão presos, com a corda no pescoço, os diretores da Petrobrás, os executivos das empreiteiras e os doleiros que, juntos, operavam a roubalheira. Faltam os políticos que a idealizaram e/ou se refestelaram com ela e que estão para ser anunciados com a reabertura do Congresso. Já imaginou dezenas de deputados e senadores sendo processados pelo Supremo Tribunal Federal?
Só pode ser pesadelo...